28 de junho de 2011

Batucada brasileira

Gosto da rodoviária. E gosto mesmo; desse jeito porco que ela é. Não que eu goste de sujeira - e realmente não gosto - mas gosto da forma que as pessoas não ligam, mesmo que aparentemente, para o quão sujo é o chão que elas estão pisando. Mas gosto mais ainda da forma que isso elas ignoram, mas ignorar o hippie-que-não-toma-banho-e-mendiga elas não ignoram.
Tentam.
Mas, convenhamos, não conseguem. Desviar não é ignorar.

Gosto da rodoviária porque é o paraíso das fotografias. Acho que se me colocarem lá com uma câmera (e um quê de confiança e segurança) aproveitaria melhor do que se me colocarem, talvez, numa paisagem linda. Sabe como é; a rodoviária tem mais ângulos.
E num desses ângulos que, quando estava subindo a escada - não a escada rolante: estava quebrada - vi uma canela finíssima e ressecada, e pés calçados por uma chuteira Topper subindo-correndo na minha frente. "Mas que foto bonita", pensei.
E foi assim durante todo meu trajeto.
Desde rodoviária - meu destino, meu destino - rodoviária.
Na volta, tinha um rapaz com um celular com câmera e um colete amarelo.

Atrás desse colete amarelo estava escrito "SEGURANÇA", assim, em caixa alta.
Ele mirou essa câmera do celular para mim.
Revi meus conceitos quanto a isso em menos de cinco segundos e minha reação foi sorrir. E sorri, assim, sem ser nada espalhafatoso; mas um sorriso que dava para ser percebido.
De repente, a câmera que antes estava em mim, agora está na mira de um senhor estranho.

Estranho.
Mais estranho do que qualquer Ana Julia, hippie-que-não-toma-banho, SEGURANÇA ou cidadão que estava lá.
De casaco preto, óculos escuros, com uma mala na mão. Relógio grande, jeans, e sapato social (que cá entre nós não ajudava no que ele estava tentando fazer; tinha cara de sapato barato).
E um bigode.
Não esqueçamos do bigode.
Andava em passos rápidos e curtos, olhava para baixo.

Por onde ele passava, era visível os pontos de interrogação surgirem na cabeça vazia (ou não) dos tais viventes, companheiros de rodoviária.
Voltei com essa interrogação para casa.




Gosto da rodoviária por simples afeto à vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você (é) será um mulherão. Espero estar (sentir-me) jovem para ver isso acontecer.
Um beijo, pequena!

Postar um comentário

Ahá.