21 de abril de 2013

Eu esperei por esta noite uma semana

Café quente e sem açúcar no copo de vidro é a coisa que mais lembra minha infância no Rio de Janeiro.
Descíamos para tomar café da manhã numa padaria que ficava na esquina de casa. O bairro cheio de árvores e gente saudável trazia bom humor. Até o homem bêbado que sempre estava na quina de alguns prédios era bem humorado. Deve ser por conta do sol: estava sempre radiante. E quando chovia... Bem, não lembro de ter chovido um dia sequer na minha infância.

A padaria era bem simples. E pouco charmosa, para ser sincera. É o que nós chamamos hoje de pé sujo, mas nestes anos eu chamava de restaurante. Não serviam arroz ou feijão naquele lugar, mas serviam o melhor misto quente e café que já provei em todos essas primaveras que me acompanham. Sou incerta quanto ao adjetivo de "melhor" misto quente e café, já que provei vários - e hei de provar mais. Mas só aquele café fazia eu sentir o gosto ruim que tinha. Amarguíssssssssimo. Às vezes, até fechava os olhos e prendia a respiração para o café com gosto de gente adulta descer.
Mas quando eu conseguia manter os olhos abertos, eles estavam concentrados nos azulejos portugueses que decoravam a parede. Legítimos azulejos azuis e portugueses. Alguns lascados, principalmente os que ficavam atrás da chapa quente. Estavam lá há anos, e ainda persistiriam por mais alguns (ainda bem!).

Aposto que eu e o dono da padaria sentíamos o mesmo carinho por ela. Afinal, ela nos fornecia o pão de cada dia. Me ensinou a gostar de café ruim, digo, amargo e de um bom misto quente domingo de manhã.
Engraçado, lembro-me que o café era ruim no começo e pior no final. Não sei o porquê. Acho que toda a concentração de café ficava no final do copo. Então a coisa mais deliciosa dos finais de semana da padaria eram o meio do misto quente (onde tinha mais queijo) e o meio do café (onde tinha menos café). Isso tudo no começo dos domingos.
O copo esquentava e mal dava para se pegar, tampouco com mãos minúsculas como eram as minhas, e era incrível como os homens formados, magros, escuros, mas de braço forte conseguiam pegar o copo de mão cheia. Mesmo saindo fumaça e tudo.
Obviamente, eu desconhecia o que são os calos e as insensibilidades da pele.

Hoje eu até quase consigo segurar de mão cheia.
Quase.






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Ahá.