8 de dezembro de 2011

Drummond

Sou tão acostumada a subir a L2 num sol de uma da tarde lendo que já sei de cor e desvio de todas as pedras do caminho.
Mas hoje me apareceu uma nova.

Sem motivos aparentes, voltei a ler Mulheres, do Bukowski. E é um livro que eu, particularmente, adoro. Não só pelo autor ou pela capa da nova edição, mas porque me ajuda a entender os homens. Que é algo que eu não pretendo manter distância.
Quando a vista já começa a doer de tanto ler, tem uma pedra que você deve desviar para direita. Desviei e esbarrei num senhor corcunda, de camisa quadriculada azul e calça marrom.
- Perdão - disse sem parar de andar - foi mal.
- Fiz de propósito.
Então parei.
Franzi a testa e perguntei "quê?" mentalmente, mas logo me virei e voltei a andar. Vai saber, né? Se com estranho a gente não se mete, imagina com um estranho louco?
E ainda fui libertina e julguei pela aparência: "que senhor gozado!"
- Você não vai perguntar "quê"? - berrou. Parei de novo.
- QUÊ?
- FIZ DE PROPÓSITO! - estávamos há dois metros de distância e achei um exagero a altura daquele grito.
Retruquei:
- Por quê?!
- Porque você tá lendo!
- Que que tem eu ler, meu senhor?!
- Tem nada, minha filha!
Me virei e continuei andando.

Tentei retomar a leitura. Aquela camisa azul e aquele berro não me saíam da cabeça. Perdi a página e o trecho que estava, e procurando, me perdi mais.
Parei e virei, procurei-o no horizonte e nada mais vi. Sumiu, o senhor.

Recomecei o capítulo, e agora terei que reaprender o caminho.




desvie sempre

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Ahá.