saudade
só dá
quando já
é
tarde
28 de novembro de 2010
25 de novembro de 2010
23 de novembro de 2010
A fonte da juventude não vende na farmácia
O jovem não se preocupa com o que é o amor.
Se preocupa em como vai declará-lo.
E veja só quanta vitalidade há em tempos assim.
Se preocupa em como vai declará-lo.
E veja só quanta vitalidade há em tempos assim.
22 de novembro de 2010
21 de novembro de 2010
Caminho das pedras e das igrejas
Era domingo e Deus estava furioso.
As costas naquele dia pesavam mais do que o normal, o que era um lamento, já que os domingos eram feitos para descansar. Mas ainda havia um bom pedaço de estrada para ele andar.
Tinha parado ali consciente. Sabia que ia demorar para voltar; ainda mais voltar a pé. Calado. Só.
Não praticava misantropia. Só não gostava de falar, e não era observador como elas imaginavam. Nem sonhador, como ele queria. Talvez, ele fosse uma daquelas pessoas opacas sem muita cor por dentro, mas isso, nem ele sabia. Não gostava de pensar em si mesmo, e nem no próximo.
Não gostava de pensar.
Talvez por isso ele também não tenha pensado em suicídio. Mas acho que se pensasse, não o faria: era covarde.
Pra ser sincera, ele era como a maioria das pessoas.
Ainda era domingo, e já ia anoitecer.
Enquanto jogava seu corpo em passos largos, rezava e pedia com profundo arrependimento uma segunda chance. Para ser mais e querer menos. Porque na verdade, ele era um bom homem.
Sempre fora.
Mas não tinha caráter. Não tinha cultura. Nem pátria.
Deus às vezes lembra desses filhos: os que não sofrem; os que fazem drama; e os que só acreditam. E quando Ele lembra, deve bater angústia. Acho que bateria em mim se eu fosse pai, sabe. Não ter criado-os direito.
Ter dado caminhos demais.
Chances demais.
Ter desperdiçado seis dias, para no sétimo, algo fazer sentido.
As costas naquele dia pesavam mais do que o normal, o que era um lamento, já que os domingos eram feitos para descansar. Mas ainda havia um bom pedaço de estrada para ele andar.
Tinha parado ali consciente. Sabia que ia demorar para voltar; ainda mais voltar a pé. Calado. Só.
Não praticava misantropia. Só não gostava de falar, e não era observador como elas imaginavam. Nem sonhador, como ele queria. Talvez, ele fosse uma daquelas pessoas opacas sem muita cor por dentro, mas isso, nem ele sabia. Não gostava de pensar em si mesmo, e nem no próximo.
Não gostava de pensar.
Talvez por isso ele também não tenha pensado em suicídio. Mas acho que se pensasse, não o faria: era covarde.
Pra ser sincera, ele era como a maioria das pessoas.
Ainda era domingo, e já ia anoitecer.
Enquanto jogava seu corpo em passos largos, rezava e pedia com profundo arrependimento uma segunda chance. Para ser mais e querer menos. Porque na verdade, ele era um bom homem.
Sempre fora.
Mas não tinha caráter. Não tinha cultura. Nem pátria.
Deus às vezes lembra desses filhos: os que não sofrem; os que fazem drama; e os que só acreditam. E quando Ele lembra, deve bater angústia. Acho que bateria em mim se eu fosse pai, sabe. Não ter criado-os direito.
Ter dado caminhos demais.
Chances demais.
Ter desperdiçado seis dias, para no sétimo, algo fazer sentido.
20 de novembro de 2010
o pra sempre é sempre um triz
o reflexo do vidro da varanda
que a gente vê da rede
é o futuro que a gente quer
assim, balançando
sem cair
que a gente vê da rede
é o futuro que a gente quer
assim, balançando
sem cair
17 de novembro de 2010
14 de novembro de 2010
dá de lá bandeira qualquer
o vento que faz
a onda bater
nas costas da maré
é o mesmo
que me faz
arranhar as
suas.
a onda bater
nas costas da maré
é o mesmo
que me faz
arranhar as
suas.
12 de novembro de 2010
É tudo uma questão de (ponto de) vista
Girou a pedra do isqueiro uma vez.
Duas vezes.
Três vezes.
- Não acredito.
Olhei para o lado, tirei o cigarro da boca dele e coloquei na minha. Mordi, mostrando a arcada dentária superior. Com a mesma brutalidade que tirei o cigarro, tirei o isqueiro. E girei a pedra do isqueiro uma vez.
Girei duas.
E acendeu.
Quase traguei. Ele pegou o cigarro de volta antes que eu pudesse.
- E Barcelona, Ana?
- Não sei, amor. Tinha tudo planejado, e essa vontade não passa, mas eu tenho outros planos na frente.
- Amor?
- Amor.
E roubei o cigarro dele outra vez. E ele tirou de mim mais uma outra.
- Não quero você com câncer.
Nunca me quis com câncer também. Já me imaginei com câncer, mas querer, nunca quis. E estava tão frio do lado de fora daquela estação de metrô numa quinta-feira às sete horas da noite, que qualquer câncer era bem-vindo.
Talvez ocupasse o vazio que eu tinha no peito.
- Amor. Olha o som do metrô. Eu tenho que ir.
E me agarrou. Não me agarrou, me abraçou e me beijou com tanta força como quem quisesse remediar. Eu não quis abrir os olhos.
Mas eu abri, e os dele já estavam abertos.
E eu pensei: "Ah. Todos iguais".
Ele tinha uma tatuagem de pirâmide à mostra no braço direito. Aquela regata vermelha lhe caia bem. Sabia as palavras certas nos tempos certos. Tinha algumas marcas de expressão na testa contrastando com uma barba-por-fazer extremamente íntegra, era querido porque eu simplesmente o quis.
Mas ele abriu os olhos.
Eu o empurrei.
- Não.
E ele não sabia o que eu queria.
Não sabia qual era a cor dos meus olhos.
E não sabia tragar.
Amor é um adjetivo. Os que abrem os olhos e não tragam têm menores chances de um câncer.
Amor é um verbo no infinitivo. Os que fecham os olhos e tragam têm maiores chances de um vazio no peito.
Duas vezes.
Três vezes.
- Não acredito.
Olhei para o lado, tirei o cigarro da boca dele e coloquei na minha. Mordi, mostrando a arcada dentária superior. Com a mesma brutalidade que tirei o cigarro, tirei o isqueiro. E girei a pedra do isqueiro uma vez.
Girei duas.
E acendeu.
Quase traguei. Ele pegou o cigarro de volta antes que eu pudesse.
- E Barcelona, Ana?
- Não sei, amor. Tinha tudo planejado, e essa vontade não passa, mas eu tenho outros planos na frente.
- Amor?
- Amor.
E roubei o cigarro dele outra vez. E ele tirou de mim mais uma outra.
- Não quero você com câncer.
Nunca me quis com câncer também. Já me imaginei com câncer, mas querer, nunca quis. E estava tão frio do lado de fora daquela estação de metrô numa quinta-feira às sete horas da noite, que qualquer câncer era bem-vindo.
Talvez ocupasse o vazio que eu tinha no peito.
- Amor. Olha o som do metrô. Eu tenho que ir.
E me agarrou. Não me agarrou, me abraçou e me beijou com tanta força como quem quisesse remediar. Eu não quis abrir os olhos.
Mas eu abri, e os dele já estavam abertos.
E eu pensei: "Ah. Todos iguais".
Ele tinha uma tatuagem de pirâmide à mostra no braço direito. Aquela regata vermelha lhe caia bem. Sabia as palavras certas nos tempos certos. Tinha algumas marcas de expressão na testa contrastando com uma barba-por-fazer extremamente íntegra, era querido porque eu simplesmente o quis.
Mas ele abriu os olhos.
Eu o empurrei.
- Não.
E ele não sabia o que eu queria.
Não sabia qual era a cor dos meus olhos.
E não sabia tragar.
Amor é um adjetivo. Os que abrem os olhos e não tragam têm menores chances de um câncer.
Amor é um verbo no infinitivo. Os que fecham os olhos e tragam têm maiores chances de um vazio no peito.
10 de novembro de 2010
Deixa pra amanhã
Você deve saber: adiar um sonho não é uma coisa fácil. Parece até fácil. Mas dói.
A dor de adiar um sonho sempre vai ser menor do que parece. Mas quando seu coração está no chão, todo drama é perdoável.
Era uma fila enorme.
Cheguei lá uma hora antes de abrirem as inscrições, e, Deus, que fila enorme. Vários jovens e senhores sentados no chão. Sentei atrás de um rapaz bonito de dreads, e olhei para o teto rezando (mesmo que de certa forma) para o tempo passar mais rápido, para algumas pessoas desistirem.
Mas eu esqueci de rezar para ter vaga.
E isso não importou na hora. O rapaz de dreads olhou para trás e sorriu:
- Qual é o seu instrumento preferido?
- Violoncelo. - bem assim. Com um ponto final tão visível que pesou na resposta.
- Nossa, que legal! - espontâneo - O meu é o saxofone.
- Gosto de saxofone.
- Gosto de violoncelo.
E quando ele respondeu isso, sorriu como da primeira vez já se levantando:
- Bem, violoncelista, tenho coisas a fazer. Quando eu chegar lá, não vai ter mais vaga para inscrever. Prazer, hein.
- Se cuida.
Parecíamos íntimos.
De uma forma ou outra, música intima quais quer seres que a sintam. E tenho certeza que todos naquela fila eram íntimos.
Sonhar intima também.
Junte os dois. Talvez, quando você conseguir realizar o seu sonho sobre a música, seja como um orgasmo. Mas isso não convém (agora).
Sentada, me rastejei um azulejo grande para a frente. E começou a chover.
Estava de jeans e camiseta, sem casaco, com uma bolsa verde e esperando algum milagre.
Alguma piedade.
E talvez aquela força do destino.
Sabe como é, hoje é quarta, hoje eu acredito em Deus.
E então meu telefone toca:
- Oi, Ana.
- Oi.
- Lembra de mim?
- Não esqueceria sua voz.
- Tá ocupada?
- Não.
- Estou na W3 sul, no mesmo lugar de sempre. Me encontra.
E desligou.
Tão tentador quanto violoncelo.
E tão irritante quanto o tempo.
Não sei quanto tempo não o ouvia. O via. Sem dúvidas, eram saudades daquelas que corroem, mas a fila estava enorme e eu tinha um propósito.
Passei as duas últimas semanas estudando teoria musical para uma prova que, depois de eu ter saído daquele prédio baixo, de tijolos e sinfonias, eu nem vou chegar a fazer.
Provavelmente, alguém pegou a minha vaga.
Sonhos, destino, e principalmente a sorte são coisas injustas.
E que assim sejam: sacríficios e deixar para a semana que vem faz parte da vida de quem se apaixona.
Pela música;
Pela chuva;
Pelos objetivos;
E pelos outros.
A dor de adiar um sonho sempre vai ser menor do que parece. Mas quando seu coração está no chão, todo drama é perdoável.
Era uma fila enorme.
Cheguei lá uma hora antes de abrirem as inscrições, e, Deus, que fila enorme. Vários jovens e senhores sentados no chão. Sentei atrás de um rapaz bonito de dreads, e olhei para o teto rezando (mesmo que de certa forma) para o tempo passar mais rápido, para algumas pessoas desistirem.
Mas eu esqueci de rezar para ter vaga.
E isso não importou na hora. O rapaz de dreads olhou para trás e sorriu:
- Qual é o seu instrumento preferido?
- Violoncelo. - bem assim. Com um ponto final tão visível que pesou na resposta.
- Nossa, que legal! - espontâneo - O meu é o saxofone.
- Gosto de saxofone.
- Gosto de violoncelo.
E quando ele respondeu isso, sorriu como da primeira vez já se levantando:
- Bem, violoncelista, tenho coisas a fazer. Quando eu chegar lá, não vai ter mais vaga para inscrever. Prazer, hein.
- Se cuida.
Parecíamos íntimos.
De uma forma ou outra, música intima quais quer seres que a sintam. E tenho certeza que todos naquela fila eram íntimos.
Sonhar intima também.
Junte os dois. Talvez, quando você conseguir realizar o seu sonho sobre a música, seja como um orgasmo. Mas isso não convém (agora).
Sentada, me rastejei um azulejo grande para a frente. E começou a chover.
Estava de jeans e camiseta, sem casaco, com uma bolsa verde e esperando algum milagre.
Alguma piedade.
E talvez aquela força do destino.
Sabe como é, hoje é quarta, hoje eu acredito em Deus.
E então meu telefone toca:
- Oi, Ana.
- Oi.
- Lembra de mim?
- Não esqueceria sua voz.
- Tá ocupada?
- Não.
- Estou na W3 sul, no mesmo lugar de sempre. Me encontra.
E desligou.
Tão tentador quanto violoncelo.
E tão irritante quanto o tempo.
Não sei quanto tempo não o ouvia. O via. Sem dúvidas, eram saudades daquelas que corroem, mas a fila estava enorme e eu tinha um propósito.
Passei as duas últimas semanas estudando teoria musical para uma prova que, depois de eu ter saído daquele prédio baixo, de tijolos e sinfonias, eu nem vou chegar a fazer.
Provavelmente, alguém pegou a minha vaga.
Sonhos, destino, e principalmente a sorte são coisas injustas.
E que assim sejam: sacríficios e deixar para a semana que vem faz parte da vida de quem se apaixona.
Pela música;
Pela chuva;
Pelos objetivos;
E pelos outros.
9 de novembro de 2010
Sinceramente?
Eu te amo mais do que você imagina!
E, para o nosso bem, por favor: não imagine muita coisa.
E, para o nosso bem, por favor: não imagine muita coisa.
8 de novembro de 2010
7 de novembro de 2010
Vital de Araújo Machado Filho
A desgraça de um é a vida de outro.
Todos os nossos nomes estão (estarão) numa lista, concorrendo.
Quem morrer primeiro, leva.
Eu sinto muito.
luto.
Todos os nossos nomes estão (estarão) numa lista, concorrendo.
Quem morrer primeiro, leva.
Eu sinto muito.
luto.
4 de novembro de 2010
Adão
Alguns homens correm. Por pressa, por saúde, pra esquecer.
Alguns homens esquecem. Outros se atrasam mais. Terceiros e quartos homens não gostam de rotina, mas sempre vão inventar um compromisso na segunda-feira. Dessa vez, não pra esquecer, mas para fugir.
Alguns homens gostam de viajar.
Outros não têm dinheiro para viajar. Mas ainda assim, gostariam.
Alguns homens vivem na Califórnia, outros vivem no Rio de Janeiro, e os que sobram vivem debaixo de túneis.
Alguns homens têm relógios e não os usam. Alguns homens têm filhos e não os vêm. Alguns homens conhecem mulheres o tempo inteiro, outros procuram mulheres o tempo inteiro.
Alguns homens não gostam de mulheres.
Alguns homens dançam.
Por amor à arte, porque não sabem fazer outra coisa, porque é o único caminho.
Mas eles continuam dançando.
E algum tocam contra-baixo, órgão, piano, violão clássico ou fazem História em universidades particulares baratas. Todos eles são artistas.
Mas alguns homens mexem com números. Eles não são tão artistas.
Eles têm relógios, filhos, sonhos, e talvez você conheça algum que saiba dançar.
Alguns homens têm a Ana.
E não sabem disso.
Alguns homens esquecem. Outros se atrasam mais. Terceiros e quartos homens não gostam de rotina, mas sempre vão inventar um compromisso na segunda-feira. Dessa vez, não pra esquecer, mas para fugir.
Alguns homens gostam de viajar.
Outros não têm dinheiro para viajar. Mas ainda assim, gostariam.
Alguns homens vivem na Califórnia, outros vivem no Rio de Janeiro, e os que sobram vivem debaixo de túneis.
Alguns homens têm relógios e não os usam. Alguns homens têm filhos e não os vêm. Alguns homens conhecem mulheres o tempo inteiro, outros procuram mulheres o tempo inteiro.
Alguns homens não gostam de mulheres.
Alguns homens dançam.
Por amor à arte, porque não sabem fazer outra coisa, porque é o único caminho.
Mas eles continuam dançando.
E algum tocam contra-baixo, órgão, piano, violão clássico ou fazem História em universidades particulares baratas. Todos eles são artistas.
Mas alguns homens mexem com números. Eles não são tão artistas.
Eles têm relógios, filhos, sonhos, e talvez você conheça algum que saiba dançar.
Alguns homens têm a Ana.
E não sabem disso.
2 de novembro de 2010
1 de novembro de 2010
Frágil
ela queria mais
ele sentiu saudade
sem precisar mencionar
ou se quer confessar, ao menos
que toda a verdade no ar
misturava-se com seus venenos
e que puros nunca foram
com ou sem resposta
a porta continuava aberta
e nos olhares a aposta
amor quando não é seco
desajeitado, infantil
acaba na boca do beco
em fevereiro, março, abril
ele sentiu saudade
sem precisar mencionar
ou se quer confessar, ao menos
que toda a verdade no ar
misturava-se com seus venenos
e que puros nunca foram
com ou sem resposta
a porta continuava aberta
e nos olhares a aposta
amor quando não é seco
desajeitado, infantil
acaba na boca do beco
em fevereiro, março, abril