29 de setembro de 2011

Só sei que nada sei e não quero saber

coitado de quem não sabe andar de bicicleta
se é a única coisa que a gente não esquece
quem não sabe andar de bicicleta
não vai ter nada pra lembrar

24 de setembro de 2011

andré

Eu tinha alguns envelopes e seu endereço. Os envelopes eu achei hoje e confesso que, o seu endereço, não. Procurei-o há tempos atrás loucamente, enquanto procurava meu coração. Por não achá-los, talvez os dois estejam com você.
É o que eu espero, pois sou esquecida: é fácil eu ter deixado meu coração com alguém sem querer, ou esparramado no ônibus para alguém encontrar.
Mas essa coisa de "alguém" é tão incerta, não me agrada muito.
Por isso eu prefiro sempre pensar em você.


Quero dizer, em você com meu coração. Porque independentemente do estado que ele esteja, está em boas mãos, ou boas gavetas.
E eu torço com toda força de quem deseja, que você possa um dia achá-lo.
E me devolvê-lo num envelope.


(Com seu endereço).

20 de setembro de 2011

Dicionários

quando
as paredes do banheiro
transformam-se em diário
minhas palavras viram espelho
e o vapor que sobe sóbrio
aumenta o vocabulário
a asfixia ocorre
vira conselho



quanto mais corro
mais fundo cavo

19 de setembro de 2011

Meros

não deveríamos apontar
para estrelas,
elas não precisam de outdoors
como nós
mortais


18 de setembro de 2011

dois

é possível ser feliz de verdade amando de verdade?
nunca pensei que fosse cair nesses clichês ou nessas armadilhas.

Dona Ana mandou um beijo

más
caras,
vem e vão
o que
- e você sabe
é o que
elas
fizeram.


detesto
exageros
que
não possuem
um fundo escasso


tampouco
gosto
de
pe
que
nas calçadas
vivi


ou procurei...
más
caras
que
(não)
volta
rão

15 de setembro de 2011

hoje não choveu

quando não só a cafeína
me faz ficar trêmula
a boca que aguarda
o ósculo
se move em vão

14 de setembro de 2011

Deixa, deixa

ai, da minha alturisse.
se eu ficasse um pouco mais na ponta dos pés, alcançaria: e você sabe, você vê.
mas eu não alcanço e às vezes, quando vejo meu reflexo nas janelas dos ônibus, me culpo por proporcionar o máximo que consigo: um encontro de corpos que dura pouco.
gostaria até que durasse mais, e você sabe, você vê.

ai, da minha adultisse.
se eu tivesse um pouco mais de tempo ou de maturidade já não me impressionaria mais com essas coisas; e ainda bem que não tenho tanta maturidade assim.
uma milha de acaso acontecem por causa dela; e talvez ela deva se sentir culpada; por eu me sentir assim.

ai do coração.
se eu fosse um pouco mais fria e calculista, não sairia prometendo assim todo amor do mundo,
mesmo que só pra mim.

11 de setembro de 2011

Em vermelho, pra ninguém esquecer.





10 de setembro de 2011

Quero que você (me) ganhe, que você (me) apanhe

Acho que você colocou na minha cabeça essa história de te-me-ver nas outras pessoas, nas outras coisas. E não sei se isso é bom ou ruim, e na verdade, não quero saber.
Tampouco me interessa quando vai durar, e ainda não parei para pensar se quero que dure.
Mas hoje eu te vi no rapaz com camisa do Real Madrid e chinelos no supermercado; e te vi no rapaz que consertou minha bicicleta. Te vi ainda, numa foto e num cochilo.
Te vi no cotidiano, nas coisas simples
Te vi no sábado, espero que saiba

Alto lá: tenho uma pequena, pequenina certeza, e essa vem do medo do limite:
vai que eu te vejo em mim?


Aí não tem mais jeito, nem pra Caetano.

9 de setembro de 2011

é permitido permitir/ lista de sugestões de músicas pro leonardo colocar no blog dele (e pra vocês ouvirem, por que não?)



1. Baby - Os Mutantes e Caetano
2. Andança - Beth Carvalho
3. Folhetim - Chico Buarque
4. Recado ao Poeta - Paulo César Pinheiro
5. Disparada - Geraldo Vandré (ó a responsa!)
6. A Matança do Porco - Milton Nascimento
7. Falador Passa Mal - Os Originais do Samba
8. Juca Bobão - Wilson Simonal
9 . Samba em Prelúdio - Toquinho
10. Amanheceu, Peguei a Viola - Renato Teixeira (vale?)
11. Como Nossos Pais - Elis Regina
12. Eu Amo Você - Tim Maia
13. Los Chicos de Ayer - Vanguart
14. A Flor e o Espinho - Paulinho Moska

8 de setembro de 2011

piegas, pleonasmo, portas e degraus

toda vez que thaís descia as escadas às 07 da manhã pontualmente, parava e subia alguns degraus de novo, lembrando do que tinha esquecido.
às vezes eram as chaves, às vezes era a luz ligada.
aí thaís descia esses degraus de novo e mais alguns, correndo para não perder o ônibus, que, pontualmente passava.

um dia desses, thaís descia as escadas às 07 da manhã, sem se preocupar com o que tinha esquecido - afinal, ela ainda não lembrara - e descia os mesmos degraus que estavam lá há anos sem mudar. e subia de novo.
mas nesse dia, depois que ela terminou de subir, viu felipe saindo de casa.
thaís sempre fora muito pontual e nunca vira felipe. cumprimentaram-se e sorriram por dentro.
thaís lembrou que tinha esquecido os livros.

num dia depois de um dia desses, thaís descia às escadas às 07 da manhã, se preocupando com o horário do ônibus, e antes que pudesse subir todos os degraus de novo, lembrara que o barulho de porta abrindo que ouviu podia ser da porta de felipe. respirou fundo.
os dois cumprimentaram-se.
e thaís lembrou que tinha esquecido a porta aberta.

aí, num outro dia desses, thaís nessa rotina às 07 de descer escadas, logo que acordou sentia falta de algo, mas não lembrava o que era.
e esperou descer alguns degraus da escada para ver se algo acontecia.
ouviu a porta de felipe.
os dois queriam-se.
e thaís esqueceu das escadas.

6 de setembro de 2011

Boa Viagem

tô com saudade de você, meu sossego
do teu sotaque do teu cheiro de tudo que eu hei de guardar
da minha rede, do balanço, do aconchego
dos teus sonhos, promessas, teu mar

tô com saudade de você, imensidão
de deitar no teu colo, na tua cor
da estrela no céu, purpurina no chão
da casa amarela, da viola, do amor

coração de mãe, minha cidade
que adotou sem questionar falta de experiência
deixei recado na porta dizendo que não sei se volto
ansiedade
juventude
mal de toda essência

e não sei se me arrependo
desse bem candango que sou
mas de ti não me desprendo
foi teu mar quem me criou

se fizer versos durante toda viagem
como quem faz filhos por amor
perderei - e você sabe - toda coragem
esqueço o posto de escritor

não me sai do pensamento
tampouco coração


ser humano ser maluco, eu
pernambuco.


3 de setembro de 2011

Tinha acento agudo e eu queria roubá-lo

É incrível como no meu mundo, ninguém pode ter o mesmo nome que o seu. Talvez justamente porque ele seja seu, e tudo o que me remete a você não tem um sabor muito agradável há muito tempo.
Pode ser ciúmes, fraqueza de espírito, carência, como você preferir. Mas eu chamo de saudade.
E o problema não é você sair por aí rabiscando nome de outra mulher, rabiscando-a, ou pensando em rabiscá-la. O problema sou eu, parada aqui, rabiscando o seu e deixando público o gosto da dor leve que fica depois de memórias indigestas.

Se eu pudesse mudar alguma coisa entre nós dois, mudaria-me.

2 de setembro de 2011

luto

Fui criada com gatos toda minha vida até agora. Hoje, tenho quatro gatos em casa.
Talvez tenha sido o contrário: gatos foram criados comigo durante a maior parte da vida deles. Espero que tenha sido bom para nós dois.
Quando nasci, duas gatas já me esperavam.
Uma fugiu, outra ficou conosco até onde suportou, alguns anos depois. O pior é que tenho vagas lembranças - mas pesadas vagas lembranças de ambas. E sinto falta sem nem pensar duas vezes.

Fui criada com gatos toda minha vida, e não cabe nem nos dedos quantas vezes quis ter um cachorro. Só para variar; para achar alguém que voasse em cima de mim quando eu entrar em casa. Afinal, gatos não fazem isso. O máximo que eles fazem é te esperar atrás da porta enquanto você ainda está medindo esforços para subir os primeiros degraus da escada.
Queria um cachorro que latisse por qualquer bobagem, besteira ou ciúmes. Porque, oras, gatos não fazem isso. Seu miado só é alto quando sente medo, e ele sempre te procurará nessas oras.
Gato não presta, sabe?
É livre.
Mas são e sempre foram os melhores amigos que eu pude ter durante toda minha vida.

E se hoje eu procurar alguém para o resto desse "toda minha vida" que ando repetindo por aí,
hei de achar alguém que não mie demais, que seja elegante, independente, carinhoso e que saiba cair sem se machucar.
Porque a maioria das pessoas também deveriam ter sido criadas com gatos.


foi bom enquanto durou.