29 de agosto de 2010

amanheceu, veio me chamar de passarinho
só porque eu gostava de voar
só porque eu queria ouvir a história do moinho

ele me contava sobre céus e guerras
sobre histórias, o cheiro da terra
que tinha mudado junto com as nuvens

agora, ele voou
e eu quis pintar, em aquarela, o moinho
as asas, verdes, o passarinho

porque, sendo verde, quem o vê
costuma mostrar alegria fora de propósito
numa paz de espírito
ou em algo singelo

e, em cima de ti, passarinho, deixo esses versos, em manuscrito.




eu te amo.

27 de agosto de 2010

Queira ou não queira, acabou o carnaval

Vem.
Encosta a cabeça no meu ombro, e derrama todas as lágrimas que você puder. E se você não gostar desse termo - lágrimas - a gente pode dizer que é só um cisco no teu olho.
Mas hoje, esquece.
Esquece o que teu pai te dizia sobre homem não chorar.
Esquece, vem, esquece aquele dia.
Apoia a cabeça no meu ombro, e diz que eu sou tudo que você precisava, que eu sacio a tua carência, que eu sou a tua dependência, afinal, você já teve o que queria.

Cá, deixa eu encostar a cabeça no teu peito e te contar o meu sonho. Mesmo que eu não esteja precisando disso.
Amor, apoio.
Porque o que eu estou precisando mesmo é tirar essa areia do pé, e essa água salgada toda da minha pele.

Aí, quando você terminar, desgruda tua orelha do meu ombro, tua lágrima do meu pescoço, e diz que eu sou infantil.

26 de agosto de 2010

André

Uma sensação que não sentia há muito tempo.
Ele passou.
Nossos olhos nos apresentaram.
Eu passei.
Meu estômago foi apresentado às borboletas.
Nós passamos, em um desencontro tão desajeitado. Tão.
Ele piscou, e sussurou algo tão, tão baixo, que eu não consegui ouvir. Não consegui ler.
Não quis, aliás.
Tanta gente misturada, ele virou para ver se me encontrava de novo.
Eu virei, mas, com toda a covardia do mundo, desviei.
E, num suspiro só, como quem desiste, pensamos juntos (mais uma vez): "deixa".

23 de agosto de 2010

Xícara de plástico

Engole, junto com esse líquido preto, amargo e quente, e num gole só, essa insegurança.
Essa insegurança, ou essa precaução toda de fechar a janela do quarto para te ouvir melhor, para ouvir teus problemas, para resolvê-los e participar deles.
Essa precaução, ou essa insegurança toda de pensar até em ligar no dia seguinte.
Em pensar se você também se preocupa.

Mas goles como esses não solucionam problemas. Não problemas como estes.
Até porque, estes, não são problemas.
São probleminhas arranjados numa noite seca qualquer.

Ou, quem sabe, isso seja mesmo falta de açúcar.



falta de açúcar no café.

21 de agosto de 2010

Sábado

Mistérios.
O mundo, cheio deles.
Alguns, uns meros cientistas acharam cabível, apropriado, ou apenas bonitinho, de chamar de "mistérios da humanidade", como algo que nunca foi desvendado, mesmo sendo um mistério que pode ser desvendado. E as pessoas esquecem isso.
Vai ver, alguém descobriu. Mas assim como as pessoas se esquecem de procurar a resposta, o ser que descobriu esqueceu de expor a resposta.
Ou talvez, ele queira guardar essa resposta só para ele.
Uma perda de chance de ficar rico, convenhamos.
Uma perda de chance de ficar neurótico, venhamos.

Não acho cabível, apropriado, ou apenas bonitinho chamar esse tipo de mistério de "mistério da humanidade".
Se a humanidade existe, é pela responsabilidade de algum Deus ou Ser Maior que criou isso tudo. Ou de uma simples explosão no universo, que foi ridicularizada quando deram-na o nome de uma onomatopéia. Mas isso não convém.
Esse tipo de mistério, seria mais um mistério que a humanidade quer saber, e não um "mistério da humanidade", a humanidade não se preocupa com Atlântida, A Ilha de Páscoa, ou Jesus numa torrada.
Podem marcar (Atlântida marcou alguns anos da minah vida), mas o nascimento do seu filho, ou você passar no vestibular marca mais.

O que eu posso, e acho até bonitinho chamar de Mistério da Humanidade, é saber o que aquele saxofonista cego que toca num buteco sábado às 22hrs tem mesmo uma visão dele tocando num buteco sábado às 22hrs da noite.
Isso ocupa mais a minha mente do que um reino submarino perdido.

Deveria ocupar mais a mente dos que destroem mares procurando algo que já não faz mais nada além de livros.

19 de agosto de 2010

Uma resposta à reticência

Sejamos francos, jovem, o seu futuro é o meu passado.
Mas você faz tanta, tanta coisa errada...
Que, automaticamente e instintivamente, prevejo que você não vai ter tanta sorte assim.






tanta sorte quanto eu tive;
tanta sorte quanto eu quis ter;
ou tanta sorte quanto você acha que tem.

15 de agosto de 2010

De vez

Há apenas duas coisas que nos separam;
Uma, é o meu braço no seu ombro, impedindo que você me abrace.
Outra, é a sua timidez excessiva, que faz com que meu braço fique no seu ombro, enquanto dançamos.

Não viraria as costas para ti se você me pedisse um abraço, se você quisesse desenhar um futuro nas minhas costas, ou um afago.
Mas esse cigarro, que agora trago, e que suja o papel de cinzas impede que nossa sorte seja maior.
Impede que meu pulmão resista tempo suficiente para dançarmos de novo.
Sem minha mão impedir que nos abracemos.
Sem sua mão impedir que eu fume.
Sem sua timidez impedir que eu me apaixone.




e você sabe que isso foi pra você.

13 de agosto de 2010

Post em alemão do que aprendi e notei quando tinha 10 anos

Ein.
"Pára de comer esses doces e repete, menina. Assim você não vai aprender nunca!" E sublinhava a linha com o indicador direito. Repetia.

Zwei.
"
Mas oras, já disse que tem que forçar a garganta um pouco, se não, não fica nada parecido com o original!" e travou-me a língua, formando um trava-língua em outro idioma, o qual eu jamais havia tido interesse. Até eu conseguir falar forçando, um pouco só, a garganta.

Drei.
"
Quer um pouco de chá?"

Vier.
"
Será útil quando você crescer. É uma língua bonita, as pessoas adoram". Será mesmo? Sério mesmo?

Fünf.
Não bastaram muitas broncas para eu gostar o trema. Sempre achei bonitinho, singular. Todo mundo gosta do trema, mas as pessoas esqueciam de usar.
Eu não.

Sechs.
"
O que você acha que vai aprender olhando para o céu?" Nunca foi visto como uma coisa má olhar para o céu. Até eu descobrir que o céu era blau e as pessoas, muitas vezes, eram schwarz por dentro.
Foi com o céu que eu aprendi isso, juro, vó.

Sieben.
Apesar da malícia aparente (ou quase isso), tenho um bom coração. Por isso, não saía pela rua falando alemão.
Deixava que o alemão viesse até mim.

Acht.
E, quando ele chegava, eu juro, vó, que tentava ouví-lo ao máximo. Mas eu não conseguia parar de olhar para seus lippen se mexendo freneticamente, tentando me fazer entender algo que eu não conseguia.
Porque, no começo, eu só gostava das figuras.

Neun.
"Me desenha um pássaro que faço o que você quiser para o almoço". Quase sempre, escolhia o que iríamos almoçar.

Zehn.
Até que uma vez, eu cansei de brincar.





eu espero que você melhore, dona heide. porque eu ainda não sei como é "vermelho" em alemão.

8 de agosto de 2010

Pode ser que eu ainda sinta.

Confesso que não sinto saudades quando devo, mas sinto saudades quando não posso. E que, talvez, justamente por causa dessa confissão, não goste de me prender às pessoas.
Às vezes eu penso que nasci para não ter relacionamentos. Mas, outras, eu tenho a certeza de que nasci pra trazer segurança aos que não tem, aumentar o ego de outros, e trazer, apenas alguns sorrisos diários para terceiros.
Mas para falar a verdade, eu não tenho certeza de nada.

Confesso que, nesses momentos em que sinto saudade, esqueço. Esqueço do mundo, esqueço das cores, e, quando o ônibus freia, esqueço de quem sentia saudade.
Saudade, como vontade, o vento, as pessoas, e os amores, é algo passageiro.

E, confesso, que quando é você quem esquece, você nem lembra de como dói.