30 de junho de 2011

Lençóis no Rio, nós dois em janeiro

coisa maluca
ficar à toa
mordida na nuca
enquanto a garoa
de verão
molha a tijuca
e o coração

28 de junho de 2011

Batucada brasileira

Gosto da rodoviária. E gosto mesmo; desse jeito porco que ela é. Não que eu goste de sujeira - e realmente não gosto - mas gosto da forma que as pessoas não ligam, mesmo que aparentemente, para o quão sujo é o chão que elas estão pisando. Mas gosto mais ainda da forma que isso elas ignoram, mas ignorar o hippie-que-não-toma-banho-e-mendiga elas não ignoram.
Tentam.
Mas, convenhamos, não conseguem. Desviar não é ignorar.

Gosto da rodoviária porque é o paraíso das fotografias. Acho que se me colocarem lá com uma câmera (e um quê de confiança e segurança) aproveitaria melhor do que se me colocarem, talvez, numa paisagem linda. Sabe como é; a rodoviária tem mais ângulos.
E num desses ângulos que, quando estava subindo a escada - não a escada rolante: estava quebrada - vi uma canela finíssima e ressecada, e pés calçados por uma chuteira Topper subindo-correndo na minha frente. "Mas que foto bonita", pensei.
E foi assim durante todo meu trajeto.
Desde rodoviária - meu destino, meu destino - rodoviária.
Na volta, tinha um rapaz com um celular com câmera e um colete amarelo.

Atrás desse colete amarelo estava escrito "SEGURANÇA", assim, em caixa alta.
Ele mirou essa câmera do celular para mim.
Revi meus conceitos quanto a isso em menos de cinco segundos e minha reação foi sorrir. E sorri, assim, sem ser nada espalhafatoso; mas um sorriso que dava para ser percebido.
De repente, a câmera que antes estava em mim, agora está na mira de um senhor estranho.

Estranho.
Mais estranho do que qualquer Ana Julia, hippie-que-não-toma-banho, SEGURANÇA ou cidadão que estava lá.
De casaco preto, óculos escuros, com uma mala na mão. Relógio grande, jeans, e sapato social (que cá entre nós não ajudava no que ele estava tentando fazer; tinha cara de sapato barato).
E um bigode.
Não esqueçamos do bigode.
Andava em passos rápidos e curtos, olhava para baixo.

Por onde ele passava, era visível os pontos de interrogação surgirem na cabeça vazia (ou não) dos tais viventes, companheiros de rodoviária.
Voltei com essa interrogação para casa.




Gosto da rodoviária por simples afeto à vida.

26 de junho de 2011

Inocência

Toda vez que me beijava, sua mão ficava solta. E subia em minhas curvas até chegar nos meus cabelos, e descia. Parava na cintura. Um pouco mais abaixo, talvez.


(não quero terminar este)

24 de junho de 2011

O cansaço vem das coisas perfeitas que eu vejo




Eu parei aí.
Quer dizer, eu parei aqui.
Na verdade, eu parei lá.
Naquele pedaço da calçada que eu sempre passo quando saio da sua casa. Parei e respirei fundo.
Pensei em voltar, confesso. Mas não vi motivo.
Foi bom - sempre é bom estar contigo - mas já não há mais porquê.
E continuei andando.
Fui para o ponto de ônibus. Nesses dias frios a gente imagina o quão bom é ter carro; e voo mais longe ainda: quem tem carro não deve imaginar isso. Eis o limite: você imagina que eu já não me distraio mais pensando em você?
Não se sinta fútil, desnecessário.
Eu faço isso frequentemente: troco pessoas por tons e virce-versa. Se eu fosse você, não juntaria mágoas.

Mas pensando bem, eu nem sei se você é desse tipo... Desses, que ficam parando em calçadas.




eu continuei desenhando
e imaginando se um dia
eu deixo de ser assim, tão eu

21 de junho de 2011

ESTATÍSTICA

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não leve tão
a sério o que
eu publico

18 de junho de 2011

Eu quero ver você acordar junto com o sol

Não sou de reparar em pés justamente porque não gosto dos meus.
Mas os pés dele eram bonitos, e eu gostava de observá-los enquanto ele dormia. Ou melhor: enquanto ele sonhava.
Não sei se era contração dos músculos ou ato voluntário de sonho mesmo, mas mexia os pés constantemente enquanto dormia. E me acordava.
Eu nunca reclamei; apesar de, no começo, ter guardado uma dessas reclamações para mim.

O jeito que ele mexia os pés enquanto sonhava me encantava.
E não só o jeito que ele mexia os pés: o jeito que ele sonhava.
Era possível, às vezes, na madrugada, ver um esboço de sorriso-canto-de-boca perdido naquela barba rala e falha.
Talvez se ele sorrisse assim, por inteiro, perdesse a graça.

Me engano: ele era tão inteiro que não perdeu a graça.
Mesmo com aqueles dentes imperfeitos; que ele fazia morder minha nuca quando eu que sorria assim; no canto.

No canto da cama: o maior espaço era meu. E quando acordava (ou quando conseguia dormir) ele estava de pé: com estes mesmos pés bonitos que trouxeram-no até mim.


tenho em pessoas como você
a certeza de que felicidade existe
e só não a vê
quem não quer.

14 de junho de 2011

Como se o carnaval fosse vazio e teu coração vago

me deu amor
me deu adeus
cá estou
à toa
à queimaroupa
aos céus
perguntando às crases
o porquê da ida
o porquê da vida
o porquê do fim.

me deu amor
me deu adeus
cá estou perdida
no colo de poetas vazios
em beijos de jovens, perdidos
quando deveria estar
nos seus.

12 de junho de 2011

Óculos

Se te vejo daqui
A luz reflete
Não te enxergo direito
Mas se chego mais perto
Me vejo em você










e se aproximo um pouco
já não te enxergo mais
fecho os olhos e vôo

10 de junho de 2011

É bonita e é bonita

Soldados, cabeças e papéis
Se não marchar direito
Corrigirá-se sozinho

9 de junho de 2011

delicadeza é algo bruto

Sou dessas pessoas que odeia dentista.
Mas a maioria só odeia.
Eu fico nervosa.

Toda vez que entro naquela sala branca e fria, meu coração dispara.
E toda vez que deito naquela cadeira ígrime, este mesmo coração, sobe até a boca.
Todo movimento que é feito me deixa mais nervosa ainda. E tudo passa a doer, doer mais do que deveria.
Mas dor é dor. Seja lá o tamanho que for.


Aí ele pergunta "tudo bem?" e eu tenho quinhentas respostas diferentes para "não, você me irrita". Mas a melhor delas é uma lágrima cair do olho esquerdo; a que eu quase sempre uso.
E vem o que você não merece ouvir "mas você luta judô".




Um apelo:
Eu posso lutar judô, capoeira, falar palavrão, quase nunca estar de mal humor, jogar futebol, tocar trompete, não ter letra bonita, rir alto, e pouco saber cozinhar.
Mas sou menina.
Gosto que abram a porta para mim, me encho de amor platônico, não gosto de lavar louça quando estou de unhas feitas, e adoro margaridas.
Seguro lágrimas como ninguém, e você não sabe o quão forte é isso.

Aliás, duvido que você saiba o que dói mais: tirar o ciso ou não borrar a maquiagem na cadeira do dentista.

7 de junho de 2011

Do que adianta correr para atravessar a rua no sinal fechado?

se a alma é a única
coisa que vai contigo
minh'alma é a música
alimento, bênção, abrigo













acho que as pessoas nunca entenderão o amor que tenho pela música, pelas cores, e pelas próprias pessoas.
porque de paixão, já passou o estágio - há muito tempo.

5 de junho de 2011

Segunda

alguém faz o almoço
que hoje é domingo
e eu quero respirar meus sambas
como se não houvesse amanhã

2 de junho de 2011

um furo no pneu equivale a um prejuízo fatal

toda vez que eu vou de bicicleta pra w3 sul, eu passo pela casa onde mora uma cigana.
às vezes eu tenho vontade de perguntá-la sobre o meu futuro, o que, afinal, eu deveria fazer. mas não tenho coragem.
"ah, é enganação", você pode achar. "tudo mentira", "teu subconsciente encaminha você pra isso", ou até mesmo "falta do que fazer". você pode achar.

eu prefiro achar que seja desnecessário. sim, ignorando todas essas outras opções.
oras, o futuro não pode ser algo tão obscuro assim. aliás, nada do que me dá preguiça de pensar é tão obscuro assim. normalmente, o que dá preguiça de pensar é chato.
e o futuro não sai desse padrão, dessa coisa normal.
a cigana não lê mãos, cartas e búzios para garantir o futuro dela.
não, ela não deve ser dessas que paga inss.


abre parênteses

e eu também não sou.
pago passagens de ônibus, bocais de trompete, cursos pro vestibular e viagens para pirinópolis; mas não é nada que vá valorizar o meu futuro.
sabe-se lá o que vai acontecer.
quem faz vestibular pensando no futuro tem uma esperança muito vazia (e às vezes, tanto quanto insegura) do que vai acontecer.
e se não acontecer?
tenta de novo.
é a mesma coisa com pagar inss. você paga com a esperança de receber, e se não recebe? gera problema. e você pagou com o intuito de não gerar problemas.


fecha parênteses


conveniente essa coisa das ciganas, sabe.
evitaria muita dor de cabeça.
quem sabe um dia eu não pare por lá. só pra tirar uma dúvida ou outra, pra criar alguma esperancinha que não seja tocar trompete num carnaval da vida.


porque do presente a gente já sabe: ele fica por aí, andando de bicicleta.