31 de outubro de 2013

Peixeira

- E venha cá, minha fulôzinha! 
- Não vou porra nenhuma! Já disse! Não vou! - relutou - Não sou tua, sou MINHA, e você não manda em mim! Vá-se embora!
O homem olhou-a nos fundos dos olhos. Ela sentiu medo. Ele deu um sorriso sacana e foi aproximando-se, com passos firmes embora vagarosos. Sem perder o sorriso, indagou:
- E se eu for MESMO embora, o que a sinhazinha vai fazer?
A moça não parou nem pra pensar. Tinha fama de saber desafiar os machos todos e nenhum, nenhum mesmo, tivera coragem de puxar uma arma para a moçoila. Tão logo, respondeu:
- Eu vou viver a MINHA vida, que não tem nada, nadica, a ver com a sua. 


O homem chegou a seu encontro encarando-a. Ela respondia o olhar mas não respondia o sorriso. E que sorriso ela tinha. Combinava perfeitamente com as maçãs jovens de seu rosto. Combinava perfeitamente com o sexo dele.
E ambos sabiam.
Ele encostou sua testa na dela, e fixou mais ainda (como se isto fosse possível) o olhar. Parou de sorrir. Ela sorriu. 
- Vá-te embora, menino.
- Me manda ir embora de novo.
Ela ficou em silêncio.
Ele botou um cigarro de palha na boca e desencostou as testas. Acendeu o cigarro e deu mais um passo pra frente. E ela, um passo pra trás.
- Melhor: me chama de "menino" de novo.
- Vá-te embora, merda! Não ouviu?
- Não, não ouvi.
Mais um passo pra frente: mais um passo para trás.
- VÁ-TE EMBORA! Menino.
Ele sorriu com o cigarro na boca. Ela não podia dar mais passos para trás; encostara no armário velho que seu pai havia construído há anos e anos atrás. Com uma mão, ele puxou seu cabelo; com a outra, tirou o cigarro da boca. Fez com que ela encostasse o sorriso em tua orelha, fria, e pediu:
- Ainda não entendi.
Ela lhe deu uma mordida. Forte. Pareceria até uma criança pirracenta se tua boca não fosse tão carnuda e com tinta cor de fogo. Ela esperou que ele reclamasse. Mas isto não aconteceu.
Ela faz que não gosta de seus cabelos quase encaracolados, negros, sendo puxados. Crava as unhas longas e vermelhas em um dos fortes braços de homem que passa o dia inteiro debaixo do sol.
- Me solta! Me solta! Vou berrar!
- Ai, mulher, mas esperasse eu tirar a camisa pra me arranhar desse jeito, bichinha.
- Pois se tu não me soltar agora eu vou é berrar pra painho ouvir.
- Pois berre, berre pra painho ouvir!
- E por que tu tá rindo, é? Tá achando que eu tô brincando, é? 
Ele pôs de novo o cigarro na boca. Soltou o cabelo dela e ajeitou as calças. Fitava-o enquanto arrumava o decote, sem descer do salto.
Nenhuma palavra foi dita.
Ele deitou na cama e acomodou-se, estendeu os pés. Ela ficou parada na sua frente, e disse em tom calmo:
- Pode se retirar.
- Pois eu não vou me retirar coisa nenhuma, oia.
- Pois vá, a casa não é tua.
- Nem tua.
- Olha, menino... - ele interrompe. Larga o cigarro na janela e empurra-a, com bruta delicadeza, contra parede. Segura-a pelo pescoço, fazendo-a sentir seus calos grossos. 
Agora quem sussurra é ele:
- Eu só vou embora quando tu quiser mermo que eu vá embora.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

ai credo, literarizando um estupro ;O

Ana Julia disse...

Foi concedido, alá, lê de novo.

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Ahá.