25 de março de 2011

Vida bandida

Daí o sinal fecha. E só tem você esperando para atravessar.
O sol bate diretamente no seu olho, aí você faz cara de quem comeu limão e se posiciona atrás do semáforo.
Aí quase não tem carro passando.
E você pensa seriamente em passar no sinal vermelho. Mas é errado, e como diz a sua avó: "carros brotam", "sempre vai existir alguém para atropelar você".
E você não pode morrer agora. Afinal, ainda restam alguns exercícios de química, duas músicas no trompete e Deus, você ainda nem roubou o coração de alguém para que aconteça algo possivelmente sério e bonito na sua vida.
E o sinal continua fechado.
Aí aparece alguém do outro lado.
E alguns carros voltam a passar, mas o sinal continua lá: fechado. Vermelho, pra você.
Daí você começa a ajeitar o cabelo, finge que o telefone está tocando ou que você recebeu alguma mensagem. Só pra dizer que você é uma pessoa ocupada, segura, e confiante; que você não se importa em ficar lá, dois minutos em pé, porque tem uma agenda lotada; mas vão ajeitar pra você. Ou algo assim, sabe.
Daí o ser humano que está do outro lado se arrisca, e em menos de dez segundos está ao seu lado, seguindo em frente.
E você pensa "droga".

Então respira fundo,
esquece tudo o que sua avó diz,
desvia de um ou dois carros,
alguém buzina pra você,
alguém buzina pro seu corpo,
o sol continua na sua cara,
você joga o pé direito no meio fio,
você joga o peso no pé direito;
você está do outro lado.
E exatamente neste instante, o sinal fica verde.

Um comentário:

' disse...

Nós também morremos atropelados quando estamos na calçada.
Mas é completamente fora de definição o sinal ficar verde nessa hora.

Gostei muuuito de ter lido isso.

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Ahá.