Mais um dia que eu não consegui levantar. Desse jeito, não sei o que será do meu futuro.
Mas hoje estou sem voz.
E não tem razão cabível ou só boa para eu estar sem voz: estava com dor de garganta, e hoje, amanheci sem voz. Mesmo que isso não seja motivo para não ir assistir aula, eu não fui. E agora já é tarde demais para ir: não dá para tomar banho e me arrumar em meia hora. Não do jeito que deveria ser.
Mas já que eu não acordei no horário que deveria ser, por que não não se arrumar do jeito que deveria ser? Assim faria tudo mais sentido.
Pois é.
Na minha lógica, tudo que faz sentido dá errado (ou tem maiores chances de). E se eu já acordei sem voz, prefiro ficar na cama.
Faça isso sentido ou não.
30 de setembro de 2010
24 de setembro de 2010
Chuva, televisão, política e café
Sempre desconfiei de quem tem 32 dentes e de quem fala demais.
Não todo mundo que fala demais, porque a maioria das vezes eu não escuto. Mas essas pessoas que falam demais estão presentes em tudo quanto é horário de alimentação.
"Cento e vinte e um dia sem chuva", disse o repórter. Sempre falando demais, e o pior: falando demais na hora errada. Estava passando o café, eram 06hrs da manhã ainda. Não precisava saber de mais um. Começar o jornal assim é a mesma coisa que começar o dia assim.
Se fosse ditadora, governadora, deputada, ministra, ou até presidente, faria uma lei (ou uma ordem) onde estaria escrito em letras garrafais:
Não todo mundo que fala demais, porque a maioria das vezes eu não escuto. Mas essas pessoas que falam demais estão presentes em tudo quanto é horário de alimentação.
"Cento e vinte e um dia sem chuva", disse o repórter. Sempre falando demais, e o pior: falando demais na hora errada. Estava passando o café, eram 06hrs da manhã ainda. Não precisava saber de mais um. Começar o jornal assim é a mesma coisa que começar o dia assim.
Se fosse ditadora, governadora, deputada, ministra, ou até presidente, faria uma lei (ou uma ordem) onde estaria escrito em letras garrafais:
É estreitamente proibido iniciar os jornais televisivos com uma notícia ruim, seja qual for o horário deste.
Faria (sem dúvidas) um Brasil mais feliz.
Mas, oras, jornalistas falam demais. E não importa se aquela seja a profissão dele: ele escolheu! São pessoas sérias, tagarelas, cheias de informação, com tudo gravado e quase nenhum neurônio. Generalizei, claro. Mas generalizei como eles fazem conosco; com o nosso café-da-manhã.
Não sei o que é chuva faz cento e vinte e um dias. E isso está começando a doer um pouco. Minha pele ressecou, tenho que beber o triplo de água que bebia, e tudo o que eu faço é ligar a tv, confiar no que os jornalistas dizem, e esperar que sete dias passem.
Sete perto de cento e vinte e um é pouca coisa.
Dizem eles.
22 de setembro de 2010
Gaguejando
mas pensando bem
queria saber se
eu já nem
mas minha nota preferida é
ou se você continua desde
eu continuo mantendo a fé
o meu timbre é o mesmo que o dele
e sempre será assim
gaguejo só por gaguejar
gaguejo até o fim
queria saber se
eu já nem
mas minha nota preferida é
ou se você continua desde
eu continuo mantendo a fé
o meu timbre é o mesmo que o dele
e sempre será assim
gaguejo só por gaguejar
gaguejo até o fim
21 de setembro de 2010
cortinas voadoras
tenho feito versos
para esquecer que o vento
bagunça meu cabelo
o barulho das portas batendo não me importam mais
tenho feito versos
para esquecer que o vento
esse mesmo vento
tira a minha paz
e tenho feito - ainda - versos
mesmo sem rimar
para não esquecer dos restos
para não esquecer, esquecereis, esquecerá.
para esquecer que o vento
bagunça meu cabelo
o barulho das portas batendo não me importam mais
tenho feito versos
para esquecer que o vento
esse mesmo vento
tira a minha paz
e tenho feito - ainda - versos
mesmo sem rimar
para não esquecer dos restos
para não esquecer, esquecereis, esquecerá.
18 de setembro de 2010
O piano de Alice tem três rostos
Comemoramos o aniversário dois dias depois do dia do aniversário. Mas estava tudo bem. Aliás, sempre está: com toda a família reunida, com toda a ironia do mundo, nesses momentos, tudo está bem.
E eu, fico em silêncio.
- O que mais você toca, Ana Julia?
[pausa no. I - leia-se como o nome de uma orquestra]
Ele nunca toca em meu nome. Sempre que me pergunta alguma coisa, olha no fundo dos meus olhos. Não porque ele me ama, não porque ele quer dizer alguma coisa para mim; mas porque ele quer que eu saiba que a pergunta é pra mim, já que ele não toca em meu nome.
E acho melhor assim.
Meu nome não é tão normal para ser falado em vão. Ou por pessoas vãs.
Mas agora, ele tinha falado meu nome.
[fim da pausa no. I]
- Eu... Acho que quero tocar piano, agora. Ainda não é meu ideal. Mas eu quero.
- Não foi isso que eu perguntei.
- Não quis responder a sua pergunta, desculpa.
- Alice ainda toca piano? - e intrometeu-se na pergunta...
[pausa no. II - leia-se como uma lei]
Ela sempre tentava ajeitar as coisas. Era a menos surda, a mais histérica, e a mais - coitada - bobinha de todas. Tentava ajeitar as coisas do jeito esquisito dela.
O problema é que o jeito esquisito dela era agoniante. Era perfeccionista. Mas não era perfeito como livros arrumados na estante, era perfeito como bacon, ovos e panquecas no café da manhã (se você entende o que eu quis dizer).
Então, ela sempre me interrompia. Antes que eu tacasse fogo no circo, ou na hora do cafezinho.
Somos impacientes.
Os três.
[fim da pausa no. II]
... tentando causar paz - Ela tocava maravilhosamente bem.
- Espero tocar como ela. Mesmo não sendo o piano minha paixão. - completei. assim. com um ponto final bem nítido. bem firme.
- Espero que faça isso também. - completou, tentando não ser desagradável. Não conseguiu.
Aquilo soou mais como uma ironia do que como um elogio. Então, como costumo fazer, me delisguei. E fiquei me vendo, de lado, com um smoking, black tie, vestida de pinguim e com os cabelos soltos. Curtos, ou longos, como estão agora. Tocando como Alice.
E viajei em todas as sinfonias que sabem me fazer chorar. E lembrei da que eu mais gosto. Lembrei de como era bom tocar como Alice.
Eu sei tocar como Alice. Só não sei quando começar.
[isso não é a pausa no. III]
Ouvia copos baterem na mesa, e tons de voz (de cor) subindo. Alcançando meus tímpanos; que agora estavam em outros acordes.
[pausa no. III - leia-se como uma despedida]
Sim, agora eram acordes.
[fim da pausa no. III]
E então, quando olhei para o relógio de novo - ainda nos acordes - vi que já tinham se passado vinte minutos. Exatos. Eram 17h17.
Exatos.
E então, olhei para a última, a mais calada de todas. Mas adora sociabilizar.
Então, éramos quatro tomando café numa longa mesa de vidro. Meu Ego me dizia para me retirar, mas me imaginar vestida de pinguim tomou todas as minhas forças. Num gole só.
E era assim que eu bebia o café.
E olhei para a última de novo. Sorria como se estivesse vendo libélulas em mim. Sorria, só sorria. E eu, pobre de mim: sem forças para retribuir.
Mas, num instante, a imaginação sumiu quando uma pergunta surgiu.
A mais calada se manifestara:
- Do que estão falando?
E nós três, nos mesmos exatos respondemos:
- Do piano de Alice.
E eu, fico em silêncio.
- O que mais você toca, Ana Julia?
[pausa no. I - leia-se como o nome de uma orquestra]
Ele nunca toca em meu nome. Sempre que me pergunta alguma coisa, olha no fundo dos meus olhos. Não porque ele me ama, não porque ele quer dizer alguma coisa para mim; mas porque ele quer que eu saiba que a pergunta é pra mim, já que ele não toca em meu nome.
E acho melhor assim.
Meu nome não é tão normal para ser falado em vão. Ou por pessoas vãs.
Mas agora, ele tinha falado meu nome.
[fim da pausa no. I]
- Eu... Acho que quero tocar piano, agora. Ainda não é meu ideal. Mas eu quero.
- Não foi isso que eu perguntei.
- Não quis responder a sua pergunta, desculpa.
- Alice ainda toca piano? - e intrometeu-se na pergunta...
[pausa no. II - leia-se como uma lei]
Ela sempre tentava ajeitar as coisas. Era a menos surda, a mais histérica, e a mais - coitada - bobinha de todas. Tentava ajeitar as coisas do jeito esquisito dela.
O problema é que o jeito esquisito dela era agoniante. Era perfeccionista. Mas não era perfeito como livros arrumados na estante, era perfeito como bacon, ovos e panquecas no café da manhã (se você entende o que eu quis dizer).
Então, ela sempre me interrompia. Antes que eu tacasse fogo no circo, ou na hora do cafezinho.
Somos impacientes.
Os três.
[fim da pausa no. II]
... tentando causar paz - Ela tocava maravilhosamente bem.
- Espero tocar como ela. Mesmo não sendo o piano minha paixão. - completei. assim. com um ponto final bem nítido. bem firme.
- Espero que faça isso também. - completou, tentando não ser desagradável. Não conseguiu.
Aquilo soou mais como uma ironia do que como um elogio. Então, como costumo fazer, me delisguei. E fiquei me vendo, de lado, com um smoking, black tie, vestida de pinguim e com os cabelos soltos. Curtos, ou longos, como estão agora. Tocando como Alice.
E viajei em todas as sinfonias que sabem me fazer chorar. E lembrei da que eu mais gosto. Lembrei de como era bom tocar como Alice.
Eu sei tocar como Alice. Só não sei quando começar.
[isso não é a pausa no. III]
Ouvia copos baterem na mesa, e tons de voz (de cor) subindo. Alcançando meus tímpanos; que agora estavam em outros acordes.
[pausa no. III - leia-se como uma despedida]
Sim, agora eram acordes.
[fim da pausa no. III]
E então, quando olhei para o relógio de novo - ainda nos acordes - vi que já tinham se passado vinte minutos. Exatos. Eram 17h17.
Exatos.
E então, olhei para a última, a mais calada de todas. Mas adora sociabilizar.
Então, éramos quatro tomando café numa longa mesa de vidro. Meu Ego me dizia para me retirar, mas me imaginar vestida de pinguim tomou todas as minhas forças. Num gole só.
E era assim que eu bebia o café.
E olhei para a última de novo. Sorria como se estivesse vendo libélulas em mim. Sorria, só sorria. E eu, pobre de mim: sem forças para retribuir.
Mas, num instante, a imaginação sumiu quando uma pergunta surgiu.
A mais calada se manifestara:
- Do que estão falando?
E nós três, nos mesmos exatos respondemos:
- Do piano de Alice.
17 de setembro de 2010
Pronome possessivo da primeira pessoa do singular
Quem ama pela metade nunca é inteiro. Isso é óbvio.
Quem ama pela metade não merece ouvir um "eu te amo" tão íntegro, tão inteiro, tão seu. É amor demais para uma metade só.
Mas nem sempre falamos o que pensamos, nem sempre ouvimos o que queremos, e nem sempre conseguimos ser inteiros.
Mas eu nunca fui metade assim.
Quem ama pela metade não merece ouvir um "eu te amo" tão íntegro, tão inteiro, tão seu. É amor demais para uma metade só.
Mas nem sempre falamos o que pensamos, nem sempre ouvimos o que queremos, e nem sempre conseguimos ser inteiros.
Mas eu nunca fui metade assim.
16 de setembro de 2010
eu acho que me apaixonei.
O amor vem de camisa xadrez. Embarca em qualquer avião, e desembarca aqui, cedinho.
Lá vem o amor; mais uma vez. E me abraça tão carente, sem medo de ser sozinho.
E com você, amor, o tempo passa veloz. Fica mais um pouco, para eu ouvir a tua voz.
Não penso, quero, ou vou dizer para ir embora.
Fico mais um pouco, porque sei que você adora.
fiz este no tatame do judô.
Lá vem o amor; mais uma vez. E me abraça tão carente, sem medo de ser sozinho.
E com você, amor, o tempo passa veloz. Fica mais um pouco, para eu ouvir a tua voz.
Não penso, quero, ou vou dizer para ir embora.
Fico mais um pouco, porque sei que você adora.
fiz este no tatame do judô.
15 de setembro de 2010
Versos da noite anterior
e teus dedos escrevem em mim uma poesia morna
que aos poucos, com o tempo, fria se torna
és tão fraco: com o morno teu suor escorre
e o dia vai nascendo, a noite morre
arranhou em mim palavras cultas
e o dia se retira, a noite é adulta
que aos poucos, com o tempo, fria se torna
és tão fraco: com o morno teu suor escorre
e o dia vai nascendo, a noite morre
arranhou em mim palavras cultas
e o dia se retira, a noite é adulta
13 de setembro de 2010
12 de setembro de 2010
11 de setembro
A diferença entre um suspiro e um soluço é igual a distância entre o meu ombro e a tua lágrima.
E que fique bem claro isso.
E que fique bem claro isso.
11 de setembro de 2010
Asa Norte
Ipês amarelos, grandes, e muito vivos surgem no retrovisor. Não pensei em adjetivo para essa cena, apenas sorri.
E virando quadras e quadras, em lugares sem estacionamento, um senhor de óculos dividindo espaço na calçada com pombos e rachaduras surge no meu retrovisor... E sorri.
E parece que não acaba.
Conviver com cores e senhores que sorriem nem sempre faz parte do meu cotidiano, confesso.
E com pressa, digo: preciso ir à Asa Norte.
E virando quadras e quadras, em lugares sem estacionamento, um senhor de óculos dividindo espaço na calçada com pombos e rachaduras surge no meu retrovisor... E sorri.
E parece que não acaba.
Conviver com cores e senhores que sorriem nem sempre faz parte do meu cotidiano, confesso.
E com pressa, digo: preciso ir à Asa Norte.
8 de setembro de 2010
Agoniada
Ele é daquele tipo de pessoa plausível, aceitável, mas que não passa disso.
Acho que se ele conversasse comigo, não o suportaria.
É só um largo degrau de mármore de separação, em uma sala cheia, cheia de gente.
A maioria que nem ele, plausível assim.
Ele não convém.
Nunca falou comigo, e já pisou no meu pé duas vezes (com força). Na verdade, ele já falou comigo. Mas foi um "desculpa" tão, tão para dentro, que se eu respondesse ia parecer ironia.
Ele tem mania de ficar curvado em cima do braço da cadeira, para a direita e para frente. Ao mesmo tempo.
E isso faz com que a respiração dele encoste no meu pescoço. É ar.
Mas é tão palpável.
É um ar tão palpável de um ser tão plausível que arrepia.
E arrepiar nem sempre significa algo bom.
Acho que se ele conversasse comigo, não o suportaria.
É só um largo degrau de mármore de separação, em uma sala cheia, cheia de gente.
A maioria que nem ele, plausível assim.
Ele não convém.
Nunca falou comigo, e já pisou no meu pé duas vezes (com força). Na verdade, ele já falou comigo. Mas foi um "desculpa" tão, tão para dentro, que se eu respondesse ia parecer ironia.
Ele tem mania de ficar curvado em cima do braço da cadeira, para a direita e para frente. Ao mesmo tempo.
E isso faz com que a respiração dele encoste no meu pescoço. É ar.
Mas é tão palpável.
É um ar tão palpável de um ser tão plausível que arrepia.
E arrepiar nem sempre significa algo bom.
7 de setembro de 2010
2 de setembro de 2010
Você confia demais em teorias concretas
Tragédias, ou o que você consideraria tragédia se o acontecimento terminasse de acontecer, são frequentemente assistidas por mim.
Só nessas duas semanas que se passaram, eu assisti duas. Três, mas como sou eu quem assisto, a minha não conta.
Então, em duas madrugadas, eu passei no hospital.
As duas com expectativas.
As duas com expectativas diferentes.
Uma, foi a minha irmã. A outra, a minha avó. E você já deve saber que as duas estão vivas; ainda não escrevi nada para elas aqui ou em outro papel qualquer.
Uma desses acontecimentos-quase-trágicos, estava prestes ao fim ontem.
Éramos três sentados em cadeiras cinzas enfileiradas na frente de uma sala de gesso.
Eu, o Pedro, e mãe do Pedro.
Eu, o Pedro, e mãe do Pedro não nos conhecemos. E eu, sinceramente, não senti vontade alguma de conhecê-los.
Ele era hiperativo, e ela, tinha sombrancelhas grossas.
Passamos os 10 minutos iniciais naquelas cadeiras com toda a paciência e disposição do mundo. Comecei catando pêlos de gato branco em minha blusa preta, mas não tenho unha nem paciência para isso.
O Pedro começou cantando.
A mãe do Pedro, começou prestando atenção na letra.
Eu e o Pedro estávamos separados por uma cadeira de distância - de sabe-se lá quantos centímetros - mas era o suficiente para ele começar a atirar bolinhas de papel de nota fiscal em mim.
- Pede desculpa, Pedro! - a mãe exclamava de cinco em cinco minutos - Pede!
- Desculpa. - e Pedro pedia fazendo bico.
Sorri. Gosto de hospitais, mas não de esperar. E não queria criar intimidade alguma com uma criança de, no máximo, sete anos, e o pior: com a mãe dessa.
O Pedro passou os minutos seguintes em pé, dançando qualquer coisa, e eu, olhando para cada detalhe que dava para se ver em dois segundos.
Cada detalhe que dava para se ver em uma porta entreaberta de uma sala de espera de gesso.
Cada detalhe de quem passava em passos largos e rápidos por ali.
Só que o Pedro cansou, e perguntou o que eu estava fazendo.
E eu respondi, de forma resumidíssima, o que acabei de escrever: "olhando quem passa".
Pensei que a reação fosse outra, mas Pedro sentou ao meu lado (agora, com alguns centímetros de distância - menos que antes), e começou a olhar também.
E começou a conversar comigo, sem deixar eu responder o que o próprio perguntava, mas eu gostava de ouvir sobre o que ele achava do movimento do cabelo da moça loira que passou.
A mãe do Pedro, começou a ouvir o que ele falava, e reparar em tal movimento também.
Não mais de 3 minutos disso acontecer, uma maca passou.
E tinha um ser sangrando e chorando nela.
Eu arregalei os olhos.
O Pedro também.
A mãe do Pedro, não.
Depois, algumas pessoas, quase todas de branco, desesperadas. Uma se perguntando, em alto e bom tom - o suficiente para deixar as pessoas assustadas - " e agora?! E agora?!"
Eu olhei pro Pedro.
O Pedro não desgrudava os olhos, grandes, da porta entraberta.
E a mãe do Pedro, também.
Passaram depois, pessoas normais.
Mais desesperadas que todos esses que tinham passado.
"É agora!" um gritou.
Pedro forçou a coluna para ver com detalhes, em dois segundos, o rosto do homem que tinha dito isso. Fiquei com vontade de perguntar como eram, mas não consegui falar. Não quis.
Não foi uma cena horrível: você vê isso em seriados quase todo dia.
Mas, oras, era real.
Algum tempo depois, minha irmã não tinha saído do consultório. Dizia que ia demorar mais um pouco.
O Pedro, voltou a cantar.
Eu, a "contar átomos" ou pêlos, como quiser.
E a mãe do Pedro, tinha arrumado algo melhor para fazer.
Até que, todo mundo, junto, todos de branco e todos os normais voltaram. Juntos.
Quase não tão desesperados quanto antes, mas ainda assim, desesperados.
E, depois, voltou a maca.
O lençol, sendo branco.
Agora, com manchas. Mas branco.
As rodinhas ainda faziam barulho.
Só que, agora, além de estar com manchas, não tinha ninguém em cima dela.
O Pedro olhou, e voltou a cantar.
Eu olhei, e voltei a contar átomos.
A mãe do Pedro olhou, e arregalou os olhos.
Só nessas duas semanas que se passaram, eu assisti duas. Três, mas como sou eu quem assisto, a minha não conta.
Então, em duas madrugadas, eu passei no hospital.
As duas com expectativas.
As duas com expectativas diferentes.
Uma, foi a minha irmã. A outra, a minha avó. E você já deve saber que as duas estão vivas; ainda não escrevi nada para elas aqui ou em outro papel qualquer.
Uma desses acontecimentos-quase-trágicos, estava prestes ao fim ontem.
Éramos três sentados em cadeiras cinzas enfileiradas na frente de uma sala de gesso.
Eu, o Pedro, e mãe do Pedro.
Eu, o Pedro, e mãe do Pedro não nos conhecemos. E eu, sinceramente, não senti vontade alguma de conhecê-los.
Ele era hiperativo, e ela, tinha sombrancelhas grossas.
Passamos os 10 minutos iniciais naquelas cadeiras com toda a paciência e disposição do mundo. Comecei catando pêlos de gato branco em minha blusa preta, mas não tenho unha nem paciência para isso.
O Pedro começou cantando.
A mãe do Pedro, começou prestando atenção na letra.
Eu e o Pedro estávamos separados por uma cadeira de distância - de sabe-se lá quantos centímetros - mas era o suficiente para ele começar a atirar bolinhas de papel de nota fiscal em mim.
- Pede desculpa, Pedro! - a mãe exclamava de cinco em cinco minutos - Pede!
- Desculpa. - e Pedro pedia fazendo bico.
Sorri. Gosto de hospitais, mas não de esperar. E não queria criar intimidade alguma com uma criança de, no máximo, sete anos, e o pior: com a mãe dessa.
O Pedro passou os minutos seguintes em pé, dançando qualquer coisa, e eu, olhando para cada detalhe que dava para se ver em dois segundos.
Cada detalhe que dava para se ver em uma porta entreaberta de uma sala de espera de gesso.
Cada detalhe de quem passava em passos largos e rápidos por ali.
Só que o Pedro cansou, e perguntou o que eu estava fazendo.
E eu respondi, de forma resumidíssima, o que acabei de escrever: "olhando quem passa".
Pensei que a reação fosse outra, mas Pedro sentou ao meu lado (agora, com alguns centímetros de distância - menos que antes), e começou a olhar também.
E começou a conversar comigo, sem deixar eu responder o que o próprio perguntava, mas eu gostava de ouvir sobre o que ele achava do movimento do cabelo da moça loira que passou.
A mãe do Pedro, começou a ouvir o que ele falava, e reparar em tal movimento também.
Não mais de 3 minutos disso acontecer, uma maca passou.
E tinha um ser sangrando e chorando nela.
Eu arregalei os olhos.
O Pedro também.
A mãe do Pedro, não.
Depois, algumas pessoas, quase todas de branco, desesperadas. Uma se perguntando, em alto e bom tom - o suficiente para deixar as pessoas assustadas - " e agora?! E agora?!"
Eu olhei pro Pedro.
O Pedro não desgrudava os olhos, grandes, da porta entraberta.
E a mãe do Pedro, também.
Passaram depois, pessoas normais.
Mais desesperadas que todos esses que tinham passado.
"É agora!" um gritou.
Pedro forçou a coluna para ver com detalhes, em dois segundos, o rosto do homem que tinha dito isso. Fiquei com vontade de perguntar como eram, mas não consegui falar. Não quis.
Não foi uma cena horrível: você vê isso em seriados quase todo dia.
Mas, oras, era real.
Algum tempo depois, minha irmã não tinha saído do consultório. Dizia que ia demorar mais um pouco.
O Pedro, voltou a cantar.
Eu, a "contar átomos" ou pêlos, como quiser.
E a mãe do Pedro, tinha arrumado algo melhor para fazer.
Até que, todo mundo, junto, todos de branco e todos os normais voltaram. Juntos.
Quase não tão desesperados quanto antes, mas ainda assim, desesperados.
E, depois, voltou a maca.
O lençol, sendo branco.
Agora, com manchas. Mas branco.
As rodinhas ainda faziam barulho.
Só que, agora, além de estar com manchas, não tinha ninguém em cima dela.
O Pedro olhou, e voltou a cantar.
Eu olhei, e voltei a contar átomos.
A mãe do Pedro olhou, e arregalou os olhos.