5 de setembro de 2012

Um beijo pro padeiro

E lá fui eu comprar pão: de garganta inflamada, moletom de dias, nariz entupido e falta de dignidade. Porque agora é assim; se eu quero pão eu quem vou comprar.
Se eu consigo andar, não preciso de favores para fazê-lo.
Se só pelo meu mau humor ganho um favor, fico acomodada. E nesse caso seria um favor, não uma gentileza. Porque quem o faria seria meu vizinho. E depois ele falaria, rindo "cê me deve essa, hein, gatinha?" e eu estaria devendo.
Não gosto de dever.

Brasília anda extremamente seca e quente esses dias, e friorenta à noite. Quase um deserto com deputados e ipês.
Lá tava eu, no meio dessas contradições e debaixo de um céu azul que só fazia doer mais a cuca, de manhã cedinho, indo comprar pão, porque eu quis.

Na fila, espirrei. Era a próxima.
- Saúde! - a mulher atrás de mim desejou.
- AMÉM!!!!!!! - assim respondi, com muitas exclamações e caixa alta. Pra que algum santo me ouça e me tire dessa. Não é possível que assim esteja, doente, durante todos esses dias.
Quem tem que pagar o pão sou eu.
Não posso ficar doente.

Chegou minha vez.
- Três pã... ATCHIM!... Por favor.
- Saúde, guria. - o padeiro desejou
- Obrigada.
- Três?
- Três.

Enquanto ele colocava os pães no saco de papel pardo, xingava baixinho
- Mas puxa vida! Tô assim há dias! Não consigo nem pedir pão. Estou com dor a dias! Meu, que azar. Que azar! Logo na semana que eu ia tocar. Que azar!

Rindo, o padeiro me entregou o saco e disse:
- Hehehe... Se avexe não!



Se avexe não.

Permaneci calada, sem reclamar um "ai", o resto do dia.



(playlist avexada. dessas que você pode passar todas as músicas)

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Ahá.