então
desfez-se assim sem pudor ou discrição
mantendo o desejo errôneo, passado e tentação
deixando súbita a saudade pertinente
e muito próxima a mentira atraente.
então
quis remediar as palavras proferidas
no entanto havia distanciado duas vidas
que já partilharam cama, copo e colchão
lábios, sussurros, tapas e coração.
então
acentuou as frases com pontos finais e com certeza
checou-lhe as lágrimas com imensa destreza
cuja não tivera de antemão
escrevera de novo o soneto da separação.
31 de março de 2012
29 de março de 2012
diário da independência público
eu tava tão gostando dele, que quando eu o convidei para vir aqui em casa, tive vontade de cozinhar. não fazer macarrão, lasanha de microondas, mas uma coisa saborosa.
optei por uma torta de banana.
e não herdei a veia cozinheirística da minha família; por isso as receitas só dão certo na minha mão depois da segunda tentativa.
eu tava tão gostando dele, que testei umas três vezes.
cantada letrista
se sir conan doyle
te colocasse num mistério
o que descobriríamos no final
é o teu olhar
23 de março de 2012
21 de março de 2012
687t78
fiz isso por mim.
pelo yuri, pela miraci, pelo ricardo, pela silvia, pela ana e pelo luan. por teus amigos, pela tua indiferença, pelo teu fígado, esôfago, estômago.
fiz isso pelo teu futuro e presente, afinal teu passado não vale tanto. fiz pela sua vontade de melhorar e pelo seu desejo do pior.
fiz isso por você.
é só botar gelo.
19 de março de 2012
.
tu vens, nordeste, veste tua armadura
que deus segura
quem aguenta todos os dias a secura
da garganta que implora
da criança que chora
do santo que a ti adora
o solo que o sertão ilustra
tu vê, irmão, confia na cana
em são joão, santa maria e no fruto
na morena tropicana
que por um minuto
fez teu coração, confia em ama
nordeste, se fores só falta d'água
e cavalo manco
onde da pele frágil
surge o espírito saltimbanco
que tu merece
pedaço singular do brasil
extremo-canto com sotaque,
praia, escuro moleque
e terra infertil
dessa mesma terra
chico science surgiu
caetano, graciliano, ariano
amado jorge e gilberto gil
dirceu
borboleta, gonzagão e alceu
deu
pro mundo glauber rocha
chico anysio, joão gilberto, zumbi
o sol ardeu
é carregar no rio são francisco
todas as raízes do povo e do que vivi
nordeste não se separa
tampouco se despe
nordeste, mostra essa cara
de quem recebeu cuspe
rasteira e macumba
mas agora se ergue
com todos os sacis,
veredas e zabumba.
18 de março de 2012
derme
gosto dessa coisa
de brincar de sociedade
bando de pervertidos
fazendo amizade
das ruas sujas
o que mais gosto
é de quem passa nelas
das unhas sujas
o que mais gosto
é das costas de quem arranhou
gosto dessa coisa
de provocar saciedade
no que não sacia
nem termina
(mas sua)
15 de março de 2012
alguém me diz 5 acordes
cê pergunta como tá
gostaria que estivesse
eu e você, tomando chá
citando herman hesse
cê pergunta como foi
gostaria que tivesse sido
eu e você, fazendo poesia
pero poeta yo no soy
ah se você me perguntasse
o que realmente interessa
me poupasse de toda essa frenética pressa
que meu coraçãozinho sofre
de te querer devagarinho
cê me pergunta se tá tudo bem
que tá tudo bem, tá
mas eu realmente queria
eu e você, tomando chá.
12 de março de 2012
Dez
desa
fio
des
cer
cre
scer
desin
feliz!
desa
fio
dese
jo
dezoi
to
desses
beijos
desa
fio
criar
filho
desa
fio
desar
mar
desa
fio
fiar
9 de março de 2012
Personagem
sobes ao palco, radia
todos vêem você de pé
tão bom ator, belo e feliz
da morena se desprendia
pertences agora a outro roteiro
sem previsão de acabar
afinal, invadistes coração alheio
nem precisou se desculpar
e os minutos passam
o público se diverte
uns olham, comentam
outros riem, na tua frente
como você foi se meter aí?
ser ator, posição medíocre
faz o que gosta, o que quer
mas querer nem sempre é ter
se condena ao massacre
e por vaias então
o roteiro acaba
a culpa não é minha
se eras deusa, eras diaba
como o que tem fim
naturalmente se chama amor
só aplaudirei de pé
se realmente fores merecedor
encerro a cena.
fecho as cortinas,
volto à estaca.
e você à morena.
2 de março de 2012
1 de março de 2012
Trégua
Escrevo nas tuas costas e publico teu perdão. É clara a minha insatisfação por tua barba ter roçado outros pescoços sórdidos, ou por ter se ausentado do café.
Fez muito uma cadeira vazia durante esses dias.
O pão não era mais o mesmo, a geléia não tão doce,"quem é ela" eu me pergunto e traduzo em versos, não haviam pontos finais enquanto algo fosse ocupado.
Eis que voltas. Com barba feita.
Não quis entender. Aliás, não gosto de entender nada que faça as pessoas mudarem. Acho que deve ser algo natural, não gosto de me meter na naturalidade das coisas. Mas tive que fazê-lo, afinal, o que foste meu um dia e agora tornara a não ser - por roubo - me deve um verbete.
Demonstro minha clareza da forma que tu mais gostas; em sons abafados. E lá estou eu te agradando de novo, mesmo que não queira. E quando não há intenção nós humanos chamamos de amor.
Desabafo um tanto deixando os sons mais altos. Para que ouçam.
Para que ela ouça.
O que fizera com você?
Roubar meu pão, meu pedaço, minha mordida e devolver pela metade?
Nossas mães - aposto - nunca nos ensinaram isso. Coisa da cabeça de mulher, louca.
Na cadência da vida descubro o quão importante é o roçar nos pescoços alheios.
Afinal, não é possível fazê-lo sozinho.