1 de janeiro de 2010

devaneios

Meu nome é Ana Julia. E eu não posso comer maçã.
Eu não posso comer maçã porque uso aparelho. E a maçã é dura o suficiente para quebrar o aparelho. E se o aparelho quebrar, meus pais já disseram: se vira. Lógico que meu pai me ajudaria a pagar outro, mas ele faria isso pelos Direitos Naturais, e, talvez, por um tiquinho de amor. Não que ele não me ame. Só que ele nunca foi a favor de eu colocar aparelho, e sairia uma pá de grana se eu o quebrasse. Seria desperdício de dinheiro do aparelho antigo, e desperdício de dinheiro do aparelho novo. É, do aparelho novo também. Seria desperdício de dinheiro com o aparelho novo, porque seria, basciamente, gastar dinheiro com uma maçã. Com um descuido meu.
Sou muito descuidada. É que eu sou preguiçosa, sabe? Eu admito isso porque chega a ser algo normal. Hoje em dia tá tudo tão rápido, que as pessoas nem precisam se levantar para lavarem a louça. Aí aumenta a preguiça. O ócio. E depois todo mundo reclama.
A preguiça é o único (eu acho) pecado que ninguém pode fazer parar. Nem a Bíblia.
Não que a Bíblia esteja errada, ou eu seja atéia. Eu não sou atéia. Eu acredito em Deus. Eu sei. Mas eu talvez não leve muita fé na Bíblia.
Acho que isso vem de família. Não que a minha família ache que a Bíblia esteja errada, ou que ela - a minha família - seja atéia. Pelo contrário, são católicos-exemplos, assim posso dizer. Pelo menos os tios da parte da minha mãe. Mas continuando, disse que isso vinha de família, porque eu acho que esses tios são um pouquinho paranóicos. Paranóicos porque eles querem que o mundo viva em paz, e eles acreditam que essa paz só possa ser conquistada com a Bíblia.
Por isso, eles juram que não fazem nenhum pecado. Mas são paranóicos. O que não é um pecado decretado, mas é um pecado pra ciência.
Não que todos os católicos sejam paranóicos. Generalizar é algo feio.
Eu tenho tios por parte de pai também.
E eles também são paranóicos. Mas eles não são católicos. Eles são ateus.
O tio mor é economista. Vive preocupado com a inflação. Vê a Bolsa de Valores todos os dias, e acompanha negócios até que não têm nada a ver com os negócios da família.
Consequentemente, casou-se com uma mulhe preocupada com a inflação, e então, suas crias foram de crianças (hoje, todos já crescidos) preocupadas com o dinheiro da mesada.
Ué, se preocupar com o dinheiro é necessário para que vivamos decentemente.
Mas eles são um pouquinho paranóicos. Paranóicos porque ao invés de olharem a parte "Cultura" do jornal, olham a parte "Economia".
Eles não acreditam na Bíblia, são ateus. Por isso não ligam se isso é pecado ou não.
Porém, eles acreditam na ciência.
E ser paranóico é um "pecado" pra ciência.
Não que todos os ateus sejam paranóicos. Generalizar é algo feio.
Ser paranóico, para ciência, significa ter má digestão.
Estudos já comprovaram que quando você está paranóico enquanto come, você digere as coisas mal. E, pense só, é nojento você saber que ainda tem restos dentro de você. Restos do almoço do dia anterior.
Meu tio por parte de pai almoça recebendo - e vendo - mensages de celular. Mensagens que dizem: "nosso negócio foi aprovado!", "a Bolsa caiu!", "hora de fechar o negócio.", "o que você acha de Marx?"
Coisa chata. Acho que a hora do almoço serve pra você falar de coisas que você gosta. Não que eu não gosto de economia, de discutir economia, eu até gosto. Mas não na hora do almoço.
E não, meu tipo por parte de pai não gosta de economia.
Ele seguiu economia porque foi o único vestibular que ele foi aprovado. Ele queria fazer medicina.
Meu tipo por parte de mãe almoça preocupado com a gula. É um dos pecados, né?
Fica se questionando em voz alta se deve comer mais. Se ele está com vontade, coma, ué! Não é pecado! É só não exagerar!
Ele é tão preocupado com o exagero, que acaba esquecendo que exagera ao se preocupar.
E não, ele não gosta de se preocupar. Sempre diz que quer "levar uma vida tranquila, sem preocupação".
Meus tios não digerem nada bem.
Mas então, o que falar na hora do almoço? Falar de coisas agradáveis, sim.
O problema é que nem tudo que agrada um, agrada outro.
E a única coisa em comum que a família do irmão da minha mãe tem, é a Bíblia.
E a única coisa em comum que a família do irmao do meu pai tem, é a Economia.
Eles deviam passar mais tempo juntos. Assim o pai do sobrinho da minha mãe descobriria que o sobrinho da minha mãe também gosta de Bob Dylan.

Mas do que eu estou falando. Aqui ninguém almoça junto. Justamente por isso.
Aposto que na casa do Bob Dylan todo mundo almoçava junto. Não pela época de adolescência dele, mas porque os valores eram outros naquela época.
Os valores daquela época pra essa época ainda são os mesmos.
Só com um pouco mais de preguiça.
Um pouco menos de fé.
E um pouco mais de números.
E já existia a bolsa. Já existia a Bíblia.
E já existia maçãs.
E já existia devaneios.

vou ser apedrejada por esse texo. ahueha.
coisa sem nexo.

Um comentário:

Noah Wahr disse...

Adorei! hahahaha
Eu ri!

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Ahá.