20 de março de 2010

crescer.

20 de março. 21h55 da noite.
Uma tempestade cai do nada. É água caindo do céu. Mas não é água caindo do céu. Tem vento, vento frio, vem gotas, gotas pesadas, e vem nostalgia.
E, fico até pasma de quanta nostalgia vem.

Ele entra na sala, acende um cigarrro. Levanto os olhos, levanto a sombrancelha direita, abaixo os olhos, abaixo a sombrancelha direita. Tomo a ousadia de me pronunciar:
- Você não está fumando aqui. Né?
- A casa é minha também. Qual é o problema?
- O meu pulmão.
- O que tem o seu pulmão?
- Quem vai pagar o tratamento é você, chefia.
- Por que eu? Você não é tão independente assim?
- Você que o intoxicou.
- Já intoxiquei?
- Você fuma há mais de 14 anos. Se brincar, já até intoxicou o cara que trabalha no cubículo ao lado do seu.
- Ele fuma também.
- Desnecessário.
- É. - disse ele, com um ponto final bem nítido, querendo terminar a discussão. Mas hoje, eu queria discutir. Minha mente precisava discutir com algo que eu não estava mais suportando.
- Você ainda está aqui?
- Estou, eu moro aqui.
- Desculpe-me. Você ainda está fumando aqui?
- Estou.
- Vai ficar implicando?
- Vou.
- Cresce.
- Você nem fez 18 ainda.
- Eu sei. Você já passou dos 30 e ainda tá aí, precisando crescer. - ele ficou puto. Não sei porquê. Ele me desafia o tempo inteiro, e quando eu respondo, ele fica puto. Passou o vento. O cigarro apagou, e a nostalgia ficou de novo. Meu celular toca, eu nem penso em atender. Eu nem quero atender.
- Não vai atender, menina?
- Não, menino.
- Meninos não fumam.
- Os meninos de hoje não são os mesmos de ontem, se é que me entende.
- Entendo.
- Que bom. - o cigarro apagou de novo. Ele ainda permanecia sentado na cadeira da frente, me vendo digitar um relatório de biologia. Eu já não suportava mais fazer aquele relatório. Eu já não suportava mais o cheiro daquele cigarro reacendido, nem daquela voz, me cutucando no ombro. Aquela voz que dizia "a nostalgia me pegou também. Eu estou carente".
- Tá fazendo o quê aí?
- Tentando filtrar o ar com a mente.
- Digitando?
- E fazendo um relatório sobre isso.
- É.
- Você ainda está fumando aqui?
- Não mais.
- Quem está, então?
- Você. Passivamente.
- Se eu colocar "fumo excessivamente" no Orkut, você também vai implicar?
- Vou.
- Por que?
- Porque eu sou seu pai.






Família.

Um comentário:

Noah Wahr disse...

eu ri, ana laura, eu ri. XD

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Ahá.