A verdade é que, quando escondo um sentimento, sinto dificuldade de conversar olhando nos olhos. Ainda mais se este sentimento me incomoda; ainda mais se é recorrente.
Pense num sentimento deste por um familiar.
Nunca me dei muito bem com meus avós e nunca entendi direito a maneira que eles vivem. Não é incomum, mas também não é comum demais. Apesar de entender e, por isso mesmo, não poder criticar a maneira que eles pensam, creio que alguns comentários, ações e fatos poderiam ser evitados se às vezes houvesse esforço.
Mas isso não vem ao caso.
Como familiar, mesmo teimosa e nervosinha que sou, tenho de ir na casa deles. E que casa. Não sei se por serem meus avós, me deixam plantar algumas flores no quintal. Há lá seus pontos positivos.
Não posso reclamar, na verdade, apesar de fazê-lo. Tive a sorte de possuir duas avós, e ambas cozinharem excelentíssimamente bem. Não ouso não comer quando vou visitá-las.
E se minha avó tinha uma missão na Terra, ela a compriu: desenvolver a receita do melhor pão de mel do mundo. E claro, ser mãe do meu pai, para o meu pai me ter.
Mas isso não vem ao caso também.
Quando vou visitá-la e como pão de mel e visito minhas flores, nós sentamos e conversamos. E a menos que ela esteja contando uma piada ou história divertida, eu não consigo olhar em seus olhos.
Não sei ao certo o que me incomoda assim - e nem tenho a ousadia de descobrir, deixo como está - mas hoje ela perguntou porque não o conseguia. Neste momento, desencostei a xícara de café dos lábios, e tentando proferir alguma coisa... Não saiu nada.
Não tem porquê.
Tentei dar uma desculpa qualquer, fazer ela rir, "quebrar o gelo", como dizem por aí. Mas não veio.
Entre tantas reticências da minha fala, finalizei: "deve ser algo da minha infância. Mas passou, estamos aqui. Não vem ao caso, sim?"
9 de dezembro de 2012
8 de dezembro de 2012
Chicólatras
Não gosto e por isso não quero se quer parecer com aquelas estudantes de Letras que veneram Chico Buarque e resumem o sexo a Bukowski (apesar de adorar ambos), mas fico tremendamente orgulhosa e inspirada de poder compreender - e sentir - tal façanha:
30 de novembro de 2012
doo voo
I (principal)
ele mudou
e eu continuo tão
saiu fotografando
e eu observo
ela é linda
mas eu sou tão mais
teu nome é outro
sei todos de cor
você é azul
e minha palidez
é que ela é linda
mas eu sou tão mais
tua
II (outro)
Não sei se por criação ou por determinação divina, me atrai o oposto, é do oposto que eu gosto, e concluo que é do oposto onde o bom surge. O bom do oposto está na mão que percorre e nos pêlos do rosto que afagam; está na voz grossa e no constrangimento em chorar em público, no gosto musical agressivo e na força que se esconde atrás de uma cantada barata. O bom do oposto está dentro das calças, sob tutela de panos e zíper. O bom do oposto é a oposição ao tudo que se julga meu semelhante; aos dramas, às carências, aos momentos e aos seios.
O bom do oposto é chamá-lo de ele. E ele não aumentar nem diminuir; não definir e ainda assim saber de quem se trata. É conjugar todos os adjetivos de forma que seja oposta a mim.
O bom do oposto é a delicadeza, ainda assim. É chamá-lo de ele e, de repente, ver o constranger do chorar em público desaparecer e, então, entrar no seu íntimo.
É o medo de perder. De ter feito trabalho em vão. De não ser reconhecido; ou de estar sozinho.
O bom do oposto, assim como qualquer melhor vinho, perfume, filme e travesseiro, é sentí-lo.
III (final)
não se apaixone, menina
por quem só quer te comer
ele mudou
e eu continuo tão
saiu fotografando
e eu observo
ela é linda
mas eu sou tão mais
teu nome é outro
sei todos de cor
você é azul
e minha palidez
é que ela é linda
mas eu sou tão mais
tua
II (outro)
Não sei se por criação ou por determinação divina, me atrai o oposto, é do oposto que eu gosto, e concluo que é do oposto onde o bom surge. O bom do oposto está na mão que percorre e nos pêlos do rosto que afagam; está na voz grossa e no constrangimento em chorar em público, no gosto musical agressivo e na força que se esconde atrás de uma cantada barata. O bom do oposto está dentro das calças, sob tutela de panos e zíper. O bom do oposto é a oposição ao tudo que se julga meu semelhante; aos dramas, às carências, aos momentos e aos seios.
O bom do oposto é chamá-lo de ele. E ele não aumentar nem diminuir; não definir e ainda assim saber de quem se trata. É conjugar todos os adjetivos de forma que seja oposta a mim.
O bom do oposto é a delicadeza, ainda assim. É chamá-lo de ele e, de repente, ver o constranger do chorar em público desaparecer e, então, entrar no seu íntimo.
É o medo de perder. De ter feito trabalho em vão. De não ser reconhecido; ou de estar sozinho.
O bom do oposto, assim como qualquer melhor vinho, perfume, filme e travesseiro, é sentí-lo.
III (final)
não se apaixone, menina
por quem só quer te comer
21 de novembro de 2012
Oração (incompleto)
Ela jurava de pé junto que a outra, a vizinha, fazia o que fazia porque era macumbeira. Se comprava uma raspadinha na banca, e com qualquer moeda de cinco centavos a raspava, era ganhadora.
Era a única a acertar e ganhar os maiores prêmios do bingo. Nos Bailes dos Eternos Enamorados, era sempre - e ela deixava claro o sempre - a Rainha do Baile.
Tinha o casamento mais duradouro do bairro; a mais jovem a se casar. Dizia para todos os vizinhos que o marido nunca a traíra, que o marido sempre lavava a louça e buscava as crianças no colégio.
Ela jurava de pé junto que não era inveja. E se, em alguma hipótese, mencionávamos a palavra inveja, causava rebuliço. Não aceitava que tivesse inveja de uma macumbeira. Muito menos da vizinha macumbeira da casa vinte e cinco, a última da rua.
Nos domingos de manhã, onde todo o povo do bairro se dirigia cedinho para a igreja, a vizinha estava no quintal da frente cuidando da sua pequena horta que, segundo ela, seu marido fez.
Não se importava com religião nem com igreja, nem com o que Deus ou as pessoas pensavam dela. Gostava de deixar claro o que tinha e como tinha feito para tê-lo. Mas é claro que, quem jura de pé junto que é macumba, não ouve o principal.
Era a única a acertar e ganhar os maiores prêmios do bingo. Nos Bailes dos Eternos Enamorados, era sempre - e ela deixava claro o sempre - a Rainha do Baile.
Tinha o casamento mais duradouro do bairro; a mais jovem a se casar. Dizia para todos os vizinhos que o marido nunca a traíra, que o marido sempre lavava a louça e buscava as crianças no colégio.
Ela jurava de pé junto que não era inveja. E se, em alguma hipótese, mencionávamos a palavra inveja, causava rebuliço. Não aceitava que tivesse inveja de uma macumbeira. Muito menos da vizinha macumbeira da casa vinte e cinco, a última da rua.
Nos domingos de manhã, onde todo o povo do bairro se dirigia cedinho para a igreja, a vizinha estava no quintal da frente cuidando da sua pequena horta que, segundo ela, seu marido fez.
Não se importava com religião nem com igreja, nem com o que Deus ou as pessoas pensavam dela. Gostava de deixar claro o que tinha e como tinha feito para tê-lo. Mas é claro que, quem jura de pé junto que é macumba, não ouve o principal.
10 de novembro de 2012
30 de outubro de 2012
Pixe
a única coisa
que não
nos
importava
era
eu
claramente
clara
ele
já não tão óbvio assim
mas não
nos
importava
seu cabelo
pixaim.
4 de outubro de 2012
Maracujá
Adormeceu em meus braços, e eu, delicadamente, os tirei. Estava insone, de mente ocupada, cheia. Tinha trabalhado o dia inteiro, mas agora - mesmo que sua presença me fizesse estar bem tranquila - tinha porque tinha algumas coisas a mais para resolver.
Andando descalça pela casa, entrei na cozinha e pisei no chão frio. Acendi um cigarro de palha em alguma das bocas do fogão e fui para a área de serviço lavar alguma roupa. O silêncio e o calor me incomodavam. Tirei a calça e liguei o rádio em qualquer estação. A música era agradável, apesar de estar mais preocupada com as manchas brancas na minha calça preta.
De repente, ouvi um barulho. Achei que fosse ele acordando, e não gostaria de jeito nenhum que isso acontecesse. Não porque temos que trabalhar cedo, mas porque ele dormia sereno, como criança. O barulho cessou e percebi que não era ele. Não descobri o que era e logo me despreocupei; voltei à mancha branca.
Meus pés frios e o barulho da máquina de lavar quase rimavam. O locutor falou que eram cinco horas da manhã e eu, então, senti sono. Resolvi desligar a máquina, o rádio, e sem colocar a calça de volta, retornei à cama.
Mas antes que pudesse realmente dormir... Nosso despertador tocou. Enfurecida, desliguei-o com certa brutalidade. Então, ele se espreguiçou ligeiro, me abraçou forte - e sem abrir os olhos - sorriu.
Lá estava eu: insone de novo.
Andando descalça pela casa, entrei na cozinha e pisei no chão frio. Acendi um cigarro de palha em alguma das bocas do fogão e fui para a área de serviço lavar alguma roupa. O silêncio e o calor me incomodavam. Tirei a calça e liguei o rádio em qualquer estação. A música era agradável, apesar de estar mais preocupada com as manchas brancas na minha calça preta.
De repente, ouvi um barulho. Achei que fosse ele acordando, e não gostaria de jeito nenhum que isso acontecesse. Não porque temos que trabalhar cedo, mas porque ele dormia sereno, como criança. O barulho cessou e percebi que não era ele. Não descobri o que era e logo me despreocupei; voltei à mancha branca.
Meus pés frios e o barulho da máquina de lavar quase rimavam. O locutor falou que eram cinco horas da manhã e eu, então, senti sono. Resolvi desligar a máquina, o rádio, e sem colocar a calça de volta, retornei à cama.
Mas antes que pudesse realmente dormir... Nosso despertador tocou. Enfurecida, desliguei-o com certa brutalidade. Então, ele se espreguiçou ligeiro, me abraçou forte - e sem abrir os olhos - sorriu.
Lá estava eu: insone de novo.
morena
Se eu conseguisse te trazer pra cá, ah, se eu conseguisse. Tudo o que eu posso fazer agora é te despir com os olhos. Ver teu quadril se movimentando na minha direção, e, de repente, passas reto... Sem nem olhar quem te deixa nua.
Se eu conseguisse te trazer pra cá, ah, se eu conseguisse! Ofegante, deixarias marca na minha cerviz de quem, hora ou outra, teve a felicidade demonstrada pela arcada dentária aparente, de pescoço erguido e envergado, de pelo que - a essa altura - arrepia sem motivo.
E não me importa se tu olhas no espelho e não gosta do que vê. Teus olhos estarão fechados, e quando se der conta, estará lá: gostando, movimentando seus quadris por cima dos meus.
Me dirá isso com os mais altos dos gritos, enquanto coloca meus dedos na tua boca para que o resto do mundo não ouça, que, enfim... Conseguir trazer você pra cá.
(2011)
Se eu conseguisse te trazer pra cá, ah, se eu conseguisse! Ofegante, deixarias marca na minha cerviz de quem, hora ou outra, teve a felicidade demonstrada pela arcada dentária aparente, de pescoço erguido e envergado, de pelo que - a essa altura - arrepia sem motivo.
E não me importa se tu olhas no espelho e não gosta do que vê. Teus olhos estarão fechados, e quando se der conta, estará lá: gostando, movimentando seus quadris por cima dos meus.
Me dirá isso com os mais altos dos gritos, enquanto coloca meus dedos na tua boca para que o resto do mundo não ouça, que, enfim... Conseguir trazer você pra cá.
(2011)
3 de outubro de 2012
Intolerantes
desacelero o passo
eu tento, amor, eu tento
mas você não me nota
lamento, amor, lamento
eu tento, amor, eu tento
mas você não me nota
lamento, amor, lamento
2 de outubro de 2012
Anadota
Minha terça-feira se resumiu a essa preocupação: procurar meu moletom por todos os cantos, voltar em lugares que já passei, e de repente, descobrir que estou o vestindo.
Porque Ana Julia que é Ana Julia vive assim.
Aliás, me lembrem de comprar o Hot, Cool and Latin do Eric Dolphy.
27 de setembro de 2012
dilatarió
Cuando yo te conocí, usted andaba con las pupilas dilatadas.
Lamentó, porque lo que usted andaba sintiendo no podía ser pasado por el beso.
Yo sonreí con los ojos.
Me besó de nuevo.
Entonces, mis pupilas dilataram.
Lamentó, porque lo que usted andaba sintiendo no podía ser pasado por el beso.
Yo sonreí con los ojos.
Me besó de nuevo.
Entonces, mis pupilas dilataram.
25 de setembro de 2012
23 de setembro de 2012
20 de setembro de 2012
12 de setembro de 2012
turbulência
brasília
sangue escorre ao lado do septo
sorria
deserto
brás
ilha
muito calor
pra pouco sexo
sangue escorre ao lado do septo
sorria
deserto
brás
ilha
muito calor
pra pouco sexo
8 de setembro de 2012
Orelha de burro, cabeça de etê
As pessoas não são mais as mesmas e então não são mais minhas como já foram. É errado usar pronomes possessivos quando falamos de outras pessoas, mas se usarmos só conosco é errado também.
Aprender do jeito mais doído às vezes é o mais correto; saber estancar o sangue é uma das lições mais valiosas que as outras pessoas podem aprender.
E eu também.
Mas do jeito que a vida me leva e fez; minha teimosia vai me fazer sangrar outra vez.
Porque se errar é humano, cometer duas vezes o mesmo erro não é burrice.
É humanidade à flor da pele.
Aprender do jeito mais doído às vezes é o mais correto; saber estancar o sangue é uma das lições mais valiosas que as outras pessoas podem aprender.
E eu também.
Mas do jeito que a vida me leva e fez; minha teimosia vai me fazer sangrar outra vez.
Porque se errar é humano, cometer duas vezes o mesmo erro não é burrice.
É humanidade à flor da pele.
5 de setembro de 2012
Um beijo pro padeiro
E lá fui eu comprar pão: de garganta inflamada, moletom de dias, nariz entupido e falta de dignidade. Porque agora é assim; se eu quero pão eu quem vou comprar.
Se eu consigo andar, não preciso de favores para fazê-lo.
Se só pelo meu mau humor ganho um favor, fico acomodada. E nesse caso seria um favor, não uma gentileza. Porque quem o faria seria meu vizinho. E depois ele falaria, rindo "cê me deve essa, hein, gatinha?" e eu estaria devendo.
Não gosto de dever.
Brasília anda extremamente seca e quente esses dias, e friorenta à noite. Quase um deserto com deputados e ipês.
Lá tava eu, no meio dessas contradições e debaixo de um céu azul que só fazia doer mais a cuca, de manhã cedinho, indo comprar pão, porque eu quis.
Na fila, espirrei. Era a próxima.
- Saúde! - a mulher atrás de mim desejou.
- AMÉM!!!!!!! - assim respondi, com muitas exclamações e caixa alta. Pra que algum santo me ouça e me tire dessa. Não é possível que assim esteja, doente, durante todos esses dias.
Quem tem que pagar o pão sou eu.
Não posso ficar doente.
Chegou minha vez.
- Três pã... ATCHIM!... Por favor.
- Saúde, guria. - o padeiro desejou
- Obrigada.
- Três?
- Três.
Enquanto ele colocava os pães no saco de papel pardo, xingava baixinho
- Mas puxa vida! Tô assim há dias! Não consigo nem pedir pão. Estou com dor a dias! Meu, que azar. Que azar! Logo na semana que eu ia tocar. Que azar!
Rindo, o padeiro me entregou o saco e disse:
- Hehehe... Se avexe não!
Se avexe não.
Permaneci calada, sem reclamar um "ai", o resto do dia.
Se eu consigo andar, não preciso de favores para fazê-lo.
Se só pelo meu mau humor ganho um favor, fico acomodada. E nesse caso seria um favor, não uma gentileza. Porque quem o faria seria meu vizinho. E depois ele falaria, rindo "cê me deve essa, hein, gatinha?" e eu estaria devendo.
Não gosto de dever.
Brasília anda extremamente seca e quente esses dias, e friorenta à noite. Quase um deserto com deputados e ipês.
Lá tava eu, no meio dessas contradições e debaixo de um céu azul que só fazia doer mais a cuca, de manhã cedinho, indo comprar pão, porque eu quis.
Na fila, espirrei. Era a próxima.
- Saúde! - a mulher atrás de mim desejou.
- AMÉM!!!!!!! - assim respondi, com muitas exclamações e caixa alta. Pra que algum santo me ouça e me tire dessa. Não é possível que assim esteja, doente, durante todos esses dias.
Quem tem que pagar o pão sou eu.
Não posso ficar doente.
Chegou minha vez.
- Três pã... ATCHIM!... Por favor.
- Saúde, guria. - o padeiro desejou
- Obrigada.
- Três?
- Três.
Enquanto ele colocava os pães no saco de papel pardo, xingava baixinho
- Mas puxa vida! Tô assim há dias! Não consigo nem pedir pão. Estou com dor a dias! Meu, que azar. Que azar! Logo na semana que eu ia tocar. Que azar!
Rindo, o padeiro me entregou o saco e disse:
- Hehehe... Se avexe não!
Se avexe não.
Permaneci calada, sem reclamar um "ai", o resto do dia.
(playlist avexada. dessas que você pode passar todas as músicas)
4 de setembro de 2012
31 de agosto de 2012
Anadota 2
[1]
Eu e minha mãe falando sobre tatuagem; qual desenho eu faria. Sugeri algum instrumento musical:
- O que você acha de um violoncelo?
- Violoncelo?
- É, já não toco mais, mas ainda faz parte de mim.
- Não sei, não parece significar muito para você - ela respondeu.
[silêncio]
- Por que você não tatua algo atual? Que você toque hoje, tipo um saxofone?
[silêncio]
- Mãe, eu toco trompete.
- Ah, é!
[2]
Eu e minha mãe assistindo um filme. A música que toca na cena é Orange Colored Sky, do Nat King Cole.
- Night King Cole!
- É NAT King Cole, mãe...
- Ah... É tudo parecido, tudo preto!
Eu e minha mãe falando sobre tatuagem; qual desenho eu faria. Sugeri algum instrumento musical:
- O que você acha de um violoncelo?
- Violoncelo?
- É, já não toco mais, mas ainda faz parte de mim.
- Não sei, não parece significar muito para você - ela respondeu.
[silêncio]
- Por que você não tatua algo atual? Que você toque hoje, tipo um saxofone?
[silêncio]
- Mãe, eu toco trompete.
- Ah, é!
[2]
Eu e minha mãe assistindo um filme. A música que toca na cena é Orange Colored Sky, do Nat King Cole.
- Night King Cole!
- É NAT King Cole, mãe...
- Ah... É tudo parecido, tudo preto!
28 de agosto de 2012
50 Tons de Cinza e outras babaquices coloridas [spoiler]
Já deixei de trabalhar em sebo faz algum tempo, mas às vezes volto lá só pra ver como estão as coisas e a poeira. Nesse dia em que voltei, uma mulher visivelmente revoltada, jogou três livros grossos de capa cinza em cima do balcão, dizendo que era para darmos o que quiséssemos neles. Por serem livros novos e bom estado, o dono do sebo deu alguns bons reais à ela.
Curiosa, virei os livros e descobri que se tratava de uma "trilogia fenômeno", atualíssima, e erótica. The Fifty Shades Of Grey se trata de uma trilogia que descreve a história cliché de uma mocinha pobre e inocente que se apaixona por um rico, sedutor, que tem uma mania "estranha": o sadomasoquismo.
Confesso que sexo é um assunto que me chama muita atenção na literautra; porque cada um descreve de maneira diferente. É por causa dessas linhas tênues do sexo entre Chico Buarque e Charles Bukowski que nem sempre temos uma visão romantizada ou animalesca enquanto estamos, bem... Trepando ou fazendo samba e amor até mais tarde.
Pedi a trilogia para o dono do sebo e ele me emprestou, contanto que devolvesse na semana que vem.
Cheguei em casa com três livros de mais ou menos 400 páginas. Logo que cheguei, comecei a devorar o primeiro. E, consequentemente, me veio a primeira decepção.
Não que eu goste de leituras difíceis (são poucas as que gosto, acho tudo muito desnecessário), mas essa é fácil demais.
Veja bem: Bukowski não é, de jeito nenhum, uma leitura difícil. E convenhamos que seja erótica. Essencialmente erótica, boêmia, e agressiva. Talvez essa fosse a intenção do 50 Shades Of Grey, creio, porque sadomasoquismo dificilmente é algo romântico e idealizado. A menos que você seja virgem.
E esse foi o pretexto da protagonista para ser tão inocente assim.
Só que o livro inteiro se faz parecer realista, com fatos que podem ocorrer no cotidiano. A contradição surge quando, logo no começo, a autora quer te convencer de que a menina tem 21 anos, é virgem, não conheceu homem nenhum, e jamais trocara um e-mail na vida.
Nunca fui aos Estados Unidos, e acredito que a educação de lá seja diferente daqui. E não é impossível uma moça de 21 anos ser virgem e pouco idealizar fantasias sexuais. Mas nunca trocar um e-mail? Deu vontade de desistir dos dois outros volumes, e sair berrando no mundo para comprarem literatura erótica de verdade.
Como um livro desses, de mocinha e "lobo mau" pode se denominar "Conteúdo Erótico" no verso do livro? Como um livro erótico acaba em casamento assim, no final?
A história não tem nada demais, e termina em sexo anal, ela dando a volta por cima, e óbvio; o casamento. Não tem nada demais mesmo. São livros caros que pouco adicionarão conteúdo na sua vida literária, mental e sexual, garanto.
A grande jogada do 50 Shades of Grey é o marketing.
É fazer com que as pessoas fiquem curiosas. Curiosidade - mais até do que a falta de comunicação - é o mal da humanidade, e faz com que as pessoas gastem dinheiro com a legitimidade das palavras e depois joguem os livros em sebos.
Porque algum outro curioso vai ler.
Marketing esse que faz com que eu pergunte a você: já viu "Conteúdo Erótico" no verso de algum livro do Bukowski ou do Carlos Heitor Cony? Talvez por isso sejam pouco lidos, procurados.
Leiamos coisas mais instigantes, impossíveis ou não; leiamos coisas mais coloridas.
Henry Miller, Anne Rice e Nabokov não podem ser trocados por um livro extremamente adolescente que quer ser adulto.
Depois de uma semana e de três livros lidos, joguei-os de volta no balcão do sebo.
Com 50 tons de decepção.
Curiosa, virei os livros e descobri que se tratava de uma "trilogia fenômeno", atualíssima, e erótica. The Fifty Shades Of Grey se trata de uma trilogia que descreve a história cliché de uma mocinha pobre e inocente que se apaixona por um rico, sedutor, que tem uma mania "estranha": o sadomasoquismo.
Confesso que sexo é um assunto que me chama muita atenção na literautra; porque cada um descreve de maneira diferente. É por causa dessas linhas tênues do sexo entre Chico Buarque e Charles Bukowski que nem sempre temos uma visão romantizada ou animalesca enquanto estamos, bem... Trepando ou fazendo samba e amor até mais tarde.
Pedi a trilogia para o dono do sebo e ele me emprestou, contanto que devolvesse na semana que vem.
Cheguei em casa com três livros de mais ou menos 400 páginas. Logo que cheguei, comecei a devorar o primeiro. E, consequentemente, me veio a primeira decepção.
Não que eu goste de leituras difíceis (são poucas as que gosto, acho tudo muito desnecessário), mas essa é fácil demais.
Veja bem: Bukowski não é, de jeito nenhum, uma leitura difícil. E convenhamos que seja erótica. Essencialmente erótica, boêmia, e agressiva. Talvez essa fosse a intenção do 50 Shades Of Grey, creio, porque sadomasoquismo dificilmente é algo romântico e idealizado. A menos que você seja virgem.
E esse foi o pretexto da protagonista para ser tão inocente assim.
Só que o livro inteiro se faz parecer realista, com fatos que podem ocorrer no cotidiano. A contradição surge quando, logo no começo, a autora quer te convencer de que a menina tem 21 anos, é virgem, não conheceu homem nenhum, e jamais trocara um e-mail na vida.
Nunca fui aos Estados Unidos, e acredito que a educação de lá seja diferente daqui. E não é impossível uma moça de 21 anos ser virgem e pouco idealizar fantasias sexuais. Mas nunca trocar um e-mail? Deu vontade de desistir dos dois outros volumes, e sair berrando no mundo para comprarem literatura erótica de verdade.
Como um livro desses, de mocinha e "lobo mau" pode se denominar "Conteúdo Erótico" no verso do livro? Como um livro erótico acaba em casamento assim, no final?
A história não tem nada demais, e termina em sexo anal, ela dando a volta por cima, e óbvio; o casamento. Não tem nada demais mesmo. São livros caros que pouco adicionarão conteúdo na sua vida literária, mental e sexual, garanto.
A grande jogada do 50 Shades of Grey é o marketing.
É fazer com que as pessoas fiquem curiosas. Curiosidade - mais até do que a falta de comunicação - é o mal da humanidade, e faz com que as pessoas gastem dinheiro com a legitimidade das palavras e depois joguem os livros em sebos.
Porque algum outro curioso vai ler.
Marketing esse que faz com que eu pergunte a você: já viu "Conteúdo Erótico" no verso de algum livro do Bukowski ou do Carlos Heitor Cony? Talvez por isso sejam pouco lidos, procurados.
Leiamos coisas mais instigantes, impossíveis ou não; leiamos coisas mais coloridas.
Henry Miller, Anne Rice e Nabokov não podem ser trocados por um livro extremamente adolescente que quer ser adulto.
Depois de uma semana e de três livros lidos, joguei-os de volta no balcão do sebo.
Com 50 tons de decepção.
agressiva.
22 de agosto de 2012
só dói
me deixa ir.
já que meu orgulho não deixa,
me deixa ir.
visto que minha teimosia não quer,
me deixa ir.
esquecendo de todos os futuros,
me deixa ir!
já que meu orgulho não deixa,
me deixa ir.
visto que minha teimosia não quer,
me deixa ir.
esquecendo de todos os futuros,
me deixa ir!
17 de agosto de 2012
12 de agosto de 2012
Peculiaridades
Gosto mesmo do cheiro e da voz das pessoas. A maioria delas, diria, tem uma voz e cheiro agradáveis.
Talvez eu esteja exagerando, mas na maioria delas, a voz e o cheiro ornam entre si.
Toda vez que leio um livro e certo personagem me lembra uma pessoa, passo a ler com a voz dela na minha mente. E, de repente, o personagem que só me lembrava uma pessoa, é a própria. Então me acho esquisita demais e paro com esquisitice.
Quanto ao cheiro de uma pessoa, quase nunca sei descrever que cheiro é.
E minha memória olfativa não é lá essas coisas.
Mas é só o cheiro aparecer na minha frente de novo que eu me deixo seduzir.
A vida é bonita demais usando os sentidos.
Talvez eu esteja exagerando, mas na maioria delas, a voz e o cheiro ornam entre si.
Toda vez que leio um livro e certo personagem me lembra uma pessoa, passo a ler com a voz dela na minha mente. E, de repente, o personagem que só me lembrava uma pessoa, é a própria. Então me acho esquisita demais e paro com esquisitice.
Quanto ao cheiro de uma pessoa, quase nunca sei descrever que cheiro é.
E minha memória olfativa não é lá essas coisas.
Mas é só o cheiro aparecer na minha frente de novo que eu me deixo seduzir.
A vida é bonita demais usando os sentidos.
10 de agosto de 2012
Morar só, dinheiro, e liberdade
Quem diz que morar sozinho é ruim mentiu. Convenhamos que a interação social é necessária para o bom funcionamento do corpo e da mente humana. Mas convenhamos também que viver privado de implicâncias melhora ainda mais o bom funcionamento do corpo e da mente humana.
Buscando o equilíbrio nos pequenos prazeres da vida (porque, acima de tudo, morar sozinho é algo caro) descobri felicidade em estar em silêncio em casa.
Se for para eu reclamar de algum volume alto, será dos meus vizinhos de 12 anos que só ouvem Nirvana. Não dos meus parentes, familiares, ou de alguém que divida contas comigo.
Cortar relações é o máximo.
Poder ser independente e manter sua própria liberdade diante dos seus olhos (e dentro do que é possível) é uma sensação maravilhosa, que todos deveriam experimentar, mais do que chocolate com pimenta.
Nada descreve a sensação de dever cumprido quando paga-se as contas em dia e ainda sobra um dinheirinho. Nada descreve a sensação de poder, afinal, por que não, colocar Nirvana no último volume sem nenhum parente, vizinho ou similar reclamar.
Depois de várias constituições, leis e frases impostas por seres maiores, a liberdade se encontra aí.
Quando você é dono do seu próprio dinheiro.
Afinal, quem paga mais
pode tudo.
9 de agosto de 2012
Danço eu, dança você!
Quase transcendental.
Um tanto triste ver todos fazendo 70 anos assim, imortalizados.
Lamentação.
7 de agosto de 2012
é tudo pra mim
você é cabelo, é saudade, é sapato
é frio
nem sempre quente
é fogo que arde sem se ver
você é isso, aquilo e aquilo outro também
você
o que me faz querer bem
fazer tanto fazer ouvir lulu santos
numa tarde de domingo
demoníaca
você é unha, carne e eu
você eu nunca mais vi
mas eu sei que se a gente
vivesse você
vivesse junto
você é osso
é frio
nem sempre quente
é fogo que arde sem se ver
você é isso, aquilo e aquilo outro também
você
o que me faz querer bem
fazer tanto fazer ouvir lulu santos
numa tarde de domingo
demoníaca
você é unha, carne e eu
você eu nunca mais vi
mas eu sei que se a gente
vivesse você
vivesse junto
você é osso
Diário da Independência - 470 Geladeiras
De 470 posts pra cá, as coisas mudaram muito.
Não que eu tenha postado todo dia - deixei o blog inativo durante alguns bons meses quando comecei, mas 470 posts pra cá resumiriam muito bem minha transição de pensamento, vida e cidade.
Não vou contar no que mudei, o que descobri e o quanto cresci em 470 enrolações sentimentais e nem sempre sóbrias.
Mas gostaria de deixar claro o quanto sou grata por elas terem ocorrido. Nessa velocidade ou não, são bem preciosas.
Talvez por causa delas hoje eu saiba o quão gratificante é ter sua própria geladeira e o quão desesperador é ter que arrumar algo pra colocar dentro dela.
Tenha você, coisa, certeza de que ter uma geladeira forma mais seu caráter do que escola.
Geladeira custa dinheiro, energia, água, e coisa pra colocar dentro.
Um dia você, coisa, vai lembrar de mim dizendo que é quase uma depressão chegar em casa do trabalho cansada e só ver ovos e uma jarra de água dentro da bichinha.
Então talvez a solução seja convidar seus amigos para, não sei, uma reuniãozinha ou uma festa com a seguinte regra: cada um traz uma coisa.
Mas todos só trazem bebida. Vodca, cerveja, uísque e vinho.
Se sobrar, esse vai ser seu jantar no(s) dia(s) seguinte(s).
Ter geladeira é simples, mas não é fácil.
Talvez fosse, se tivesse apenas a geladeira em casa.
Mas assim como 470 posts,
alguns anos internéticos
e alguns meses com geladeira
é tudo bem durável.
Não que eu tenha postado todo dia - deixei o blog inativo durante alguns bons meses quando comecei, mas 470 posts pra cá resumiriam muito bem minha transição de pensamento, vida e cidade.
Não vou contar no que mudei, o que descobri e o quanto cresci em 470 enrolações sentimentais e nem sempre sóbrias.
Mas gostaria de deixar claro o quanto sou grata por elas terem ocorrido. Nessa velocidade ou não, são bem preciosas.
Talvez por causa delas hoje eu saiba o quão gratificante é ter sua própria geladeira e o quão desesperador é ter que arrumar algo pra colocar dentro dela.
Tenha você, coisa, certeza de que ter uma geladeira forma mais seu caráter do que escola.
Geladeira custa dinheiro, energia, água, e coisa pra colocar dentro.
Um dia você, coisa, vai lembrar de mim dizendo que é quase uma depressão chegar em casa do trabalho cansada e só ver ovos e uma jarra de água dentro da bichinha.
Então talvez a solução seja convidar seus amigos para, não sei, uma reuniãozinha ou uma festa com a seguinte regra: cada um traz uma coisa.
Mas todos só trazem bebida. Vodca, cerveja, uísque e vinho.
Se sobrar, esse vai ser seu jantar no(s) dia(s) seguinte(s).
Ter geladeira é simples, mas não é fácil.
Talvez fosse, se tivesse apenas a geladeira em casa.
Mas assim como 470 posts,
alguns anos internéticos
e alguns meses com geladeira
é tudo bem durável.
30 de julho de 2012
Como eu não consegui desenhar
Conheceu-a na sexta, no teatro.
A partir de então, só encontrava-a na sexta, nos teatros.
Viam diversas peças. Às vezes comédia, às vezes drama, às vezes sei lá o quê.
Casou-se com ela numa sexta, no teatro.
O público aplaudiu um espetáculo perpétuo, com mulher de branco e homem no altar.
Ela morreu numa quinta, em casa.
Ele ficou puto.
A partir de então, só encontrava-a na sexta, nos teatros.
Viam diversas peças. Às vezes comédia, às vezes drama, às vezes sei lá o quê.
Casou-se com ela numa sexta, no teatro.
O público aplaudiu um espetáculo perpétuo, com mulher de branco e homem no altar.
Ela morreu numa quinta, em casa.
Ele ficou puto.
ni siempre somos
Ni siempre las cosas mas gostosas son las mas bellas.
Ni siempre yo traduzco como quiero,
escribo como debo
o vivo como supongo.
Ni siempre miento,
ni siempre soy.
Ni siempre sueño,
ni siempre espero,
ni siempre respeto.
Ni siempre amo,
ni siempre duermo derecho.
Ni siempre quiero mas del futuro,
o una taza de café.
Ni siempre quiero la vida como ella es.
Ni siempre las cosas mas correctas son las mas bellas.
Ni sempre las cosas mas fantasticas son las mas bellas.
Ni siempre las cosas son bellas.
Ni siempre yo traduzco como quiero,
escribo como debo
o vivo como supongo.
Ni siempre miento,
ni siempre soy.
Ni siempre sueño,
ni siempre espero,
ni siempre respeto.
Ni siempre amo,
ni siempre duermo derecho.
Ni siempre quiero mas del futuro,
o una taza de café.
Ni siempre quiero la vida como ella es.
27 de julho de 2012
a entranha escondida no âmbito do ser
quando acho que querer-te demais
é ser errata e adolescente
vens e me morde o lábio
deixando ser inconsequente, então
quando acho que querer-te apenas
é ser correta e idosa
vens e me abraça o tronco
deixando ser impetuosa, enfim.
é ser errata e adolescente
vens e me morde o lábio
deixando ser inconsequente, então
quando acho que querer-te apenas
é ser correta e idosa
vens e me abraça o tronco
deixando ser impetuosa, enfim.
25 de julho de 2012
MÚSICA SEM RÉ
Daqui pra frente
Vou andar cheirando a rosas,
Falar em tom de verso e prosa,
Vou deixar o dia frio, quente
Porque daqui pra agora
Vou ouvir menos música ruim
Não me importar em ter coração de botequim
Que ama, sorri e chora
Porque às vezes acontece
De querer ver à frente demais
O fim é que da paz
A gente esquece!
Daqui pra frente
Só vou me importar com o que está por vir
Deixar o que passou pra lá, afinal
Saber levantar também é saber cair.
Daqui pra lá
Não vou precisar mais de remédio e yoga
Vou começar com essa vergonha pouca
De saber relaxar
Afinal, quem diz meu caminho não é a tevê
Tarô, horóscopo e ocasião
Meu caminho faz eu
Segurando tua mão.
Vou andar cheirando a rosas,
Falar em tom de verso e prosa,
Vou deixar o dia frio, quente
Porque daqui pra agora
Vou ouvir menos música ruim
Não me importar em ter coração de botequim
Que ama, sorri e chora
Porque às vezes acontece
De querer ver à frente demais
O fim é que da paz
A gente esquece!
Daqui pra frente
Só vou me importar com o que está por vir
Deixar o que passou pra lá, afinal
Saber levantar também é saber cair.
Daqui pra lá
Não vou precisar mais de remédio e yoga
Vou começar com essa vergonha pouca
De saber relaxar
Afinal, quem diz meu caminho não é a tevê
Tarô, horóscopo e ocasião
Meu caminho faz eu
Segurando tua mão.
22 de julho de 2012
pimentinha
quando fecho os olhos e respiro fundo
cravo meus dentes na tua nuca
dou um berro e calo o mundo
me deixas maluca
e quando fecha os olhos e fascina
de maluca passo a ser louca
e quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas costas
quem canta é elis regina
feliz desafina
um sopro de paz
cravo meus dentes na tua nuca
dou um berro e calo o mundo
me deixas maluca
e quando fecha os olhos e fascina
de maluca passo a ser louca
e quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas costas
quem canta é elis regina
feliz desafina
um sopro de paz
21 de julho de 2012
Imperfeição
querer que calhastriz e veloz
seja calhastroz e feliz
juntos
seja calhastroz e feliz
juntos
Pois se amar ao eu é odioso, amar ao próximo como a si mesmo é uma atroz ironia.
Paul Valéry (1871- 1945)
14 de julho de 2012
Enganar a fome
Nunca soube cozinhar.
Já soube fazer origami, correr quatro quilômetros, tocar violoncelo, jogar tênis e até frescobol.
Mas nunca soube cozinhar.
Jogava qualquer coisa dentro da panela, e a fome era quase sempre tão grande, que quase sempre se comia qualquer coisa.
Só quando a comida queimava ou não ficava no ponto; aí não tinha jeito. Odiava comida crua ou queimada. Porque queimada é diferente de bem passada; e crua é diferente de mal passada.
Nunca soube cozinhar.
Mas sembre soube comer.
Daí arrumava homens que sabiam tocar saxofone, falar japonês, contar até além do infinito e depois dividir aquilo tudo, dançar flamenco, pintar aquarela, mas não arrumava homem que sabia cozinhar.
E ficava a dúvida de quem decepcionava mais na cozinha.
Normalmente era quem nunca soube cozinhar.
Até que não sabia se os homens iam embora porque não valia um centavo
ou se iam embora porque não sabia cozinhar.
Decidiu então aprender a cozinhar. Mas teimava, desenfreava, jogando azeite e sal e via o que que dava.
Dava certo não.
Às vezes dava. Quando era uma coisa mais rápida e mais simples, ah, dava.
Mas dava mais ou menos.
É que como sabia comer, consequentemente, sabia que dava pra ficar melhor.
Decidiu então voltar pro que sempre pôde fazer,
música, esporte, e cultura inútil.
E têm sido assim,
até conseguir um homem que saiba cozinhar.
Já soube fazer origami, correr quatro quilômetros, tocar violoncelo, jogar tênis e até frescobol.
Mas nunca soube cozinhar.
Jogava qualquer coisa dentro da panela, e a fome era quase sempre tão grande, que quase sempre se comia qualquer coisa.
Só quando a comida queimava ou não ficava no ponto; aí não tinha jeito. Odiava comida crua ou queimada. Porque queimada é diferente de bem passada; e crua é diferente de mal passada.
Nunca soube cozinhar.
Mas sembre soube comer.
Daí arrumava homens que sabiam tocar saxofone, falar japonês, contar até além do infinito e depois dividir aquilo tudo, dançar flamenco, pintar aquarela, mas não arrumava homem que sabia cozinhar.
E ficava a dúvida de quem decepcionava mais na cozinha.
Normalmente era quem nunca soube cozinhar.
Até que não sabia se os homens iam embora porque não valia um centavo
ou se iam embora porque não sabia cozinhar.
Decidiu então aprender a cozinhar. Mas teimava, desenfreava, jogando azeite e sal e via o que que dava.
Dava certo não.
Às vezes dava. Quando era uma coisa mais rápida e mais simples, ah, dava.
Mas dava mais ou menos.
É que como sabia comer, consequentemente, sabia que dava pra ficar melhor.
Decidiu então voltar pro que sempre pôde fazer,
música, esporte, e cultura inútil.
E têm sido assim,
até conseguir um homem que saiba cozinhar.
3 de julho de 2012
O que não mata, engorda
Se tem uma coisa que eu me arrependo enquanto vivo é de não ter comido fruta do conde.
Já surgiram diversas oportunidades, chances, e promoções em supermercado, mas por alguma razão e desculpas esfarrapadas deixei de comer.
Essa minha lamentação toda começou quando uma prima de Natal mandou uma foto de um pé de fruta do conde. Fazia tempo que não achava nada tão bizarro assim. São galhos finos com folhas finas, e do nada surge aquela coisa verde, grande, grotesca e com gomos. Em busca da consolação de nunca ter provado fruta do conde, perguntei para minha avó:
- Fruta do conde parece com quê?
- Acho que parece com jaca. Tem uns gominhos assim, sabe?
Se fruta do conde for mesmo parecida com jaca, desisto de provar agora. Detesto jaca. O cheiro, a textura, ela no pé também não é algo bonito.
Nem tudo na natureza é delicado, e as jacas estão aí para provar isso.
Se aprendi a comer nesta vida, foi por causa da minha avó (excelente cozinheira e, por sua vez, degustadora !). Devo confiar no paladar dela, deve ser parecido com o meu.
Se eu confiar no paladar de minha avó, jamais provarei fruta do conde e morrerei sabendo que fruta do conde é ruim porque se assemelha à jaca.
Mas que coisa horrorosa seria existir dois tipos de jaca no mesmo planeta!
Foi quando me surgiu:
- Vó.. Você gosta de jaca?
Eis a surpreendente resposta:
- Claro, ué.
Além de ser inexplicável para mim como alguém em condições normais de temperatura e pressão pode gostar de jaca, ficou mais inexplicável ainda (se é que isso existe) o que é a fruta do conde.
Pesquisando nesse mundinho vasto que é a internet, descobri que fruta do conde pode ser chamada de pinha (e cabeça-de-negro, mas enfim).
Mas veja bem: se for pinha, eu já comi.
E não gostei.
Tá que foi quando eu era criança, chata e não fazia judô: fresca, talvez meu paladar tenha mudado só um tiquinho.
Porém, eu não gostei mesmo. Deixo estar.
Se fruta do conde for mesmo pinha, não preciso nem provar: não gosto. Morrerei sabendo que não gosto.
Se fruta do conde for mesmo parecida com jaca, não quero provar: não gosto. Morrerei sabendo que se assemelha à jaca, e por isso mesmo, é ruim.
Se a fruta do conde for igual a fruta do conde e somente igual a própria, espero morrer sabendo o que é.
venho aqui contar para vocês.
Já surgiram diversas oportunidades, chances, e promoções em supermercado, mas por alguma razão e desculpas esfarrapadas deixei de comer.
Essa minha lamentação toda começou quando uma prima de Natal mandou uma foto de um pé de fruta do conde. Fazia tempo que não achava nada tão bizarro assim. São galhos finos com folhas finas, e do nada surge aquela coisa verde, grande, grotesca e com gomos. Em busca da consolação de nunca ter provado fruta do conde, perguntei para minha avó:
- Fruta do conde parece com quê?
- Acho que parece com jaca. Tem uns gominhos assim, sabe?
Se fruta do conde for mesmo parecida com jaca, desisto de provar agora. Detesto jaca. O cheiro, a textura, ela no pé também não é algo bonito.
Nem tudo na natureza é delicado, e as jacas estão aí para provar isso.
Se aprendi a comer nesta vida, foi por causa da minha avó (excelente cozinheira e, por sua vez, degustadora !). Devo confiar no paladar dela, deve ser parecido com o meu.
Se eu confiar no paladar de minha avó, jamais provarei fruta do conde e morrerei sabendo que fruta do conde é ruim porque se assemelha à jaca.
Mas que coisa horrorosa seria existir dois tipos de jaca no mesmo planeta!
Foi quando me surgiu:
- Vó.. Você gosta de jaca?
Eis a surpreendente resposta:
- Claro, ué.
Além de ser inexplicável para mim como alguém em condições normais de temperatura e pressão pode gostar de jaca, ficou mais inexplicável ainda (se é que isso existe) o que é a fruta do conde.
Pesquisando nesse mundinho vasto que é a internet, descobri que fruta do conde pode ser chamada de pinha (e cabeça-de-negro, mas enfim).
Mas veja bem: se for pinha, eu já comi.
E não gostei.
Tá que foi quando eu era criança, chata e não fazia judô: fresca, talvez meu paladar tenha mudado só um tiquinho.
Porém, eu não gostei mesmo. Deixo estar.
Se fruta do conde for mesmo pinha, não preciso nem provar: não gosto. Morrerei sabendo que não gosto.
Se fruta do conde for mesmo parecida com jaca, não quero provar: não gosto. Morrerei sabendo que se assemelha à jaca, e por isso mesmo, é ruim.
Se a fruta do conde for igual a fruta do conde e somente igual a própria, espero morrer sabendo o que é.
venho aqui contar para vocês.
2 de julho de 2012
30 de junho de 2012
28 de junho de 2012
Nem todo desejo almeja o corpo, é só vontade de provar o que se sente. Às vezes o amor, bobo, insolente, contradiz o que deve ser feito. Então surge o desejo, pra fazer arrepiar
Arrepio
s.m.
s.m.
- 2. Direção inversa da que é costume ter (cabelo, pelo, etc.)
26 de junho de 2012
22 de junho de 2012
21 de junho de 2012
Matei!
Fui indicada pela Maybii.
REGRAS:
• Completar todas as frases.
• Repassar o meme para 5 pessoas e avisá-las sobre.
• Ao repassar as frases, você pode optar por manter as mesmas ou inventar outras.
01) Sou muito preguiçosa.
02) Eu não suporto barulho.
03) Eu nunca consegui tirar Voodoo Child na guitarra (e acho que não conseguirei tão cedo. Óh, lástima e dor que me rodeiam!).
04) Eu já passei nitrogênio líquido na cabeça e sobrevivi.
05) Quando criança eu trocava todas as minhas Barbies caríssimas de Londres, Paris e do resto da gringa por dinossauros de plástico (alguns brilhavam no escuro! Nenhuma Barbie minha brilhava no escuro).
06) Neste exato momento estou ouvindo Ruas Que Sonhei do mestre Paulinho da Viola, e lembrando do show ma ra vi lho so que ocorreu há alguns meses atrás.
07) Eu morro de medo de ser dependente financeiramente.
08) Eu sempre gostei de lutar. Já pratiquei diversas lutas e não me vejo fazendo outro esporte se não alguma luta.
09) Se eu pudesse, colocaria corante em tudo quanto é comida. Até no arroz.
10) Fico feliz quando percebo que cumpri todas as atividades propostas no dia.
11) Se pudesse voltar no tempo, não teria deixado tantas pessoas irem assim.
12) Adoro giz pastel.
13) Quero aprender trompete. A essência, a teoria e a prática. Ser chamada de trompetista!
14) Eu preciso me controlar, criar paciência.
15) Não gosto muito de tocar Caetano Veloso no violão.
REGRAS:
• Completar todas as frases.
• Repassar o meme para 5 pessoas e avisá-las sobre.
• Ao repassar as frases, você pode optar por manter as mesmas ou inventar outras.
(gente que, quando sorri, fecha os olhos)
FRASES:
01) Sou muito preguiçosa.
02) Eu não suporto barulho.
03) Eu nunca consegui tirar Voodoo Child na guitarra (e acho que não conseguirei tão cedo. Óh, lástima e dor que me rodeiam!).
04) Eu já passei nitrogênio líquido na cabeça e sobrevivi.
05) Quando criança eu trocava todas as minhas Barbies caríssimas de Londres, Paris e do resto da gringa por dinossauros de plástico (alguns brilhavam no escuro! Nenhuma Barbie minha brilhava no escuro).
06) Neste exato momento estou ouvindo Ruas Que Sonhei do mestre Paulinho da Viola, e lembrando do show ma ra vi lho so que ocorreu há alguns meses atrás.
07) Eu morro de medo de ser dependente financeiramente.
08) Eu sempre gostei de lutar. Já pratiquei diversas lutas e não me vejo fazendo outro esporte se não alguma luta.
09) Se eu pudesse, colocaria corante em tudo quanto é comida. Até no arroz.
10) Fico feliz quando percebo que cumpri todas as atividades propostas no dia.
11) Se pudesse voltar no tempo, não teria deixado tantas pessoas irem assim.
12) Adoro giz pastel.
13) Quero aprender trompete. A essência, a teoria e a prática. Ser chamada de trompetista!
14) Eu preciso me controlar, criar paciência.
15) Não gosto muito de tocar Caetano Veloso no violão.
Não vou repassar.
19 de junho de 2012
sincero-tê-lo
Meu homem tem a ponta dos dedos com cheiro de cigarro de palha. Os enrola franzindo bonito a testa. Calado, sempre para de falar para fazê-lo. Não é uma tarefa que exige muita concentração, mas ele faz como se estivesse tentando passar uma fina, desfiada, linha na agulha.
Quando o faz, se eu estou falando, reduzo a velocidade, às vezes me calo. Acho que ele não percebe: mas estou lá, admirando-o.
Quando o faz, se eu estou calada, chego mais perto. Só não vejo: mas sei que, a ponta dos dedos - dos mesmos dedos que percorrerão meus cabelos e rosto - estarão com cheiro de cigarro de palha.
Eu normalmente não gostaria de beijar alguém que estivesse com hálito de tabaco, tampouco esse odor de tabaco passeando em mim
mas é meu homem
e gosto dele assim.
Quando o faz, se eu estou falando, reduzo a velocidade, às vezes me calo. Acho que ele não percebe: mas estou lá, admirando-o.
Quando o faz, se eu estou calada, chego mais perto. Só não vejo: mas sei que, a ponta dos dedos - dos mesmos dedos que percorrerão meus cabelos e rosto - estarão com cheiro de cigarro de palha.
Eu normalmente não gostaria de beijar alguém que estivesse com hálito de tabaco, tampouco esse odor de tabaco passeando em mim
mas é meu homem
e gosto dele assim.
12 de junho de 2012
11 de junho de 2012
What Have I Done?
pra lá enquanto houver trem
pra cima enquanto houver além
pra sempre enquanto houver quem
(?)
(pequeñas nuevas hijas, pequeñas nuevas felicidades)
nuevo futuro segun hogar.
un poco de la paciencia...
usted, su cerveza, y lo cuánto maravilloso usted es
pra você que me esqueceu:
aquele abraço!Gosto muito de coisas bonitas.
Já tentaram me convencer que gosto delas por influência do signo, porque me criaram assim ou porque a mídia dita: "você tem que gostar de coisas bonitas". Mas eu não acredito que seja por pré-definição.
Talvez seja instinto, malícia.
O visual me atrai, as cores, a textura. Como me parece ser.
Logo menos uso os outros sentidos e acabo me decepcionando. Ainda assim, prefiro decepcionar-me por algo bonito do que por algo feio.
E se ser bonito ou feio é relativo,
decepcionar-se também é.
10 de junho de 2012
bobices
Ninguém é de ninguém, nunca será e nunca vai ser.
Mas às vezes é bom ter alguém só pra você.
Esquecendo o caos e frio lá fora,
queria te ter agora.
Mas às vezes é bom ter alguém só pra você.
Esquecendo o caos e frio lá fora,
queria te ter agora.
4 de junho de 2012
1 de junho de 2012
Forte
Se não recitassem poesia, se não dessem as mãos, se ele não a olhasse daquele jeito quando ela fecha os olhos e segura o coração, eu tentaria.
Se não se abraçassem com força, caminhassem compassado, sorrissem à toa mesmo sem o outro estar ao lado, eu tentaria.
Se talvez, quem sabe, elogiasse o que eu faço, se eu perdesse a timidez, desacelerasse o passo e quem sabe uma vez mesmo sem saber tentasse,
por saber do castelo que têm,
eu desistiria.
Se não se abraçassem com força, caminhassem compassado, sorrissem à toa mesmo sem o outro estar ao lado, eu tentaria.
Se talvez, quem sabe, elogiasse o que eu faço, se eu perdesse a timidez, desacelerasse o passo e quem sabe uma vez mesmo sem saber tentasse,
por saber do castelo que têm,
eu desistiria.
29 de maio de 2012
24 de maio de 2012
stay up late
Veja o horário de minhas publicações. Já que não foram elas que machucaram corações, tanto faz o horário que eu poste.
Volta e meia aparece alguém aqui. Não que eu não goste, não fede nem cheira: nem sei se sorri. Prefiro até que fiquem no anonimato da madrugada: continuo a pensar que eu talvez, não valha nada. E se meu esforço é vão, continuo esforçando em machucar um coração.
Porque coração machucado faz pensar e crescer, num passe de mágica a infantilidade some, e você jura vingança, mas fez por merecer.
Porque esconder sorriso assim não faz mal; não faz bem. Ninguém fica sabendo, o que os olhos não vêem, o coração não sente.
Mas se ele aparece agora, catástrofes se evitam.
Não mais que de repente.
Veja o horário de minhas publicações.
Volta e meia aparece alguém aqui. Não que eu não goste, não fede nem cheira: nem sei se sorri. Prefiro até que fiquem no anonimato da madrugada: continuo a pensar que eu talvez, não valha nada. E se meu esforço é vão, continuo esforçando em machucar um coração.
Porque coração machucado faz pensar e crescer, num passe de mágica a infantilidade some, e você jura vingança, mas fez por merecer.
Porque esconder sorriso assim não faz mal; não faz bem. Ninguém fica sabendo, o que os olhos não vêem, o coração não sente.
Mas se ele aparece agora, catástrofes se evitam.
Não mais que de repente.
Veja o horário de minhas publicações.
23 de maio de 2012
Lição
Quando não funciona agora,
funcionará lá na frente.
Porém, muito embora
não dependa da gente.
Quando a espera demora,
há de aprender que se aguente.
Porque o tempo devora,
e a beleza é incompetente.
Não há tanta vida lá fora,
mas aqui dentro é quase ausente.
O príncipe é quem hoje chora,
princesinha: tens que ser valente.
para clarinha.
funcionará lá na frente.
Porém, muito embora
não dependa da gente.
Quando a espera demora,
há de aprender que se aguente.
Porque o tempo devora,
e a beleza é incompetente.
Não há tanta vida lá fora,
mas aqui dentro é quase ausente.
O príncipe é quem hoje chora,
princesinha: tens que ser valente.
para clarinha.
22 de maio de 2012
Anadotas #1 - Não são bem anedotas
As atrasadas, que estava pra postar, mas esqueci.
(22 de maio de 2012)
(30 de abril de 2012 - depois do feriado da Páscoa)
(22 de abril de 2012. Detalhe: isso porque nem vi o show. Vi o Gil saindo do palco)
(22 de abril de 2012. A que melhor me define. Inclusive pelos braços tortos)
20 de maio de 2012
Anita Malfatti
aninha queria esse
aquele
e o outro também
aninha queria tanto
e acabou sem ninguém
:)
pobre aninha.
na calçada, de cigarrinho
sozinha.
aquele
e o outro também
aninha queria tanto
e acabou sem ninguém
:)
pobre aninha.
na calçada, de cigarrinho
sozinha.
18 de maio de 2012
Einstein
Meus pais sempre nunca foram superprotetores ou superatenciosos, porque comigo, nunca precisaram mesmo. Não que eu seja (ou fosse) completamente ajuizada e com boas intenções sempre, não que eu não errasse ou queimasse meu dedo no fogão vez em quando, mas é que tudo o que fazia, resolvia por si só.
Eu estava cursando o Ensino Médio, e foi aí que minhas notas começaram a se complicar. Já estavam se complicando há um certo tempo, mas como acharam que eu iria resolver, deixaram pra lá.
Não resolvi.
Mais uma vez, a pequena Ana Julia ia mal em exatas e seus pais, pela primeira vez, foram convocados à famosa reunião do colégio.
Ao contrário do esperado - ou desejado, essa convocação não veio através de carta nem de bilhete na mochila, perdido entre as provas zeradas. Ligaram pro meu pai.
Não emputecido mas chateado, meu pai disse que compareceria à reunião comigo ao lado no sábado de manhã.
Eis que chega o temido e aguardado sábado de manhã, e eu visivelmente acordara de mal humor. Não por ser sábado de manhã, mas por saber que o que eu iria ouvir lá na reunião se repetiria em casa. "Precisa estudar mais, parar de desenhar, tirar os fones de ouvido, se concentrar mais, se esforçar, assistir às aulas extras" e toda aquela ladainha que já me disseram antes.
Lembro que coloquei a primeira roupa que vi e fui de chinelos.
Meu pai nunca ligara antes para roupa que vestia, mas naquele dia, ele de camisa social azul e jeans perguntou:
- Você vai assim? - meu humor que já estava ruim piorou.
- VOU! - respondi quase gritando, quase explodindo.
- Com esses pés esquisitos?
Meu pai riu (como sempre fazia) e disse que eu parecia a minha mãe na TPM. Respondi que não estava na TPM coisa nenhuma, e que parecia a minha mãe, mas meus pés esquisitos eram iguais aos dele.
Pegamos o carro e a L2 sul.
Chegando no colégio, os professores estavam mais bem arrumados que o comum. Me deu vontade de rir, confesso.
Para meu azar, o primeiro professor que tivemos acesso foi o de álgebra. E logo vieram as reclamações: aquelas mesmas de sempre, que eu não aguento mais ouvir (e que até hoje ouço):
- Ela ouve música durante a aula, e quando não o faz, desenha na carteira e no caderno. Acho que tem déficit de atenção - sugeriu o professor
- Tenho coisa nenhuma! - respondi
- Fica quieta, Ana Julia - meu pai mandou. Fiquei quieta, levantei a sobrancelha direita e olhei pro professor, que prosseguiu:
- E não comparece às aulas à tarde. Ela faz alguma outra atividade neste período?
- Claro que faço! E você sabe, professor, até parece que você não sabe que eu quero ser artista. - justifiquei novamente
- Fica quieta, Ana Julia - meu pai mandou de novo - Faz sim, mas se for necessário eu tiro ela das aulas extras à tarde e ela vem pra cá estudar.
- Coisíssima nenhuma... - desde sempre geniosa, não consegui ficar calada mais uma vez. Mas meu pai continuou, e de repente o professor, virou psicólogo:
- Isso é coisa da mãe dela, que apoia essa loucura de arte. Arte não dá dinheiro, já disse. Mas ela não me ouve, agora fica aí tirando nota baixa em Matemática e Física. Se bem que até em Artes suas notas estão baixas hein, moça?
- Ah, isso é coisa de criação, não é culpa da minha mãe não. Cês me criaram dizendo que eu podia ser o que quiser, agora aguenta.
- Mas a única coisa que eu exijo é que você vá bem na escola, até no judô eu te coloquei! - o professor observava
- Mas eu vou! - meu pai riu. Foi uma dessas frases que eu digo sem pensar, sem nem pensar em pensar, na verdade. Mas para mim eu ia muito bem: não comparecia às aulas, mas quando ia, entendia tudo. Meu pai virou pro professor prometendo melhoras e que se eu não a fizesse, iria para o colégio público.
Mais uma vez, Aninha contrataca:
- Pode colocar, por favor.
Meu pai se vira pra mim, faz cara de chateado e pergunta em alto e bom tom:
- Fica quieta! Quer voltar pro orfanato?!
Surpreendentemente, minhas notas em Matemática melhoraram.
Observações:
1 - Em Física não.
2 - Não sou adotada.
3 - Mas às vezes tenho dúvidas.
Eu estava cursando o Ensino Médio, e foi aí que minhas notas começaram a se complicar. Já estavam se complicando há um certo tempo, mas como acharam que eu iria resolver, deixaram pra lá.
Não resolvi.
Mais uma vez, a pequena Ana Julia ia mal em exatas e seus pais, pela primeira vez, foram convocados à famosa reunião do colégio.
Ao contrário do esperado - ou desejado, essa convocação não veio através de carta nem de bilhete na mochila, perdido entre as provas zeradas. Ligaram pro meu pai.
Não emputecido mas chateado, meu pai disse que compareceria à reunião comigo ao lado no sábado de manhã.
Eis que chega o temido e aguardado sábado de manhã, e eu visivelmente acordara de mal humor. Não por ser sábado de manhã, mas por saber que o que eu iria ouvir lá na reunião se repetiria em casa. "Precisa estudar mais, parar de desenhar, tirar os fones de ouvido, se concentrar mais, se esforçar, assistir às aulas extras" e toda aquela ladainha que já me disseram antes.
Lembro que coloquei a primeira roupa que vi e fui de chinelos.
Meu pai nunca ligara antes para roupa que vestia, mas naquele dia, ele de camisa social azul e jeans perguntou:
- Você vai assim? - meu humor que já estava ruim piorou.
- VOU! - respondi quase gritando, quase explodindo.
- Com esses pés esquisitos?
Meu pai riu (como sempre fazia) e disse que eu parecia a minha mãe na TPM. Respondi que não estava na TPM coisa nenhuma, e que parecia a minha mãe, mas meus pés esquisitos eram iguais aos dele.
Pegamos o carro e a L2 sul.
Chegando no colégio, os professores estavam mais bem arrumados que o comum. Me deu vontade de rir, confesso.
Para meu azar, o primeiro professor que tivemos acesso foi o de álgebra. E logo vieram as reclamações: aquelas mesmas de sempre, que eu não aguento mais ouvir (e que até hoje ouço):
- Ela ouve música durante a aula, e quando não o faz, desenha na carteira e no caderno. Acho que tem déficit de atenção - sugeriu o professor
- Tenho coisa nenhuma! - respondi
- Fica quieta, Ana Julia - meu pai mandou. Fiquei quieta, levantei a sobrancelha direita e olhei pro professor, que prosseguiu:
- E não comparece às aulas à tarde. Ela faz alguma outra atividade neste período?
- Claro que faço! E você sabe, professor, até parece que você não sabe que eu quero ser artista. - justifiquei novamente
- Fica quieta, Ana Julia - meu pai mandou de novo - Faz sim, mas se for necessário eu tiro ela das aulas extras à tarde e ela vem pra cá estudar.
- Coisíssima nenhuma... - desde sempre geniosa, não consegui ficar calada mais uma vez. Mas meu pai continuou, e de repente o professor, virou psicólogo:
- Isso é coisa da mãe dela, que apoia essa loucura de arte. Arte não dá dinheiro, já disse. Mas ela não me ouve, agora fica aí tirando nota baixa em Matemática e Física. Se bem que até em Artes suas notas estão baixas hein, moça?
- Ah, isso é coisa de criação, não é culpa da minha mãe não. Cês me criaram dizendo que eu podia ser o que quiser, agora aguenta.
- Mas a única coisa que eu exijo é que você vá bem na escola, até no judô eu te coloquei! - o professor observava
- Mas eu vou! - meu pai riu. Foi uma dessas frases que eu digo sem pensar, sem nem pensar em pensar, na verdade. Mas para mim eu ia muito bem: não comparecia às aulas, mas quando ia, entendia tudo. Meu pai virou pro professor prometendo melhoras e que se eu não a fizesse, iria para o colégio público.
Mais uma vez, Aninha contrataca:
- Pode colocar, por favor.
Meu pai se vira pra mim, faz cara de chateado e pergunta em alto e bom tom:
- Fica quieta! Quer voltar pro orfanato?!
Surpreendentemente, minhas notas em Matemática melhoraram.
Observações:
1 - Em Física não.
2 - Não sou adotada.
3 - Mas às vezes tenho dúvidas.
13 de maio de 2012
sei de porra nenhuma mais não
a gente se conheceu
tava em carnaval.
acontece de eu ser quente,
acontece de eu ser,
aconteceu,
carnaval.
viva a violência! enquanto você deixava marcas nas minha costas, deixaram marcas no teu carro, deixaram marcas na tua pátria, enquanto você dormia em cima de mim.
viva a rebeldia dos que sabiam e nada fizeram
viva a hipocrisia
porque a gente se conheceu
era confete caindo do céu
tava em carnaval.
acontece de eu ser quente,
acontece de eu ser,
aconteceu,
carnaval.
viva a violência! enquanto você deixava marcas nas minha costas, deixaram marcas no teu carro, deixaram marcas na tua pátria, enquanto você dormia em cima de mim.
viva a rebeldia dos que sabiam e nada fizeram
viva a hipocrisia
porque a gente se conheceu
era confete caindo do céu
7 de maio de 2012
Vento que bate nas costas
- Estou resfriada - informei para que soubesse do meu estado antes que perguntasse o porquê de eu ter faltado às aulas - Mal posso me mover - completei.
- É o sereno, criança. Te avisei.
É o André.
Mal sabe ela, mal sabe ele, mal - cá estou - eu.
- É o sereno, criança. Te avisei.
É o André.
Mal sabe ela, mal sabe ele, mal - cá estou - eu.
6 de maio de 2012
esquece não
parece não
mas eu voltei a ser um pouco da moça triste
que um dia fui
podia muito bem
colocar a culpa nas janelas dos ônibus
nos homens silenciosos
ou nas incapacidades físicas
mas a culpa tá em mim
e no que eu não dia fui
saber discernir o que é memória
agora
carece não.
mas eu voltei a ser um pouco da moça triste
que um dia fui
podia muito bem
colocar a culpa nas janelas dos ônibus
nos homens silenciosos
ou nas incapacidades físicas
mas a culpa tá em mim
e no que eu não dia fui
saber discernir o que é memória
agora
carece não.
30 de abril de 2012
29 de abril de 2012
25 de abril de 2012
Procuro Ângelo vivo ou morto
(...)
- Ângelo tinha olhos profundos e castanhos. As outras acham graça e caçoam de eu reparar nos olhos e nas mãos dos homens, e não no pau. Mas eu sei falar do pau também. É que com o passar dos anos, aprendi a achar mais interessante mãos do que paus. Gosto de mãos grandes - deu uma tossidinha - acho que quem tem mão grande é mais passional e fode melhor. Talvez isso seja só ilusão minha - deu uma tragadinha - mas a gente tem que é sonhar, né?
Alguns homens já realmente gostaram de mim, e não só dos meus seios ou pernas. Mas eu os recusei. Não aceito que me deem presentem, aqui a coisa é reta, séria. Como uma, como cês chamam? Bolsa de Valores? Leilão? Não, não. É compra e venda mesmo. Quem manda nos meus seios ou pernas - apagou o cigarrinho - sou eu, não quem compra. Ah, então é aluguel, né? Não sei dessas coisas de gente com bufunfa não. Sei do Ângelo.
Eu nem ia me apaixonar por ele não, sabe? Mas aí ele me mostrou um tanto de coisa de gente com bufunfa, eu até tinha entendido um tempo atrás aí o que era Bolsa de Valores. Acho eu boto é fé que Bolsa de Valor é dessas Prada, né? Assim que cês chamam?
Daí o Ângelo tinha uns olhos bonitos, dedos amarelados de tanto fumar. Tinha muita era cultural, bufunfa também, mas ele não dizia assim não. Era solteiro mas tinha uma filha de 20 e tantos anos, quase a minha idade, sabe? Na primeira vez ele disse que me escolheu só porque eu era a que menos parecia sua filha. Não sei se foi bom ou se foi ruim, mas ele fodia olhando nos olhos.
Depois, me oferecia um cigarro - acendeu outro com o isqueirinho - e me contava das viagens ao Paraguai que tinha feito, e das mulheres que tinha se apaixonado. Tinha uma que ele sempre falava, que ele dizia que os peitos eram parecidos com os meus. Eu ria, né? Ninguém gosta de ser comparado, mas ele tava pagando, né? Que que eu posso fazer?
A voz dele era bem grave, e ele tinha calo nas mãos e nos pés. Cravos e pêlos nos peitos e nas costas, e um nariz protuberante. Sorriso também amarelado e dentes separados. Nunca me beijou.
Ah, nunca precisei.
Recitava poesias de Adolfo Bécquer e tinha medo que eu soubesse do final, porque ia estragar a surpresa. Mas ele contava sempre a mesma. Acho que, como as outras, pra fazer graça né? Me caçoar um pouquinho também. Tava pagando, tava no direito - saiu fumaça de seu narizinho.
Ele era homem e olhos castanhos tão tão masculinos que eu me apaixonaria fácil, mas ele nunca me beijou, e eu me apaixono pelo beijo, não pelo pau.
Quando Ângelo ia embora, eu ficava deitada na cama com pouca roupa e ele encostado abotoando a camisa no vão da porta. Foi assim que o vi da última vez, depois sonhei com ele algumas vezes, e.. Mas isso o senhor não quer saber, né, doutor?
Eu sei que vocês gostam de ouvir falar do pau. - e deu um sorrisinho.
- Ângelo tinha olhos profundos e castanhos. As outras acham graça e caçoam de eu reparar nos olhos e nas mãos dos homens, e não no pau. Mas eu sei falar do pau também. É que com o passar dos anos, aprendi a achar mais interessante mãos do que paus. Gosto de mãos grandes - deu uma tossidinha - acho que quem tem mão grande é mais passional e fode melhor. Talvez isso seja só ilusão minha - deu uma tragadinha - mas a gente tem que é sonhar, né?
Alguns homens já realmente gostaram de mim, e não só dos meus seios ou pernas. Mas eu os recusei. Não aceito que me deem presentem, aqui a coisa é reta, séria. Como uma, como cês chamam? Bolsa de Valores? Leilão? Não, não. É compra e venda mesmo. Quem manda nos meus seios ou pernas - apagou o cigarrinho - sou eu, não quem compra. Ah, então é aluguel, né? Não sei dessas coisas de gente com bufunfa não. Sei do Ângelo.
Eu nem ia me apaixonar por ele não, sabe? Mas aí ele me mostrou um tanto de coisa de gente com bufunfa, eu até tinha entendido um tempo atrás aí o que era Bolsa de Valores. Acho eu boto é fé que Bolsa de Valor é dessas Prada, né? Assim que cês chamam?
Daí o Ângelo tinha uns olhos bonitos, dedos amarelados de tanto fumar. Tinha muita era cultural, bufunfa também, mas ele não dizia assim não. Era solteiro mas tinha uma filha de 20 e tantos anos, quase a minha idade, sabe? Na primeira vez ele disse que me escolheu só porque eu era a que menos parecia sua filha. Não sei se foi bom ou se foi ruim, mas ele fodia olhando nos olhos.
Depois, me oferecia um cigarro - acendeu outro com o isqueirinho - e me contava das viagens ao Paraguai que tinha feito, e das mulheres que tinha se apaixonado. Tinha uma que ele sempre falava, que ele dizia que os peitos eram parecidos com os meus. Eu ria, né? Ninguém gosta de ser comparado, mas ele tava pagando, né? Que que eu posso fazer?
A voz dele era bem grave, e ele tinha calo nas mãos e nos pés. Cravos e pêlos nos peitos e nas costas, e um nariz protuberante. Sorriso também amarelado e dentes separados. Nunca me beijou.
Ah, nunca precisei.
Recitava poesias de Adolfo Bécquer e tinha medo que eu soubesse do final, porque ia estragar a surpresa. Mas ele contava sempre a mesma. Acho que, como as outras, pra fazer graça né? Me caçoar um pouquinho também. Tava pagando, tava no direito - saiu fumaça de seu narizinho.
Ele era homem e olhos castanhos tão tão masculinos que eu me apaixonaria fácil, mas ele nunca me beijou, e eu me apaixono pelo beijo, não pelo pau.
Quando Ângelo ia embora, eu ficava deitada na cama com pouca roupa e ele encostado abotoando a camisa no vão da porta. Foi assim que o vi da última vez, depois sonhei com ele algumas vezes, e.. Mas isso o senhor não quer saber, né, doutor?
Eu sei que vocês gostam de ouvir falar do pau. - e deu um sorrisinho.
24 de abril de 2012
Aos caros Levino Ferreira de Alcântara e Thiago Henrique
Hoje fui um dia cheio. Por não ter cumprido certos compromissos, tarefas e ter adiado e desistido de um bocado de coisas, minha cabeça estava tão movimentada quanto a rodoviária.
E é lá que fui parar.
Em direção ao Teatro Nacional para assistir à Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro (e, naturalmente esvaziar a mente) peguei o primeiro ônibus que declarava em letras luminosas "ROD. PLAN. PILOTO".
Entrei.
O cobrador, trocador, como você quiser chamar (careca, de uniforme azul e colar de sementes) lia atentamente à Constituição Brasileira.
Chamei atenção "moço", e ele liberou a catraca. Perguntei:
- Constituição?
- É, estou estudando Direito.
Primeira pausa
Lógico que, pelo menos penso eu que, em condições boas de vida e saneamento, ninguém quer ser cobrador. Consequentemente, entendo o esforço do moço careca de uniforme azul e colar de sementes ao estudar Direito.
Nasci, cresci, e espero morrer em condições boas de vida e saneamento. Tão logo, meus parentes (todos os tipos de parentes, exceto meus avós maternos) esperam que eu também faça Direito, se não Medicina ou Engenharia Civil.
Mas para decepção geral nasci, cresci e espero morrer artista.
Expresso meu dom no desenho, no espaço cênico, mas me destaco e domino o campo musical.
Ao ver o moço estudando Direito, me cresce uma pequena e pesada insegurança ao meu futuro. Porque do destino eu só sei que é deitar.
Não quero passar fome, frio e medo. Tampouco decepcionar meus pais. Me dedico pouco ao que penso que nasci para fazer, e às vezes acho tarde demais. Sempre fui corajosa, mas há momentos em que me provo o contrário.
Fim da primeira pausa
- Boa sorte, moço. - e sentei em qualquer lugar.
Chegando ao Teatro Nacional, me dirigi à Sala Villa-Lobos (onde ocorrem rotineiramente às terças-feiras do mês as apresentações da Orquestra) e, Ana sempre atrasada, já tinha começado.
Me deparo com uma big-band tocando Duke Ellington. Coisa mais linda.
Uma fileira de saxofones, outra de trombones e uns três trompetistas. Uma guitarra, piano e bateria.
Ouvi sorrindo.
Quando saíram, entrou a formação normal da Orquestra. Com regência de Emílio de César, interpretaram Scherzo, Alberto Nepomuceno e Carlos Gomes. Entre um grave e outro me emocionava, ao ponto da moça ao lado perguntar se eu estava bem. E é lógico que eu estava. Nunca estive melhor.
Estava presenciando o que quero presenciar para sempre: o preencher da música na sala e nos sete buracos da minha cabeça.
Preencher não: inundar.
Acabaram, o público aplaudiu de pé, assobiou e gritou. O homenageado da noite - maestro Levino Ferreira de Alcântara - foi convidado a subir no palco e reger algumas peças de Mozart e outra de Haendel, com a participação do Coro Cantus Firmus. Impecável, diria.
Mas não foi a estrutura nem a escolha das músicas que me chamou atenção.
Segunda pausa
Nesta noite, Levino Ferreira de Alcântara comemora 90 anos, completados no dia 3 de abril. Construiu e fundou a Escola de Música de Brasília.
Construiu e fundou minha segunda casa.
Não dei valor quando estive lá. De fora você percebe e se chateia com os maus tratos do Governo em relação à Escola de Música. Mas isso não convém.
Levino, de cabeça branca e passos curtos esbanja lucidez e clareza nas suas palavras. Proferiu poucas e completas palavras, e com senso de humor, agradeceu por estar ali.
Mas seus gestos... Ah, seus gestos.
Que gestos.
Demonstravam uma vida inteira difícil e satisfatória. Seus gestos - de maestro, como ficar na ponta do pé e erguer os braços ao tentar chegar nos agudos dos violinos - expressavam (arrisco dizer e espero que concorde e esteja certa) amor.
Gestos não tão rápidos quanto a orquestra tocava. Mas gestos vívidos, gigantes e admiráveis.
Emocionei-me, a moça do lado - até que enfim - se emocionou.
Fim da segunda pausa
Parabéns finais, o público se retira.
Permaneço em meu lugar agradecendo silenciosamente a certeza obtida nesta noite.
Música.
Observações pequenas
Impressionei-me com toda a interpretação e esforço da Orquestra. Mas aviso que não é a primeira vez que a vejo.
Tão logo, sempre me impressiono. E por me impressionar sempre, tenho certeza.
Certeza essa que talvez me faça passar fome e frio. Mas medo já não mais.
E certeza de que com esforço, dedicação e carinho chego aos pés (nem que seja a sola dos pés) do maestro Levino Ferreira de Alcântara.
A traduzirei agora em escalas.
E é lá que fui parar.
Em direção ao Teatro Nacional para assistir à Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro (e, naturalmente esvaziar a mente) peguei o primeiro ônibus que declarava em letras luminosas "ROD. PLAN. PILOTO".
Entrei.
O cobrador, trocador, como você quiser chamar (careca, de uniforme azul e colar de sementes) lia atentamente à Constituição Brasileira.
Chamei atenção "moço", e ele liberou a catraca. Perguntei:
- Constituição?
- É, estou estudando Direito.
Primeira pausa
Lógico que, pelo menos penso eu que, em condições boas de vida e saneamento, ninguém quer ser cobrador. Consequentemente, entendo o esforço do moço careca de uniforme azul e colar de sementes ao estudar Direito.
Nasci, cresci, e espero morrer em condições boas de vida e saneamento. Tão logo, meus parentes (todos os tipos de parentes, exceto meus avós maternos) esperam que eu também faça Direito, se não Medicina ou Engenharia Civil.
Mas para decepção geral nasci, cresci e espero morrer artista.
Expresso meu dom no desenho, no espaço cênico, mas me destaco e domino o campo musical.
Ao ver o moço estudando Direito, me cresce uma pequena e pesada insegurança ao meu futuro. Porque do destino eu só sei que é deitar.
Não quero passar fome, frio e medo. Tampouco decepcionar meus pais. Me dedico pouco ao que penso que nasci para fazer, e às vezes acho tarde demais. Sempre fui corajosa, mas há momentos em que me provo o contrário.
Fim da primeira pausa
- Boa sorte, moço. - e sentei em qualquer lugar.
Chegando ao Teatro Nacional, me dirigi à Sala Villa-Lobos (onde ocorrem rotineiramente às terças-feiras do mês as apresentações da Orquestra) e, Ana sempre atrasada, já tinha começado.
Me deparo com uma big-band tocando Duke Ellington. Coisa mais linda.
Uma fileira de saxofones, outra de trombones e uns três trompetistas. Uma guitarra, piano e bateria.
Ouvi sorrindo.
Quando saíram, entrou a formação normal da Orquestra. Com regência de Emílio de César, interpretaram Scherzo, Alberto Nepomuceno e Carlos Gomes. Entre um grave e outro me emocionava, ao ponto da moça ao lado perguntar se eu estava bem. E é lógico que eu estava. Nunca estive melhor.
Estava presenciando o que quero presenciar para sempre: o preencher da música na sala e nos sete buracos da minha cabeça.
Preencher não: inundar.
Acabaram, o público aplaudiu de pé, assobiou e gritou. O homenageado da noite - maestro Levino Ferreira de Alcântara - foi convidado a subir no palco e reger algumas peças de Mozart e outra de Haendel, com a participação do Coro Cantus Firmus. Impecável, diria.
Mas não foi a estrutura nem a escolha das músicas que me chamou atenção.
Segunda pausa
Nesta noite, Levino Ferreira de Alcântara comemora 90 anos, completados no dia 3 de abril. Construiu e fundou a Escola de Música de Brasília.
Construiu e fundou minha segunda casa.
Não dei valor quando estive lá. De fora você percebe e se chateia com os maus tratos do Governo em relação à Escola de Música. Mas isso não convém.
Levino, de cabeça branca e passos curtos esbanja lucidez e clareza nas suas palavras. Proferiu poucas e completas palavras, e com senso de humor, agradeceu por estar ali.
Mas seus gestos... Ah, seus gestos.
Que gestos.
Demonstravam uma vida inteira difícil e satisfatória. Seus gestos - de maestro, como ficar na ponta do pé e erguer os braços ao tentar chegar nos agudos dos violinos - expressavam (arrisco dizer e espero que concorde e esteja certa) amor.
Gestos não tão rápidos quanto a orquestra tocava. Mas gestos vívidos, gigantes e admiráveis.
Emocionei-me, a moça do lado - até que enfim - se emocionou.
Fim da segunda pausa
Parabéns finais, o público se retira.
Permaneço em meu lugar agradecendo silenciosamente a certeza obtida nesta noite.
Música.
Observações pequenas
Impressionei-me com toda a interpretação e esforço da Orquestra. Mas aviso que não é a primeira vez que a vejo.
Tão logo, sempre me impressiono. E por me impressionar sempre, tenho certeza.
Certeza essa que talvez me faça passar fome e frio. Mas medo já não mais.
E certeza de que com esforço, dedicação e carinho chego aos pés (nem que seja a sola dos pés) do maestro Levino Ferreira de Alcântara.
A traduzirei agora em escalas.
22 de abril de 2012
amazônia
das terras não conhecidas
você escolheu a minha
devastou lençóis
roubou sorrisos
arrancou beijos
fez ventos.
das terras menos conhecidas
você inundou a minha
gritei
evitei
impedi
mas quem luta com mão
perde contra quem luta com faca
quem luta com os lábios
perde contra quem luta com dedos
quem luta
perde.
das terras devastadas
você retornou à minha
emprestei o que era teu
doei o que era meu
esqueci o que foi nosso.
você escolheu a minha
devastou lençóis
roubou sorrisos
arrancou beijos
fez ventos.
das terras menos conhecidas
você inundou a minha
gritei
evitei
impedi
mas quem luta com mão
perde contra quem luta com faca
quem luta com os lábios
perde contra quem luta com dedos
quem luta
perde.
das terras devastadas
você retornou à minha
emprestei o que era teu
doei o que era meu
esqueci o que foi nosso.
21 de abril de 2012
16 de abril de 2012
15 de abril de 2012
pessoal (parte 1)
Acordei naquela manhã com frio. Demorei pra levantar. Não sou desses, preguiçosos. Não espero a vida acontecer, tampouco deixo que outras pessoas a dominem. Logo, estranhei quando não quis levantar.
Fazia 5 anos que meu irmão tinha desparecido, naquele dia, naquela manhã. Nunca me importei.Quando disse que não ia criar drogado em casa eu tinha falado sério. Pelo visto, ele não teve futuro mesmo. Tentou voltar uma vez mas eu não deixei. Repito: nunca me importei. Meus pais - covardes em não aceitar a realidade - nunca se importaram, por que eu, mero irmão mais velho me importaria? Tentei criá-lo. Desisti em pouco tempo. Não tinha me criado, queria criar outro - que não queria ajuda? Quem sou eu para fazê-lo?
Ah, voltemos à manhã.
Quando consegui levantar fui ao banheiro, como ritual, de praxe, usual, então. A barba já tinha crescido mais um tanto, e eu não iria fazê-la. Minha nêga disse que gosta assim, deixa, né? Tem que agradar a mulher às vezes. Ela passa aquela coisa toda na cara pra ficar bonita pra mim, eu deixo a barba crescer, assim que as coisas têm que ser; recíprocas.
Aí lembrei dela e dei um sorriso. Sem mostrar os dentes, de ressaca, mas sorri. Tava feliz, sabe?
Lavei o rosto, escovei os dentes, e desejei algum desses trecos que as nêgas passam pra esconder olheira.
Nem tomei café, nem dei beijo na mãe, fui pra rua.
Estava frio, e consequentemente, nublado. Fiquei extasiado em sentir o vento no meu rosto, e pensei seriamente em voltar pra casa, fazer a barba só pra passar pós-barba na cara e sentir o vento de novo.
Fui pegar o ônibus e logo esse vento passou.
Abafado. Ia chover, então fecham as janelas do inferno. É homem encostando em quem não conhece, mulher com três bolsas e menino no colo, você deve saber. E eu lá. De casaco e documento na mão. Ia pagar umas contas no banco, mas estava quase desistindo. Primeiro por este inferno, segundo porque estavam atrasadas e eu estava duro. Talvez se atrasasse mais eu conseguisse juntar um dinheirinho bom, e com o que sobrar, eu ia pedir a nega em casamento. Quase, pra variar. Eu quase isso, quase aquilo, mas nunca.
Aí enfim desci.
Muita gente na rua. Admiro essas pessoas que acordam cedo e lembro sempre do meu irmão que reclamava de fazer o mesmo. Ele acordava cedo para ir ao colégio, e não para pegar no batente. Não precisava daquele escândalo todo que ele fazia. Só de lembrar o sangue ferve.
Mimado de merda.
Fechei a cara ao lembrar. Várias pessoas passaram por mim nesse momento, mas um me chamou atenção. Era careca, de óculos escuros e sapatos caros. "Mais um desses charlatões", pensei.
Continuei andando, agora com passos acelerados. Parei num quiosque para comprar Coca-Cola, mas nem isso tinha. Continuei andando como tivera feito a vida inteira.
Quando parei para atravessar o sinal, alguém encostou a mão no meu ombro.
Virei preparado para dar um sorriso ou um soco.
Quando virei, pensei em dar a segunda opção.
Era o tal do homem charlatão.
O sinal abriu, e eu dei um passo. Ele foi direto:
- Você sabe bater? - e eu continuei andando, sem parar. - Você sabe bater, imbecil? - ele repetiu. Fechei a cara novamente. Sabia que não devia ter saído de casa, sabia. Dei meia volta e o sinal fechou. Cheguei perto dele e, pacientemente, perguntei
- O que você disse?
- Não me faça repetir.
- Foi isso mesmo que eu entendi - e virei as costas maaais uma vez. Ele colocou a mão no meu outro ombro e eu virei um tanto bufante - O que você quer?!
- Você sabe bater?
- Sei.
- Me mostra.
Ri.
Ridículo. Agora ele queria fazer ceninha ali, no sinal? Com várias pessoas em volta?
- Não me dou a esse luxo não, doutor. Com licença que eu tenho coisas a fazer.
E me deu um soco. No queixo.
Doeu.
Dor que há muito não sentia.
Revidei.
No olho.
As pessoas olharam, um cara se aproximou para nos separar, mas o charlatão afastou-o dizendo que estava tudo bem. E eu já não entendia mais era nada. Queria voltar pra minha cama, tava bom lá.
- Ah, que que foi agora? - eu perguntei
- Você é bom, moleque
- Tá, posso ir? Caralho! Agora além de ter que pagar conta vou ter que consertar meu queixo. Vá procurar o que fazer, infeliz!
- De quanto é essa sua conta?
- O quê?
- Qual o valor da sua conta?
- Oras, não se meta na minha vida, velhaco!
- Eu pago sua conta.
- Não preciso. - atravessei finalmente o sinal e ele atravessou junto.
- Precisa sim. Você tem cara de quem precisa. Mas eu também preciso. Preciso de alguém que soque como você.
- Tem academia de boxe aqui perto, doutor. Procura lá.
- EU PAGO SUA CONTA, IMBECIL. Ainda sobra dinheiro extra. É pra coisa SÉRIA que eu preciso de você, não se recusa coisa séria, é quase uma caridade, um serviço de solidariedade, aceita e me escuta, porra! Gostei de você quando fechaste a cara há alguns minutos atrás.
Não foi à toa, porra.
Me escuta e aceita.
- Não aceito e te escuto, diz.
- Te pago bem. Sou dono de consórcio, tem minha palavra. Quero me vingar de uma mulherzinha. Uma vagabunda, na verdade.
- Como assim?
- Você enche ela de porrada - ele abaixou o tom de voz - mas só até o nariz dela sangrar. Não desmaia nem mata. Tá me ouvindo? Não desmaia nem mata. Só pra dar um susto na vagabunda.
- Cê ta brincando que eu vou bater em mulher por dinheiro, né? Dá licença, meu senhor, dá licença.
- Eu pago o que você quiser, criança. Eu tô precisando, cacete. E tu? Tá precisando do que?
- De ir. De pagar minhas contas, fechar meu queixo.
- Tu não tem mulher?
- Tenho sim, doutor.
- Tu não quer dar nem uma joiazinha pra ela?
Fiquei em silêncio.
Aquilo era corrupção. A gente sabe que em mulher não se bate.
Mas toca no assunto do coração e do bolso a gente até pensa.
Até.
- Quero sim.
- Então.
- Mas com o meu dinheiro.
- O dinheiro vai ser seu, mula! Te dou quanto for necessário. Só quero uns socos. Você não estará sozinho.
- Tá.
- Aceita?
- Quero ver qual é.
13 de abril de 2012
Tyler
Quebrei-lhe a face (de novo).
Deixei roxa, azul e verde.
Dolorida, fraquejou.
Pra combinar com o caráter.
Deixei roxa, azul e verde.
Dolorida, fraquejou.
Pra combinar com o caráter.
12 de abril de 2012
10 de abril de 2012
Mamãe que nos faz (2010)
Antes que você, precipitado, pudesse cometer algum erro eu já estava lá, consertando-o. Foi assim que fui parar em sua casa, mal decorada, com móveis e eletrodomésticos simples.
Minha mãe sempre dissera para escolher um homem com uma casa bem decorada: homem que cuida da casa, cuida da mulher que tem. Mas talvez eu pudera provar para dona minha mãe que exceções existem.
Cê tava encostado no vão da porta de uma forma tão bonita que eu não resisti. Levantei da cama, abri a bolsa manchada de chuva e tirei a câmera que sobrevivera.
Voltei à cama e fotografei. Brincando, fez algumas poses que ficariam bonitas no preto e branco - e ficaram.
Pedi que tirasse a camisa, e foi o que fez. Lentamente, mexendo os quadris, brincando, para variar.
Minha mãe sempre dissera que homens que brincam tendem a levar a felicidade mais a sério. Ah, é a única coisa que devemos levar a sério.
Mas como nunca levo nada a sério tampouco ao pé da letra, o que tentei a sério levar naquele momento foi teu abdome não definido, com pêlo e saúde.
Desliguei a câmera e pisquei o olho, convidando-te.
Aceitara tão rápido que quase estranhei.
Quase.
É engraçado como a gente se ajeita fácil em cama pequena. Acho que se ela fosse maior, ficaríamos desconfortáveis. "Mas que injustiça!" disse com voz fraca ao perceber que eu estava de camisa; e você já não mais.
"Arranca!"
Ordenava eu, obedecia você ainda que não submisso. Porque quando cansava de ouvir, me calava a boca com longo encostar de beiços, lábios, língua e sorrisos.
Mãe que dizia que quem sorri, vive mais.
Viveríamos muito, então.
Quando, cansado, encostava no teu peito e - novamente - brincava com teu cabelo
Suspirava e me vinha certeza
"Mamãe mandou eu escolher esse daqui".
Mas como eu sou teimosa vou escolher esse daqui.
Minha mãe sempre dissera para escolher um homem com uma casa bem decorada: homem que cuida da casa, cuida da mulher que tem. Mas talvez eu pudera provar para dona minha mãe que exceções existem.
Cê tava encostado no vão da porta de uma forma tão bonita que eu não resisti. Levantei da cama, abri a bolsa manchada de chuva e tirei a câmera que sobrevivera.
Voltei à cama e fotografei. Brincando, fez algumas poses que ficariam bonitas no preto e branco - e ficaram.
Pedi que tirasse a camisa, e foi o que fez. Lentamente, mexendo os quadris, brincando, para variar.
Minha mãe sempre dissera que homens que brincam tendem a levar a felicidade mais a sério. Ah, é a única coisa que devemos levar a sério.
Mas como nunca levo nada a sério tampouco ao pé da letra, o que tentei a sério levar naquele momento foi teu abdome não definido, com pêlo e saúde.
Desliguei a câmera e pisquei o olho, convidando-te.
Aceitara tão rápido que quase estranhei.
Quase.
É engraçado como a gente se ajeita fácil em cama pequena. Acho que se ela fosse maior, ficaríamos desconfortáveis. "Mas que injustiça!" disse com voz fraca ao perceber que eu estava de camisa; e você já não mais.
"Arranca!"
Ordenava eu, obedecia você ainda que não submisso. Porque quando cansava de ouvir, me calava a boca com longo encostar de beiços, lábios, língua e sorrisos.
Mãe que dizia que quem sorri, vive mais.
Viveríamos muito, então.
Quando, cansado, encostava no teu peito e - novamente - brincava com teu cabelo
Suspirava e me vinha certeza
"Mamãe mandou eu escolher esse daqui".
Mas como eu sou teimosa vou escolher esse daqui.
4 de abril de 2012
(yuri)
(tentando
tentando
tentando
tentando
teamando
tentando
tentando
tentando
vocêassim
tentando
tentando
tentando
tentando
tentando
tentando
tentando
tentando
tentando
fim)
tentando
tentando
tentando
teamando
tentando
tentando
tentando
vocêassim
tentando
tentando
tentando
tentando
tentando
tentando
tentando
tentando
tentando
fim)
3 de abril de 2012
O cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama (parte 1)
Era domingo, desses que a gente come macarrão até não conseguir mais, mas deixa espaço pro sorvete de tapioca como sobremesa.
Lola comentou assim que terminou sua última garfada "amanhã eu começo minha dieta".
Fernandinho riu para dentro e continuou a comer.
- O que você está insinuando hein, criatura? - já foi ameaçando a gordinha ruiva que era Lola, sem nem pensar - Não acha que eu sou capaz?
- É que é a décima quinta vez que você fala isso, meu pãozinho-de-ló.
- E daí?
- Você é capaz sim, minha batatinha recheada.
- Pois se fui capaz de dormir com você, sou capaz de fazer uma dieta e emagrecer. Vou ficar linda, e a minha história vai aparecer nas capas das revistas. Aí, quando você for sábado de manhã comprar o pão (que vai ser integral) e jornal, vai me ver na capa da revista.
- Vou sim, docinho.
Os dois continuaram comer, e Fernandinho como de praxe, guardou suas opiniõezinhas para si. Afinal, expô-las seria muito risco.
Os dois adormeceram e o sol logo anunciava uma segunda-feira daquelas.
Lola comentou assim que terminou sua última garfada "amanhã eu começo minha dieta".
Fernandinho riu para dentro e continuou a comer.
- O que você está insinuando hein, criatura? - já foi ameaçando a gordinha ruiva que era Lola, sem nem pensar - Não acha que eu sou capaz?
- É que é a décima quinta vez que você fala isso, meu pãozinho-de-ló.
- E daí?
- Você é capaz sim, minha batatinha recheada.
- Pois se fui capaz de dormir com você, sou capaz de fazer uma dieta e emagrecer. Vou ficar linda, e a minha história vai aparecer nas capas das revistas. Aí, quando você for sábado de manhã comprar o pão (que vai ser integral) e jornal, vai me ver na capa da revista.
- Vou sim, docinho.
Os dois continuaram comer, e Fernandinho como de praxe, guardou suas opiniõezinhas para si. Afinal, expô-las seria muito risco.
Os dois adormeceram e o sol logo anunciava uma segunda-feira daquelas.
2 de abril de 2012
31 de março de 2012
Vinícius
então
desfez-se assim sem pudor ou discrição
mantendo o desejo errôneo, passado e tentação
deixando súbita a saudade pertinente
e muito próxima a mentira atraente.
então
quis remediar as palavras proferidas
no entanto havia distanciado duas vidas
que já partilharam cama, copo e colchão
lábios, sussurros, tapas e coração.
então
acentuou as frases com pontos finais e com certeza
checou-lhe as lágrimas com imensa destreza
cuja não tivera de antemão
escrevera de novo o soneto da separação.
desfez-se assim sem pudor ou discrição
mantendo o desejo errôneo, passado e tentação
deixando súbita a saudade pertinente
e muito próxima a mentira atraente.
então
quis remediar as palavras proferidas
no entanto havia distanciado duas vidas
que já partilharam cama, copo e colchão
lábios, sussurros, tapas e coração.
então
acentuou as frases com pontos finais e com certeza
checou-lhe as lágrimas com imensa destreza
cuja não tivera de antemão
escrevera de novo o soneto da separação.
29 de março de 2012
diário da independência público
eu tava tão gostando dele, que quando eu o convidei para vir aqui em casa, tive vontade de cozinhar. não fazer macarrão, lasanha de microondas, mas uma coisa saborosa.
optei por uma torta de banana.
e não herdei a veia cozinheirística da minha família; por isso as receitas só dão certo na minha mão depois da segunda tentativa.
eu tava tão gostando dele, que testei umas três vezes.
cantada letrista
se sir conan doyle
te colocasse num mistério
o que descobriríamos no final
é o teu olhar