Ai, César, eu não estou bem.
É até difícil pronunciar o seu nome, que tem duas sílabas! Só duas.
Aliás, eram quatro. E hoje, terça-feira, acabei com todos. Estou com quatro buracos no peito, e as mulheres modernas me disseram que eu tenho que me sentir feliz por tê-los, e me sentir orgulhosa por ter, aliás, por ter tido, um dia, eles.
O primeiro eu conheci numa festa, ele é garçom e tem um excelente senso de humor.
Não pratica esportes e sabe tudo de filmes franceses, disse que se pudesse não teria nascido pobre, e sim, francês. É engraçado (grande senso de humor) o jeito que ele trata o adjetivo, sabe, "pobre". Para ele é nacionalidade, status, sobrenome. Para mim, estado de espírito.
E era assim que começávamos a discutir, meio embriagados, e terminávamos tudo derramando vinho branco nos lençóis.
Eu nem gosto tanto de vinho branco, prefiro seco. Mas por ele, eu beberia vinho branco até que meu estômago rejeitasse.
E mesmo depois desse buraco que ele me deixou, continuaria bebendo vinho branco até que meu estômago rejeitasse, com completa e absoluta certeza.
Mas meu coração rejeitou-o antes que eu pudesse concordar.
O segundo eu conheci na fila do ônibus. Ele estava com duas cervejas na mão, e me ofereceu uma. Não aceitei. Não insistiu. E começou a conversar.
Descobri que somos vizinhos, e que ele tem uma filha, e que ganha bem. Por ela, não por ele.
Ele gosta de viajar, e fomos a alguns lugares não muito longe daqui juntos. Não me arrependo. Aliás, dos quatro homens que já tive em meus braços, este é o que menos me arrependo. Não sei porque, talvez fosse o mais canalha.
Talvez fosse sua filha.
Tenho certeza que, enquanto estava comigo, pensava na filha. E enquanto estava com outras mulheres, pensava na filha. E enquanto pensava na filha, pensava nas outras mulheres. Talvez ele só lembrasse de mim quando chegava em casa e via minha janela de bandeirolas penduradas.
Aí talvez, quem sabe, ele lembrasse da moça do ônibus.
É o homem que eu tenho menos ressentimento, pois ele sorria o tempo inteiro. Falando de tudo o que era bom e ruim na vida. Gostava disso.
Ainda gosto.
Mas não me vem bem a calhar filhos. Não agora.
É uma pena, porque a menina gostava de me ouvir tocando trompete.
Sabe, César, o terceiro é o mais doído.
Conheci quando era bem nova, e sempre soube que ele estava esperando eu crescer.
Eu estava me esperando crescer também. Por isso dói.
Aguardei um bom tempo por ele, e não foi o que eu pensei. Ele nem fodia direito.
(silêncio)
Porque não era simultâneo.
Era carnal pra ele, sempre foi. Pra mim, uma vez fora. Depois, era só satisfação a minha de vê-lo satisfeito.
Acabou sendo assim por alguns meses.
O maior buraco que tenho no meu coração pertence a ele.
E aumenta mais em só imaginar que ele saiba disso.
Ele sabe.
Eu sei, ele sabe.
Sempre foi assim.
O quarto foi o mais rápido.
Porque eu estou cansada. Porque eu só quis o que ele queria também: rapidez.
Somos jovens, e fazemos jazz.
Fizemos alguns jazz juntos e foi isso. Não quero, aliás, que não seja nada além disso.
Mas passei algumas noites em claro compondo algo que lhe fizesse sorrir.
Vidrei-me nele. Fez o alheio ficar desinteressante para mim.
Mas de repente, como fumaça, foi para Índia. Fazer jazz.
Deixou de mãos vazias.
E o quarto fundo buraco.
Acho que me doo demais, sabe, César, aí me roubam de mim. Sem eu nem ver: estou ocupada demais observando vocês, homens, dormirem. E quando dormem, sonham.
Sei disso.
Não calculam, não cantam, não pedem, não ordenam. Sonham.
E é assim que vocês devem agir em relação a outro ser que sonhe.
Seja este uma mulher,
ou si próprio.
27 de dezembro de 2011
25 de dezembro de 2011
21 de dezembro de 2011
meninas
Hoje enquanto eu andava pela rodoviária vi uma menina sentada no chão, com o resto escondido, chorando.
Pensei em parar para ajudar, perguntar o que houvera. Se era necessária ajuda, então. Mas continuei caminhando, pensei: "alguém vai amá-la, enfim".
Logo menos vi meu reflexo, descabelado, mas continuei caminhando e pensei "essa também".
Pensei em parar para ajudar, perguntar o que houvera. Se era necessária ajuda, então. Mas continuei caminhando, pensei: "alguém vai amá-la, enfim".
Logo menos vi meu reflexo, descabelado, mas continuei caminhando e pensei "essa também".
19 de dezembro de 2011
Linha
Odeio telefone. Odeio.
O que eu gosto é da sua voz e da sua respiração abafada por um aparelho barato, por uma operadora barata, por um tímpano esgotado.
O que eu gosto é das palavras que você escolhe sabe-se lá por qual motivo, dos sons que o "aí" faz e que fazem você repetir, e até gritar. Eu gosto de ouvir-te, de ouvir o meio.
E tanto faz o horário que você achar conveniente a ligação, e tanto faz o local que eu achar conveniente atender-te.
Porque telefone eu odeio.
O que eu gosto é da sua voz e da sua respiração abafada por um aparelho barato, por uma operadora barata, por um tímpano esgotado.
O que eu gosto é das palavras que você escolhe sabe-se lá por qual motivo, dos sons que o "aí" faz e que fazem você repetir, e até gritar. Eu gosto de ouvir-te, de ouvir o meio.
E tanto faz o horário que você achar conveniente a ligação, e tanto faz o local que eu achar conveniente atender-te.
Porque telefone eu odeio.
17 de dezembro de 2011
Sala de Espera
O homem entrou na sala, e ficou alguns minutos em pé, esperando que alguém lhe acomodasse. Uma senhora pediu-lhe para sentar numa cadeira e aguardar um pouco, e foi o que o homem fez. No começo, a senhora segurava a mão do homem com firmeza. Aos poucos, essa firmeza foi sumindo, até que as mãos estivessem apenas encostadas.
A senhora cansou, e deu seu lugar à vaga.
Dois outros homens disputaram a vaga, e um acabou trazendo outra cadeira. O homem ficou entre os outros dois, ouvindo-os. Falavam simultaneamente, esbanjavam energia. Às vezes o homem sorria, às vezes discordava das frases, mas constantemente calado. Não ousava discordar de cara, expor-se assim. Eis que um dia ousou, e um dos homens deixou seu lugar à vaga.
Mais alguns minutos foram passando, e o homem e o outro que agora era seu companheiro, foram concordando cada vez mais no que diziam. O silêncio não mais perpetuava, e por causa desse companheiro suas frases foram ganhando cada vez mais palavras que jamais pensara em usar.
Alguma hora depois, uma jovem tão jovem do rosto tão belo tomou o lugar vazio.
E não só o lugar fora tomado: a visão do homem também. Não conseguia parar de olhá-la e admirá-la, querê-la.
Sem muito esforço, conseguiu-a. E já não deu mais ouvidos a seu companheiro, que agora, deixava outro lugar vago.
Por não dar mais ouvidos a ninguém, a jovem cansou do homem. Parou de falar, de usar a juventude para dominá-lo. Resolveu ir caminhar, e agora tinham dois lugares vagos entre o homem.
Passou um tempo, o homem levantou.
Mas surgiu um senhorzinho de óculos e explicou-lhe que não podia levantar-se assim. Perigoso, arriscado demais. Ensinou-o como levantar, mas disse que jamais poderia ensinar-lhe como caminhar. Ninguém jamais poderia. O homem recordou da senhora que segurara sua mão com firmeza, e assegurou-se de que ela sim poderia.
Sentou, com os dois lugares ainda vagos.
Levantou-se, como o senhorzinho tinha ensinado.
Mas teve medo de caminhar.
Estava sozinho na sala agora. Com dois lugares vagos e sem ninguém para ocupar.
Deu seu passo. Sozinho, como antes estava. Perdeu o medo e caminhou um pouco mais. Seu peito estufou e não parava de caminhar, deixando três cadeiras vagas na sala.
Outras horas se passaram e uma mulher sentou numa das cadeiras e ficou observando-o andar, de um lado para o outro.
Convidou-o para sentar. Aceitou.
Ela segurava sua mão. Não com tanta firmeza quanto a primeira senhora, mas tinha alguma firmeza. Gostava de senti-la, e lembrou como é querer alguém, como quisera a jovem.
Passou a segurar a mão dela também. Nenhum dos dois tinham tanta firmeza quanto a primeira senhora, mas os dois juntos talvez pudessem se igualar.
Tinha mais um lugar vago.
E rapidamente, ocupou-se com um menino.
E, de repente, a mulher passou a ter a mesma firmeza que a senhora tinha. O homem não conseguia entender.
Mas gostava do que estava acontecendo.
As horas enfim terminavam, enquanto o menino estava cansado de ficar sentado e a mulher estava encostando em sua mão, o homem cansado repousou.
Então, a porta finalmente se abriu e houve o grito: "próximo!"
A senhora cansou, e deu seu lugar à vaga.
Dois outros homens disputaram a vaga, e um acabou trazendo outra cadeira. O homem ficou entre os outros dois, ouvindo-os. Falavam simultaneamente, esbanjavam energia. Às vezes o homem sorria, às vezes discordava das frases, mas constantemente calado. Não ousava discordar de cara, expor-se assim. Eis que um dia ousou, e um dos homens deixou seu lugar à vaga.
Mais alguns minutos foram passando, e o homem e o outro que agora era seu companheiro, foram concordando cada vez mais no que diziam. O silêncio não mais perpetuava, e por causa desse companheiro suas frases foram ganhando cada vez mais palavras que jamais pensara em usar.
Alguma hora depois, uma jovem tão jovem do rosto tão belo tomou o lugar vazio.
E não só o lugar fora tomado: a visão do homem também. Não conseguia parar de olhá-la e admirá-la, querê-la.
Sem muito esforço, conseguiu-a. E já não deu mais ouvidos a seu companheiro, que agora, deixava outro lugar vago.
Por não dar mais ouvidos a ninguém, a jovem cansou do homem. Parou de falar, de usar a juventude para dominá-lo. Resolveu ir caminhar, e agora tinham dois lugares vagos entre o homem.
Passou um tempo, o homem levantou.
Mas surgiu um senhorzinho de óculos e explicou-lhe que não podia levantar-se assim. Perigoso, arriscado demais. Ensinou-o como levantar, mas disse que jamais poderia ensinar-lhe como caminhar. Ninguém jamais poderia. O homem recordou da senhora que segurara sua mão com firmeza, e assegurou-se de que ela sim poderia.
Sentou, com os dois lugares ainda vagos.
Levantou-se, como o senhorzinho tinha ensinado.
Mas teve medo de caminhar.
Estava sozinho na sala agora. Com dois lugares vagos e sem ninguém para ocupar.
Deu seu passo. Sozinho, como antes estava. Perdeu o medo e caminhou um pouco mais. Seu peito estufou e não parava de caminhar, deixando três cadeiras vagas na sala.
Outras horas se passaram e uma mulher sentou numa das cadeiras e ficou observando-o andar, de um lado para o outro.
Convidou-o para sentar. Aceitou.
Ela segurava sua mão. Não com tanta firmeza quanto a primeira senhora, mas tinha alguma firmeza. Gostava de senti-la, e lembrou como é querer alguém, como quisera a jovem.
Passou a segurar a mão dela também. Nenhum dos dois tinham tanta firmeza quanto a primeira senhora, mas os dois juntos talvez pudessem se igualar.
Tinha mais um lugar vago.
E rapidamente, ocupou-se com um menino.
E, de repente, a mulher passou a ter a mesma firmeza que a senhora tinha. O homem não conseguia entender.
Mas gostava do que estava acontecendo.
As horas enfim terminavam, enquanto o menino estava cansado de ficar sentado e a mulher estava encostando em sua mão, o homem cansado repousou.
Então, a porta finalmente se abriu e houve o grito: "próximo!"
14 de dezembro de 2011
13 de dezembro de 2011
Se nós nas travessuras das noites eternas já confundimos tanto as nossas pernas, diz com que pernas eu devo seguir
diz que não é homem disso
que viaja pra amsterdam
e em quatro dias está em compromisso
e do menino que passa fome
com calos nos dedos
compra drops de hortelã
diz que não aceita desaforo
que não se arrepende do percurso
mas que se ouvisse meu
descompassado choro
teria receio de não querer voltar atrás
diz que não tem medo do amanhã
que se sufoca em álcool e alegria
que não precisa de sorte ou talismã
que acorda todo dia
com o pé direito
satisfeito
da noite anterior
qualquer que seja o motivo
de no teu quarto eu estar de novo
esqueço o horário e a veste
por qualquer coisa que preste
contigo!
mas quando eu for embora
repete as palavras usando o tato
me faz lembrar do teu nome
na manhã seguinte
renato
que viaja pra amsterdam
e em quatro dias está em compromisso
e do menino que passa fome
com calos nos dedos
compra drops de hortelã
diz que não aceita desaforo
que não se arrepende do percurso
mas que se ouvisse meu
descompassado choro
teria receio de não querer voltar atrás
diz que não tem medo do amanhã
que se sufoca em álcool e alegria
que não precisa de sorte ou talismã
que acorda todo dia
com o pé direito
satisfeito
da noite anterior
qualquer que seja o motivo
de no teu quarto eu estar de novo
esqueço o horário e a veste
por qualquer coisa que preste
contigo!
mas quando eu for embora
repete as palavras usando o tato
me faz lembrar do teu nome
na manhã seguinte
renato
11 de dezembro de 2011
de sobremesa
como pode à distância doar o corpo à sorte
esperando o fim da vida: o começo da morte
sem saúde, sanidade, sem saber o horóscopo
assustado ao léo, ao céu, carregando o ósculo
roubado da vontade de tê-lo.
hoje é domingo e guardo as coisas na gaveta
espero teu peso, saio do planeta
no corpo da cor clara o querer de misturar
restos do escuro que sobraram
inquieto o sono vai, a insônia bate à porta
quem chega agora, travessa, sem se importar com a hora
uma noite inteira pra compor
e uma vida curta pra declarar
um pequeno amor
fiz com a laura, de 10 anos. poetisa!
esperando o fim da vida: o começo da morte
sem saúde, sanidade, sem saber o horóscopo
assustado ao léo, ao céu, carregando o ósculo
roubado da vontade de tê-lo.
hoje é domingo e guardo as coisas na gaveta
espero teu peso, saio do planeta
no corpo da cor clara o querer de misturar
restos do escuro que sobraram
inquieto o sono vai, a insônia bate à porta
quem chega agora, travessa, sem se importar com a hora
uma noite inteira pra compor
e uma vida curta pra declarar
um pequeno amor
fiz com a laura, de 10 anos. poetisa!
8 de dezembro de 2011
Drummond
Sou tão acostumada a subir a L2 num sol de uma da tarde lendo que já sei de cor e desvio de todas as pedras do caminho.
Mas hoje me apareceu uma nova.
Sem motivos aparentes, voltei a ler Mulheres, do Bukowski. E é um livro que eu, particularmente, adoro. Não só pelo autor ou pela capa da nova edição, mas porque me ajuda a entender os homens. Que é algo que eu não pretendo manter distância.
Quando a vista já começa a doer de tanto ler, tem uma pedra que você deve desviar para direita. Desviei e esbarrei num senhor corcunda, de camisa quadriculada azul e calça marrom.
- Perdão - disse sem parar de andar - foi mal.
- Fiz de propósito.
Então parei.
Franzi a testa e perguntei "quê?" mentalmente, mas logo me virei e voltei a andar. Vai saber, né? Se com estranho a gente não se mete, imagina com um estranho louco?
E ainda fui libertina e julguei pela aparência: "que senhor gozado!"
- Você não vai perguntar "quê"? - berrou. Parei de novo.
- QUÊ?
- FIZ DE PROPÓSITO! - estávamos há dois metros de distância e achei um exagero a altura daquele grito.
Retruquei:
- Por quê?!
- Porque você tá lendo!
- Que que tem eu ler, meu senhor?!
- Tem nada, minha filha!
Me virei e continuei andando.
Tentei retomar a leitura. Aquela camisa azul e aquele berro não me saíam da cabeça. Perdi a página e o trecho que estava, e procurando, me perdi mais.
Parei e virei, procurei-o no horizonte e nada mais vi. Sumiu, o senhor.
Recomecei o capítulo, e agora terei que reaprender o caminho.
desvie sempre
Mas hoje me apareceu uma nova.
Sem motivos aparentes, voltei a ler Mulheres, do Bukowski. E é um livro que eu, particularmente, adoro. Não só pelo autor ou pela capa da nova edição, mas porque me ajuda a entender os homens. Que é algo que eu não pretendo manter distância.
Quando a vista já começa a doer de tanto ler, tem uma pedra que você deve desviar para direita. Desviei e esbarrei num senhor corcunda, de camisa quadriculada azul e calça marrom.
- Perdão - disse sem parar de andar - foi mal.
- Fiz de propósito.
Então parei.
Franzi a testa e perguntei "quê?" mentalmente, mas logo me virei e voltei a andar. Vai saber, né? Se com estranho a gente não se mete, imagina com um estranho louco?
E ainda fui libertina e julguei pela aparência: "que senhor gozado!"
- Você não vai perguntar "quê"? - berrou. Parei de novo.
- QUÊ?
- FIZ DE PROPÓSITO! - estávamos há dois metros de distância e achei um exagero a altura daquele grito.
Retruquei:
- Por quê?!
- Porque você tá lendo!
- Que que tem eu ler, meu senhor?!
- Tem nada, minha filha!
Me virei e continuei andando.
Tentei retomar a leitura. Aquela camisa azul e aquele berro não me saíam da cabeça. Perdi a página e o trecho que estava, e procurando, me perdi mais.
Parei e virei, procurei-o no horizonte e nada mais vi. Sumiu, o senhor.
Recomecei o capítulo, e agora terei que reaprender o caminho.
desvie sempre
7 de dezembro de 2011
4 de dezembro de 2011
Apoiar-se sempre. Acomodar-se nunca.
Visto que naturalmente não gosto das coisas fáceis, tampouco coisas prontas, decidi ser artista.
Foi uma decisão pensada cuja fiz há algum tempo, mas parece que não faz muito sentido para algumas pessoas.
A situação do artista remete à fome.
A situação do advogado remete ao luxo.
A minha situação remete-se ao julgamento injurioso sobre o meu amor à arte.
Então vem me dizer que daria uma ótima advogada pois administro bem os argumentos; que daria uma excelente médica porque sou atenciosa; que seria uma boa engenheira pois tenho perspectiva.
Mas que se eu for artista meu destino é ser bancária. E que se eu persistir no erro, meu destino é a fome.
Não vamos generalizar ou não me exclua da generalização.
É de amor que estamos falando.
Não de dinheiro.
Não me fizeram apaixonada pelas leis, por bisturis ou prédios.
Não me fizeram apaixonada por dinheiro.
Se me mostraram Rembrandt não foi para eu ser uma advogada que entende de arte.
Foi para eu ser como ele.
E assim serei.
Desafio aceito.
Foi uma decisão pensada cuja fiz há algum tempo, mas parece que não faz muito sentido para algumas pessoas.
A situação do artista remete à fome.
A situação do advogado remete ao luxo.
A minha situação remete-se ao julgamento injurioso sobre o meu amor à arte.
Então vem me dizer que daria uma ótima advogada pois administro bem os argumentos; que daria uma excelente médica porque sou atenciosa; que seria uma boa engenheira pois tenho perspectiva.
Mas que se eu for artista meu destino é ser bancária. E que se eu persistir no erro, meu destino é a fome.
Não vamos generalizar ou não me exclua da generalização.
É de amor que estamos falando.
Não de dinheiro.
Não me fizeram apaixonada pelas leis, por bisturis ou prédios.
Não me fizeram apaixonada por dinheiro.
Se me mostraram Rembrandt não foi para eu ser uma advogada que entende de arte.
Foi para eu ser como ele.
E assim serei.
Desafio aceito.
1 de dezembro de 2011
capital
passado parece ser melhor que futuro
só porque do passado eu conheço
e do futuro, espero
presente é o que a gente deixa no canto
e só lembra que recebemos quando é dezembro
e eu que pensei que iria morrer de saudade
agora morro pelo tempo perdido
corro contra o relógio que diz
que desistir dá menos prejuízo.
só porque do passado eu conheço
e do futuro, espero
presente é o que a gente deixa no canto
e só lembra que recebemos quando é dezembro
e eu que pensei que iria morrer de saudade
agora morro pelo tempo perdido
corro contra o relógio que diz
que desistir dá menos prejuízo.
30 de novembro de 2011
Fiz seu doce predileto pra você parar em casa
"Que seja doce", disseram pra mim, uma vez ou mais.
"Que seja doce".
"Que seja doce". Que seja doce nada.
Porque doce deixa cansaço na boca, e problema no pâncreas. Quando as coisas são doces demais, você depois de um tempo, tem que ficar injetando coisas na veia pra não morrer.
"Que seja doce"? Que seja doce nada!
Quando as coisas são doces juntam insetos; tem que manter na geladeira. Estimulam um tanto de hormônios e a felicidade é passageira, de doce já basta a pasta de dente na minha vida.
"Que seja doce"?!
Que seja intenso, puro, mas acima de tudo,
Que seja verdadeiro.
"Que seja doce".
"Que seja doce". Que seja doce nada.
Porque doce deixa cansaço na boca, e problema no pâncreas. Quando as coisas são doces demais, você depois de um tempo, tem que ficar injetando coisas na veia pra não morrer.
"Que seja doce"? Que seja doce nada!
Quando as coisas são doces juntam insetos; tem que manter na geladeira. Estimulam um tanto de hormônios e a felicidade é passageira, de doce já basta a pasta de dente na minha vida.
"Que seja doce"?!
Que seja intenso, puro, mas acima de tudo,
Que seja verdadeiro.
29 de novembro de 2011
Retrato da Dona Heloisa
não vou por-te no teu devido lugar
onde já estive
e permaneci pelo tempo suficiente
até decidir que
não vou por mais
a mesa
amanhã
guerreio com meu sangue, a pulsar
meu coração sobrevive
dependente
do conhaque
da paz
do terço
em alegria vã
e tu, guerreias com a mão
fazendo ferir a misericórida numa explosão
e eu me canso de pedir
e tu, deita-se no colchão
eu volto à garrafa
e engulo a solidão
se há consciência
ainda prefiro o peso teu
sobre as costas doloridas
cujas a senhora paciência
sustenta no breu
se há vontade
ainda prefiro a sua
sobre mim
vai a tarde
o pedaço de vidro
e os sonhos
num conhaque
num botequim.
onde já estive
e permaneci pelo tempo suficiente
até decidir que
não vou por mais
a mesa
amanhã
guerreio com meu sangue, a pulsar
meu coração sobrevive
dependente
do conhaque
da paz
do terço
em alegria vã
e tu, guerreias com a mão
fazendo ferir a misericórida numa explosão
e eu me canso de pedir
e tu, deita-se no colchão
eu volto à garrafa
e engulo a solidão
se há consciência
ainda prefiro o peso teu
sobre as costas doloridas
cujas a senhora paciência
sustenta no breu
se há vontade
ainda prefiro a sua
sobre mim
vai a tarde
o pedaço de vidro
e os sonhos
num conhaque
num botequim.
25 de novembro de 2011
23 de novembro de 2011
19 de novembro de 2011
17 de novembro de 2011
Melancolia
Se eu quiser escrever sobre algo triste não escreverei sobre a guerra, os males ou sobre atos errôneos. Se escrevo sobre algo triste, escrevo sobre a saudade.
Escrevo sobre o meu repouso que agora, mais do que nunca, tem seis cordas e madeira firme. Sobre o meu acalento, que sou eu quem faço, já que a saudade repousa. Não sai.
Saudade costumeira que às vezes desperta e sufoca, não desgruda até que eu exprima e pire a gota d'água, a primeira de muitas, porque se fosse apenas uma... Não seria saudade.
Se eu quiser escrever sobre saudade, escrevo pouco. Mas alongo. O suficiente para que entretenimento exista, para que a alegria seja contínua e o esquecimento largo. Afinal, para quê nomes? Já fomos devidamente apresentados.
Num passado distante ou não, numa noite distante ou não. Intimamente apresentados. Mas fui me divertir no escanteio do corpo, da mente, do quarto.
Se eu quiser escrever sobre algo que conheço bem, escrevo sobre a saudade.
Pouco importa - do que vivi ou não.
Deixo para lá.
É ligar qualquer rádio e procurar uma estação, uma música um motivo, afinal, para não escrever.
Se eu quiser escrever sobre algo triste, lembro de você.
http://youtu.be/Xzbv3UEBVkE
Escrevo sobre o meu repouso que agora, mais do que nunca, tem seis cordas e madeira firme. Sobre o meu acalento, que sou eu quem faço, já que a saudade repousa. Não sai.
Saudade costumeira que às vezes desperta e sufoca, não desgruda até que eu exprima e pire a gota d'água, a primeira de muitas, porque se fosse apenas uma... Não seria saudade.
Se eu quiser escrever sobre saudade, escrevo pouco. Mas alongo. O suficiente para que entretenimento exista, para que a alegria seja contínua e o esquecimento largo. Afinal, para quê nomes? Já fomos devidamente apresentados.
Num passado distante ou não, numa noite distante ou não. Intimamente apresentados. Mas fui me divertir no escanteio do corpo, da mente, do quarto.
Se eu quiser escrever sobre algo que conheço bem, escrevo sobre a saudade.
Pouco importa - do que vivi ou não.
Deixo para lá.
É ligar qualquer rádio e procurar uma estação, uma música um motivo, afinal, para não escrever.
Se eu quiser escrever sobre algo triste, lembro de você.
http://youtu.be/Xzbv3UEBVkE
14 de novembro de 2011
Édem II
- infeliz!
- linda!
- safado!
- deusa!
- filho da puta!
- gostosa!
e os dois se beijaram.
trocaram saliva, toques, mais elogios e menos palavras sujas.
e assim nasceu o amor.
- linda!
- safado!
- deusa!
- filho da puta!
- gostosa!
e os dois se beijaram.
trocaram saliva, toques, mais elogios e menos palavras sujas.
e assim nasceu o amor.
13 de novembro de 2011
Hoje é dia de sopa
eu me valorizo
mas faço isso por ti
sem nem pensar
e faço direito
pra não fazer duas vezes
porque você sabe
eu me valorizo!
mas faço isso por ti
sem nem pensar
e faço direito
pra não fazer duas vezes
porque você sabe
eu me valorizo!
9 de novembro de 2011
Joseph the Crow
- tava pensando, josé, que se um dia eu tiver um filho, vou chamá-lo de francisco.
não tô nem aí se o pai dele não topar, porque se ele tiver um pai mesmo, ele já vai saber que eu sou teimosa, e que eu quero francisco.
tomara que o pai dele me ame e seja companheiro no sentido mais literal da palavra, sabe, josé. porque se ele for companheiro mesmo ele vai saber que eu sou até flexível com essas coisas, quando tem sentimento. porque eu sou assim, né.
ai de mim, josé.
tava pensando que, ai, josé, e se o francisco virar um desses estudantes que apanham da polícia? acho que ia ficar com medo e com orgulho, e ia até retorcer o nariz e berrar como minha mãe faz "eu avisei, guri!"
mas antes disso deve ser legal gritar o nome dele e chamá-lo pra voltar pra casa, pra tomar banho, sabe? "francisco, vem tomar banho!"
porque eu tava pensando, josé, o francisco não vai ter video game não; eu quero que ele veja a cor do dia. o francisco vai é ter bola de meia, lego e muito papel e tinta.
aí quando ele crescer, se ele quiser, ele vai poder tocar guitarra, piano, acordeon ou até triângulo, pra fazer sucesso com as meninas e não se sentir sozinho quando eu o meu companheiro não estivermos por perto.
porque sabe como é, né, josé, a gente se preocupa tanto com o futuro.
pensando bem, josé, talvez devesse chamá-lo de francisco pequena felicidade, pra poder gritar o nome dele por aí, sabe?
"pequena felicidade, volta!"
jcb
não tô nem aí se o pai dele não topar, porque se ele tiver um pai mesmo, ele já vai saber que eu sou teimosa, e que eu quero francisco.
tomara que o pai dele me ame e seja companheiro no sentido mais literal da palavra, sabe, josé. porque se ele for companheiro mesmo ele vai saber que eu sou até flexível com essas coisas, quando tem sentimento. porque eu sou assim, né.
ai de mim, josé.
tava pensando que, ai, josé, e se o francisco virar um desses estudantes que apanham da polícia? acho que ia ficar com medo e com orgulho, e ia até retorcer o nariz e berrar como minha mãe faz "eu avisei, guri!"
mas antes disso deve ser legal gritar o nome dele e chamá-lo pra voltar pra casa, pra tomar banho, sabe? "francisco, vem tomar banho!"
porque eu tava pensando, josé, o francisco não vai ter video game não; eu quero que ele veja a cor do dia. o francisco vai é ter bola de meia, lego e muito papel e tinta.
aí quando ele crescer, se ele quiser, ele vai poder tocar guitarra, piano, acordeon ou até triângulo, pra fazer sucesso com as meninas e não se sentir sozinho quando eu o meu companheiro não estivermos por perto.
porque sabe como é, né, josé, a gente se preocupa tanto com o futuro.
pensando bem, josé, talvez devesse chamá-lo de francisco pequena felicidade, pra poder gritar o nome dele por aí, sabe?
"pequena felicidade, volta!"
jcb
8 de novembro de 2011
general izo
pra ser ladrão tem que ser político
pra ser policial tem que ser bandido
pra ter razão, seja reprimido
pra não ser, sem senso crítico
para ser, tenha
para crescer, venha
pra desistir, esqueça
pra divertir, cerveja
por ela, bens
por ele, corpos
na altura, vertigens
no mundo, porcos
pra ser policial tem que ser bandido
pra ter razão, seja reprimido
pra não ser, sem senso crítico
para ser, tenha
para crescer, venha
pra desistir, esqueça
pra divertir, cerveja
por ela, bens
por ele, corpos
na altura, vertigens
no mundo, porcos
6 de novembro de 2011
3 de novembro de 2011
sem dono sem casa ou coração
Tocou a campainha antes mesmo que a água pudesse ferver, e o dia estava tão frio, que não fui correndo atendê-lo. Não o esperava, e com uma leve certeza, talvez não o quisesse por aqui.
Sabia que eu estava triste.
Eu, ele, o dia.
Sabíamos.
É inevitável; é o que acontece quando você perde um samba, algo de valor ou até mesmo, por que não, alguém. Costumava ser mais fria, e eu, ele, o dia, a noite, sabíamos. E não, as coisas não mudam. Mas um dia tinha de ser diferente.
E eu sei lá se foi sorte ou não de ter sido com essa terceira pessoa.
Agora a água já ferveu.
Tinha chá, frio e dois desocupados.
Um de coração partido, e o outro lá, catando os pedaços. Como de praxe.
Sugeriu que eu tomasse algo mais forte e que contivesse álcool. Pensei seriamente antes de responder, mas recusei.
Destruir mais coisas dentro de mim? Prometi uma postura diferente.
Me perguntou do que sentia; disse que tinha vontade de ficar parada naquela manhã. Não até tudo passar.
"Não combina comigo esperar que as resoluções dos meus problemas cheguem, não combina mais comigo esperar!" -exclamei.
Ele riu.
Me chamou de boba e disse para eu tomar logo esse chá, porque apesar da falta de sol, era dia.
Chamo-o de amigo,
mas talvez devesse chamá-lo de irmão.
não sofra por quem partiu
ou por quem não merece teu amor pequeno
a vida é dura
resiste quem quer sossego
1 de novembro de 2011
27 de outubro de 2011
Eu não vou fazer Direito
Cresci num meio onde indiretamente as pessoas desacreditaram em mim.
Sou completamente amor, do início ao fim.
Logo, se não faço o que amo, não faço nada. E há dias esse sentimento de inutilidade vem tomando meu peito, me fazendo ter dores de cabeça e perceber que não tenho tantos motivos pra sorrir assim.
Ah, vida.
O seu problema, o maior de todos, é que se a gente escolhe o amor a gente escolhe o mais difícil. Por isso desconfia-se dos fáceis, dos à vista.
Porque amor é assim; entrelinha.
E eu tenho que entender que aspirinas não substituem entrelinhas.
Ah, vida.
Não queria desgostar e ter vontade de desistir de você assim, tantas vezes.
Não queria desgostar e ter vontade de desistir de você assim, tantas vezes.
Mas espero que você entenda e goste de quem tenta.
Tanto tento que espero o tempo assumir a culpa.
(de eu querer ser feliz)
21 de outubro de 2011
artérias
Chegou de namorado novo em casa e sua mãe logo se desesperou:
- Mas por que ele, minha filha?!
- Porque eu o amo, mãe!
Houve silêncio
- Mas por que o ama, minha filha?!
- Por que não, mãe?
18 de outubro de 2011
Melhor do mundo
Começo do jeito que comecei: abrindo os olhos.
Não lembro o que vi - nem se fizer um tanto de força. Mas lembro quando você me contou o que viu, e é com esses mesmos olhos que vejo o que sou e vejo o que és.
Agradeço, portanto.
Agradeço pela sua ausência inconstante e presença forte, por todos os momentos em que minhas costas um tanto largas e cheia de pintas (como as suas) pôde estar em seus braços. Agradeço pelas oportunidades, estresses e marras que me deixou fazer; e que agora passo adiante. Não só agradeço como peço que repita as críticas e os elogios, os dias e as noites, os anos do passado e do presente que me fazem perceber o quão sou feliz por ter-te.
Ainda assim, peço desculpas.
Por querer ser artista; por nascer sendo artista, por não te ouvir. Pelo dinheiro, suor e paciência gastos. Por nunca chegar na hora marcada ou ter atendido seus telefonemas; por meu tom de voz quando fico irritada e pelo cinismo que me vem à tona quando, por um momento fútil, te desgosto. Peço desculpas pelos outros ora homens, ora meninos, peço desculpas por não saber tocar trompete tão bem assim.
Desculpo-te.
Por não falar. Por ser passivo demais, bobo demais, carinhoso demais! Por ter me deixado um tanto mimada assim, e por não ler os livros que dou a você em todas as datas comemorativas - mas gravatas não me convém tanto assim.
Talvez por isso eu esteja aqui com todos esses defeitos aparentes, digitando de forma lenta e calculada, como eu ajo na vida, e como você não gosta.
Mas, acima de tudo, pai
Eu amo você.
feliz aniversário.
Não lembro o que vi - nem se fizer um tanto de força. Mas lembro quando você me contou o que viu, e é com esses mesmos olhos que vejo o que sou e vejo o que és.
Agradeço, portanto.
Agradeço pela sua ausência inconstante e presença forte, por todos os momentos em que minhas costas um tanto largas e cheia de pintas (como as suas) pôde estar em seus braços. Agradeço pelas oportunidades, estresses e marras que me deixou fazer; e que agora passo adiante. Não só agradeço como peço que repita as críticas e os elogios, os dias e as noites, os anos do passado e do presente que me fazem perceber o quão sou feliz por ter-te.
Ainda assim, peço desculpas.
Por querer ser artista; por nascer sendo artista, por não te ouvir. Pelo dinheiro, suor e paciência gastos. Por nunca chegar na hora marcada ou ter atendido seus telefonemas; por meu tom de voz quando fico irritada e pelo cinismo que me vem à tona quando, por um momento fútil, te desgosto. Peço desculpas pelos outros ora homens, ora meninos, peço desculpas por não saber tocar trompete tão bem assim.
Desculpo-te.
Por não falar. Por ser passivo demais, bobo demais, carinhoso demais! Por ter me deixado um tanto mimada assim, e por não ler os livros que dou a você em todas as datas comemorativas - mas gravatas não me convém tanto assim.
Talvez por isso eu esteja aqui com todos esses defeitos aparentes, digitando de forma lenta e calculada, como eu ajo na vida, e como você não gosta.
Mas, acima de tudo, pai
Eu amo você.
feliz aniversário.
15 de outubro de 2011
14 de outubro de 2011
Como eu penso em nós dois
Eu penso em nós dois com toda a simplicidade dos nossos nomes, e dos meus sonhos.
Eu penso em nós dois com todo o cuidado, como o que tenho com meu primeiro violão.
Eu penso em nós dois com o prazer que tenho quando sinto cheiro de chuva, o frio da madrugada ou quando leio um livro velho.
Eu penso em nós dois juntos. Em qualquer hipótese, independente de passados ou desejos.
Aliás, eu penso em nós dois juntos, em futuros e vontades.
Acho que ando pensando demais em como eu penso em nós dois, que qualquer dia desses, a realidade me busca de volta, ou eu busco você pra mim.
Como eu ando pensando em fazer.
Sinceramente,
eu.
Eu penso em nós dois com todo o cuidado, como o que tenho com meu primeiro violão.
Eu penso em nós dois com o prazer que tenho quando sinto cheiro de chuva, o frio da madrugada ou quando leio um livro velho.
Eu penso em nós dois juntos. Em qualquer hipótese, independente de passados ou desejos.
Aliás, eu penso em nós dois juntos, em futuros e vontades.
Acho que ando pensando demais em como eu penso em nós dois, que qualquer dia desses, a realidade me busca de volta, ou eu busco você pra mim.
Como eu ando pensando em fazer.
Sinceramente,
eu.
12 de outubro de 2011
Love hurts sometimes when do it right
tira os maus prefixos
e tua blusa
tudo ao mesmo tempo
e não me olha assim
não mais
se não vou sentir
se não vou lembrar
se não quer
e tua blusa
tudo ao mesmo tempo
e não me olha assim
não mais
se não vou sentir
se não vou lembrar
se não quer
5 de outubro de 2011
Cena brasiliense
E veio tirar satisfação do passado comigo tão indignado, que me recatei e encolhi por dentro. Mas por fora estava assim, de queixo erguido.
Quando percebeu que meu orgulho estava alto, me chamou para conversar em algum canto dessa asa sem que quebrássemos alguma coisa, ou um ao outro.
Pedimos café.
E agora sei porque insisto em tomar café se tão trêmula fico logo depois que tomo: o cheiro, o gosto do grão diluído nunca fora antes tão amargo e saboroso para mim.
Talvez aquele líquido marrom-escuro só quisesse me avisar como seria o futuro.
Minha vontade de tomá-lo o quanto antes e ir embora era enorme. Mas permaneci, e esperei as palavras proferidas calmamente, sem beber um gole.
Não gosto de ficar trêmula na frente das pessoas.
Enquanto algumas dessas palavras que passavam me faziam destrair, olhei para a janela e agradeci por ser outubro, e por não precisar mais reclamar do calor. Agradeci também pelo frio que estava fazendo, mas como bom ser humano, pedi chuva.
Grossa.
Pesada.
Que me fizesse ter motivos para sair dali.
Eis que enfim as palavras audíveis somem e o cheiro do café também.
Eis que percebeu que as palavras e o cheiro do café não eram os únicos ausentes ali.
- O café esfriou - disse eu
- Eu também.
Quando percebeu que meu orgulho estava alto, me chamou para conversar em algum canto dessa asa sem que quebrássemos alguma coisa, ou um ao outro.
Pedimos café.
E agora sei porque insisto em tomar café se tão trêmula fico logo depois que tomo: o cheiro, o gosto do grão diluído nunca fora antes tão amargo e saboroso para mim.
Talvez aquele líquido marrom-escuro só quisesse me avisar como seria o futuro.
Minha vontade de tomá-lo o quanto antes e ir embora era enorme. Mas permaneci, e esperei as palavras proferidas calmamente, sem beber um gole.
Não gosto de ficar trêmula na frente das pessoas.
Enquanto algumas dessas palavras que passavam me faziam destrair, olhei para a janela e agradeci por ser outubro, e por não precisar mais reclamar do calor. Agradeci também pelo frio que estava fazendo, mas como bom ser humano, pedi chuva.
Grossa.
Pesada.
Que me fizesse ter motivos para sair dali.
Eis que enfim as palavras audíveis somem e o cheiro do café também.
Eis que percebeu que as palavras e o cheiro do café não eram os únicos ausentes ali.
- O café esfriou - disse eu
- Eu também.
2 de outubro de 2011
Relíquias
poemas rimas poesias palavras ou qualquer coisa assim, antigos ou antigas
de anos atrás mesmo
Poesia plano b
jamais saberei
se foi verdade o que disseste
se era de linho o que vestiste
ou do futuro que vieste
mas não ouso querer
pois tal verdade não veio
pois o linho não reveste teu coração
e do futuro, não é sorteio
é imaginação.
Seio da terra
vem, corre pro amor
espanta esse teu olhar
e faz com que tuas entranhas
com que teu inteiror
não estranha
a situação
porque eu fui de inventar
de correr, de violão
de fazer o que manda
o tambor no meu peito
que fui inventar
de fazer arte
fazer sorrir
fazer amor
e deixar saudade
no quanto que quiser
no canto que quiser
que fui inventar
de ser o que quis
de ser artista
de ser feliz
de ser mulher
é, relembrar, viver?
de anos atrás mesmo
Poesia plano b
jamais saberei
se foi verdade o que disseste
se era de linho o que vestiste
ou do futuro que vieste
mas não ouso querer
pois tal verdade não veio
pois o linho não reveste teu coração
e do futuro, não é sorteio
é imaginação.
Seio da terra
vem, corre pro amor
espanta esse teu olhar
e faz com que tuas entranhas
com que teu inteiror
não estranha
a situação
porque eu fui de inventar
de correr, de violão
de fazer o que manda
o tambor no meu peito
que fui inventar
de fazer arte
fazer sorrir
fazer amor
e deixar saudade
no quanto que quiser
no canto que quiser
que fui inventar
de ser o que quis
de ser artista
de ser feliz
de ser mulher
é, relembrar, viver?
29 de setembro de 2011
Só sei que nada sei e não quero saber
coitado de quem não sabe andar de bicicleta
se é a única coisa que a gente não esquece
quem não sabe andar de bicicleta
não vai ter nada pra lembrar
24 de setembro de 2011
andré
Eu tinha alguns envelopes e seu endereço. Os envelopes eu achei hoje e confesso que, o seu endereço, não. Procurei-o há tempos atrás loucamente, enquanto procurava meu coração. Por não achá-los, talvez os dois estejam com você.
É o que eu espero, pois sou esquecida: é fácil eu ter deixado meu coração com alguém sem querer, ou esparramado no ônibus para alguém encontrar.
Mas essa coisa de "alguém" é tão incerta, não me agrada muito.
Por isso eu prefiro sempre pensar em você.
Quero dizer, em você com meu coração. Porque independentemente do estado que ele esteja, está em boas mãos, ou boas gavetas.
E eu torço com toda força de quem deseja, que você possa um dia achá-lo.
E me devolvê-lo num envelope.
(Com seu endereço).
20 de setembro de 2011
Dicionários
quando
quanto mais corro
mais fundo cavo
as paredes do banheiro
transformam-se em diário
minhas palavras viram espelho
e o vapor que sobe sóbrio
aumenta o vocabulário
a asfixia ocorre
vira conselho
quanto mais corro
mais fundo cavo
19 de setembro de 2011
18 de setembro de 2011
dois
é possível ser feliz de verdade amando de verdade?
nunca pensei que fosse cair nesses clichês ou nessas armadilhas.
Dona Ana mandou um beijo
más
caras,
vem e vão
o que
- e você sabe
é o que
elas
fizeram.
detesto
exageros
que
não possuem
um fundo escasso
tampouco
gosto
de
pe
que
nas calçadas
vivi
ou procurei...
más
caras
que
(não)
volta
rão
15 de setembro de 2011
14 de setembro de 2011
Deixa, deixa
ai, da minha alturisse.
se eu ficasse um pouco mais na ponta dos pés, alcançaria: e você sabe, você vê.
mas eu não alcanço e às vezes, quando vejo meu reflexo nas janelas dos ônibus, me culpo por proporcionar o máximo que consigo: um encontro de corpos que dura pouco.
gostaria até que durasse mais, e você sabe, você vê.
ai, da minha adultisse.
se eu tivesse um pouco mais de tempo ou de maturidade já não me impressionaria mais com essas coisas; e ainda bem que não tenho tanta maturidade assim.
uma milha de acaso acontecem por causa dela; e talvez ela deva se sentir culpada; por eu me sentir assim.
ai do coração.
se eu fosse um pouco mais fria e calculista, não sairia prometendo assim todo amor do mundo,
mesmo que só pra mim.
11 de setembro de 2011
10 de setembro de 2011
Quero que você (me) ganhe, que você (me) apanhe
Acho que você colocou na minha cabeça essa história de te-me-ver nas outras pessoas, nas outras coisas. E não sei se isso é bom ou ruim, e na verdade, não quero saber.
Tampouco me interessa quando vai durar, e ainda não parei para pensar se quero que dure.
Mas hoje eu te vi no rapaz com camisa do Real Madrid e chinelos no supermercado; e te vi no rapaz que consertou minha bicicleta. Te vi ainda, numa foto e num cochilo.
Te vi no cotidiano, nas coisas simples
Te vi no sábado, espero que saiba
Alto lá: tenho uma pequena, pequenina certeza, e essa vem do medo do limite:
vai que eu te vejo em mim?
Aí não tem mais jeito, nem pra Caetano.
9 de setembro de 2011
é permitido permitir/ lista de sugestões de músicas pro leonardo colocar no blog dele (e pra vocês ouvirem, por que não?)
1. Baby - Os Mutantes e Caetano
2. Andança - Beth Carvalho
3. Folhetim - Chico Buarque
4. Recado ao Poeta - Paulo César Pinheiro
5. Disparada - Geraldo Vandré (ó a responsa!)
6. A Matança do Porco - Milton Nascimento
7. Falador Passa Mal - Os Originais do Samba
8. Juca Bobão - Wilson Simonal
9 . Samba em Prelúdio - Toquinho
10. Amanheceu, Peguei a Viola - Renato Teixeira (vale?)
11. Como Nossos Pais - Elis Regina
12. Eu Amo Você - Tim Maia
13. Los Chicos de Ayer - Vanguart
14. A Flor e o Espinho - Paulinho Moska
8 de setembro de 2011
piegas, pleonasmo, portas e degraus
toda vez que thaís descia as escadas às 07 da manhã pontualmente, parava e subia alguns degraus de novo, lembrando do que tinha esquecido.
às vezes eram as chaves, às vezes era a luz ligada.
às vezes eram as chaves, às vezes era a luz ligada.
aí thaís descia esses degraus de novo e mais alguns, correndo para não perder o ônibus, que, pontualmente passava.
um dia desses, thaís descia as escadas às 07 da manhã, sem se preocupar com o que tinha esquecido - afinal, ela ainda não lembrara - e descia os mesmos degraus que estavam lá há anos sem mudar. e subia de novo.
mas nesse dia, depois que ela terminou de subir, viu felipe saindo de casa.
thaís sempre fora muito pontual e nunca vira felipe. cumprimentaram-se e sorriram por dentro.
thaís lembrou que tinha esquecido os livros.
num dia depois de um dia desses, thaís descia às escadas às 07 da manhã, se preocupando com o horário do ônibus, e antes que pudesse subir todos os degraus de novo, lembrara que o barulho de porta abrindo que ouviu podia ser da porta de felipe. respirou fundo.
os dois cumprimentaram-se.
e thaís lembrou que tinha esquecido a porta aberta.
aí, num outro dia desses, thaís nessa rotina às 07 de descer escadas, logo que acordou sentia falta de algo, mas não lembrava o que era.
e esperou descer alguns degraus da escada para ver se algo acontecia.
ouviu a porta de felipe.
os dois queriam-se.
e thaís esqueceu das escadas.
6 de setembro de 2011
Boa Viagem
tô com saudade de você, meu sossego
do teu sotaque do teu cheiro de tudo que eu hei de guardar
da minha rede, do balanço, do aconchego
dos teus sonhos, promessas, teu mar
tô com saudade de você, imensidão
de deitar no teu colo, na tua cor
da estrela no céu, purpurina no chão
da casa amarela, da viola, do amor
coração de mãe, minha cidade
que adotou sem questionar falta de experiência
deixei recado na porta dizendo que não sei se volto
ansiedade
juventude
mal de toda essência
e não sei se me arrependo
desse bem candango que sou
mas de ti não me desprendo
foi teu mar quem me criou
se fizer versos durante toda viagem
como quem faz filhos por amor
perderei - e você sabe - toda coragem
esqueço o posto de escritor
não me sai do pensamento
tampouco coração
ser humano ser maluco, eu
pernambuco.
3 de setembro de 2011
Tinha acento agudo e eu queria roubá-lo
É incrível como no meu mundo, ninguém pode ter o mesmo nome que o seu. Talvez justamente porque ele seja seu, e tudo o que me remete a você não tem um sabor muito agradável há muito tempo.
Pode ser ciúmes, fraqueza de espírito, carência, como você preferir. Mas eu chamo de saudade.
E o problema não é você sair por aí rabiscando nome de outra mulher, rabiscando-a, ou pensando em rabiscá-la. O problema sou eu, parada aqui, rabiscando o seu e deixando público o gosto da dor leve que fica depois de memórias indigestas.
Se eu pudesse mudar alguma coisa entre nós dois, mudaria-me.
2 de setembro de 2011
luto
Fui criada com gatos toda minha vida até agora. Hoje, tenho quatro gatos em casa.
Talvez tenha sido o contrário: gatos foram criados comigo durante a maior parte da vida deles. Espero que tenha sido bom para nós dois.
Quando nasci, duas gatas já me esperavam.
Uma fugiu, outra ficou conosco até onde suportou, alguns anos depois. O pior é que tenho vagas lembranças - mas pesadas vagas lembranças de ambas. E sinto falta sem nem pensar duas vezes.
Fui criada com gatos toda minha vida, e não cabe nem nos dedos quantas vezes quis ter um cachorro. Só para variar; para achar alguém que voasse em cima de mim quando eu entrar em casa. Afinal, gatos não fazem isso. O máximo que eles fazem é te esperar atrás da porta enquanto você ainda está medindo esforços para subir os primeiros degraus da escada.
Queria um cachorro que latisse por qualquer bobagem, besteira ou ciúmes. Porque, oras, gatos não fazem isso. Seu miado só é alto quando sente medo, e ele sempre te procurará nessas oras.
Gato não presta, sabe?
É livre.
Mas são e sempre foram os melhores amigos que eu pude ter durante toda minha vida.
E se hoje eu procurar alguém para o resto desse "toda minha vida" que ando repetindo por aí,
hei de achar alguém que não mie demais, que seja elegante, independente, carinhoso e que saiba cair sem se machucar.
Porque a maioria das pessoas também deveriam ter sido criadas com gatos.
foi bom enquanto durou.
30 de agosto de 2011
Vassourinhas
faça sua fantasia,
empacota o pão com mortadela
pede pro santo a alegria
de estar ao lado dela
faça um samba, uma máscara, um refrão,
sai de cor volta satisfeito
cuíca lado esquerdo do peito
coração
faça amor
faça chuva
faça sol
mas faça ligeiro
quarta se aproxima
foi-se mês de fevereiro
empacota o pão com mortadela
pede pro santo a alegria
de estar ao lado dela
faça um samba, uma máscara, um refrão,
sai de cor volta satisfeito
cuíca lado esquerdo do peito
coração
faça amor
faça chuva
faça sol
mas faça ligeiro
quarta se aproxima
foi-se mês de fevereiro
28 de agosto de 2011
Segredo!
quando ele se espreguiçava e deixava alguns centímetros da camisa subirem, era inevitável não olhar com uma certa má intenção.
aliás, eu olhava assim de propósito.
27 de agosto de 2011
comprimido
talvez você nem imagine quanta falta faz
e eu nem sei se isso é consequência de al
go que ainda existe ou de algo que eu qu
ero que exista.
22 de agosto de 2011
Major Tom
Hoje eu vi um menino fantasiado de Homem-Aranha na parada de ônibus.
Assim, sem vírgula nenhuma.
Hoje eu vi um menino, com sua mãe, fantasiado de Homem-Aranha na parada de ônibus.
Viu? Fica feio.
Prefiro omitir alguns fatos; ou até não omitir, mas não dizer.
Prefiro ainda crer que não é vã a idéia de que ele pode salvar o mundo.
21 de agosto de 2011
PANIS ET CIRCENSES
favor ler este rápido.
que dormiram na sarjeta
depois do último capítulo
da novela aumentou
enquanto a santa abençoa
os cantos do planeta
os homens lotam prostíbulos
porque o circo fechou
políticos aprendem a atuar
como quem faz novela.
17 de agosto de 2011
Linha vermelha
Leia este como quem não me conhece. Ou como quem não leu outras palavras minhas.
Leia este como quem não sabe meu nome, e como quem não quer saber.
Faça isso por ética.
Pois eis que publico uma conversa que fiz comigo mesma, ignorando caráter, arrogância, Ego, auto-estima, passado, o fato de sentir dor naturalmente, e o fato de respirar.
Grata.
Iniciamos conversas com frases. Aqui não será diferente. Se perguntou "está bem?" respondo; "estou cansada". E ficarei assim até que eu pare de ralar meu couro nos objetos móveis e imóveis por aí. Não falei de corpos, me ponho em primeiro lugar - quase sempre.
Erroneamente.
Pois não é do meu natural me por em primeiro lugar; isso é invenção de vocês. Tive que me por em primeiro lugar para ser alguém, e não me arrependo, tampouco reclamo.
Mas é um erro ter tomado essa atitude pelo simples fato de minha preocupação com o outro sobrepor a capacidade que minhas costas tem de aguentar tal preocupação, dor, ou alegria.
Carregaria todos você se fosse possível,
daria meu sangue pela Pátria,
mas a única coisa que realmente fiz, foi dar meu tempo por amor.
E se este ato foi realmente bonito, se mereço parabéns, se não faz diferença... Isso fica por minha conta.
Afinal, não pulei fases na vida, e não pretendo pular.
Ver o mundo de forma diferente - e tratá-lo de forma diferente - não é peculiaridade minha, ainda bem.
Porém, eu só gostaria que soubesse,
que eu mesma soubesse:
estouro.
11 de agosto de 2011
Geni
Dispenso saber a sucessão dos fatos, ou o motivo de você estar aqui com cheiro de álcool. Na verdade, eles são óbvios, e saber é inevitável.
Mas eu prefiro imaginar que você esteja aqui por que me achou bonita, e quer me amar. E prefiro imaginar que eu realmente seja bonita, e que meus seios não estejam começando a cair.
Preferir é um privilégio de poucos.
Sou feliz por tê-lo.
Mas eu te perdôo.
Perdôo-te por confundir minhas pernas, meu nome e a data de hoje. Perdôo-te por não dizer palavras sutis como eu gostaria que dissesse. Pois apesar de estarem caindo, ainda tenho seios, sou mulher. Mereço ouvir coisas que me confortam, ainda mais quando posso preferir algo. Conforto-me só. Com a imaginação que eu tenho, e com meu segundo privilégio: o perdão.
Te perdôo pela frieza de teus dedos.
E prometo:
Que daqui a uns dias, paro de fumar. Faz mal pros pulmões, né? Não quero que isso aconteça.
Utilizo meus três privilégios para isso; enquanto não paro, imagino.
Aproveito e de praxe, a gente brinca que eu não vim parar aqui por amor.
Mas eu prefiro imaginar que você esteja aqui por que me achou bonita, e quer me amar. E prefiro imaginar que eu realmente seja bonita, e que meus seios não estejam começando a cair.
Preferir é um privilégio de poucos.
Sou feliz por tê-lo.
Mas eu te perdôo.
Perdôo-te por confundir minhas pernas, meu nome e a data de hoje. Perdôo-te por não dizer palavras sutis como eu gostaria que dissesse. Pois apesar de estarem caindo, ainda tenho seios, sou mulher. Mereço ouvir coisas que me confortam, ainda mais quando posso preferir algo. Conforto-me só. Com a imaginação que eu tenho, e com meu segundo privilégio: o perdão.
Te perdôo pela frieza de teus dedos.
E prometo:
Que daqui a uns dias, paro de fumar. Faz mal pros pulmões, né? Não quero que isso aconteça.
Utilizo meus três privilégios para isso; enquanto não paro, imagino.
Aproveito e de praxe, a gente brinca que eu não vim parar aqui por amor.
10 de agosto de 2011
sobre saber desatinar
caio
despenco
sem ensaio
estanco
o sorriso
a paciência
e a teimosia.
vem calar
vem me calar
vem calar minha boca
com a tua
que eu quero ver o nó.
despenco
sem ensaio
estanco
o sorriso
a paciência
e a teimosia.
vem calar
vem me calar
vem calar minha boca
com a tua
que eu quero ver o nó.
8 de agosto de 2011
Pé sujo
A minha sorte e (ou) o seu azar é que eu perdi medo de mudar há algum tempo. Talvez você nem tenha percebido no quê mudei, o quanto cresci, e essas coisas que deixei para lá.
Na verdade, nem eu percebi.
Pouco percebo as coisas em relação ao tempo.
Talvez porque veja - como a maioria da pessoas - o tempo de forma linear e finito.
Tenho a plena crença de que somos egoístas e "capitalistas" por essa forma de pensamento sobre o tempo, e não por causa de insitinto, evolução, ou qualquer poronga dessas.
O tempo deveria ser visto como ciclos infinitos.
Porque por mais que você não tenha filhos, não tire fotos, não toque em nada
Nós, humanos - demasiados humanos - não podemos voar.
Na verdade, nem eu percebi.
Pouco percebo as coisas em relação ao tempo.
Talvez porque veja - como a maioria da pessoas - o tempo de forma linear e finito.
Tenho a plena crença de que somos egoístas e "capitalistas" por essa forma de pensamento sobre o tempo, e não por causa de insitinto, evolução, ou qualquer poronga dessas.
O tempo deveria ser visto como ciclos infinitos.
Porque por mais que você não tenha filhos, não tire fotos, não toque em nada
Nós, humanos - demasiados humanos - não podemos voar.
6 de agosto de 2011
2 de agosto de 2011
A vida usa Loui Vuitton
Diz que um homem andava de forma apressada. De sapatos caros. Na mão, carregava consigo um saco de papel onde deixava transparecer gordura.
Diz que um menino que andava de forma tranquila cruzou com este homem. Sem sapatos, e nada na mão.
Ousou:
- Moço, me dá um sonho?
O homem não parou.
E o menino sentiu fome.
por um mundo com menos fome e mais imaginação.
sonho vem quando dormimos em paz.
almejo um mundo com motivos - motivos que todos consigam ver - para tal ato.
30 de julho de 2011
Liberta a ti mesmo
Tiago passou a morar sozinho não faz muito tempo, logo, está em constante fase de adaptação. E já queimou o pano de prato, consertou o chuveiro e ficou sem luz por ter esquecido de pagar a conta. Tiago, apesar de maior de idade, ainda não é um homem.
Só teve um pouco de sorte ao passar na Federal de primeira.
Por não ser homem, Tiago ainda ouvia bandas como Led Zeppelin e Beatles enquanto jogava video-game, e recebia telefonemas dos pais e berros dos vizinhos: "abaixa esse volume!"
Quando telefonava, seu pai sempre perguntava: "e o sudoku?"
Tiago, maior de idade, lembrara que gostava de sudoku. E no mesmo final de semana, saia para comprar na banca de revistas que havia na rua de frente.
Sem se importar, sem pentear o cabelo, ou sem tirar a camisa do Brasil, Tiago ia comprar o jornal.
Jornal este, que era vendido, pela - menor de idade - Valéria.
Valéria, apesar de menor de idade, não era homem. Logo, era mulher*. E Deus sabe lá se a Ciência tem razão quando diz isso, mas os homens amadurecem depois que as mulheres.
E os dois tinham seu quê de genialidade, mas não eram excepcionais. Digo, não eram excepcionais para a Ciência, mas Tiago sabia que era o melhor jogador de sudoku da cidade, e Valéria sabia que tinha a própria vida nas mãos. Isso, convenhamos, é excepcional - mesmo que ninguém dê a mínima.
E Valéria, que vendia o jornal para Tiago, reparava no sorriso dele, enquanto ele reparava na edição do tal jornal. Sorriso este, que não aparecia sem motivo; sem Valéria exclamar "é novo, juro!". Fosse falso, fosse verdadeiro, ele aparecia.
E os meses foram passando.
Tiago aprendeu a não queimar os panos de prato, e vendeu o videogame. Tem comprado mais bebida do que jornal, e o chuveiro nunca mais quebrou.
Juntou dinheiro e anda por aí usando barba, sapato social, e camisa do Brasil.
Valéria ainda era excepcional: já não era mais menor de idade, e tinha belas pernas. Agora, sabia que Tiago era ótimo no sudoku.
Andava por aí com essas bonitas pernas, deixando sorrisos - fossem falsos, fossem verdadeiros - nos rostos que lhe eram familiares, e uma aliança nas mãos.
Talvez, Valéria não fosse mais tão excepcional assim.
*é o que consta.
26 de julho de 2011
A drogaria é aqui por perto
A linha tênue entre o branco e o crioulo é a mesma entre o morrer com alguém e morrer por amor.
A linha tênue que continua entre o gay e o hétero é a mesma entre a Aspirina e uma arma de fogo.
Sinto lhe dizer, mas Aspirina não abre tua cabeça, e teu colarinho não te salva da forca. E você deve me avisar com antecedência se não se importar com isso.
Porque eu saio por aí distribuindo linhas tênues, sorrisos sinceros, falsas liberdades e amor.
Mas olha por onde você anda! Vai que a gente se cruza no caminho?
23 de julho de 2011
Açúcar
Então eu estava lá. Na frente da porta dele.
Realmente precisava daquilo.
Não, não era questão de vida ou morte. Mas talvez fosse, se eu deixasse tudo para lá, e fizesse algo errado em seguida.
Faria aquilo porque sabia que a consequência era segura.
Então eu estava lá. E já passavam da meia-noite.
Pensando em como vou pedir: "Olá! Será que o senhor poderia me emprestar..." ou "Ei.. Sou sua vizinha do segundo andar. Será que o senhor poderia me dar..." ou então, até "Oi, nos encontramos no elevador semana passada. Vou ser direta: eu quero..."
Mas fui mais longe: pensei em voltar pra casa.
Não chamaria isso de timidez, mas sim, falta de educação. Porque já passaram os tempos em que dizíamos "mulheres e crianças na frente!". Os tempos são outros agora; se ele não quisesse me fazer esse favor, talvez fosse rude. Porque já passam da meia noite.
E eu não gosto quando as pessoas são rudes comigo.
Por isso eu teria de ser direta, objetiva. Se ele fosse rude comigo, eu já teria dado o troco indiretamente: não teria sido "fofa" com ele.
É, é isso.
Vou ser direta.
Objetiva.
Então eu estava lá. Respirando.
E movendo a mão lentamente para tocar aquela campainha gelada e alta, que dava pra ouvir do meu andar.
Parecia campainha de castelo de filme de terror. Tinha receio de que um mordomo corcundo e careca me atendesse. E tinha mais receio ainda que fosse rude comigo.
Porque prezo pelas tais políticas de boa-vizinhança: nunca se sabe quando eu vou querer ser síndica deste maldito condomínio de canos rachados e vazamentos sanitários. E menos um voto é mais uma chance de perder.
Ou pior: e menos um voto é mais uma chance das outras pessoas se... Converterem. É, acho que essa palavra cabe.
Por isso eu não podia ser rude.
Então eu estava lá. Fazendo minhas preces.
Pedindo a todos os santos que eu lembro o nome para que ele realmente entendesse que eu não fui rude, e sim, OBJETIVA, DIRETA. Porque é assim que uma mulher tem que ser hoje em dia.
Se ela quiser ser síndica, encanadora, ou vizinha de alguém.
Mas se ela quiser arrumar um namorado, nem precisa ser tão objetiva e direta assim.
Então eu estava lá. Enrolando.
E fui.
A campainha tocou. Uma vez. Segurei para que o "dong" (esse mesmo, que vem depois do "ding") soasse mais lentamente, para não ser um incômodo, para que ele não fosse rude comigo, e nem eu tivesse de ser com ele.
Porque eu não deixo barato não; dou o troco. Talvez ele esqueça e vote um dia em mim.
Ah, esse eterno dilema de ser eu e ser síndica um dia me deixa louca.
Então a porta abriu. E o vento passou.
- Olá... Espero que não tenha acordado o senhor. Vim te pedir uma coisa.
- Acordou. Mas peça.
- Moro no segundo andar e... - pensei: O-B-J-E-T-I-V-I-D-A-D-E. Respirei fundo. Ele ergueu uma sobrancelha e bocejou. Pensei nos meus votos, nos meus sonhos, na minha vida, na minha morte, na minha segurança, na segurança do prédio, no elevador, e nisso tudo aí que e estava por um triz. E, finalmente, pensei na pergunta:
- O senhor poderia me passar a senha da sua internet?
21 de julho de 2011
Ponto final.
a vida não passa de uma criança malcriada.
e não tem como você fazer com que ela deixe de ser imprevisível.
e não tem como você fazer com que ela deixe de passar de uma criança.
e não tem como você fazer com que ela deixe de ser malcriada.
a vida não passa de uma criança malcriada.
e o problema é seu.
e não tem como você fazer com que ela deixe de ser imprevisível.
e não tem como você fazer com que ela deixe de passar de uma criança.
e não tem como você fazer com que ela deixe de ser malcriada.
a vida não passa de uma criança malcriada.
e o problema é seu.
18 de julho de 2011
Logical song
- Coração não é impermeável. Se eu fosse você, não ficava brincando com ele assim.
- Ele é meu e faço o que quiser, portanto.
- Só quero que o que me faz bem dure mais.
- Meu coração te faz bem?
- O que você faz com ele me faz bem.
- Se eu parasse de brincar com ele, tua vida ia perder um tanto de cor.
17 de julho de 2011
Já passaram os tempos em que tínhamos que dar valor à Matemática
Brasil, o mundo não cabe em mim, mas cabe em você.
E eu, e só eu, não posso deixar que minha garganta inexista por tua causa. Se escrevo e ninguém lê, a culpa já não é minha. Se divulgo e ninguém lê, a culpa já não é minha.
Mas ainda assim, sou culpada por não ter algo que amplie minha voz. Sabe como é, o amor não faz isso.
Cá pra nós, brasileiro só é otário
(porque não ouve, porque não lê, porque não pensa, porque não vê, porque não reivindica, porque não se rebela, porque tem medo, porque tem preguiça, porque)
porque quer.
13 de julho de 2011
Arrepio
mariana anda de bonde e de cabelos soltos
é jovem e põe as pernas de fora
faz parte do grupo de pessoas que põe toda
confiança em músculos e barra de ferro
só para sentir o vento bater em seus cabelos soltos
em suas pernas
e no resto do seu corpo.
9 de julho de 2011
Justifico os suspiros salgados
mas realizo-os
antes de coisa qualquer
porque sou humana
forte, sadia
mas acima de tudo
sou mulher.
antes de coisa qualquer
porque sou humana
forte, sadia
mas acima de tudo
sou mulher.
7 de julho de 2011
Sonho com muito açúcar (em algumas noites)
tenho receio do vulgar
guardo meus desejos para mim
e espero que você entenda
e saiba
que nem todos os suspiros
dessa delicatessen
são doces.
4 de julho de 2011
Morava sozinha e dormia sem blusa
Ela morava sozinha e não tinha noção do quanto era feliz por isso.
Talvez, em alguns momentos do dia, ela tivesse. Como quando a tarde chegava ao fim e o sol batia na janela, em seu rosto, e nas pimentas que ela cultivava. Como quando ela dormia até mais tarde e acordava com o dia nublado, frio.
Ela não se importava com o frio, porque era uma pessoa calorosa. Um ser humano caloroso. E uma mulher quente.
Talvez, ainda não fossse mulher. Fosse menina. Mas tinha amadurecido muito cedo; ainda que seus erros - não fatais - fossem graves e levemente infantis (leia-se imbecis). Errava bobeira e acertava porque era capaz; só contava com a sorte nesses dias frios ou nas tardes quentes.
Mas ela não chamava isso de sorte.
Ela não tinha noção disso.
Talvez, em alguns momentos do dia, ela tivesse. Como quando a tarde chegava ao fim e o sol batia na janela, em seu rosto, e nas pimentas que ela cultivava. Como quando ela dormia até mais tarde e acordava com o dia nublado, frio.
Ela não se importava com o frio, porque era uma pessoa calorosa. Um ser humano caloroso. E uma mulher quente.
Talvez, ainda não fossse mulher. Fosse menina. Mas tinha amadurecido muito cedo; ainda que seus erros - não fatais - fossem graves e levemente infantis (leia-se imbecis). Errava bobeira e acertava porque era capaz; só contava com a sorte nesses dias frios ou nas tardes quentes.
Mas ela não chamava isso de sorte.
Ela não tinha noção disso.
3 de julho de 2011
Versos de antes da ressaca
dizzy já queria dizer
que uma noite na tunísia
equivale a delícia
de estar com você
depois de um pouco de álcool
nasceu este
30 de junho de 2011
Lençóis no Rio, nós dois em janeiro
coisa maluca
ficar à toa
mordida na nuca
enquanto a garoa
de verão
molha a tijuca
e o coração
ficar à toa
mordida na nuca
enquanto a garoa
de verão
molha a tijuca
e o coração
28 de junho de 2011
Batucada brasileira
Gosto da rodoviária. E gosto mesmo; desse jeito porco que ela é. Não que eu goste de sujeira - e realmente não gosto - mas gosto da forma que as pessoas não ligam, mesmo que aparentemente, para o quão sujo é o chão que elas estão pisando. Mas gosto mais ainda da forma que isso elas ignoram, mas ignorar o hippie-que-não-toma-banho-e-mendiga elas não ignoram.
Tentam.
Mas, convenhamos, não conseguem. Desviar não é ignorar.
Gosto da rodoviária porque é o paraíso das fotografias. Acho que se me colocarem lá com uma câmera (e um quê de confiança e segurança) aproveitaria melhor do que se me colocarem, talvez, numa paisagem linda. Sabe como é; a rodoviária tem mais ângulos.
E num desses ângulos que, quando estava subindo a escada - não a escada rolante: estava quebrada - vi uma canela finíssima e ressecada, e pés calçados por uma chuteira Topper subindo-correndo na minha frente. "Mas que foto bonita", pensei.
E foi assim durante todo meu trajeto.
Desde rodoviária - meu destino, meu destino - rodoviária.
Na volta, tinha um rapaz com um celular com câmera e um colete amarelo.
Atrás desse colete amarelo estava escrito "SEGURANÇA", assim, em caixa alta.
Ele mirou essa câmera do celular para mim.
Revi meus conceitos quanto a isso em menos de cinco segundos e minha reação foi sorrir. E sorri, assim, sem ser nada espalhafatoso; mas um sorriso que dava para ser percebido.
De repente, a câmera que antes estava em mim, agora está na mira de um senhor estranho.
Estranho.
Mais estranho do que qualquer Ana Julia, hippie-que-não-toma-banho, SEGURANÇA ou cidadão que estava lá.
De casaco preto, óculos escuros, com uma mala na mão. Relógio grande, jeans, e sapato social (que cá entre nós não ajudava no que ele estava tentando fazer; tinha cara de sapato barato).
E um bigode.
Não esqueçamos do bigode.
Andava em passos rápidos e curtos, olhava para baixo.
Por onde ele passava, era visível os pontos de interrogação surgirem na cabeça vazia (ou não) dos tais viventes, companheiros de rodoviária.
Voltei com essa interrogação para casa.
Gosto da rodoviária por simples afeto à vida.
Tentam.
Mas, convenhamos, não conseguem. Desviar não é ignorar.
Gosto da rodoviária porque é o paraíso das fotografias. Acho que se me colocarem lá com uma câmera (e um quê de confiança e segurança) aproveitaria melhor do que se me colocarem, talvez, numa paisagem linda. Sabe como é; a rodoviária tem mais ângulos.
E num desses ângulos que, quando estava subindo a escada - não a escada rolante: estava quebrada - vi uma canela finíssima e ressecada, e pés calçados por uma chuteira Topper subindo-correndo na minha frente. "Mas que foto bonita", pensei.
E foi assim durante todo meu trajeto.
Desde rodoviária - meu destino, meu destino - rodoviária.
Na volta, tinha um rapaz com um celular com câmera e um colete amarelo.
Atrás desse colete amarelo estava escrito "SEGURANÇA", assim, em caixa alta.
Ele mirou essa câmera do celular para mim.
Revi meus conceitos quanto a isso em menos de cinco segundos e minha reação foi sorrir. E sorri, assim, sem ser nada espalhafatoso; mas um sorriso que dava para ser percebido.
De repente, a câmera que antes estava em mim, agora está na mira de um senhor estranho.
Estranho.
Mais estranho do que qualquer Ana Julia, hippie-que-não-toma-banho, SEGURANÇA ou cidadão que estava lá.
De casaco preto, óculos escuros, com uma mala na mão. Relógio grande, jeans, e sapato social (que cá entre nós não ajudava no que ele estava tentando fazer; tinha cara de sapato barato).
E um bigode.
Não esqueçamos do bigode.
Andava em passos rápidos e curtos, olhava para baixo.
Por onde ele passava, era visível os pontos de interrogação surgirem na cabeça vazia (ou não) dos tais viventes, companheiros de rodoviária.
Voltei com essa interrogação para casa.
Gosto da rodoviária por simples afeto à vida.
26 de junho de 2011
Inocência
Toda vez que me beijava, sua mão ficava solta. E subia em minhas curvas até chegar nos meus cabelos, e descia. Parava na cintura. Um pouco mais abaixo, talvez.
(não quero terminar este)
(não quero terminar este)
24 de junho de 2011
O cansaço vem das coisas perfeitas que eu vejo
Eu parei aí.
Quer dizer, eu parei aqui.
Na verdade, eu parei lá.
Naquele pedaço da calçada que eu sempre passo quando saio da sua casa. Parei e respirei fundo.
Pensei em voltar, confesso. Mas não vi motivo.
Foi bom - sempre é bom estar contigo - mas já não há mais porquê.
E continuei andando.
Fui para o ponto de ônibus. Nesses dias frios a gente imagina o quão bom é ter carro; e voo mais longe ainda: quem tem carro não deve imaginar isso. Eis o limite: você imagina que eu já não me distraio mais pensando em você?
Não se sinta fútil, desnecessário.
Eu faço isso frequentemente: troco pessoas por tons e virce-versa. Se eu fosse você, não juntaria mágoas.
Mas pensando bem, eu nem sei se você é desse tipo... Desses, que ficam parando em calçadas.
eu continuei desenhando
e imaginando se um dia
eu deixo de ser assim, tão eu
21 de junho de 2011
18 de junho de 2011
Eu quero ver você acordar junto com o sol
Não sou de reparar em pés justamente porque não gosto dos meus.
Mas os pés dele eram bonitos, e eu gostava de observá-los enquanto ele dormia. Ou melhor: enquanto ele sonhava.
Não sei se era contração dos músculos ou ato voluntário de sonho mesmo, mas mexia os pés constantemente enquanto dormia. E me acordava.
Eu nunca reclamei; apesar de, no começo, ter guardado uma dessas reclamações para mim.
O jeito que ele mexia os pés enquanto sonhava me encantava.
E não só o jeito que ele mexia os pés: o jeito que ele sonhava.
Era possível, às vezes, na madrugada, ver um esboço de sorriso-canto-de-boca perdido naquela barba rala e falha.
Talvez se ele sorrisse assim, por inteiro, perdesse a graça.
Me engano: ele era tão inteiro que não perdeu a graça.
Mesmo com aqueles dentes imperfeitos; que ele fazia morder minha nuca quando eu que sorria assim; no canto.
No canto da cama: o maior espaço era meu. E quando acordava (ou quando conseguia dormir) ele estava de pé: com estes mesmos pés bonitos que trouxeram-no até mim.
tenho em pessoas como você
a certeza de que felicidade existe
e só não a vê
quem não quer.
Mas os pés dele eram bonitos, e eu gostava de observá-los enquanto ele dormia. Ou melhor: enquanto ele sonhava.
Não sei se era contração dos músculos ou ato voluntário de sonho mesmo, mas mexia os pés constantemente enquanto dormia. E me acordava.
Eu nunca reclamei; apesar de, no começo, ter guardado uma dessas reclamações para mim.
O jeito que ele mexia os pés enquanto sonhava me encantava.
E não só o jeito que ele mexia os pés: o jeito que ele sonhava.
Era possível, às vezes, na madrugada, ver um esboço de sorriso-canto-de-boca perdido naquela barba rala e falha.
Talvez se ele sorrisse assim, por inteiro, perdesse a graça.
Me engano: ele era tão inteiro que não perdeu a graça.
Mesmo com aqueles dentes imperfeitos; que ele fazia morder minha nuca quando eu que sorria assim; no canto.
No canto da cama: o maior espaço era meu. E quando acordava (ou quando conseguia dormir) ele estava de pé: com estes mesmos pés bonitos que trouxeram-no até mim.
tenho em pessoas como você
a certeza de que felicidade existe
e só não a vê
quem não quer.
14 de junho de 2011
Como se o carnaval fosse vazio e teu coração vago
me deu amor
me deu adeus
cá estou
à toa
à queimaroupa
aos céus
perguntando às crases
o porquê da ida
o porquê da vida
o porquê do fim.
me deu amor
me deu adeus
cá estou perdida
no colo de poetas vazios
em beijos de jovens, perdidos
quando deveria estar
nos seus.
me deu adeus
cá estou
à toa
à queimaroupa
aos céus
perguntando às crases
o porquê da ida
o porquê da vida
o porquê do fim.
me deu amor
me deu adeus
cá estou perdida
no colo de poetas vazios
em beijos de jovens, perdidos
quando deveria estar
nos seus.
12 de junho de 2011
Óculos
Se te vejo daqui
A luz reflete
Não te enxergo direito
Mas se chego mais perto
Me vejo em você
e se aproximo um pouco
já não te enxergo mais
fecho os olhos e vôo
A luz reflete
Não te enxergo direito
Mas se chego mais perto
Me vejo em você
e se aproximo um pouco
já não te enxergo mais
fecho os olhos e vôo
10 de junho de 2011
9 de junho de 2011
delicadeza é algo bruto
Sou dessas pessoas que odeia dentista.
Mas a maioria só odeia.
Eu fico nervosa.
Toda vez que entro naquela sala branca e fria, meu coração dispara.
E toda vez que deito naquela cadeira ígrime, este mesmo coração, sobe até a boca.
Todo movimento que é feito me deixa mais nervosa ainda. E tudo passa a doer, doer mais do que deveria.
Mas dor é dor. Seja lá o tamanho que for.
Aí ele pergunta "tudo bem?" e eu tenho quinhentas respostas diferentes para "não, você me irrita". Mas a melhor delas é uma lágrima cair do olho esquerdo; a que eu quase sempre uso.
E vem o que você não merece ouvir "mas você luta judô".
Um apelo:
Eu posso lutar judô, capoeira, falar palavrão, quase nunca estar de mal humor, jogar futebol, tocar trompete, não ter letra bonita, rir alto, e pouco saber cozinhar.
Mas sou menina.
Gosto que abram a porta para mim, me encho de amor platônico, não gosto de lavar louça quando estou de unhas feitas, e adoro margaridas.
Seguro lágrimas como ninguém, e você não sabe o quão forte é isso.
Aliás, duvido que você saiba o que dói mais: tirar o ciso ou não borrar a maquiagem na cadeira do dentista.
Mas a maioria só odeia.
Eu fico nervosa.
Toda vez que entro naquela sala branca e fria, meu coração dispara.
E toda vez que deito naquela cadeira ígrime, este mesmo coração, sobe até a boca.
Todo movimento que é feito me deixa mais nervosa ainda. E tudo passa a doer, doer mais do que deveria.
Mas dor é dor. Seja lá o tamanho que for.
Aí ele pergunta "tudo bem?" e eu tenho quinhentas respostas diferentes para "não, você me irrita". Mas a melhor delas é uma lágrima cair do olho esquerdo; a que eu quase sempre uso.
E vem o que você não merece ouvir "mas você luta judô".
Um apelo:
Eu posso lutar judô, capoeira, falar palavrão, quase nunca estar de mal humor, jogar futebol, tocar trompete, não ter letra bonita, rir alto, e pouco saber cozinhar.
Mas sou menina.
Gosto que abram a porta para mim, me encho de amor platônico, não gosto de lavar louça quando estou de unhas feitas, e adoro margaridas.
Seguro lágrimas como ninguém, e você não sabe o quão forte é isso.
Aliás, duvido que você saiba o que dói mais: tirar o ciso ou não borrar a maquiagem na cadeira do dentista.
7 de junho de 2011
Do que adianta correr para atravessar a rua no sinal fechado?
se a alma é a única
coisa que vai contigo
minh'alma é a música
alimento, bênção, abrigo
acho que as pessoas nunca entenderão o amor que tenho pela música, pelas cores, e pelas próprias pessoas.
porque de paixão, já passou o estágio - há muito tempo.
coisa que vai contigo
minh'alma é a música
alimento, bênção, abrigo
acho que as pessoas nunca entenderão o amor que tenho pela música, pelas cores, e pelas próprias pessoas.
porque de paixão, já passou o estágio - há muito tempo.
5 de junho de 2011
Segunda
alguém faz o almoço
que hoje é domingo
e eu quero respirar meus sambas
como se não houvesse amanhã
que hoje é domingo
e eu quero respirar meus sambas
como se não houvesse amanhã
2 de junho de 2011
um furo no pneu equivale a um prejuízo fatal
toda vez que eu vou de bicicleta pra w3 sul, eu passo pela casa onde mora uma cigana.
às vezes eu tenho vontade de perguntá-la sobre o meu futuro, o que, afinal, eu deveria fazer. mas não tenho coragem.
"ah, é enganação", você pode achar. "tudo mentira", "teu subconsciente encaminha você pra isso", ou até mesmo "falta do que fazer". você pode achar.
eu prefiro achar que seja desnecessário. sim, ignorando todas essas outras opções.
oras, o futuro não pode ser algo tão obscuro assim. aliás, nada do que me dá preguiça de pensar é tão obscuro assim. normalmente, o que dá preguiça de pensar é chato.
e o futuro não sai desse padrão, dessa coisa normal.
a cigana não lê mãos, cartas e búzios para garantir o futuro dela.
não, ela não deve ser dessas que paga inss.
abre parênteses
e eu também não sou.
pago passagens de ônibus, bocais de trompete, cursos pro vestibular e viagens para pirinópolis; mas não é nada que vá valorizar o meu futuro.
sabe-se lá o que vai acontecer.
quem faz vestibular pensando no futuro tem uma esperança muito vazia (e às vezes, tanto quanto insegura) do que vai acontecer.
e se não acontecer?
tenta de novo.
é a mesma coisa com pagar inss. você paga com a esperança de receber, e se não recebe? gera problema. e você pagou com o intuito de não gerar problemas.
fecha parênteses
conveniente essa coisa das ciganas, sabe.
evitaria muita dor de cabeça.
quem sabe um dia eu não pare por lá. só pra tirar uma dúvida ou outra, pra criar alguma esperancinha que não seja tocar trompete num carnaval da vida.
porque do presente a gente já sabe: ele fica por aí, andando de bicicleta.
às vezes eu tenho vontade de perguntá-la sobre o meu futuro, o que, afinal, eu deveria fazer. mas não tenho coragem.
"ah, é enganação", você pode achar. "tudo mentira", "teu subconsciente encaminha você pra isso", ou até mesmo "falta do que fazer". você pode achar.
eu prefiro achar que seja desnecessário. sim, ignorando todas essas outras opções.
oras, o futuro não pode ser algo tão obscuro assim. aliás, nada do que me dá preguiça de pensar é tão obscuro assim. normalmente, o que dá preguiça de pensar é chato.
e o futuro não sai desse padrão, dessa coisa normal.
a cigana não lê mãos, cartas e búzios para garantir o futuro dela.
não, ela não deve ser dessas que paga inss.
abre parênteses
e eu também não sou.
pago passagens de ônibus, bocais de trompete, cursos pro vestibular e viagens para pirinópolis; mas não é nada que vá valorizar o meu futuro.
sabe-se lá o que vai acontecer.
quem faz vestibular pensando no futuro tem uma esperança muito vazia (e às vezes, tanto quanto insegura) do que vai acontecer.
e se não acontecer?
tenta de novo.
é a mesma coisa com pagar inss. você paga com a esperança de receber, e se não recebe? gera problema. e você pagou com o intuito de não gerar problemas.
fecha parênteses
conveniente essa coisa das ciganas, sabe.
evitaria muita dor de cabeça.
quem sabe um dia eu não pare por lá. só pra tirar uma dúvida ou outra, pra criar alguma esperancinha que não seja tocar trompete num carnaval da vida.
porque do presente a gente já sabe: ele fica por aí, andando de bicicleta.
31 de maio de 2011
Roubaram minha caixa de lápis
Hoje eu estava desenhando isso no ônibus. Por pura preguiça de fazer uma redação de sociologia. Pensei comigo mesma: "talvez ele aceite o desenho, por que não?".
No meio do trajeto (L2-casa), uma senhorinha subiu no ônibus e sentou ao meu lado. "
- Que desenho simples! - exclamou em bom tom, ao ponto de me fazer prestar atenção em quem, realmente, sentara ao meu lado.
- Gostou? - perguntei - É pro meu trabalho de sociologia. - completei. Ela se inclinou um pouco para a esquerda afim de ver melhor, ou talvez de ver por outro ângulo.
- Gostei. Singelo, com uma boa crítica social.
- É clichê. Me arrependi de ter colocado o "consuma" no último...
- Quadrinho?
- É, é que não há quadrinhos. - ri com os olhos.
- Eu desenhava, também. - comentou ela, esperando uma reação minha
- Desenhava? A senhora não desenha mais?
- Não... Roubaram minha caixa de lápis. A última que eu tinha. Aí desisti.
- Nossa. Se eu tivesse uma agora, juro que daria para senhora. - ela riu.
- Não precisa. Perdi esse dom. Não perca o seu.
- Juro que isso não é desenho. Já desenhei mais, quando criança. Nunca fui dessas que desenha boneco-palito, sabe?
- Nem eu! Então aproveita enquanto você tem essa caneta. Não deixe que roubam. - e sorriu. Sorri também, mas depois fiquei meio aérea.
- Ah, senhora... Me roubaram de mim.
- Meça suas palavras! E gostei do "consuma" na última...
- ... Cena? - ri com os olhos. De novo (estou ficando boa nisso).
- Cena! - ela levantou, deu sinal, e desceu do ônibus.
Passei o resto do dia desenhando.
(clique na imagem para visualizar maior)