(...)
- Ângelo tinha olhos profundos e castanhos. As outras acham graça e caçoam de eu reparar nos olhos e nas mãos dos homens, e não no pau. Mas eu sei falar do pau também. É que com o passar dos anos, aprendi a achar mais interessante mãos do que paus. Gosto de mãos grandes - deu uma tossidinha - acho que quem tem mão grande é mais passional e fode melhor. Talvez isso seja só ilusão minha - deu uma tragadinha - mas a gente tem que é sonhar, né?
Alguns homens já realmente gostaram de mim, e não só dos meus seios ou pernas. Mas eu os recusei. Não aceito que me deem presentem, aqui a coisa é reta, séria. Como uma, como cês chamam? Bolsa de Valores? Leilão? Não, não. É compra e venda mesmo. Quem manda nos meus seios ou pernas - apagou o cigarrinho - sou eu, não quem compra. Ah, então é aluguel, né? Não sei dessas coisas de gente com bufunfa não. Sei do Ângelo.
Eu nem ia me apaixonar por ele não, sabe? Mas aí ele me mostrou um tanto de coisa de gente com bufunfa, eu até tinha entendido um tempo atrás aí o que era Bolsa de Valores. Acho eu boto é fé que Bolsa de Valor é dessas Prada, né? Assim que cês chamam?
Daí o Ângelo tinha uns olhos bonitos, dedos amarelados de tanto fumar. Tinha muita era cultural, bufunfa também, mas ele não dizia assim não. Era solteiro mas tinha uma filha de 20 e tantos anos, quase a minha idade, sabe? Na primeira vez ele disse que me escolheu só porque eu era a que menos parecia sua filha. Não sei se foi bom ou se foi ruim, mas ele fodia olhando nos olhos.
Depois, me oferecia um cigarro - acendeu outro com o isqueirinho - e me contava das viagens ao Paraguai que tinha feito, e das mulheres que tinha se apaixonado. Tinha uma que ele sempre falava, que ele dizia que os peitos eram parecidos com os meus. Eu ria, né? Ninguém gosta de ser comparado, mas ele tava pagando, né? Que que eu posso fazer?
A voz dele era bem grave, e ele tinha calo nas mãos e nos pés. Cravos e pêlos nos peitos e nas costas, e um nariz protuberante. Sorriso também amarelado e dentes separados. Nunca me beijou.
Ah, nunca precisei.
Recitava poesias de Adolfo Bécquer e tinha medo que eu soubesse do final, porque ia estragar a surpresa. Mas ele contava sempre a mesma. Acho que, como as outras, pra fazer graça né? Me caçoar um pouquinho também. Tava pagando, tava no direito - saiu fumaça de seu narizinho.
Ele era homem e olhos castanhos tão tão masculinos que eu me apaixonaria fácil, mas ele nunca me beijou, e eu me apaixono pelo beijo, não pelo pau.
Quando Ângelo ia embora, eu ficava deitada na cama com pouca roupa e ele encostado abotoando a camisa no vão da porta. Foi assim que o vi da última vez, depois sonhei com ele algumas vezes, e.. Mas isso o senhor não quer saber, né, doutor?
Eu sei que vocês gostam de ouvir falar do pau. - e deu um sorrisinho.
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Ahá.