23 de agosto de 2013

-

só quero uma generosa caneca de chope
e um bom sexo oral.

20 de agosto de 2013

haicai errado

tudo vai
tudo volta
é só abrir
a porta

Para Não Esquecer - Lembrar

Arrumando meu quarto inarrumável desde que cheguei à Brasília, achei alguns cadernos velhos. Muito velhos.
Compartilho a seguir alguns de meus escritos velhos. Sim: muito velhos.

I

"Lavou os pratos e planejou ir à cama. Mas ele já não estava mais lá. Não tinha tantos motivos para chegar ao quarto. A lugar nenhum, diga-se de passagem".
(18/04/2012)

II


"Ir para a parada de ônibus com a cabeça a mil já é rotina. O transporte público em Brasília é caro e quando você percebe que paga R$ 2,00 para andar 6 quadras você fica assustado. Algumas pessoas não sabem o valor de R$ 2,00. Essas, sedentárias (e posso afirmar com certeza) não vão ficar com a cabeça a mil até que falte algo. Comida, lar... Ou até R$ 2,00.
Independência é algo difícil. Liberdade não. Apesar dos dois andarem juntos. Quando você tem 14 anos você acha TODA liberdade do mundo pouca. Ela não vai chegar se você continuar sem saber o valor de R$ 2,00.
Arranjar um emprego fixo é difícil. A falta de colo materno é pior ainda. Roupa não-lavada fede. E você não vai ligar pra isso quando tiver 18 anos e com uma garrafa e cerveja na mão.
A grande lição sobre a vida é que R$ 2,00 não valem somente R$ 2,00. Nunca. Deixar a cabeça a mil por falta de algo não resolve. E se apaixonar é só pra compensar a falta de alguém.
Normalmente, pessoas valem mais do que R$ 2,00. Se privar das que valem menos ajuda. Ser otimista também."
 (Sem data; tinha 14 anos. Faço questão de, neste, comentar: ficou um tanto desconexo e com alguns erros. Mas é uma das palavras mais sinceras que já coloquei no papel em minha vida. Fazem muitos anos que escrevi isto, antes de ir para Recife, e neste fragmento previ meu futuro. Acho que era mais inteligente e perspicaz há alguns anos, talvez um tanto mais humana, inclusive. E, ah, o transporte em Brasília continua caro.)


III
"O poeta nasceu errado ou você que não o entende?"
(Juliana Mantovani, 2010, professora querida de literatura).

IV

"Não sei o que vi em você. Não sei o que investiguei em seus olhos, o que procurei no seu corpo e deixei acomodar-me sobre seus braços. Não sei o que vi em você para deixar você ir."
(2010)

V

"Você não é socialista ou feminista, você não pensa realmente assim. Você só tem 16 anos e quando precisar trabalhar para pagar o que pôr na geladeira esquecerás de todas as "marchas contra corrupção" que já fora, e mal se importará com o que o Governo faz ou deixa de fazer desde que te deixem comer o que há dentro da geladeira em paz.
Sua única posição em relação a isso será um comentário seco na hora do jantar.
Ou talvez alguns desses assuntos políticos ressurjam numa mesa de bar com colegas de trabalho, e, mesmo que pouco, você saberá argumentar. Afinal, você já soube que a "culpa é do sistema" embora tenha tentado por passos errôneos desfazê-lo.
Mas saberá argumentar porque o melhor argumento é de quem errou.
Sua mudança no mundo é pequena e pouco eficaz porque, apesar de esforçar-se, não consegue um aumento salarial ou até mesmo (por que não?) notas boas.
Manter uma média excelente no colégio"
(Com 15 anos. Inacabado)


VI

"Blame it on the jazz"
(2011)

- Neste momento amasso papeis em forma de bolinha e jogo ao léu. Meu gato pretinho vai atrás, desesperado. Jogo outra. Ele não sabe para onde olhar.
É engraçado.-

VII

"Metas de 2010:
1 Perder peso;
2 Arrumar um relacionamento duradouro;
3 Passar numa faculdade pública;
4 Terminar o curso de trompete;
5 Aprender a dançar;
6 Entrar numa banda;
7 Terminar meu curta;
8 Falar menos palavrão;
9 Aprender a andar de salto"
(2010. Realizei os números 3, 4, 6, e 9. Não necessariamente em 2010).

VIII

"Então eu estive cansada durante muito tempo até chegar aqui. Nesse meio tempo, criei dois peixes e um cacto. Doei os peixes e matei o cacto. Não, eu não me orgulho isso, mas só quero que saibam que foi necessário.
Em relação aos peixes, digo.
Ah. Às vezes eu quero me doar. Aí eu me doo porque sabe como é: não sou impulsiva, mas se estiver com vontade, faço. E sem pensar na consequência que isso vai ter na minha vida."
(2010)

IX

"- Vou cozinhar para você. - disse ele.
Derreti feito a manteiga que ele colocara na quente frigideira. Nenhum homem cozinhara para mim antes e era uma honra que ele fosse o primeiro. Tinha medo de me apaixonar"
(2011)

X
"Odeio ODEIO ODEIO odeio OoDEIO ODEIO DOEODIEO ODEEEEIO mosquito."
(2010)

XI

"Ela saiu e me deu um sorriso de adeus.
Eu retribui.
E este foi o maior erro do meu ano".
(2009)

XII

"- Faz isso não! Eu sou cardíaco!
- Porra, Vanderlei! Não perguntei porra nenhuma pra tu!"
(2010)

XIII

"Tava pensando na gente assistindo TV"
(Para Mendonza, 2011)

XIV

"Enquanto você berra 'ANA JULIA, ABRE ESTA PORTA, PORRA!', eu bebo o vinho que compramos em nossa primeira viagem juntos. Enquanto você berra 'ANA JULIA, ABRE AGORA ESTA PORTA!', eu solto lágrimas silenciosas que surgem do lamento das nossas velhas e intermináveis noites desaparecerem assim, por causa de uma loira de seios fartos no sofá. Você deve realmente sentir muito pelo tom que grita e pelo seu bater desesperado no pedaço de madeira que nos separa, mas não quero ouvir isto agora de ti.
E então você chora: 'Ana, abre esta porta, por favor'. Suplica. Sabe que errou. Eu rezo, do outro lado, suplico como você ao acaso, para que você consiga sem querer abrir esta porta.
Para que nos encontremos em lágrimas e queira me fazer de novo a mulher mais feliz novo.
Você pede para entrar novamente.
Eu morro por dentro a cada segundo.
Enquanto pensas em desistir, abro a porta.
E esqueço porque estava infeliz.
Amo você."
(27/12/2011. O perdão descrito por um amor sincero :))


XV

"Se você me quer
me queira
Mas num vem dizer
Que eu num avisei"
(2009)






15 de agosto de 2013

Jade

Não sei por onde começar.
Mas antes mesmo de começar, já sabia como se chamaria: Jade. Não Cecile. Jade. Pois apesar das máscaras, dos contos e dos sonhos que conhecemos, o nome que nossos pais nos dá é o verdadeiro.
Serei objetiva: eu amo você. Não por isso ou por aquilo, pela coerência, consequência ou voracidade dos fatos. Eu amo você porque simplesmente amo. Quero que todo o bem do mundo te aconteça e que todo o mal passe longe. Que você me ouça apenas quando eu estiver certa e me corrija quando estiver errada, usando palavrões e me dando tapas de mão pesada, como normalmente faz. 
Adoro sentir essa reciprocidade. "Essa" não: a nossa. Claro, minha mão não é tão pesada quanto a tua, e eu não sou tão inteligente e perspicaz como você. Não vi tantos filmes ou li tantos livros; e às vezes me condeno por não ter gostado tanto assim de Milan Kundera. Entretanto, sei que ela existe e isto vicia.
Gosto do seu jeito de ouvir e analisar o que ouve.
Mas gosto mais ainda do seu jeito de tragar minhas palavras que ora são tóxicas ora são leves, e, ainda assim, são minhas. Gosto da sua atenção ao sexo, ao jazz, às cervejas de estilos diferentes e aos chocolates, aos homens, aos conhaques mais baratos. Gosto também dos seus olhos cansados (oblíquos e dissimulados), reclamando, querendo ir embora; e do jeito doce que ficam quando peço, bêbada, para ficarmos mais um pouco.

Gosto do seu andar. Do jeito que acordas. Dos homens que sonhas em ter e dos que terá.

Mas gosto mais ainda quando escreves.
De repente, num passe de mágica, toda a sua feminilidade se faz presente. Todos os seus horríveis defeitos e qualidades se tornam fantásticos, se tornam indiferentes; simplesmente existem.
Você é um personagem delicioso. Um Eu-lírico delicioso, como o Renato.
Me tens tão fácil quando escreves que caibo em sua mão e entrelinhas. 
Teu universo é gigante. Quando escreves, mesmo que ainda interminadas as palavras, consegue pôr todo universo nelas. Talvez você se dê conta do quão fantástico isto é, mas suponho que seja apenas quando lê Drummond ou, até mesmo, Bukowski. Eu, particularmente, espero que você faça mais sucesso do que pode imaginar; que os jovens que comecem a ler e foder possam gostar de você o quanto nós gostamos deles. Porque conheço seu âmago e suas coxas; sei que és tão valiosa quanto Drummond e Bukowski.

Gosto do jeito que apaixona-se, do jeito que deixa outros homens apaixonados mesmo sem beijá-los.
Do jeito sutil e, ainda assim, sem jeito que ficas quando está triste e com a garganta entalada de berros. Torna a escrever, novamente. Torno a ler-te.
E, a cada palavra, amar-te mais. E mais. Imensuravelmente. 

Você é mais que uma amiga para mim.
Nunca me abri como abro-me para ti com outra pessoa. Me conheces de trás para frente; e o que não conhece, há de conhecer. Não que eu seja uma pessoa tão misteriosa assim, oras, sou tagarela, sorridente e reclamona. Mas sua sensibilidade entra nas entranhas dos seres e, lá dentro, busca o que há de melhor e pior. Traduzes isto em palavras.

Você, Jade, é como meus livros favoritos: conheço-os. Já os li inúmeras vezes.
Mas toda vez que abro-os, aprendo algo novo.

És genial. Pequenina. Imensa. Linda. Mulher. Não ouso sequer mencionar "menina", acho que já passou dessa fase. 

Sou eternamente grata por ter vivido, viver e viver muito mais um dos melhores momentos da minha vida ao seu lado. Crescer com você é fascinante. Somos jovens e não nos importamos com nossos pulmões quando fumamos e nem com nossos tímpanos quando vamos às festas malucas com música extremamente alta.
Desejo de coração que você, por nós, continue levando esse não se importar juvenil em suas palavras e alma.


O que você escreveu sobre nós três, mesmo que incompleto, está fantástico. Não por Ego ou autoestima, mas o que sou está lá. Mesmo que nunca tenha pegado numa Gewher 98.

Obrigada.
Pela paciência, vontade, pelos dias, noites, vindas para cá de metrô.
Eu amo muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito você.



Com todo amor, tesão e carinho do universo,

Ana Julia.



ps:
não queria ter citado tanto "eu" nesta carta.
Mas não sei outro jeito de falar de Bonnie sem falar de Clyde, se é que me entende.
Te amo novamente, menina dos girassóis.

ps1:
Com acento. A Reforma Ortográfica que se foda!

ps2:
No sábado, enquanto estávamos debaixo do sol das onze da manhã, na escada branca de degraus larguíssimos da Igreja Luterana, abraçamo-nos, como fazemos de costume.
O Artur, aquele rapaz sorridente e gentil que conhecemos naquele mesmo dia, viu.
Ontem, ele veio comentar comigo que poucas amizades são como a nossa.
É.
Somos transcendentais, nêga.

12 de agosto de 2013

comunista







o medo que dá
quando planejo nosso futuro
é um tanto pior
quando o mesmo chega


se teu beijo me fosse certeza
ah.
mas se teu beijo me fosse certeza!


se tu soubesses
que neste mundo
neste país estado cidade
naquela mesma casa
existe
alguém
que te gosta tanto
e te gosta tanto

você iria
além?





fala comigo.