14 de julho de 2012

Enganar a fome

Nunca soube cozinhar.
Já soube fazer origami, correr quatro quilômetros, tocar violoncelo, jogar tênis e até frescobol.
Mas nunca soube cozinhar.

Jogava qualquer coisa dentro da panela, e a fome era quase sempre tão grande, que quase sempre se comia qualquer coisa.
Só quando a comida queimava ou não ficava no ponto; aí não tinha jeito. Odiava comida crua ou queimada. Porque queimada é diferente de bem passada; e crua é diferente de mal passada.

Nunca soube cozinhar.
Mas sembre soube comer.

Daí arrumava homens que sabiam tocar saxofone, falar japonês, contar até além do infinito e depois dividir aquilo tudo, dançar flamenco, pintar aquarela, mas não arrumava homem que sabia cozinhar.
E ficava a dúvida de quem decepcionava mais na cozinha.

Normalmente era quem nunca soube cozinhar.

Até que não sabia se os homens iam embora porque não valia um centavo
ou se iam embora porque não sabia cozinhar.

Decidiu então aprender a cozinhar. Mas teimava, desenfreava, jogando azeite e sal e via o que que dava.

Dava certo não.
Às vezes dava. Quando era uma coisa mais rápida e mais simples, ah, dava.
Mas dava mais ou menos.

É que como sabia comer, consequentemente, sabia que dava pra ficar melhor.

Decidiu então voltar pro que sempre pôde fazer,
música, esporte, e cultura inútil.

E têm sido assim,
até conseguir um homem que saiba cozinhar.

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Ahá.