I
Saí 30 minutos mais cedo do trabalho e coloquei na mente que aproveitaria tais minutos para resolver alguns problemas. Escolhi resolver o problema das camisas brancas: não as tenho. Queria algumas simples, sem estampa ou "gola V". De algodão, de preferência. Descobri que são vendidas por preço razoável nas Lojas Americanas.
Então, nesses 30 minutos livres, eu ia à Lojas Americanas.
Mas se você também trabalha numa rua movimentada, sabe que um tanto desse tempo é insignificante. E se você, além de trabalhar numa rua movimentada, também depende de ônibus, sabe que esse tempo é completamente insignificante.
Então foi tudo ilusão. Gastei todo o tempo dentro de um ônibus fedorento e quebrado. Presa no engarrafamento. Lendo Cortázar, que é pra dar mais dor de cabeça.
Não desisti. Cheguei ao shopping, comprei as camisas. Coisa rápida. (Quero dizer, "rápida". Lembre que eu estava em uma filial do shopping mais popular da cidade da Lojas Americanas, às 18 horas. Entenda).
Me deu fome.
Quis porque quis um milkshake enorme de ovomaltine. Mas estou de dieta, e tentando seguí-la. Me vi então pedindo um suco de abacaxi com gengibre num restaurante natural (ó!), quando, de repente:
- CPF na nota? - pergunta a caixa
- Quero não.
- Só um minutinho, tá bom?
- Tá. - respondo pegando a nota fiscal.
Sento em uma das mesas da praça de alimentação, bem em frente ao balcão que fui atendida. A caixa carrega o papel com meu pedido até a cozinha do restaurante.
Espero alguns minutos jogando qualquer coisa no celular. Sai a caixa da cozinha, batendo a porta, voltando ao caixa em lágrimas.
Me chamou atenção mas voltei ao jogo.
Daí que saí a possível cozinheira louca, com uma faca na mão. E um homem atrás, assustadíssimo.
- Eu vou te matar, sua piranha!
- Então mata, vai! Aqui, ó! - disse a caixa apontando para o próprio pescoço. A praça de alimentação vira um centro de rostos assustados e silêncio, pleno silêncio, silêncio que faz uma criança curiosa ao descobrir algo. Me levantei e já ia desistindo do suco, pegando minha bolsa e reclamando em perder sete reais assim. Mas a cozinheira maluca não deixou. Aos prantos, ela pergunta:
- De quem é esse suco?!
Parei e olhei para ela, já perto da escada rolante.
Ela repete:
- De quem é esse suco?! - e joga o suco no chão. Volta a ameaçar a caixa - Olha aqui, minha filha, tu tava me testando. Se você tá achando que aqui as coisas são assim, vou te mostrar como são. Estagiariazinha.
- O que que foi, minha filha? Não quer me matar? Estou aqui esperando, ó! - aos berros, encorajando a cena do crime. O homem tentou segurar a mão da mulher com a faca e levou um soco. Um cruzado, propriamente dizendo. Eu, parada na escada rolante, vendo meu suco no chão, fui empurrada por um monte de seguranças. Que receberam outros tapas.
Certeira, a possível cozinheira fez com que um desses tapas pegasse na caixa.
Aí a coisa ficou feia e alguns homens que assistiam à cena começaram a gritar.
Os dois ou três seguranças pouco podiam fazer para separar as duas moças loucas e, por alguma razão, a cozinheira insistia em perguntar:
- De quem é esse suco?
Eu não sabia se respondia ou não. Se permanecia lá quieta, se respondia de lá, se ia lá responder, se largava tudo e ia pra casa. Fiquei sem reação simplesmente porque sabia que era meu suco. E não faço ideia da quantidade de problemas que um suco pode gerar.
Até então.
Um dos seguranças conseguiu acalmar a caixa, que respirava fundo e chorava, chorava. Sabe-se lá porquê.
A mulher da faca ameaçou todos que estavam olhando de morte, ao segurança e à caixa. Tirou o avental, pegou a bolsa, largou a faca e saiu chorando, correndo.
Os homens que gritavam gritaram de novo.
Desci as escadas rolantes um tanto ainda assustada, confusa.
Me sentirei culpada até quarta-feira que vem.
Às vezes temos que nos permitir sair da dieta.
obs
algumas frases e palavrões foram excluídos do diálogo a fim de manter o bem estar social
4 comentários:
O_O foi no Marieta?
O_O
foi no marieta?
foi! hahahah
um tanto quanto curioso!
coisas do dia a dia...
super normal
hahaha
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Ahá.