30 de dezembro de 2013

Arte


William Turner - Dutch Boats In A Gale (1801)


William Turner - The Shipwreck (1805)


Winslow Homer - The Sunlight on the Coast (1890)


Winslow Homer - The Coral Diver (1885)


Winslow Homer - The Water Fan (1898)


Sir. Lawrence Alma-Tadema - A Reading from Homer (1885)


Marcus Larson - Stormy Sea With Ship Wreck (1857)


Marcus Larson - Night at Sea (1858)


Marcus Larson - Shipwreck (1850)
(detalhe das gaivotas no canto superior direito da pintura!!!!!!!!)


Victor Meirelles - A Primeira Missa no Brasil (1861)













29 de dezembro de 2013

Cadência

cheguei em casa
e não me aguardavas

cheguei em casa
com perfume de homem
que não o seu.

não condiz
e se amas o sabor de mulher
que não o meu

não me diz
pois amor é livre


mas somos guiados
pelas coincidências do sangue que corre.

22 de dezembro de 2013

Sétimo dia

Domingos são monótonos por natureza. Foram feitos para que as pessoas os passassem juntas.
Afinal de contas, sexta-feira e sábado já têm seu papel de alimentar o ego do indivíduo. Estamos preocupados com o que vestir, com quem sair, e com quem voltar pra casa depois.
Aos domingos, nada importa. E o que importaria, você, por live arbítrio, deixa pra lá. Talvez por isso as segundas sejam tão infernais. Mas você não prefere pensar nisso, afinal é domingo, dia de não preocupações. De colocar o tédio em dia, e de fingir um descanso.
E como é impossível ser feliz sozinho, estou chegando aí na sua casa com um bolo quente de fubá. Passe o café.

Vamos jogar conversa fora e comemorar a capacidade genial do ser humano de ignorar problemas corriqueiros e conseguir tranquilizar-se até com o programa do Fantástico.
E chegaremos a conclusão de que tédio compartilhado é felicidade.

8 de dezembro de 2013

Te têretêtêtê

Olha, nessa vida eu só tenho certeza de uma coisa: que quando o Jorge Ben morrer, vou ficar muito triste.

1 de dezembro de 2013

dia primeiro

Meu bem hoje comprou uma guitarra. Ao sair da loja, todo feliz e com o moleque do lado (que diga-se de passagem, descobriu-se percussionista), disse que a primeira coisa que fez foi me ligar.
- Amor!
Nunca atendera o telefone com uma exclamação tão grande. Estava num carro, tinha acabado de sair de um centro de meditação, tomei um susto.
- Tudo bem?!
- HJSHSJKHJDKHFÇLSÇKÇLDKFG
Ficou tudo chiado. Quase que pedi pro Léo, meu amigo, parar no acostamento pra eu já ligar pra polícia.
- Comprei uma guitarra!
- Comprou uma guitarra?!
- Comprei HKDJHJSKHDKLÇSD  - de novo - Tô saindo da loja SHKAHSLKDJKFG Você pilha de fazer um som?*
- Pilho! Como a gente faz?
- Te ligo mais tarde

E o mais tarde chegou. Ao vê-lo, abri um sorriso. Nem me cumprimentou direito, parecia pinto no lixo. Tirou do banco de trás um case gigante. Atendeu o telefone, segurando com força o brinquedo novo:
- Sim! Aham! Muleque, comprei uma guitarra que nem a do John Lennon!

Fiquei com a frase na cabeça.

Subimos, ele empurrou algumas cadeiras, a mesa, tudo para que a ficasse bem acomodada. O zíper do case foi se abrindo a medida que o seu sorriso fazia o mesmo. Pegou a guitarra pelo braço e, sem querer, a colocou contra a luz. Brilhou. Sorri. Sorriu. Sorrimos. Me entregou. Uma Epiphone caramelo-claro (?), com detalhes em branco, cheiro de madeira.
Fiquei sem reação.
Começamos algumas musicas e logo me empolguei. Não que eu entenda muito de guitarras, mas ela era realmente gostosa de tocar. E o som ecoava. Sorrimos mais algumas vezes.

Me pediu que tocasse O Bêbado e A Equilibrista.
Depois de alguns ensaios, comecei a tocar. Tudo errado, desafinando, de olhos arregalados para a cifra. De repente, ouço um choro baixinho. Sem parar de tocar, olho discretamente para o lado. Meu bem estava meditando, como de costume. Mas chorando como criança arrependida; que não chora alto, chora no canto, chora de leve.
Errei algumas vezes e ele nem sequer abriu os olhos. Nem para um cigarro de palha que fosse.
Terminei.
Meu bem abre os olhos como quando acorda, abre o sorriso como quando me reconhece, e segura na minha coxa como quando gosta. "Lindo." Assim, com ponto final e tudo.

Tocamos mais alguns sambas e skas queridos nossos. Bob Marley, Jimi Hendrix, Azulão. Tudo de uma vez só.
Tirei algumas fotos dele, e, Deus, que sorriso.

Teve que ir embora e quis porque quis deixar a guitarra aqui. E eu, sabendo do meu crônico adjetivo "estabanada", quis porque quis que ele a levasse.
Ele, sem a menor preocupação, encostou a guitarra no sofá, me deu um beijo bom e foi embora.

Somos um casal que busca sempre a prática do desapego, sabe.
E sabemos que a guitarra é só um objeto, fadado à destruição.
Mas quem diria que um pedaço de madeira com seis cordas faria tanta gente feliz?



* ps: casais que fazem arte juntos permanecem juntos

26 de novembro de 2013

those are hard times for people who believe in theirselves

bem
você quaaaaase me magoou
quase
mas parei
prossegui




e, bem
você quaaaaaase me magoou
mas o que não é amor não permanece
e o desapego é o que faz florescer



meu bem
nunca quis te magoar
e você quaaaaaaaaase me entendeu
quase
mas parou
e prosseguiu

8 de novembro de 2013

Mundo

carnaval
carne, sol, suor
fome
desabar

travesseiro
receber
ego
saudade
órgãos

estrelas
seios
cortinas
plurais

ter pai
e não tê-lo
ter deus
e temê-lo

jás
jazz
paz

nosso
verde
sim

aqueles
outros
que não
vemos.

4 de novembro de 2013

30 days drawing challenge atrasado

Me atrasei.
Resolvi fazer sketches rápidos, pelo tablet mesmo, embora ainda queira mexer com aquarela neste desafio.

Ainda tenho alguns dias para desatrasar.

Fico triste que, quando passo o desenho para o computador, ele perde MUITA qualidade, e, portanto, cor. Tomo muito cuidado ao trabalhar com tons parecidos; os quais simplesmente desaparecem quando visualizo a imagem pelo pc.
Blé.
 

Legendas:
4 - Your favorite place: minha cama, of course, my horse. 
5 - Best friend: meu pai. Gosto muito dos cílios loiros dele. 
6 - Favorite book character (can't be a movie): infelizmente (ou não!) a maioria dos meus livros preferidos já possuem versão em filme. Desde Herman Melville até Alexandre Dumas, passando por Herman Hesse. Escolhi, então, uma personagem que eu desconheço em filmes, mas é muito bem descrita no livro. É a Cass, do conto A Mais Linda Mulher da Cidade, do livro O Amor é Um Cão dos Diabos, de Charles Bukowski. O que parece um piercing mal desenhado no septo, é um grampo. Recomendo a leitura.
7 - Favorite word: "Sol". Não só por significado, simbologia, referência e simplicidade. Mas também pelo som - parece mantra.
8 - Favorite animated character: quando penso em animação, ou penso naqueles curtas maravilhosos e undergrounds que ninguém entende, ou penso na Pixar. Há um curta, que eu não sei o nome, mas me lembra infância e sei de cor. É sobre um velhinho jogando xadrez sozinho. Estreou junto com o filme Vida de Inseto, risos.
E ele segura esta peça no final do jogo.
9 - Your favorite tv show: POIS BEM. Call me cliché mas Friends foi a única série que eu consegui assistir até o final. E gostando.


Bléééééérgh.
E não sei porque saiu essa linha cinza no meio.

31 de outubro de 2013

Peixeira

- E venha cá, minha fulôzinha! 
- Não vou porra nenhuma! Já disse! Não vou! - relutou - Não sou tua, sou MINHA, e você não manda em mim! Vá-se embora!
O homem olhou-a nos fundos dos olhos. Ela sentiu medo. Ele deu um sorriso sacana e foi aproximando-se, com passos firmes embora vagarosos. Sem perder o sorriso, indagou:
- E se eu for MESMO embora, o que a sinhazinha vai fazer?
A moça não parou nem pra pensar. Tinha fama de saber desafiar os machos todos e nenhum, nenhum mesmo, tivera coragem de puxar uma arma para a moçoila. Tão logo, respondeu:
- Eu vou viver a MINHA vida, que não tem nada, nadica, a ver com a sua. 


O homem chegou a seu encontro encarando-a. Ela respondia o olhar mas não respondia o sorriso. E que sorriso ela tinha. Combinava perfeitamente com as maçãs jovens de seu rosto. Combinava perfeitamente com o sexo dele.
E ambos sabiam.
Ele encostou sua testa na dela, e fixou mais ainda (como se isto fosse possível) o olhar. Parou de sorrir. Ela sorriu. 
- Vá-te embora, menino.
- Me manda ir embora de novo.
Ela ficou em silêncio.
Ele botou um cigarro de palha na boca e desencostou as testas. Acendeu o cigarro e deu mais um passo pra frente. E ela, um passo pra trás.
- Melhor: me chama de "menino" de novo.
- Vá-te embora, merda! Não ouviu?
- Não, não ouvi.
Mais um passo pra frente: mais um passo para trás.
- VÁ-TE EMBORA! Menino.
Ele sorriu com o cigarro na boca. Ela não podia dar mais passos para trás; encostara no armário velho que seu pai havia construído há anos e anos atrás. Com uma mão, ele puxou seu cabelo; com a outra, tirou o cigarro da boca. Fez com que ela encostasse o sorriso em tua orelha, fria, e pediu:
- Ainda não entendi.
Ela lhe deu uma mordida. Forte. Pareceria até uma criança pirracenta se tua boca não fosse tão carnuda e com tinta cor de fogo. Ela esperou que ele reclamasse. Mas isto não aconteceu.
Ela faz que não gosta de seus cabelos quase encaracolados, negros, sendo puxados. Crava as unhas longas e vermelhas em um dos fortes braços de homem que passa o dia inteiro debaixo do sol.
- Me solta! Me solta! Vou berrar!
- Ai, mulher, mas esperasse eu tirar a camisa pra me arranhar desse jeito, bichinha.
- Pois se tu não me soltar agora eu vou é berrar pra painho ouvir.
- Pois berre, berre pra painho ouvir!
- E por que tu tá rindo, é? Tá achando que eu tô brincando, é? 
Ele pôs de novo o cigarro na boca. Soltou o cabelo dela e ajeitou as calças. Fitava-o enquanto arrumava o decote, sem descer do salto.
Nenhuma palavra foi dita.
Ele deitou na cama e acomodou-se, estendeu os pés. Ela ficou parada na sua frente, e disse em tom calmo:
- Pode se retirar.
- Pois eu não vou me retirar coisa nenhuma, oia.
- Pois vá, a casa não é tua.
- Nem tua.
- Olha, menino... - ele interrompe. Larga o cigarro na janela e empurra-a, com bruta delicadeza, contra parede. Segura-a pelo pescoço, fazendo-a sentir seus calos grossos. 
Agora quem sussurra é ele:
- Eu só vou embora quando tu quiser mermo que eu vá embora.

 

27 de outubro de 2013

fim de orquestra

se me conheces o suficiente
sabes que eu gostaria
de estar sob seu corpo quente
com os lábios secos em tua orelha fria

 se me conheces o suficiente
conclui então que quero mais
com força, com carinho, com leveza,
com suor
com lágrimas
com sais


se me conheces o suficiente
sabes o que eu acho
sobre 
sobre
sobre
sobe
desce
vai
vai
vai
vai




ah!


sobre..
sobre o quê mesmo?

26 de outubro de 2013

notinha

    Ando com muita vontade de escrever. Mas me falta o quê.
    Às vezes, passeando pela rua ou durante uma aula chata, me vêm o início de algum bom texto: sobre medo de altura, sobre mais uma das minhas peripécias onibusísticas, sobre Paulinho da Viola. Gravo a frase que me veio à cabeça e decido continuá-la quando chegar em casa ou tiver um pouco de paz. 
    Minha inspiração é sacana: só surge quando não posso utilizá-la. Tenho tantas boas palavras guardadas dentro de mim, e elas só resolvem combinar no momento de uma prova chata sobre Aristóteles.
Além do quê, tudo o que quero escrever, alguém já escreveu. Não escreveria uma novidade, não faria o leitor prestar atenção. Não me faria prestar atenção. Gosto de coisas inéditas; e nem sempre minha opinião é uma delas. Aliás, só de pensar que alguém provavelmente já escreveu uma reclamação, digo, notinha semelhante a esta, me dá um desgosto no estômago. Blérgh.
Quero dissertar sobre a elegância de Paulinho da Viola quando preciso dissertar sobre as proporções da Arte Grega. E agora, que tenho tempo para falar o que quiser, simplesmente quero fazer nada.

Tenham todos uma boa qualquer coisa.

23 de outubro de 2013

30 days drawing challenge

Day 3: your fav food

Cachorro quente. Com mate. E mostarda escura!
Desde que aprendi a fazer salsicha vegan, minha vida mudou. E eu devo ter engordado uns 4kg.

Aliás,  tudo o que tem pão me conquista rapidinho.

Doodle feito com a mesma técnica de sempre.

22 de outubro de 2013

30 days drawing challenge

Day 2: your fav animal

Elefantes! Fiquei na dúvida entre elefantes e golfinhos, mas decidi pelos elefantes pois era fascinada por eles (e dinossauros) na infância.

Doodle toscao feito em 15 minutos também no aplicativo que não sei o nome.

20 de outubro de 2013

30 days drawing challenge

Day 1: Yourself.

Minha frase, bordão.  Fora os palavrões,  claro.
Me desenhei verde porque estou explorando outras cores. Em todos os sentidos possíveis.

Feito em "arte digital" (não sei o nome do aplicativo).

6 de outubro de 2013

Rafael

Estou tentando escrever isso pra você desde ontem quando você me deixou em casa.
Passei horas, minutos com esta janela aberta escrevendo e descrevendo tudo o que gosto e aprendo a gostar em você.


Mas, como sempre, prefiro apenas deixar minha gratidão por aceitar e retribuir o amor sincero que cultivo por ti.

É amor mesmo.


Um beijo.

2 de outubro de 2013

Confesso

eu tinha pensado
numa poesia
enquanto olhava
a rua pela janela
do ônibus.

mas esqueci
porque há dois dias
não dumo bem
não vejo nada
além de asfalto
passando bem rápido.
a abelha mestra.
está sempre cansada.

20 de setembro de 2013

4h

Faz-me tolerar,
Suportar,
E gostar de fazê-lo.

Faz-me crescer,
Sorrindo,
Puxando meu cabelo..

Fazer-te crescer,
Suar,
E então, és um apelo

A tudo que fiz
Que quero
E que farei pelo

nós.

14 de setembro de 2013

Serendipidade

as pessoas
se ajeitam
na frente do espelho
depois 
esquecem do jeito
que deram

12 de setembro de 2013

Beba-me ao vivo e depois também

Adoro a Elza Soares.
Esta rouquidão forçada e espírito de menina que nunca passa. Mesmo que, para isto, sejam necessárias algumas esticadinhas no rosto.
Mas isto não é problema meu.

Tampouco seu.

Deveriam existir mais pessoas como Elza Soares.

Mais artistas.


2 de setembro de 2013

Marasmo

Acordei com manchas de sangue espalhadas por toda a casa. Pelo corredor, pela bancada da cozinha, pelo chão branco do banheiro. De início, fiquei desesperada. Pensei que algo maior tinha acontecido pela quantidade de sangue. Mas quando te vi pintando na varanda, como faz todo dia de manhã, fiquei apenas curiosa.

Pensei em limpar o sangue.
Mas tinha acabado de acordar.
Pensei em te perguntar o que houvera.
Mas você estava pintando.

Percorri as trilhas cheias de sangue atrás de alguma pista do que pudesse ter acontecido. Achei cacos de vidro no chão e panos cheios, cheios de sangue dentro de baldes.
O sangue era tão denso que, além de seco, se tornara escuro, embora não possuísse cheiro algum. Ainda estava pegajoso, então não fora há tanto tempo assim.
Isto não poderia ser um mero acidente, pensei.
A menos que fosse um acidente decorrido de uma sessão de raiva. Aí seriam dois acidentes.
Ou uma sessão de raiva proposital. Normalmente você joga tintas e tintas na tela branca, mas quem sabe hoje tivesse tentado uma técnica diferente?

Passei pelo corredor.
Cheguei ao banheiro. O chão. Não podia tirar os olhos dele. Como aquela quantidade imensa de sangue justificaria sua paz de costume na varanda?
Talvez você tivesse descobrido meus outros homens.

Suspirei.

Talvez você tivesse descobrido meus outros amores fora o trompete. E, para mantermo-nos seguros, resolveu quebrar algumas coisas e sangrar um pouco, quem sabe? Assim a raiva passava e tudo ficava como antes. Você sem saber dos meus homens e eu sem saber de suas modelos nuas.
Se fosse eu, sangraria de mágoa.
Talvez você tivesse feito o mesmo.

Mas espero que não.

Apesar de saber que seus nus artísticos não são apenas nus artísticos,  e sim noites calorosas repletas de arrepios e gozos, não gostaria que soubesses de meus homens pois é apenas a você que declaro amor e companheirismo.
As coisas estavam bem como estavam antes.

Escovei meus dentes e fui até a varanda, encostei na porta e assisti o seu pintar por alguns minutos.
- Tudo bem? - os dois perguntam.
- Tudo. - os dois respondem.

Fui à área de serviço e enchi um balde de água, sabão e peguei alguns panos.
Liguei alguma música alta o suficiente para que apenas eu ouvisse.
Limpei o sangue como se fosse mais uma de suas desastrosas ações com tinta.

Melhor assim.

23 de agosto de 2013

-

só quero uma generosa caneca de chope
e um bom sexo oral.

20 de agosto de 2013

haicai errado

tudo vai
tudo volta
é só abrir
a porta

Para Não Esquecer - Lembrar

Arrumando meu quarto inarrumável desde que cheguei à Brasília, achei alguns cadernos velhos. Muito velhos.
Compartilho a seguir alguns de meus escritos velhos. Sim: muito velhos.

I

"Lavou os pratos e planejou ir à cama. Mas ele já não estava mais lá. Não tinha tantos motivos para chegar ao quarto. A lugar nenhum, diga-se de passagem".
(18/04/2012)

II


"Ir para a parada de ônibus com a cabeça a mil já é rotina. O transporte público em Brasília é caro e quando você percebe que paga R$ 2,00 para andar 6 quadras você fica assustado. Algumas pessoas não sabem o valor de R$ 2,00. Essas, sedentárias (e posso afirmar com certeza) não vão ficar com a cabeça a mil até que falte algo. Comida, lar... Ou até R$ 2,00.
Independência é algo difícil. Liberdade não. Apesar dos dois andarem juntos. Quando você tem 14 anos você acha TODA liberdade do mundo pouca. Ela não vai chegar se você continuar sem saber o valor de R$ 2,00.
Arranjar um emprego fixo é difícil. A falta de colo materno é pior ainda. Roupa não-lavada fede. E você não vai ligar pra isso quando tiver 18 anos e com uma garrafa e cerveja na mão.
A grande lição sobre a vida é que R$ 2,00 não valem somente R$ 2,00. Nunca. Deixar a cabeça a mil por falta de algo não resolve. E se apaixonar é só pra compensar a falta de alguém.
Normalmente, pessoas valem mais do que R$ 2,00. Se privar das que valem menos ajuda. Ser otimista também."
 (Sem data; tinha 14 anos. Faço questão de, neste, comentar: ficou um tanto desconexo e com alguns erros. Mas é uma das palavras mais sinceras que já coloquei no papel em minha vida. Fazem muitos anos que escrevi isto, antes de ir para Recife, e neste fragmento previ meu futuro. Acho que era mais inteligente e perspicaz há alguns anos, talvez um tanto mais humana, inclusive. E, ah, o transporte em Brasília continua caro.)


III
"O poeta nasceu errado ou você que não o entende?"
(Juliana Mantovani, 2010, professora querida de literatura).

IV

"Não sei o que vi em você. Não sei o que investiguei em seus olhos, o que procurei no seu corpo e deixei acomodar-me sobre seus braços. Não sei o que vi em você para deixar você ir."
(2010)

V

"Você não é socialista ou feminista, você não pensa realmente assim. Você só tem 16 anos e quando precisar trabalhar para pagar o que pôr na geladeira esquecerás de todas as "marchas contra corrupção" que já fora, e mal se importará com o que o Governo faz ou deixa de fazer desde que te deixem comer o que há dentro da geladeira em paz.
Sua única posição em relação a isso será um comentário seco na hora do jantar.
Ou talvez alguns desses assuntos políticos ressurjam numa mesa de bar com colegas de trabalho, e, mesmo que pouco, você saberá argumentar. Afinal, você já soube que a "culpa é do sistema" embora tenha tentado por passos errôneos desfazê-lo.
Mas saberá argumentar porque o melhor argumento é de quem errou.
Sua mudança no mundo é pequena e pouco eficaz porque, apesar de esforçar-se, não consegue um aumento salarial ou até mesmo (por que não?) notas boas.
Manter uma média excelente no colégio"
(Com 15 anos. Inacabado)


VI

"Blame it on the jazz"
(2011)

- Neste momento amasso papeis em forma de bolinha e jogo ao léu. Meu gato pretinho vai atrás, desesperado. Jogo outra. Ele não sabe para onde olhar.
É engraçado.-

VII

"Metas de 2010:
1 Perder peso;
2 Arrumar um relacionamento duradouro;
3 Passar numa faculdade pública;
4 Terminar o curso de trompete;
5 Aprender a dançar;
6 Entrar numa banda;
7 Terminar meu curta;
8 Falar menos palavrão;
9 Aprender a andar de salto"
(2010. Realizei os números 3, 4, 6, e 9. Não necessariamente em 2010).

VIII

"Então eu estive cansada durante muito tempo até chegar aqui. Nesse meio tempo, criei dois peixes e um cacto. Doei os peixes e matei o cacto. Não, eu não me orgulho isso, mas só quero que saibam que foi necessário.
Em relação aos peixes, digo.
Ah. Às vezes eu quero me doar. Aí eu me doo porque sabe como é: não sou impulsiva, mas se estiver com vontade, faço. E sem pensar na consequência que isso vai ter na minha vida."
(2010)

IX

"- Vou cozinhar para você. - disse ele.
Derreti feito a manteiga que ele colocara na quente frigideira. Nenhum homem cozinhara para mim antes e era uma honra que ele fosse o primeiro. Tinha medo de me apaixonar"
(2011)

X
"Odeio ODEIO ODEIO odeio OoDEIO ODEIO DOEODIEO ODEEEEIO mosquito."
(2010)

XI

"Ela saiu e me deu um sorriso de adeus.
Eu retribui.
E este foi o maior erro do meu ano".
(2009)

XII

"- Faz isso não! Eu sou cardíaco!
- Porra, Vanderlei! Não perguntei porra nenhuma pra tu!"
(2010)

XIII

"Tava pensando na gente assistindo TV"
(Para Mendonza, 2011)

XIV

"Enquanto você berra 'ANA JULIA, ABRE ESTA PORTA, PORRA!', eu bebo o vinho que compramos em nossa primeira viagem juntos. Enquanto você berra 'ANA JULIA, ABRE AGORA ESTA PORTA!', eu solto lágrimas silenciosas que surgem do lamento das nossas velhas e intermináveis noites desaparecerem assim, por causa de uma loira de seios fartos no sofá. Você deve realmente sentir muito pelo tom que grita e pelo seu bater desesperado no pedaço de madeira que nos separa, mas não quero ouvir isto agora de ti.
E então você chora: 'Ana, abre esta porta, por favor'. Suplica. Sabe que errou. Eu rezo, do outro lado, suplico como você ao acaso, para que você consiga sem querer abrir esta porta.
Para que nos encontremos em lágrimas e queira me fazer de novo a mulher mais feliz novo.
Você pede para entrar novamente.
Eu morro por dentro a cada segundo.
Enquanto pensas em desistir, abro a porta.
E esqueço porque estava infeliz.
Amo você."
(27/12/2011. O perdão descrito por um amor sincero :))


XV

"Se você me quer
me queira
Mas num vem dizer
Que eu num avisei"
(2009)






15 de agosto de 2013

Jade

Não sei por onde começar.
Mas antes mesmo de começar, já sabia como se chamaria: Jade. Não Cecile. Jade. Pois apesar das máscaras, dos contos e dos sonhos que conhecemos, o nome que nossos pais nos dá é o verdadeiro.
Serei objetiva: eu amo você. Não por isso ou por aquilo, pela coerência, consequência ou voracidade dos fatos. Eu amo você porque simplesmente amo. Quero que todo o bem do mundo te aconteça e que todo o mal passe longe. Que você me ouça apenas quando eu estiver certa e me corrija quando estiver errada, usando palavrões e me dando tapas de mão pesada, como normalmente faz. 
Adoro sentir essa reciprocidade. "Essa" não: a nossa. Claro, minha mão não é tão pesada quanto a tua, e eu não sou tão inteligente e perspicaz como você. Não vi tantos filmes ou li tantos livros; e às vezes me condeno por não ter gostado tanto assim de Milan Kundera. Entretanto, sei que ela existe e isto vicia.
Gosto do seu jeito de ouvir e analisar o que ouve.
Mas gosto mais ainda do seu jeito de tragar minhas palavras que ora são tóxicas ora são leves, e, ainda assim, são minhas. Gosto da sua atenção ao sexo, ao jazz, às cervejas de estilos diferentes e aos chocolates, aos homens, aos conhaques mais baratos. Gosto também dos seus olhos cansados (oblíquos e dissimulados), reclamando, querendo ir embora; e do jeito doce que ficam quando peço, bêbada, para ficarmos mais um pouco.

Gosto do seu andar. Do jeito que acordas. Dos homens que sonhas em ter e dos que terá.

Mas gosto mais ainda quando escreves.
De repente, num passe de mágica, toda a sua feminilidade se faz presente. Todos os seus horríveis defeitos e qualidades se tornam fantásticos, se tornam indiferentes; simplesmente existem.
Você é um personagem delicioso. Um Eu-lírico delicioso, como o Renato.
Me tens tão fácil quando escreves que caibo em sua mão e entrelinhas. 
Teu universo é gigante. Quando escreves, mesmo que ainda interminadas as palavras, consegue pôr todo universo nelas. Talvez você se dê conta do quão fantástico isto é, mas suponho que seja apenas quando lê Drummond ou, até mesmo, Bukowski. Eu, particularmente, espero que você faça mais sucesso do que pode imaginar; que os jovens que comecem a ler e foder possam gostar de você o quanto nós gostamos deles. Porque conheço seu âmago e suas coxas; sei que és tão valiosa quanto Drummond e Bukowski.

Gosto do jeito que apaixona-se, do jeito que deixa outros homens apaixonados mesmo sem beijá-los.
Do jeito sutil e, ainda assim, sem jeito que ficas quando está triste e com a garganta entalada de berros. Torna a escrever, novamente. Torno a ler-te.
E, a cada palavra, amar-te mais. E mais. Imensuravelmente. 

Você é mais que uma amiga para mim.
Nunca me abri como abro-me para ti com outra pessoa. Me conheces de trás para frente; e o que não conhece, há de conhecer. Não que eu seja uma pessoa tão misteriosa assim, oras, sou tagarela, sorridente e reclamona. Mas sua sensibilidade entra nas entranhas dos seres e, lá dentro, busca o que há de melhor e pior. Traduzes isto em palavras.

Você, Jade, é como meus livros favoritos: conheço-os. Já os li inúmeras vezes.
Mas toda vez que abro-os, aprendo algo novo.

És genial. Pequenina. Imensa. Linda. Mulher. Não ouso sequer mencionar "menina", acho que já passou dessa fase. 

Sou eternamente grata por ter vivido, viver e viver muito mais um dos melhores momentos da minha vida ao seu lado. Crescer com você é fascinante. Somos jovens e não nos importamos com nossos pulmões quando fumamos e nem com nossos tímpanos quando vamos às festas malucas com música extremamente alta.
Desejo de coração que você, por nós, continue levando esse não se importar juvenil em suas palavras e alma.


O que você escreveu sobre nós três, mesmo que incompleto, está fantástico. Não por Ego ou autoestima, mas o que sou está lá. Mesmo que nunca tenha pegado numa Gewher 98.

Obrigada.
Pela paciência, vontade, pelos dias, noites, vindas para cá de metrô.
Eu amo muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito você.



Com todo amor, tesão e carinho do universo,

Ana Julia.



ps:
não queria ter citado tanto "eu" nesta carta.
Mas não sei outro jeito de falar de Bonnie sem falar de Clyde, se é que me entende.
Te amo novamente, menina dos girassóis.

ps1:
Com acento. A Reforma Ortográfica que se foda!

ps2:
No sábado, enquanto estávamos debaixo do sol das onze da manhã, na escada branca de degraus larguíssimos da Igreja Luterana, abraçamo-nos, como fazemos de costume.
O Artur, aquele rapaz sorridente e gentil que conhecemos naquele mesmo dia, viu.
Ontem, ele veio comentar comigo que poucas amizades são como a nossa.
É.
Somos transcendentais, nêga.

12 de agosto de 2013

comunista







o medo que dá
quando planejo nosso futuro
é um tanto pior
quando o mesmo chega


se teu beijo me fosse certeza
ah.
mas se teu beijo me fosse certeza!


se tu soubesses
que neste mundo
neste país estado cidade
naquela mesma casa
existe
alguém
que te gosta tanto
e te gosta tanto

você iria
além?





fala comigo.

31 de julho de 2013

Vocação

Ser criativo não é tarefa fácil.
Admiro os que dependem dessa coisa maluca e deliciosa (assim como algumas mulheres, mas isto é apenas um adendo) para sobreviver.

Enquanto lia o Xangô de Bakerstreet, para variar, na fila do ônibus, um rapaz jovem de camisa azul, calça preta e sapatos bem engraxados berrava versículos da Bíblia por toda rodoviária. Mas é lógico que ele parou do meu lado.

I

Acho que este fato, de eu ser a escolhida para atazanarem, não é mera obra dos Satanás e Deus testando minha paciência. Deve ser porque me incomodo com pouca coisa. Na verdade, me incomodo com muita coisa, mas não reclamo em público da forma usual. Prefiro fazê-lo escrevendo, por exemplo.
Mas uma das coisas que mais me irritam nesta vida nada mais é do que: o barulho. Essa coisa desafinada, dissonante, repetitiva e que os seres estabanados, descuidados, provocativos ou apenas completos imbecis causam.
Este detalhezinho irritante... Eu não consigo. Tenho que cessar.

II

Se você vive em sociedade urbana e atual sabe que o necessário para silenciar um barulho é: fazer um outro barulho maior ainda.
Pois bem.

Tentei me concentrar no livro. Todavia, as letras grandes e o vocabulário divertido não conseguiram me fazer prestar atenção. Fechei-o, marcando a página que lia com meus próprios dedos, e passei a observar o jovem pastor, padre, Testemunha de Jeová, ou como for chamado.
Ele carregava uma Bíblia debaixo do braço e mantinha outra aberta em uma das mãos. Lia o verso, frase, parágrafo e o berrava no meu ouvido. Depois, interpretava-o mais alto ainda. Afinal de contas, foi Deus quem escreveu o livro mas o que importa mesmo são as interpretações.
Começou seu discurso olhando para o chão.
Dizia que às vezes a vida nos põe para baixo. Que nada dá certo. E que nos afundamos em nós mesmos. Que estávamos, por fim, perdidos neste mundo caótico e cheio de pecados e que, se deixássemos, eles se aproveitariam do nosso corpo e alma cedidos pelo céu.

De repente, o homem ergue a cabeça, olha para o teto da rodoviária e grita: ENTÃO, SURGE A LUZ!
Tomei um susto. Tanto tomei que olhei para cima também.
Ele prossegue ordenando que os perdidos aproveitem tal luz. Que ela veio para nos salvar e que, muitas vezes, está em detalhes nas nossas vidas; mas que só os esforçados e dedicados a Deus poderiam, de fato, aproveitá-la.
Achei meio contraditório, mas como expliquei anteriormente, guardei para mim.

Cansei de olhar para o homem e voltei ao Jô Soares. Consegui me concentrar por uns instantes, e meu bom humor até voltara.
O rapaz percebe que não mais estou prestando atenção nele e chega mais perto ainda.
Continua a berrar sem sequer olhar no meu rosto, apesar de estar bem ao lado. Condena os pecadores e logo depois os perdoa, dizendo que ainda há salvação.
Não olho para o rosto dele também e ele parece aumentar o tom de voz.

Ele volta a ler um versículo da Bíblia, em voz muito alta novamente.
Respiro fundo. Eis que o homem solta um agudo na voz. Não sei porque diabos ele fez isto; talvez ainda esteja em fase de crescimento.

III

Parei para pensar um instante.
Sou jovem, cheia de saúde e energia. Meu ônibus ainda não chegara. Não conseguia me concentrar no livro.
Não tinha nada para fazer mais tarde naquela tarde bonita, apesar de tudo.
O que eu tinha a perder?


Esperei o rapaz parar para respirar e comecei:
- DONA ESPIRIDIANA JÁ ESTAVA ACOSTUMADA COM OS HORÁRIOS DO MARIDO! SABIA QUE UM DELEGADO DE POLÍCIA MUITAS VEZES PASSAVA A NOITE EM CLARO E MELLO PIMENTA ERA UM HOMEM DEDICADO A SUA PROFISSÃO! - logo, todos os olhares voltaram-se para mim. Até o olhar do homem, que antes me ignorava. Ao saber que atrai atenção, fiquei tímida. Quase desisti.
Mas não poderia abandonar o show deste jeito.
Comecei a agir como ele agira: andando, parando ao lado das pessoas. Fazendo de forma teatral. - ELE COSTUMAVA BRINCAR COM ELA A RESPEITO DO SEU NOME...

Eis que o pastor-padre-Testemunha-de-Jeová tenta berrar mais alto. Mantenho o tom. Geramos uma certa confusão e quando eu menos vi haviam algumas pessoas seriamente prestando atenção em nós. Me senti no palco, ainda que tímida.
Vi que estava fazendo isso errado e provocando apenas mais um barulho burro.
Logo, toda pausa que o homem fazia para respirar ou pensar nas interpretações, eu começava um novo trecho sobre a história do violino roubado.

O rapaz estava ficando deveras chateado. Não que, de início, esta fosse minha intenção; mas naquela altura, eu pouco me importava.
Estava inclusive me divertindo.

E foi assim até meu ônibus chegar.
Voltei à fila depois de recitar vários trechos andando em movimentos circulares e o homem pareceu se acalmar.
Uma mulher grita de longe, para mim:
- Ei! Não vai terminar a história não?

O homem fecha a Bíblia e parte para outro canto da rodoviária.
E eu, para a W3 Sul.


 IV
O que é a vida senão o marketing?
Parabéns aos publicitários, designers, desenhistas, escritores, deuses, e aos pastores-padres-Testemunhas-de-Jeová.
Não é fácil estar no lugar de vocês.
E, de fato, sem vós o mundo seria diferente.







obs:
Repare que eu disse "diferente".
Não bom, nem ruim.
Mas talvez um tantinho mais silencioso.

14 de julho de 2013

Anadotas sei lá o quê

I

O que é o tempo, senão uma brincadeira de criança? Quase como um jogo de tabuleiro.
Minha irmã, por exemplo, quando estava prestes a perder qualquer jogo, jogava o tabuleiro para o alto.
Bonito jeito de livrar-se do tempo, diria.

Mas o que é a vida senão aprender a perder?


II

ando tão e t í li ca
mas tão etíl ic a

que cambaleio


III

queria ser haicai
natureza e paulo
mas ainda sou rima
concreto e casulo

IV

Meu tipo de homem sabe tudo sobre Jean Paul Sartre, Miles Davis, Rodin e Dziga Vertov.

Mas prefere assistir A Hora do Pesadelo comendo batata frita.

10 de julho de 2013

justificativa

boto na cabeça
não quero, não devo


mas não me obedeço.



18 de junho de 2013

Para Não Esquecer - Meu sobrenome alemão

Minha memória é um tanto traiçoeira porque convive com minha imaginação. Ambas são bem temperamentais e teimosas. Quase nunca me ajudam quando preciso, mas sempre estão lá quando estou em desespero.

Estou convivendo com alguém que está desenvolvendo, infelizmente mesmo, o mal de Alzheimer. É uma coisa assustadora. Você demora mais de setenta anos para descobrir o mundo e, de repente, esquece de tudo. Percebi que assim como a fome dos meninos, os velhinhos esquecidos também me deixam bem triste.
Me fez questionar até o amor.
Acho que todos os poetas só disseram que o verdadeiro amor é eterno porque não se lembraram da existência do alemão que nos deixa loucos.

Mas, com alemão ou não, as coisas às vezes nos fogem à mente.
Não quero que pedaços da minha infância se escorram por aí. E como este mal de Alzheimer é uma pré-disposição genética, e minha infância é algo que tanto me inspira quanto me faz vergonha, escreverei. Pra variar.

Ah, tenham muita paciência caso dado momento da sua vida, você tenha que lidar com alguém que tenha Alzheimer.
Só isso que tenho a dizer.

12 de junho de 2013

A Cegueira Juvenil Em Relação Aos Mesmos



    Particularmente, irrito-me quando os jovens afirmam que o mundo é ruim.
Bem, o mundo não é ruim. Apenas está ruim. E sempre estará. Já foi melhor - e disso não há quem discorde. E este não é, certamente, o melhor jeito de começar uma crítica.
Mas quem são os jovens ao afirmar que o mundo é ruim, se nem sequer viveram épocas passadas? Apenas ouviram, viram e (cada vez menos) leram!
Não julgue os jovens. Eles têm o maior direito de ser pretensiosos e egoístas deste mesmo mundo todo. Estão apenas descobrindo-o, e nada mais lógico querermos tudo o que é belo só para nós. Tão logo, o mundo é belo, e os jovens querem conquistá-lo.
O mundo passa a ser ruim quando outras pessoas começam a inserir barreiras frente à essa conquista. Toda dificuldade pesa. Mas no começo, todo peso faz-se acostumar rapidamente, e por vezes transforma-se em esperança. Lindos. Os jovens são lindos.
O jovem, por ter todo tempo do mundo, se julga infinito. Chega até ao absurdo de usar palavras feias quando diz respeito às pessoas que mais o amam neste mesmo mundo: seus pais. Para os jovens, os pais terão tempo de perdoá-los. Afinal de contas, são jovens, e o mundo é uma descoberta. Dê-os tempo e eles o mostrarão o quão mal gasto e cheio de cor e vida ele será.
Entretanto, para os pais, seu tempo corre rápido e, o quanto antes ele descobrir que o mundo está ruim (e se resolver com isso), melhor.

O jovem, naturalmente pretensioso e egoísta, não é tão naturalmente pessimista assim.
Mas se seus próprios pais dizem que o mundo está ruim e que ele não pode sair na sua própria rua depois de um certo horário, é completamente entendível que eles se tornem rebeldes, chatos, mimados. Insuportáveis. Como a maioria dos jovens.

É insuportavelmente linda essa vontade de mudar.

Estupros, homicídios, pedofilia e maus tão maus sempre existiram e existirão neste mesmo mundo. Então seria muita pretensão e egoísmo meus afirmar que o mundo apenas está ruim, não?
Não.
Entre tanta dualidade neste mesmo mundo, ah, você sabe, caro leitor: devemos sempre buscar o melhor. Sei (bem) que é difícil, e que coisas ruins acontecem para pessoas ruins. E para pessoas boas também.
Mas o peso é menor para quem é leve. Parece meio óbvio, também sei disso. Mas é isso que os mais velhos invejam nos jovens: a leveza. Dos jovens, tal leveza vem da delícia que é a descoberta.
E, contraditoriamente, é isso que os jovens invejam nos mais velhos: a delícia que é saber usar o que descobriu.
Tão logo, o mundo é belo para quem sabe conciliar conhecimentos.
Repito: não julgue os jovens. Julguem aos que cometem artrocídios e maus tratos aos outros que estão por descobrir ou estão dominando o que descobriram. Estes sim impedem que o mundo flua, e, por consequência, fique mais leve.

Por outro lado, se não fossem estes, como saberíamos o que é a beleza?
Tem algo mais jovem que a justiça? Não falo por vingança ou qualquer outro tipo de sentimento que nos dá quando o sangue está quente. Falo por ver o que é socialmente correto acontecer. Se você concordou comigo, caro leitor, quando mencionei julgar ao próximo - há algumas linhas atrás - você tem em mente o que é correto.
É aquilo que nossos próprios pais, aqueles que, em dado momento promíscuo e delicioso de nossa vida, ousamos humilhar na frente dos amigos.

Há três coisas que devemos ter em mente sobre o que é certo e errado: o que nossos pais nos ensinaram, o que este mesmo mundo nos ensinou e a Lei.
Isso é, igualmente, lindo.
Quem lembra da Lei quando os ensinamentos de nossos pais estão sendo contrariados? Ela, em tese - e somente em tese - existe para conciliar tais ensinamentos de pai e mãe com o ensinamento do mundo.
E quando, em paz, ambos conseguem se misturar, não há quem discorde de mim: o mundo é belo.
E é constante descoberta, conhecimento, sabidez. Uma porrada de jovem, e outros que simplesmente esqueceram como deve-se viver.

Não me venha dizer, jovem, que o mundo é ruim porque o Woodstock já aconteceu. Exemplo nato de egoísmo.
Se fosses um tantinho só mais velho, falarias que o mundo é bom porque o Woodstock já aconteceu.
E não me venha, jovem, com ladainha de que Jimi Hendrix morreu e a música hoje não presta, e por isso não aconteceria hoje outro Woodstock.

Ouça mais às coisas ao teu redor. Pare pra ouvir, deixe de ser mesquinho. Quando quero dizer ouvir, quero dizer ouvir mesmo, e repetirei o termo até você entender que ouvir não é esperar o outro falar, como já dizia Chuck Palanhiuk.
Ouça aos que musicam e aos que querem salvar, ressuscitar, continuar a música. Nenhum tipo de música é ruim. Não pense assim do seu vizinho. Deixa-o que ouça o dele e ouça o seu.
E se te irritar, grita. Acha um saco, reclama em todas as redes sociais. Mas depois disso tudo, usa essa tua linda vontade de mudar mais o poder de persuasão. Quem sabe não sai um texto como este?

É assim que se muda o mundo. Expõe teus sentimentos, tua voz. Devagar e sempre.
Mas, acima de tudo, o mundo muda quando as pessoas passam a enxergar o que antes não viam.

E aí, por descobrirem ser o que não eram, tudo se torna bom.


Se você ler de novo, talvez faça mais sentido. E se não fizer agora, talvez faça quando você for mais velho.

Crazy

Let's Stay Together

My Girl http://tabs.ultimate-guitar.com/t/temptations/my_girl_crd.htm

Tears Dry on Their Own

Valerie http://tabs.ultimate-guitar.com/a/amy_winehouse/valerie_ver6_crd.htm

Ain't No Mountain High Enough

Lovely Day

Just The Two of Us http://www.911tabs.com/link/?5392768

Me and Ms Jones http://tabs.ultimate-guitar.com/m/michael_buble/me_and_mr_jones_crd.htm

Wicked Game http://tabs.ultimate-guitar.com/c/chris_isaak/wicked_game_crd.htm

Lets Get It On http://tabs.ultimate-guitar.com/m/marvin_gaye/lets_get_it_on_tab.htm

8 de junho de 2013

Só é possível ser feliz sozinho

I

Em meus bloqueios criativos odeio poesia,
odeio a natureza,
odeio acordar.

Em meus bloqueios criativos odeio tudo o que é verso,
inverso,
e contrário.

Em meus bloqueios criativos odeio tudo o que é repetitivo,
sem beleza,
e se diz distante de um novo amor.



II

"Junho" é palavra de fanho, reparem bem.

5 de junho de 2013

Quem puxa o gatilho não avisa que vai atirar

detesto escolher
mas para mim não tanto faz

ou vai logo
ou não diz que vai.

3 de junho de 2013

i'm a drunk sailor

2 de junho de 2013

é que eu não sei explicar

quando você me beija
é que assim
eu adoro suas mãos no meu cabelo
sua boca no meu pescoço
e quando você desce pro colo
mas é que quando você me beija
não tem lugar que me faça ir mais alto
pra você colocar suas mãos
do que entrelaçadas às minhas

23 de maio de 2013

Brasiliense

Eu gosto muito do mar.
Mas gosto mais de você.

















mentira.




cc
coisa linda sound  system

8 de maio de 2013

Jorge Ben

não está me deixando sossegada
será que ele não sabe que eu fico acordada pensando nele, todo dia, toda hora?
passando pela minha janela todo dia, toda hora?
sabendo que eu fico a olhar...


com malícia.


a sua pele preeeeetaaaa.
com malícia.




será que quando eu fico acordada pensando nele, ele pensa um pouco em mim?


um pouco em mim?
com malícia?

6 de maio de 2013

amores perros

ele ficou com o livro do sartre
e eu com o cd do cólera



tô esperando de volta até hoje

25 de abril de 2013

sussuarana

alemão e russo
também fica triste
mas mais triste que brasileiro
não existe

com voz velha grave
voz velha aguda
a tristeza brasileira
é doída, miúda,
silenciosa
muda

tem som de violão
de choro
de palma
a tristeza brasileira
tem gosto de barro
de madeira
de sonho menino
e de homem decepção

alemão e russo
também fica triste
mas mais triste que brasileiro
não existe

brasil tem tanta poesia
mas algumas só o santo sabe
a saudade que deixaram no canto
não dá em verso
não dá em frase
mas em soluço
cabe.

alemão e russo
também fica triste
mas só o brasileiro
tem tristeza que pesa.

verdadeiro,
palavra errada,
pra mode doer
em quem também
é brasileiro.

21 de abril de 2013

Eu esperei por esta noite uma semana

Café quente e sem açúcar no copo de vidro é a coisa que mais lembra minha infância no Rio de Janeiro.
Descíamos para tomar café da manhã numa padaria que ficava na esquina de casa. O bairro cheio de árvores e gente saudável trazia bom humor. Até o homem bêbado que sempre estava na quina de alguns prédios era bem humorado. Deve ser por conta do sol: estava sempre radiante. E quando chovia... Bem, não lembro de ter chovido um dia sequer na minha infância.

A padaria era bem simples. E pouco charmosa, para ser sincera. É o que nós chamamos hoje de pé sujo, mas nestes anos eu chamava de restaurante. Não serviam arroz ou feijão naquele lugar, mas serviam o melhor misto quente e café que já provei em todos essas primaveras que me acompanham. Sou incerta quanto ao adjetivo de "melhor" misto quente e café, já que provei vários - e hei de provar mais. Mas só aquele café fazia eu sentir o gosto ruim que tinha. Amarguíssssssssimo. Às vezes, até fechava os olhos e prendia a respiração para o café com gosto de gente adulta descer.
Mas quando eu conseguia manter os olhos abertos, eles estavam concentrados nos azulejos portugueses que decoravam a parede. Legítimos azulejos azuis e portugueses. Alguns lascados, principalmente os que ficavam atrás da chapa quente. Estavam lá há anos, e ainda persistiriam por mais alguns (ainda bem!).

Aposto que eu e o dono da padaria sentíamos o mesmo carinho por ela. Afinal, ela nos fornecia o pão de cada dia. Me ensinou a gostar de café ruim, digo, amargo e de um bom misto quente domingo de manhã.
Engraçado, lembro-me que o café era ruim no começo e pior no final. Não sei o porquê. Acho que toda a concentração de café ficava no final do copo. Então a coisa mais deliciosa dos finais de semana da padaria eram o meio do misto quente (onde tinha mais queijo) e o meio do café (onde tinha menos café). Isso tudo no começo dos domingos.
O copo esquentava e mal dava para se pegar, tampouco com mãos minúsculas como eram as minhas, e era incrível como os homens formados, magros, escuros, mas de braço forte conseguiam pegar o copo de mão cheia. Mesmo saindo fumaça e tudo.
Obviamente, eu desconhecia o que são os calos e as insensibilidades da pele.

Hoje eu até quase consigo segurar de mão cheia.
Quase.






19 de abril de 2013

Anadotas de quem é sincero

I

Estava eu chegando em casa depois de um exaustivo dia. Por estar saindo do estúdio, carregava meu violão num case enorme e alguns cabos que não cabiam na mochila. De chinelo, short e toda suada, passo na frente de um bar. Um senhor beberrão grita:
- Nossa, você toca? Eu também toco, vamos tocar juntos!

Nem ouso olhar para o sujeito e continuo andando. Atravesso a comercial e vejo já o meu prédio.
Um homem passa por mim e diz, aleatoriamente:
- Eu também toco! Mas toco de ouvido, não precisei de aula com professor não.
- Poxa, cara, que bacana! Me ensina! - respondi sorrindo, meio sem graça.
- Quem sabe um dia...! - proferiu o rapaz, sem parar de andar.

Chego, enfim, na última rua para chegar à minha casa.
Num dos bancos que ficam em frente ao bloco, estava sentada uma senhora que está sempre bem arrumada e passeando pela quadra, com jóias. Há anos ela faz a mesma coisa todos os dias. Morei fora, voltei, e ela continua lá. Finíssima.
Durante toda minha infância pensei que ela esperasse alguém. Mas hoje acho que ela quer arrumar um namorado.
Passei na frente do banco suando mais do que suei o dia inteiro. Desesperada para chegar em casa.
- Psiu! - a senhora me chama - Ei, psiu!
- Oi? - olho para senhora sem muita expectativa.
- Você toca violão?
- Toco sim.
- Acho lindo mulher que toca violão. Lindo.
- Obrigada, poxa. - disse, sem graça (porque não sei receber elogios, desta vez).
- Espero que continue tocando até o resto de sua vida, minha filha. Assim você terá todos os homens na sua mão.
- Obrigada, obrigada! - sorri grande.

Tomara, minha senhora.
Tomara.


II

Sexta-feira. Entrei no ônibus e percebi que estava cheio de rapazes bonitos. Mas sem muita expectativa, sentei na frente de um deles.
Distraía-me com a W3 sul quando o rapaz que estava atrás de mim me cutuca:
- Nossa, moça, qual é o nome do seu perfume?
- Putz, sabe que eu não sei?! Mas é um nacional, da Boticário, eu acho.
- Sério? É tão bom, adorei. Na verdade é tão bom que parece importado.
Ri mas fiquei reticente. Agradeci o elogio e virei para frente.
Escuto de supetão, baixinho, uns outros rapazes atrás dele comentarem:
"Nossa, que bicho burro! Pergunta o nome do perfume mas não pergunta o nome da menina".

Ri.


III

Fui comprar pão de manhãzinha na padaria perto de casa. Na fila, sedo o lugar para uma idosa de cabelos brancos e chinelo confortável de pano.
Olhando para minha tatuagem na coxa, a dona pergunta:
- Olha, isso daí não doeu não?
- Hein? - pedi que repetisse
- Isso daí, esse negócio aí na sua perna. O que é?
- Ah, é uma caravela. - levantei um pouco do short para que ela pudesse ver melhor. - Vê?
- Ah, tá. E esse negócio aí não doeu não?
- Olha, doer doeu. Mas é totalmente aguentável e eu n...
- ... Credo, Deus me livre. - fui interrompida - Essa juventude tá toda bagunçada.
E a senhora vira pra frente, prestes a ser atendida.
Pede alguns pães e eu volto ao jornal que estava lendo antes disto tudo começar.
Ela pega os pães e antes de sair dá uma última olhada na minha tatuagem. Faz uma cara de desgosto e conclui:
- Mas se te faz feliz, né?
E sai andando em passos apertados.




Mas se te faz feliz.
Então continue fazendo.

16 de abril de 2013

Fazer a barra da calça

Me choca a pequenez humana.
Nosso presente é tão minúsculo quanto nós.
Quanto mais se sonha, menos se tem.
E o futuro é só o resto do Ego que nos resta.

Me choca a pequenez humana.
só falta ajeitar o cós,
a calça veste bem.
no final das contas, esta costureira é única que presta




A pequenez humana é um fio de lã passando no buraquinho da agulha

4 de abril de 2013

Anadota problemática de quarta-feira

I

Saí 30 minutos mais cedo do trabalho e coloquei na mente que aproveitaria tais minutos para resolver alguns problemas. Escolhi resolver o problema das camisas brancas: não as tenho. Queria algumas simples, sem estampa ou "gola V". De algodão, de preferência. Descobri que são vendidas por preço razoável nas Lojas Americanas.
Então, nesses 30 minutos livres, eu ia à Lojas Americanas.

Mas se você também trabalha numa rua movimentada, sabe que um tanto desse tempo é insignificante. E se você, além de trabalhar numa rua movimentada, também depende de ônibus, sabe que esse tempo é completamente insignificante.

Então foi tudo ilusão. Gastei todo o tempo dentro de um ônibus fedorento e quebrado. Presa no engarrafamento. Lendo Cortázar, que é pra dar mais dor de cabeça.
Não desisti. Cheguei ao shopping, comprei as camisas. Coisa rápida. (Quero dizer, "rápida". Lembre que eu estava em uma filial do shopping mais popular da cidade da Lojas Americanas, às 18 horas. Entenda).

Me deu fome.
Quis porque quis um milkshake enorme de ovomaltine. Mas estou de dieta, e tentando seguí-la. Me vi então pedindo um suco de abacaxi com gengibre num restaurante natural (ó!), quando, de repente:
- CPF na nota? - pergunta a caixa
- Quero não.
- Só um minutinho, tá bom?
- Tá. - respondo pegando a nota fiscal.

Sento em uma das mesas da praça de alimentação, bem em frente ao balcão que fui atendida. A caixa carrega o papel com meu pedido até a cozinha do restaurante.
Espero alguns minutos jogando qualquer coisa no celular. Sai a caixa da cozinha, batendo a porta, voltando ao caixa em lágrimas.
Me chamou atenção mas voltei ao jogo.
Daí que saí a possível cozinheira louca, com uma faca na mão. E um homem atrás, assustadíssimo.
- Eu vou te matar, sua piranha!
- Então mata, vai! Aqui, ó! - disse a caixa apontando para o próprio pescoço. A praça de alimentação vira um centro de rostos assustados e silêncio, pleno silêncio, silêncio que faz uma criança curiosa ao descobrir algo. Me levantei e já ia desistindo do suco, pegando minha bolsa e reclamando em perder sete reais assim. Mas a cozinheira maluca não deixou. Aos prantos, ela pergunta:
- De quem é esse suco?!
Parei e olhei para ela, já perto da escada rolante.
Ela repete:
- De quem é esse suco?! - e joga o suco no chão. Volta a ameaçar a caixa - Olha aqui, minha filha, tu tava me testando. Se você tá achando que aqui as coisas são assim, vou te mostrar como são. Estagiariazinha.
- O que que foi, minha filha? Não quer me matar? Estou aqui esperando, ó! - aos berros, encorajando a cena do crime. O homem tentou segurar a mão da mulher com a faca e levou um soco. Um cruzado, propriamente dizendo. Eu, parada na escada rolante, vendo meu suco no chão, fui empurrada por um monte de seguranças. Que receberam outros tapas.
Certeira, a possível cozinheira fez com que um desses tapas pegasse na caixa.
Aí a coisa ficou feia e alguns homens que assistiam à cena começaram a gritar.
Os dois ou três seguranças pouco podiam fazer para separar as duas moças loucas e, por alguma razão, a cozinheira insistia em perguntar:
- De quem é esse suco?

Eu não sabia se respondia ou não. Se permanecia lá quieta, se respondia de lá, se ia lá responder, se largava tudo e ia pra casa. Fiquei sem reação simplesmente porque sabia que era meu suco. E não faço ideia da quantidade de problemas que um suco pode gerar.
Até então.

Um dos seguranças conseguiu acalmar a caixa, que respirava fundo e chorava, chorava. Sabe-se lá porquê.
A mulher da faca ameaçou todos que estavam olhando de morte, ao segurança e à caixa. Tirou o avental, pegou a bolsa, largou a faca e saiu chorando, correndo.
Os homens que gritavam gritaram de novo.
Desci as escadas rolantes um tanto ainda assustada, confusa.

Me sentirei culpada até quarta-feira que vem.

Às vezes temos que nos permitir sair da dieta.





obs
algumas frases e palavrões foram excluídos do diálogo a fim de manter o bem estar social

26 de março de 2013

Abobrinhas

Pré Psicopata ainda é um nome muito adolescente pra mim. Não que eu ainda não tenha um quê de adolescente rebelde, mimado e teimoso, mas agora eu ando pagando minhas contas então me dei o direito de ser rebelde, mimada e teimosa.
Não cresci tudo ainda. Calma.
Mas agora qualquer tipo de lamentaçãozinha babaca é melosa e chata, acaba virando abobrinha.

Então cresçamos.
Não mudarei a url porque sei que tem gente que, apesar de não comentar (nunca há comentários aqui), me visitam sempre (vide "estatísticas"). E quero que continuem assim.
Os ouvintes silenciosos são os melhores.



Vamos ver quanto tempo de ladainha isso aqui aguenta.

25 de março de 2013

Vinícius de Moraes

um pouco de infelicidade
não faz mal a ninguém

15 de março de 2013

Simples

se nasces
cresces
e morres
existiu
se nasces
cresces
justificas o nascer
e morre
viveu

13 de março de 2013

Anadota pra você interpretar como quiser, mesmo que eu sugira tal interpretação no final

I

Hoje, ou há alguma uma hora atrás (escrevo logo senão esqueço), peguei o quarto ônibus do dia para ir ao trabalho. Paguei a taxa de 1,50 reais - mais barato que a maioria dos outros ônibus aqui em Brasília, que chegam até 3,00.
Neste ônibus embarcam muitas pessoas diferentes, pois além de fazer todo o Eixo Monumental (nos leva aos Ministérios e outros prédios de responsabilidade Federal e Governamental) ele passa pela Nova Rodoviária. Esta, construída há não muito tempo atrás, possui linhas para o resto do Brasil. Logo, pego ônibus com engravatados e mal-trapilhos, por assim comparar.
Por acaso, escolhi o assento mais perto do cobrador. Apoiei os pés nos ferros que sustentam a cadeira dele, e voltei ao livro que estava lendo. Pessoas embarcando, todas elas diferentes e sem parar. Porém, dado um momento, a fila parou. Senti a diferença mas não quis erguer os olhos para observá-la. Não tinha porquê, até eu ouvir a voz rouca de uma senhorinha muito mais baixa que eu (veja bem, tenho 1,63) tentando se sobrepor à voz do cobrador (esta, grave e em tom chulo). A senhorinha se encaixava no grupo dos mal-trapilhos, sem dúvida. Carregava um saco de lixo preto cheio de não-sei-o-quê numa mão, e na outra uma pasta amarela que parecia ter todos os seus documentos dentro. Calçava chinelo e usava lenço na cabeça.
Gaga, a senhorinha pedia uma resposta ao cobrador:
- Es-es-es-este ô-ô-ô-ônibus vai para a no-no-nova rodoviá-á-ária, hein, moço?!
- Vai não, minha filha, já lhe disse.
- Ma-ma-mas o moço disse, lá fora, que ia!
- Ele errou. Não vai. Agora desça, vá.
E gaguejando, reperguntou ao moço se ia à Nova Rodoviária. O homem apoiou a mão na testa e soltou um suspiro esbaforido, lamentando.
A essa altura, eu já tinha erguido a cabeça para ver o que acontecera. Como todos os passageiros, eu permanecia calada e alheia à situação, mesmo sabendo que o ônibus ia sim à Nova Rodoviária. Depois me lembrei que estes motorista e cobrador sempre rejeitavam pedintes. Mas não tinha até então entendido o porquê d'ele achar que ela era pedinte, afinal de contas, apesar de mal vestida, não apresentava nenhum indício de que não poderia (ou conseguiria) pagar passagem. Seria muita pretensão pensarmos isso.*
Ela permanecia em pé, com o saco e a pasta em mãos. Esperando uma resposta. O motorista ainda não tinha chegado. Os passageiros, assim como eu, estavam apreensivos.
A mulher tenta gritar, mas por ser rouca não consegue. Acaba gaguejando mais ainda, e exigindo uma resposta:
- Mas su-su-su-sua mãe nããããããão lhe deu educação?!? Por que nãã-ão me re-re-re-re-re-responde?! Só po-po-po-por que eu não sei ler?!

Depois dessa última indagação, meu coração deu uma leve disparada -  e eu tenho certeza que não foi pela quantidade estúpida de café puro, preto e quente que tinha tomado há um tempo atrás - embora não saiba o motivo.
Levantei para que a senhora me visse. Respondi, em alto em bom tom (como de costume):
- Vai à Nova Rodoviária sim, minha senhora.
Sentei.
Voltei ao livro. Mas é óbvio que não estava prestando atenção alguma na história.
"Puta que te pariu", sussurrou o cobrador. A senhora ficou sem resposta.
Não me agradeceu, nem me xingou. Nem a mim nem à minha quinta geração, como deve ter feito o cobrador, mesmo que mentalmente.
O motorista chegou e ligou o motor. A senhorinha abriu a pasta e fez com que o cobrador tirasse R$ 1,50 de 50 reais. O cobrador jogou o dinheiro em cima da mesinha de plástico.

Seguimos o caminho, minha parada chegou e a senhorinha estava sentada no último banco do ônibus, olhando a janela.

Como ela conseguiu cinquenta reais, não aprender a ler, ou fazer com que, possivelmente, todos os pertences dela caibam num saco preto de lixo eu não sei.
Também não faço a menor ideia de pra onde ela vai. De onde ela veio.
Tampouco quero saber.
Só que, se esclarecermos a dúvida do mundo - ainda mais o nosso, que é teimoso e velho - acredito que este gasta menos tempo para chegar ao seu destino.



somos todos passageiros
até o cobrador e o motorista



*Não que não sejamos pretensiosos. Mas é muita pretensão dizer que somos.

11 de março de 2013

Objetivos

Assim que acordava e percebia que ele não estava ao meu lado, não me preocupava. Estava na cozinha.
Levantava vagarosamente da cama, me espreguiçando, com os olhos pouco abertos por causa da singela abertura das cortinas. O sol batia leve, me dava a certeza da manhã.
Ia ao banheiro e encontrava sua escova de dentes em cima da pia. Sempre fora mais rápido, disposto e saudável que eu pela manhã. E isso não me incomodava. Lavava meu rosto ainda cautelosamente, escovava os dentes e tomava um banho rápido, não muito quente e não muito frio, embora o vapor tomasse conta do banheiro.
Sem pressa, vestia qualquer blusa branca maior que eu, pegava meu violão e ia para cozinha.

Às vezes tinha vontade de fumar lá. Mas os odores que ele criava me desestimulavam e faziam ter vergonha dos cigarros de palha. Gostava de tocar samba e alguns chorinhos enquanto ele enfarinhava a mão antes mesmo do meio dia. Quebrava os ovos enquanto cantava e arranhava a garganta com a rouquidão. Sorríamos mesmo sem saber porquê, mesmo tendo que limpar o leite que caíra no chão branco, mesmo quando ele me dava uma colher de geleia caseira e eu achava azeda.
Ele sentava e tomava algumas xícaras de café comigo, batucando na caixinha de fósforo. E o sol lá. E o forno lá. Não percebíamos o frio por causa do calor dos bolos, e não percebíamos o calor por causa da frescas saladas de frutas. Tudo era estável e exalava verão.

Mas às vezes as coisas queimam e os pratos sujam. Nem sempre eu acordava de bom humor e houveram dias em que ele não estava na cozinha quando acordei. Hoje nós dois bebemos cerveja amarga em lugares distintos da cidade.

7 de março de 2013

Mocinha

a mão cheia de manteiga
a palma dos dedos 
enrolar brigadeiro

o coração cheio de
a ponta dos dedos
enrolar teu cabelo

4 de março de 2013

((((((monday im in love))))))

Entrei em casa e fui direto ao banheiro. A televisão na sala estava ligada e em alto e bom som. Não fechei a porta do banheiro nem acendi todas as luzes, apenas abri a água quente da torneira para poder lavar meus rostos e mãos. Me olhei o espelho. Condenei a mim mesma a duzentas abdominais por ter comido os três pãezinhos de queijo hoje durante o expediente.
Ouvia, da cozinha, um barulho. Não sabia ao certo se eram passos ou os ovos fritando. Possivelmente os dois. Quando saio do cinema gosto de silêncio, para poder sentir a tal da depressão pós filme a fundo.
E o de hoje foi Hitchcock.

Me fez seriamente crer que eu só consiga ter sucesso em todos os sentidos da vida quando conseguir achar uma pessoa companheira. Não um amante, apaixonado, esposo. Um admirador.
Porque, particularmente, eu não sou das pessoas mais normais do mundo. Muito pelo contrário. Considero-me até um tanto estouradinha, teimosa e preguiçosa demais. Não sou tão fácil de lidar quanto parece. Talvez por isso eu tenha, seriamente (repito) acreditado nisso.
Mas coisíssima nenhuma. Estou me apaixonando a cada esquina, a cada filme, a cada cheiro. Se souber de algo torno a escrever de novo.

Eis que o barulho cessa e ouço uma voz grossa, masculina:
- Ana Julia? É você?
Não respondo imediatamente por estar com o rosto imerso na água quente. Levanto e com paciência torno a conversar:
- Sim!
- Tu chegou tarde hoje.
- Mas cheguei, ham?

Enxuguei o rosto e abri os botões e zíper da calça preta de brim. Minha favorita, talvez a que use mais, embora ela esteja começando a rasgar na parte interna das coxas. "Malditas coxas grossas", pensei. Dupliquei meus castigos abdominais.
Tirei a calça e dei uma olhada nas celulites, na tatuagem nova. 

Mas chega de abdominais.

Joguei a calça no chão e ao fazê-lo percebi que tinha esquecido o maço de cigarros dentro do bolso traseiro. Ando meio Constantine esses dias. E isso não interessa.
O homem de voz grossa andou pelo corredor para me ver e deu um sorriso:
- Você parece irritada.
- É?
- É por causa do seu aniversário, da sua tatuagem, ou por que eu descobri que você anda fumando que nem uma infeliz por aí?
Dei um sorriso encabulado:
- É que é segunda.

1 de março de 2013

Observação que me surgiu enquanto almoçava hoje

O problema de matar alguém não é o processo judicial, seu rosto no noticiário da televisão ou as pessoas olhando estranho pra você na rua. O problema de matar alguém não é nem ter que arquitetar um plano dificultoso para que você não seja pego: isso é fácil hoje em dia. Tampouco inventar um atestado médico que diga que você tem problemas mentais. Talvez seja até melhor ser sincero e dizer que a vítima, sem mais nem menos, é filha da puta. Porque nem todo mundo hoje em dia é filha da puta, mas ainda assim, tem muita gente merecendo ser empurrada da escada como nós aprendemos desde crianças, nas novelas mexicanas.
O problema de matar alguém não é sua mãe se lamentando de como criou você errado. Nem mesmo a consciência pesada nas primeiras semanas depois do assassinato: tratamento psicológico existe e tem funcionado com muita gente, sabe? Não é problema nem querer matar mais gente depois do primeiro assassinato: tem filha da puta à bessa! E cada morte pode ser de um jeito diferente. Cada um mais criativo que o outro, quem sabe. É só esperar a inspiração vir.
Pra quê se preocupar com as consequências de um assassinato quando o que te afinge já morreu? 
O problema de matar alguém é que todo filho da puta é, primeiramente, filho.







.

26 de fevereiro de 2013

linguística

Não sei porque diabos são classificados
Até entendo, somos tão desorganizados
Mas quando queremos ser soltos
Somos errados

21 de fevereiro de 2013

[passagem]

Encontrei o moço bonito que trabalha na sala ao lado na copa, como raramente acontece.
Esticamos o braço para encher os copos de plástico no mesmo instante. Cavalheiro, como sempre, deixou que eu me servisse primeiro. Agradeci com um sorriso canto-de-boca.
- Sem açúcar? - ele perguntou com um outro sorriso, agora mostrando os dentes, olhando nos meus olhos, enquanto eu me servia com a pressa de não incomodá-lo
- Sem açúcar. - respondi, também mostrando os dentes.

Tomei um gole do café quente e, ainda sorrindo, saí.


[continuei sorrindo até chegar à minha sala]

19 de fevereiro de 2013

dezenove de ferveireiro

desde o ano passado
até agora
mudei 50 dias

12 de fevereiro de 2013

festa da carne

Não trata com prepotência quem te trata como alguém.
Não sei ser fria assim.
O problema de dormir com alguém é que depois você acorda.


Verdade, nem sempre este vai continuar lá.
Mas na maioria das vezes está.


Está o suficiente para que um dos dois, dos três, dos quatro e dos doze saia no mínimo prepotente.





Eu quero sossego.







E estou sofrendo, morrendo e moída de saudade dos meus pais.

8 de fevereiro de 2013

cest la vie

se tudo o que
você recusa
tudo bem
eu entendo
mas seu
ainda está na minha
blusa

4 de fevereiro de 2013

amanhã eu trabalho

o sono come
a vontade de pensar
e a vontade de pensar
se vinga tão logo

3 de fevereiro de 2013

moço

me leva pra ver o mar
me leva





30 de janeiro de 2013

Anadota #5

1

Ontem fui ao shopping e entrei numa dessas lojas de departamento. Logo, surge uma funcionária me abordando:
- Vamos fazer o cartão da loja?
- Hoje não, obrigada. - e continuei andando. Ela me segue:
- Você já é "de maior"?
- Aham. - respondi sem parar de andar
- Então, é desconto, amiga!
- Hoje não, obrigada, moça.
Ela então olha para o meu crachá do trabalho que esqueci de tirar quando saí e então para de me seguir. Continuei andando e então, a alguns passos de distância, ela pergunta:
- Recusando desconto? Tá ganhando tanto assim, amiga?
Parei de andar, virei. E de longe respondi.
- Estou, amiga.


Nem tô.



2

Voltando para casa num desses ônibus lotados com cheiro de trabalhador, com meus fones gigantes ouvindo música no volume máximo. O que não significa muita coisa dentro de um ônibus, convenhamos.
Depois de meio caminho em pé, consigo um lugar para sentar ao lado de um homem magro, com diastemas e camisa social.
- Licença - eu disse ao sentar.
Mais um pouco do caminho, a música continuando e as pessoas descendo, o homem pergunta:
- Menina, o que é isso que você está ouvindo? - "menina", pensei. Aliás, foi a única parte que ouvi. Tirei os fones de ouvido:
- Oi?
- O que é isso que você está ouvindo?
- É Vivaldi, eu acho. "O Inverno", d'As Quatro Estações.
- Eu hein.


3

Fazendo a unha num salão de beleza, a televisão ligada e muitas mulheres.
O noticiário informa a mudança da Lei Seca. A repórter disse que "não importa a porcentagem, até um bombom de licor e a influência do álcool no seu sangue pode fazer com que você pague multa ou responda a um processo".
Uma moça que estava fazendo escova no cabelo, perguntou:
- Mas o que foi que ela disse?
E a cabeleireira respondeu:
- Que agora até um bombom de licor, com álcool, pode fazer você rodar no teste do bafômetro. Não importa quantos decibéis tenha.
E a moça reage:
- Nossa! Mas eles estão fogo mesmo, hein?


16 de janeiro de 2013

Anadotas #?

1

Das utilidades masculinas destaco fechar os botões do vestido.
No decote das costas,
ou no decote do busto.


2

Onde trabalho as salas são separadas por uma divisória. Enquanto sinto o cheiro das torradas com requeijão e geleia de lá, uma moça magra e nariguda me oferece biscoitos de água e sal daqui.
Aceito e como de olhos fechados ou recuso e arrisco?
Ah, como a vida é cheia de dilemas.


3

It's 2013, bitch.