21 de novembro de 2010

Caminho das pedras e das igrejas

Era domingo e Deus estava furioso.
As costas naquele dia pesavam mais do que o normal, o que era um lamento, já que os domingos eram feitos para descansar. Mas ainda havia um bom pedaço de estrada para ele andar.
Tinha parado ali consciente. Sabia que ia demorar para voltar; ainda mais voltar a pé. Calado. Só.
Não praticava misantropia. Só não gostava de falar, e não era observador como elas imaginavam. Nem sonhador, como ele queria. Talvez, ele fosse uma daquelas pessoas opacas sem muita cor por dentro, mas isso, nem ele sabia. Não gostava de pensar em si mesmo, e nem no próximo.
Não gostava de pensar.
Talvez por isso ele também não tenha pensado em suicídio. Mas acho que se pensasse, não o faria: era covarde.
Pra ser sincera, ele era como a maioria das pessoas.

Ainda era domingo, e já ia anoitecer.
Enquanto jogava seu corpo em passos largos, rezava e pedia com profundo arrependimento uma segunda chance. Para ser mais e querer menos. Porque na verdade, ele era um bom homem.
Sempre fora.
Mas não tinha caráter. Não tinha cultura. Nem pátria.
Deus às vezes lembra desses filhos: os que não sofrem; os que fazem drama; e os que só acreditam. E quando Ele lembra, deve bater angústia. Acho que bateria em mim se eu fosse pai, sabe. Não ter criado-os direito.
Ter dado caminhos demais.
Chances demais.
Ter desperdiçado seis dias, para no sétimo, algo fazer sentido.

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Ahá.