20 de agosto de 2013

Para Não Esquecer - Lembrar

Arrumando meu quarto inarrumável desde que cheguei à Brasília, achei alguns cadernos velhos. Muito velhos.
Compartilho a seguir alguns de meus escritos velhos. Sim: muito velhos.

I

"Lavou os pratos e planejou ir à cama. Mas ele já não estava mais lá. Não tinha tantos motivos para chegar ao quarto. A lugar nenhum, diga-se de passagem".
(18/04/2012)

II


"Ir para a parada de ônibus com a cabeça a mil já é rotina. O transporte público em Brasília é caro e quando você percebe que paga R$ 2,00 para andar 6 quadras você fica assustado. Algumas pessoas não sabem o valor de R$ 2,00. Essas, sedentárias (e posso afirmar com certeza) não vão ficar com a cabeça a mil até que falte algo. Comida, lar... Ou até R$ 2,00.
Independência é algo difícil. Liberdade não. Apesar dos dois andarem juntos. Quando você tem 14 anos você acha TODA liberdade do mundo pouca. Ela não vai chegar se você continuar sem saber o valor de R$ 2,00.
Arranjar um emprego fixo é difícil. A falta de colo materno é pior ainda. Roupa não-lavada fede. E você não vai ligar pra isso quando tiver 18 anos e com uma garrafa e cerveja na mão.
A grande lição sobre a vida é que R$ 2,00 não valem somente R$ 2,00. Nunca. Deixar a cabeça a mil por falta de algo não resolve. E se apaixonar é só pra compensar a falta de alguém.
Normalmente, pessoas valem mais do que R$ 2,00. Se privar das que valem menos ajuda. Ser otimista também."
 (Sem data; tinha 14 anos. Faço questão de, neste, comentar: ficou um tanto desconexo e com alguns erros. Mas é uma das palavras mais sinceras que já coloquei no papel em minha vida. Fazem muitos anos que escrevi isto, antes de ir para Recife, e neste fragmento previ meu futuro. Acho que era mais inteligente e perspicaz há alguns anos, talvez um tanto mais humana, inclusive. E, ah, o transporte em Brasília continua caro.)


III
"O poeta nasceu errado ou você que não o entende?"
(Juliana Mantovani, 2010, professora querida de literatura).

IV

"Não sei o que vi em você. Não sei o que investiguei em seus olhos, o que procurei no seu corpo e deixei acomodar-me sobre seus braços. Não sei o que vi em você para deixar você ir."
(2010)

V

"Você não é socialista ou feminista, você não pensa realmente assim. Você só tem 16 anos e quando precisar trabalhar para pagar o que pôr na geladeira esquecerás de todas as "marchas contra corrupção" que já fora, e mal se importará com o que o Governo faz ou deixa de fazer desde que te deixem comer o que há dentro da geladeira em paz.
Sua única posição em relação a isso será um comentário seco na hora do jantar.
Ou talvez alguns desses assuntos políticos ressurjam numa mesa de bar com colegas de trabalho, e, mesmo que pouco, você saberá argumentar. Afinal, você já soube que a "culpa é do sistema" embora tenha tentado por passos errôneos desfazê-lo.
Mas saberá argumentar porque o melhor argumento é de quem errou.
Sua mudança no mundo é pequena e pouco eficaz porque, apesar de esforçar-se, não consegue um aumento salarial ou até mesmo (por que não?) notas boas.
Manter uma média excelente no colégio"
(Com 15 anos. Inacabado)


VI

"Blame it on the jazz"
(2011)

- Neste momento amasso papeis em forma de bolinha e jogo ao léu. Meu gato pretinho vai atrás, desesperado. Jogo outra. Ele não sabe para onde olhar.
É engraçado.-

VII

"Metas de 2010:
1 Perder peso;
2 Arrumar um relacionamento duradouro;
3 Passar numa faculdade pública;
4 Terminar o curso de trompete;
5 Aprender a dançar;
6 Entrar numa banda;
7 Terminar meu curta;
8 Falar menos palavrão;
9 Aprender a andar de salto"
(2010. Realizei os números 3, 4, 6, e 9. Não necessariamente em 2010).

VIII

"Então eu estive cansada durante muito tempo até chegar aqui. Nesse meio tempo, criei dois peixes e um cacto. Doei os peixes e matei o cacto. Não, eu não me orgulho isso, mas só quero que saibam que foi necessário.
Em relação aos peixes, digo.
Ah. Às vezes eu quero me doar. Aí eu me doo porque sabe como é: não sou impulsiva, mas se estiver com vontade, faço. E sem pensar na consequência que isso vai ter na minha vida."
(2010)

IX

"- Vou cozinhar para você. - disse ele.
Derreti feito a manteiga que ele colocara na quente frigideira. Nenhum homem cozinhara para mim antes e era uma honra que ele fosse o primeiro. Tinha medo de me apaixonar"
(2011)

X
"Odeio ODEIO ODEIO odeio OoDEIO ODEIO DOEODIEO ODEEEEIO mosquito."
(2010)

XI

"Ela saiu e me deu um sorriso de adeus.
Eu retribui.
E este foi o maior erro do meu ano".
(2009)

XII

"- Faz isso não! Eu sou cardíaco!
- Porra, Vanderlei! Não perguntei porra nenhuma pra tu!"
(2010)

XIII

"Tava pensando na gente assistindo TV"
(Para Mendonza, 2011)

XIV

"Enquanto você berra 'ANA JULIA, ABRE ESTA PORTA, PORRA!', eu bebo o vinho que compramos em nossa primeira viagem juntos. Enquanto você berra 'ANA JULIA, ABRE AGORA ESTA PORTA!', eu solto lágrimas silenciosas que surgem do lamento das nossas velhas e intermináveis noites desaparecerem assim, por causa de uma loira de seios fartos no sofá. Você deve realmente sentir muito pelo tom que grita e pelo seu bater desesperado no pedaço de madeira que nos separa, mas não quero ouvir isto agora de ti.
E então você chora: 'Ana, abre esta porta, por favor'. Suplica. Sabe que errou. Eu rezo, do outro lado, suplico como você ao acaso, para que você consiga sem querer abrir esta porta.
Para que nos encontremos em lágrimas e queira me fazer de novo a mulher mais feliz novo.
Você pede para entrar novamente.
Eu morro por dentro a cada segundo.
Enquanto pensas em desistir, abro a porta.
E esqueço porque estava infeliz.
Amo você."
(27/12/2011. O perdão descrito por um amor sincero :))


XV

"Se você me quer
me queira
Mas num vem dizer
Que eu num avisei"
(2009)






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Ahá.