30 de novembro de 2012

doo voo

I (principal)

ele mudou
e eu continuo tão
saiu fotografando
e eu observo
ela é linda
mas eu sou tão mais
teu nome é outro
sei todos de cor
você é azul
e minha palidez

é que ela é linda
mas eu sou tão mais

tua


 II (outro)
Não sei se por criação ou por determinação divina, me atrai o oposto, é do oposto que eu gosto, e concluo que é do oposto onde o bom surge. O bom do oposto está na mão que percorre e nos pêlos do rosto que afagam; está na voz grossa e no constrangimento em chorar em público, no gosto musical agressivo e na força que se esconde atrás de uma cantada barata. O bom do oposto está dentro das calças, sob tutela de panos e zíper. O bom do oposto é a oposição ao tudo que se julga meu semelhante; aos dramas, às carências, aos momentos e aos seios.
O bom do oposto é chamá-lo de ele. E ele não aumentar nem diminuir; não definir e ainda assim saber de quem se trata. É conjugar todos os adjetivos de forma que seja oposta a mim.
O bom do oposto é a delicadeza, ainda assim. É chamá-lo de ele e, de repente, ver o constranger do chorar em público desaparecer e, então, entrar no seu íntimo.
É o medo de perder. De ter feito trabalho em vão. De não ser reconhecido; ou de estar sozinho.

O bom do oposto, assim como qualquer melhor vinho, perfume, filme e travesseiro, é sentí-lo.


III  (final)
não se apaixone, menina
por quem só quer te comer

21 de novembro de 2012

Oração (incompleto)

Ela jurava de pé junto que a outra, a vizinha, fazia o que fazia porque era macumbeira. Se comprava uma raspadinha na banca, e com qualquer moeda de cinco centavos a raspava, era ganhadora.
Era a única a acertar e ganhar os maiores prêmios do bingo. Nos Bailes dos Eternos Enamorados, era sempre - e ela deixava claro o sempre - a Rainha do Baile.
Tinha o casamento mais duradouro do bairro; a mais jovem a se casar. Dizia para todos os vizinhos que o marido nunca a traíra, que o marido sempre lavava a louça e buscava as crianças no colégio.

Ela jurava de pé junto que não era inveja. E se, em alguma hipótese, mencionávamos a palavra inveja, causava rebuliço. Não aceitava que tivesse inveja de uma macumbeira. Muito menos da vizinha macumbeira da casa vinte e cinco, a última da rua.

Nos domingos de manhã, onde todo o povo do bairro se dirigia cedinho para a igreja, a vizinha estava no quintal da frente cuidando da sua pequena horta que, segundo ela, seu marido fez.
Não se importava com religião nem com igreja, nem com o que Deus ou as pessoas pensavam dela. Gostava de deixar claro o que tinha e como tinha feito para tê-lo. Mas é claro que, quem jura de pé junto que é macumba, não ouve o principal.

10 de novembro de 2012

tédio

(...)