Pré Psicopata ainda é um nome muito adolescente pra mim. Não que eu ainda não tenha um quê de adolescente rebelde, mimado e teimoso, mas agora eu ando pagando minhas contas então me dei o direito de ser rebelde, mimada e teimosa.
Não cresci tudo ainda. Calma.
Mas agora qualquer tipo de lamentaçãozinha babaca é melosa e chata, acaba virando abobrinha.
Então cresçamos.
Não mudarei a url porque sei que tem gente que, apesar de não comentar (nunca há comentários aqui), me visitam sempre (vide "estatísticas"). E quero que continuem assim.
Os ouvintes silenciosos são os melhores.
Vamos ver quanto tempo de ladainha isso aqui aguenta.
26 de março de 2013
25 de março de 2013
15 de março de 2013
13 de março de 2013
Anadota pra você interpretar como quiser, mesmo que eu sugira tal interpretação no final
I
Hoje, ou há alguma uma hora atrás (escrevo logo senão esqueço), peguei o quarto ônibus do dia para ir ao trabalho. Paguei a taxa de 1,50 reais - mais barato que a maioria dos outros ônibus aqui em Brasília, que chegam até 3,00.
Neste ônibus embarcam muitas pessoas diferentes, pois além de fazer todo o Eixo Monumental (nos leva aos Ministérios e outros prédios de responsabilidade Federal e Governamental) ele passa pela Nova Rodoviária. Esta, construída há não muito tempo atrás, possui linhas para o resto do Brasil. Logo, pego ônibus com engravatados e mal-trapilhos, por assim comparar.
Por acaso, escolhi o assento mais perto do cobrador. Apoiei os pés nos ferros que sustentam a cadeira dele, e voltei ao livro que estava lendo. Pessoas embarcando, todas elas diferentes e sem parar. Porém, dado um momento, a fila parou. Senti a diferença mas não quis erguer os olhos para observá-la. Não tinha porquê, até eu ouvir a voz rouca de uma senhorinha muito mais baixa que eu (veja bem, tenho 1,63) tentando se sobrepor à voz do cobrador (esta, grave e em tom chulo). A senhorinha se encaixava no grupo dos mal-trapilhos, sem dúvida. Carregava um saco de lixo preto cheio de não-sei-o-quê numa mão, e na outra uma pasta amarela que parecia ter todos os seus documentos dentro. Calçava chinelo e usava lenço na cabeça.
Gaga, a senhorinha pedia uma resposta ao cobrador:
- Es-es-es-este ô-ô-ô-ônibus vai para a no-no-nova rodoviá-á-ária, hein, moço?!
- Vai não, minha filha, já lhe disse.
- Ma-ma-mas o moço disse, lá fora, que ia!
- Ele errou. Não vai. Agora desça, vá.
E gaguejando, reperguntou ao moço se ia à Nova Rodoviária. O homem apoiou a mão na testa e soltou um suspiro esbaforido, lamentando.
A essa altura, eu já tinha erguido a cabeça para ver o que acontecera. Como todos os passageiros, eu permanecia calada e alheia à situação, mesmo sabendo que o ônibus ia sim à Nova Rodoviária. Depois me lembrei que estes motorista e cobrador sempre rejeitavam pedintes. Mas não tinha até então entendido o porquê d'ele achar que ela era pedinte, afinal de contas, apesar de mal vestida, não apresentava nenhum indício de que não poderia (ou conseguiria) pagar passagem. Seria muita pretensão pensarmos isso.*
Ela permanecia em pé, com o saco e a pasta em mãos. Esperando uma resposta. O motorista ainda não tinha chegado. Os passageiros, assim como eu, estavam apreensivos.
A mulher tenta gritar, mas por ser rouca não consegue. Acaba gaguejando mais ainda, e exigindo uma resposta:
- Mas su-su-su-sua mãe nããããããão lhe deu educação?!? Por que nãã-ão me re-re-re-re-re-responde?! Só po-po-po-por que eu não sei ler?!
Depois dessa última indagação, meu coração deu uma leve disparada - e eu tenho certeza que não foi pela quantidade estúpida de café puro, preto e quente que tinha tomado há um tempo atrás - embora não saiba o motivo.
Levantei para que a senhora me visse. Respondi, em alto em bom tom (como de costume):
- Vai à Nova Rodoviária sim, minha senhora.
Sentei.
Voltei ao livro. Mas é óbvio que não estava prestando atenção alguma na história.
"Puta que te pariu", sussurrou o cobrador. A senhora ficou sem resposta.
Não me agradeceu, nem me xingou. Nem a mim nem à minha quinta geração, como deve ter feito o cobrador, mesmo que mentalmente.
O motorista chegou e ligou o motor. A senhorinha abriu a pasta e fez com que o cobrador tirasse R$ 1,50 de 50 reais. O cobrador jogou o dinheiro em cima da mesinha de plástico.
Seguimos o caminho, minha parada chegou e a senhorinha estava sentada no último banco do ônibus, olhando a janela.
Como ela conseguiu cinquenta reais, não aprender a ler, ou fazer com que, possivelmente, todos os pertences dela caibam num saco preto de lixo eu não sei.
Também não faço a menor ideia de pra onde ela vai. De onde ela veio.
Tampouco quero saber.
Só que, se esclarecermos a dúvida do mundo - ainda mais o nosso, que é teimoso e velho - acredito que este gasta menos tempo para chegar ao seu destino.
somos todos passageiros
até o cobrador e o motorista
*Não que não sejamos pretensiosos. Mas é muita pretensão dizer que somos.
Hoje, ou há alguma uma hora atrás (escrevo logo senão esqueço), peguei o quarto ônibus do dia para ir ao trabalho. Paguei a taxa de 1,50 reais - mais barato que a maioria dos outros ônibus aqui em Brasília, que chegam até 3,00.
Neste ônibus embarcam muitas pessoas diferentes, pois além de fazer todo o Eixo Monumental (nos leva aos Ministérios e outros prédios de responsabilidade Federal e Governamental) ele passa pela Nova Rodoviária. Esta, construída há não muito tempo atrás, possui linhas para o resto do Brasil. Logo, pego ônibus com engravatados e mal-trapilhos, por assim comparar.
Por acaso, escolhi o assento mais perto do cobrador. Apoiei os pés nos ferros que sustentam a cadeira dele, e voltei ao livro que estava lendo. Pessoas embarcando, todas elas diferentes e sem parar. Porém, dado um momento, a fila parou. Senti a diferença mas não quis erguer os olhos para observá-la. Não tinha porquê, até eu ouvir a voz rouca de uma senhorinha muito mais baixa que eu (veja bem, tenho 1,63) tentando se sobrepor à voz do cobrador (esta, grave e em tom chulo). A senhorinha se encaixava no grupo dos mal-trapilhos, sem dúvida. Carregava um saco de lixo preto cheio de não-sei-o-quê numa mão, e na outra uma pasta amarela que parecia ter todos os seus documentos dentro. Calçava chinelo e usava lenço na cabeça.
Gaga, a senhorinha pedia uma resposta ao cobrador:
- Es-es-es-este ô-ô-ô-ônibus vai para a no-no-nova rodoviá-á-ária, hein, moço?!
- Vai não, minha filha, já lhe disse.
- Ma-ma-mas o moço disse, lá fora, que ia!
- Ele errou. Não vai. Agora desça, vá.
E gaguejando, reperguntou ao moço se ia à Nova Rodoviária. O homem apoiou a mão na testa e soltou um suspiro esbaforido, lamentando.
A essa altura, eu já tinha erguido a cabeça para ver o que acontecera. Como todos os passageiros, eu permanecia calada e alheia à situação, mesmo sabendo que o ônibus ia sim à Nova Rodoviária. Depois me lembrei que estes motorista e cobrador sempre rejeitavam pedintes. Mas não tinha até então entendido o porquê d'ele achar que ela era pedinte, afinal de contas, apesar de mal vestida, não apresentava nenhum indício de que não poderia (ou conseguiria) pagar passagem. Seria muita pretensão pensarmos isso.*
Ela permanecia em pé, com o saco e a pasta em mãos. Esperando uma resposta. O motorista ainda não tinha chegado. Os passageiros, assim como eu, estavam apreensivos.
A mulher tenta gritar, mas por ser rouca não consegue. Acaba gaguejando mais ainda, e exigindo uma resposta:
- Mas su-su-su-sua mãe nããããããão lhe deu educação?!? Por que nãã-ão me re-re-re-re-re-responde?! Só po-po-po-por que eu não sei ler?!
Depois dessa última indagação, meu coração deu uma leve disparada - e eu tenho certeza que não foi pela quantidade estúpida de café puro, preto e quente que tinha tomado há um tempo atrás - embora não saiba o motivo.
Levantei para que a senhora me visse. Respondi, em alto em bom tom (como de costume):
- Vai à Nova Rodoviária sim, minha senhora.
Sentei.
Voltei ao livro. Mas é óbvio que não estava prestando atenção alguma na história.
"Puta que te pariu", sussurrou o cobrador. A senhora ficou sem resposta.
Não me agradeceu, nem me xingou. Nem a mim nem à minha quinta geração, como deve ter feito o cobrador, mesmo que mentalmente.
O motorista chegou e ligou o motor. A senhorinha abriu a pasta e fez com que o cobrador tirasse R$ 1,50 de 50 reais. O cobrador jogou o dinheiro em cima da mesinha de plástico.
Seguimos o caminho, minha parada chegou e a senhorinha estava sentada no último banco do ônibus, olhando a janela.
Como ela conseguiu cinquenta reais, não aprender a ler, ou fazer com que, possivelmente, todos os pertences dela caibam num saco preto de lixo eu não sei.
Também não faço a menor ideia de pra onde ela vai. De onde ela veio.
Tampouco quero saber.
Só que, se esclarecermos a dúvida do mundo - ainda mais o nosso, que é teimoso e velho - acredito que este gasta menos tempo para chegar ao seu destino.
somos todos passageiros
até o cobrador e o motorista
*Não que não sejamos pretensiosos. Mas é muita pretensão dizer que somos.
11 de março de 2013
Objetivos
Assim que acordava e percebia que ele não estava ao meu lado, não me preocupava. Estava na cozinha.
Levantava vagarosamente da cama, me espreguiçando, com os olhos pouco abertos por causa da singela abertura das cortinas. O sol batia leve, me dava a certeza da manhã.
Ia ao banheiro e encontrava sua escova de dentes em cima da pia. Sempre fora mais rápido, disposto e saudável que eu pela manhã. E isso não me incomodava. Lavava meu rosto ainda cautelosamente, escovava os dentes e tomava um banho rápido, não muito quente e não muito frio, embora o vapor tomasse conta do banheiro.
Sem pressa, vestia qualquer blusa branca maior que eu, pegava meu violão e ia para cozinha.
Às vezes tinha vontade de fumar lá. Mas os odores que ele criava me desestimulavam e faziam ter vergonha dos cigarros de palha. Gostava de tocar samba e alguns chorinhos enquanto ele enfarinhava a mão antes mesmo do meio dia. Quebrava os ovos enquanto cantava e arranhava a garganta com a rouquidão. Sorríamos mesmo sem saber porquê, mesmo tendo que limpar o leite que caíra no chão branco, mesmo quando ele me dava uma colher de geleia caseira e eu achava azeda.
Ele sentava e tomava algumas xícaras de café comigo, batucando na caixinha de fósforo. E o sol lá. E o forno lá. Não percebíamos o frio por causa do calor dos bolos, e não percebíamos o calor por causa da frescas saladas de frutas. Tudo era estável e exalava verão.
Mas às vezes as coisas queimam e os pratos sujam. Nem sempre eu acordava de bom humor e houveram dias em que ele não estava na cozinha quando acordei. Hoje nós dois bebemos cerveja amarga em lugares distintos da cidade.
Levantava vagarosamente da cama, me espreguiçando, com os olhos pouco abertos por causa da singela abertura das cortinas. O sol batia leve, me dava a certeza da manhã.
Ia ao banheiro e encontrava sua escova de dentes em cima da pia. Sempre fora mais rápido, disposto e saudável que eu pela manhã. E isso não me incomodava. Lavava meu rosto ainda cautelosamente, escovava os dentes e tomava um banho rápido, não muito quente e não muito frio, embora o vapor tomasse conta do banheiro.
Sem pressa, vestia qualquer blusa branca maior que eu, pegava meu violão e ia para cozinha.
Às vezes tinha vontade de fumar lá. Mas os odores que ele criava me desestimulavam e faziam ter vergonha dos cigarros de palha. Gostava de tocar samba e alguns chorinhos enquanto ele enfarinhava a mão antes mesmo do meio dia. Quebrava os ovos enquanto cantava e arranhava a garganta com a rouquidão. Sorríamos mesmo sem saber porquê, mesmo tendo que limpar o leite que caíra no chão branco, mesmo quando ele me dava uma colher de geleia caseira e eu achava azeda.
Ele sentava e tomava algumas xícaras de café comigo, batucando na caixinha de fósforo. E o sol lá. E o forno lá. Não percebíamos o frio por causa do calor dos bolos, e não percebíamos o calor por causa da frescas saladas de frutas. Tudo era estável e exalava verão.
Mas às vezes as coisas queimam e os pratos sujam. Nem sempre eu acordava de bom humor e houveram dias em que ele não estava na cozinha quando acordei. Hoje nós dois bebemos cerveja amarga em lugares distintos da cidade.
7 de março de 2013
Mocinha
a mão cheia de manteiga
a palma dos dedos
enrolar brigadeiro
o coração cheio de
a ponta dos dedos
enrolar teu cabelo
a palma dos dedos
enrolar brigadeiro
o coração cheio de
a ponta dos dedos
enrolar teu cabelo
4 de março de 2013
((((((monday im in love))))))
Entrei em casa e fui direto ao banheiro. A televisão na sala estava ligada e em alto e bom som. Não fechei a porta do banheiro nem acendi todas as luzes, apenas abri a água quente da torneira para poder lavar meus rostos e mãos. Me olhei o espelho. Condenei a mim mesma a duzentas abdominais por ter comido os três pãezinhos de queijo hoje durante o expediente.
Joguei a calça no chão e ao fazê-lo percebi que tinha esquecido o maço de cigarros dentro do bolso traseiro. Ando meio Constantine esses dias. E isso não interessa.
O homem de voz grossa andou pelo corredor para me ver e deu um sorriso:
- Você parece irritada.
- É?
- É por causa do seu aniversário, da sua tatuagem, ou por que eu descobri que você anda fumando que nem uma infeliz por aí?
Dei um sorriso encabulado:
- É que é segunda.
Ouvia, da cozinha, um barulho. Não sabia ao certo se eram passos ou os ovos fritando. Possivelmente os dois. Quando saio do cinema gosto de silêncio, para poder sentir a tal da depressão pós filme a fundo.
E o de hoje foi Hitchcock.
Me fez seriamente crer que eu só consiga ter sucesso em todos os sentidos da vida quando conseguir achar uma pessoa companheira. Não um amante, apaixonado, esposo. Um admirador.
Porque, particularmente, eu não sou das pessoas mais normais do mundo. Muito pelo contrário. Considero-me até um tanto estouradinha, teimosa e preguiçosa demais. Não sou tão fácil de lidar quanto parece. Talvez por isso eu tenha, seriamente (repito) acreditado nisso.
Mas coisíssima nenhuma. Estou me apaixonando a cada esquina, a cada filme, a cada cheiro. Se souber de algo torno a escrever de novo.
Eis que o barulho cessa e ouço uma voz grossa, masculina:
- Ana Julia? É você?
Não respondo imediatamente por estar com o rosto imerso na água quente. Levanto e com paciência torno a conversar:
- Sim!
- Tu chegou tarde hoje.
- Mas cheguei, ham?
Enxuguei o rosto e abri os botões e zíper da calça preta de brim. Minha favorita, talvez a que use mais, embora ela esteja começando a rasgar na parte interna das coxas. "Malditas coxas grossas", pensei. Dupliquei meus castigos abdominais.
Tirei a calça e dei uma olhada nas celulites, na tatuagem nova.
Mas chega de abdominais.
Joguei a calça no chão e ao fazê-lo percebi que tinha esquecido o maço de cigarros dentro do bolso traseiro. Ando meio Constantine esses dias. E isso não interessa.
O homem de voz grossa andou pelo corredor para me ver e deu um sorriso:
- Você parece irritada.
- É?
- É por causa do seu aniversário, da sua tatuagem, ou por que eu descobri que você anda fumando que nem uma infeliz por aí?
Dei um sorriso encabulado:
- É que é segunda.
1 de março de 2013
Observação que me surgiu enquanto almoçava hoje
O problema de matar alguém não é o processo judicial, seu rosto no noticiário da televisão ou as pessoas olhando estranho pra você na rua. O problema de matar alguém não é nem ter que arquitetar um plano dificultoso para que você não seja pego: isso é fácil hoje em dia. Tampouco inventar um atestado médico que diga que você tem problemas mentais. Talvez seja até melhor ser sincero e dizer que a vítima, sem mais nem menos, é filha da puta. Porque nem todo mundo hoje em dia é filha da puta, mas ainda assim, tem muita gente merecendo ser empurrada da escada como nós aprendemos desde crianças, nas novelas mexicanas.
O problema de matar alguém não é sua mãe se lamentando de como criou você errado. Nem mesmo a consciência pesada nas primeiras semanas depois do assassinato: tratamento psicológico existe e tem funcionado com muita gente, sabe? Não é problema nem querer matar mais gente depois do primeiro assassinato: tem filha da puta à bessa! E cada morte pode ser de um jeito diferente. Cada um mais criativo que o outro, quem sabe. É só esperar a inspiração vir.
Pra quê se preocupar com as consequências de um assassinato quando o que te afinge já morreu?
O problema de matar alguém é que todo filho da puta é, primeiramente, filho.
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