me chamam de maluca.
pergunta
- o que é isso, amor?
respondo
- isso é amor
dizem que sou de lua.
sou doce.
mas sei ir embora
de sentinela
sem rastros
antes de você acordar
27 de setembro de 2014
7 de setembro de 2014
Pensamento meio ao contrário
Ser canhota é uma coisa engraçada.
As estatísticas dizem que apenas 10% da população é canhota, e contendo homens em sua maioria.
Na Idade Média éramos considerados bruxos, coisa do capiroto mesmo, divididos em destros e sinistros - o que na época não era sinal de azar, mas por outras línguas surgirem, sua etimologia foi novamente associada ao capiroto.
Olha, a Idade Média não foi muito bem o ápice da beleza da História do mundo, e a higiene era quase abstrata. As pessoas evitavam utilizar a mão esquerda, já que esta realizava o "banho".
Ainda na Bíblia, foi da costela esquerda de Adão que Eva nasceu. E foi Eva que se tentou, mordeu a maçã e pediu pra sair. Do jeito que as coisas são, não duvido que ela tenha comido a maçã com a mão esquerda também.
Tenho uma tia avó que, na escola, foi obrigada a trocar a mão para escrever. Não porque seria um problema; mas porque era errado.
Cientificamente, ser canhoto é uma coisa biológica. A lógica da cabeça é inversa: canhotos mais usam o lado direito do cérebro e destros, o lado esquerdo (vai entender).
Então você está lá: sendo formado. Aí, hereditariamente, você pega mais hormônios masculinos, responsáveis pelo lado esquerdo do cérebro, que os femininos, responsáveis pelo oposto. Tcharãm: você nasce canhoto. E pode estar associado à uma síndrome. E propenso a vários problemas de saúde. E morrer 9 anos mais jovem do que o outro resto do planeta; quem sabe por abrir uma singela lata de atum. Ou por recortar um artigo de jornal.
Mas por outro lado, dizem que nós somos bons judocas, nadadores e jogadores de futebol. E por termos a parte direita do cérebro mais ativa, somos criativos; nos desenvolvemos melhor, pensamos mais rápido. Nietzsche, Leonardo da Vinci, Hendrix, Michelângelo e Charles Chaplin? Canhotos. Hitler e Jack, O Estripador? Também.
Sinceramente, somos essa bagunça toda por necessidade. Canhoto domina a arte do improviso.
Somos adaptáveis. Assim como todos os outros, bem verdade. Mas quando a dimensão em que você vive é feita para os destros, suas habilidades tem de ser mutantes. Uma hora você deve agir como destro, outra, como canhoto.
Durante todo o Ensino Médio escrevi com cadernos ao contrário, hoje apenas debruço meu tronco sobre a mesa, entorto o caderno e, enfim, escrevo. Mas até hoje não consigo deixar de manchar minha mão com tinta de caneta. São ossos do ofício, quero dizer, sendo criacionista ou não, nascemos assim. Não escolhi.
Lembro que fui alfabetizada com a querida Professora Carminha, que insistia para que eu escrevesse com a mão direita. Mas não deu muito certo.
A mesma coisa quando fui aprender violão: o primeiro conselho que ouvi foi "aprende a tocar como destro ou você nunca vai participar de rodinhas de música". Esse já deu certo. Toco como destra, o que facilitou minha aprendizagem em outros aspectos. Ah: em toda minha vida, não vi gente tocando Legião Urbana com as cordas invertidas.
Já quase bati o carro por não ir para a "outra esquerda". Uso o mouse com a mão direita, mas não consigo desenhar bem no paint.
Tem que gostar de desafio. Sentar numa mesa de bar cheia de gente e calcular seus movimentos para não esbarrar em ninguém.
Tem que realizar tarefas rápidas sobre pressão. Responder uma prova em mesa de braço único. Para destros.
Algo que só as minorias entendem é como é difícil ser uma minoria.
Quando acho que devo, peço cadeiras para canhoto sem exitar, por exemplo. Pena que nem em todos os lugares existem.
Ora, qual o problema em ser canhota? Entendo o que a maioria tenha razão prática e que seja questão de conforto.
Veja bem: pago impostos, não matei ninguém e também sou filha de Deus. E se tudo é meritocrata, posso sentar-me confortavelmente.
Entretanto, muito poderia ter mais cadeiras para canhotos, e os destros as usarem de vez em quando.
Pondo nos dias contemporâneos: a Inquisição não nos caça mais; não fazemos marchas públicas pelos direitos canhóticos, nem podemos acusar a indústria de "racista" pela falta (e preço) das tesouras canhóticas, embora nos números ainda sejamos minorias. Um pequeno grupo de minorias dentro de outras minorias.
Acredito que o segredo de qualquer relação justa seja o respeito, e que o ideal de ser humano é a evolução.
A vida não deve ser incômoda para ninguém e deveríamos desenvolver toda a capacidade dos hemisférios cerebrais, certo?
São destros, canhotos, e sequer falei dos ambidestros. Das pessoas que não escrevem, das que trabalham com isso, e das culturas que escrevem da direita para esquerda.
Entender que viver em sociedade é unir maiorias e minorias é um passo grande para suportar tudo o que vemos por aí. Na execução da teoria, tudo se mistura; não tem como ser fácil.
Em suma, importante é saber o valor próprio e do próximo. Conhecer nossos limites e deixar que os dos outros existam. É daí que nasce o direito das coisas. A democracia, quando seguimos o conselho.
Convivência é assim; receber para ceder.
Mas como isto não é um consenso, sigamos nosso caminho, sendo nós mesmos e, de preferência, sorrindo.
Até porque se eu fosse reclamar de cada falta de destreza que vejo por aí, seria bem rabugenta.
Canhoto tem que ser otimista e ver sempre o lado bom das coisas.
eu me viro bem melhor
quando tá mais pra bom
do que pra mim
As estatísticas dizem que apenas 10% da população é canhota, e contendo homens em sua maioria.
Na Idade Média éramos considerados bruxos, coisa do capiroto mesmo, divididos em destros e sinistros - o que na época não era sinal de azar, mas por outras línguas surgirem, sua etimologia foi novamente associada ao capiroto.
Olha, a Idade Média não foi muito bem o ápice da beleza da História do mundo, e a higiene era quase abstrata. As pessoas evitavam utilizar a mão esquerda, já que esta realizava o "banho".
Ainda na Bíblia, foi da costela esquerda de Adão que Eva nasceu. E foi Eva que se tentou, mordeu a maçã e pediu pra sair. Do jeito que as coisas são, não duvido que ela tenha comido a maçã com a mão esquerda também.
Tenho uma tia avó que, na escola, foi obrigada a trocar a mão para escrever. Não porque seria um problema; mas porque era errado.
Cientificamente, ser canhoto é uma coisa biológica. A lógica da cabeça é inversa: canhotos mais usam o lado direito do cérebro e destros, o lado esquerdo (vai entender).
Então você está lá: sendo formado. Aí, hereditariamente, você pega mais hormônios masculinos, responsáveis pelo lado esquerdo do cérebro, que os femininos, responsáveis pelo oposto. Tcharãm: você nasce canhoto. E pode estar associado à uma síndrome. E propenso a vários problemas de saúde. E morrer 9 anos mais jovem do que o outro resto do planeta; quem sabe por abrir uma singela lata de atum. Ou por recortar um artigo de jornal.
Mas por outro lado, dizem que nós somos bons judocas, nadadores e jogadores de futebol. E por termos a parte direita do cérebro mais ativa, somos criativos; nos desenvolvemos melhor, pensamos mais rápido. Nietzsche, Leonardo da Vinci, Hendrix, Michelângelo e Charles Chaplin? Canhotos. Hitler e Jack, O Estripador? Também.
Sinceramente, somos essa bagunça toda por necessidade. Canhoto domina a arte do improviso.
Somos adaptáveis. Assim como todos os outros, bem verdade. Mas quando a dimensão em que você vive é feita para os destros, suas habilidades tem de ser mutantes. Uma hora você deve agir como destro, outra, como canhoto.
Durante todo o Ensino Médio escrevi com cadernos ao contrário, hoje apenas debruço meu tronco sobre a mesa, entorto o caderno e, enfim, escrevo. Mas até hoje não consigo deixar de manchar minha mão com tinta de caneta. São ossos do ofício, quero dizer, sendo criacionista ou não, nascemos assim. Não escolhi.
Lembro que fui alfabetizada com a querida Professora Carminha, que insistia para que eu escrevesse com a mão direita. Mas não deu muito certo.
A mesma coisa quando fui aprender violão: o primeiro conselho que ouvi foi "aprende a tocar como destro ou você nunca vai participar de rodinhas de música". Esse já deu certo. Toco como destra, o que facilitou minha aprendizagem em outros aspectos. Ah: em toda minha vida, não vi gente tocando Legião Urbana com as cordas invertidas.
Já quase bati o carro por não ir para a "outra esquerda". Uso o mouse com a mão direita, mas não consigo desenhar bem no paint.
Tem que gostar de desafio. Sentar numa mesa de bar cheia de gente e calcular seus movimentos para não esbarrar em ninguém.
Tem que realizar tarefas rápidas sobre pressão. Responder uma prova em mesa de braço único. Para destros.
Algo que só as minorias entendem é como é difícil ser uma minoria.
Quando acho que devo, peço cadeiras para canhoto sem exitar, por exemplo. Pena que nem em todos os lugares existem.
Ora, qual o problema em ser canhota? Entendo o que a maioria tenha razão prática e que seja questão de conforto.
Veja bem: pago impostos, não matei ninguém e também sou filha de Deus. E se tudo é meritocrata, posso sentar-me confortavelmente.
Entretanto, muito poderia ter mais cadeiras para canhotos, e os destros as usarem de vez em quando.
Pondo nos dias contemporâneos: a Inquisição não nos caça mais; não fazemos marchas públicas pelos direitos canhóticos, nem podemos acusar a indústria de "racista" pela falta (e preço) das tesouras canhóticas, embora nos números ainda sejamos minorias. Um pequeno grupo de minorias dentro de outras minorias.
Acredito que o segredo de qualquer relação justa seja o respeito, e que o ideal de ser humano é a evolução.
A vida não deve ser incômoda para ninguém e deveríamos desenvolver toda a capacidade dos hemisférios cerebrais, certo?
São destros, canhotos, e sequer falei dos ambidestros. Das pessoas que não escrevem, das que trabalham com isso, e das culturas que escrevem da direita para esquerda.
Entender que viver em sociedade é unir maiorias e minorias é um passo grande para suportar tudo o que vemos por aí. Na execução da teoria, tudo se mistura; não tem como ser fácil.
Em suma, importante é saber o valor próprio e do próximo. Conhecer nossos limites e deixar que os dos outros existam. É daí que nasce o direito das coisas. A democracia, quando seguimos o conselho.
Convivência é assim; receber para ceder.
Mas como isto não é um consenso, sigamos nosso caminho, sendo nós mesmos e, de preferência, sorrindo.
Até porque se eu fosse reclamar de cada falta de destreza que vejo por aí, seria bem rabugenta.
Canhoto tem que ser otimista e ver sempre o lado bom das coisas.
eu me viro bem melhor
quando tá mais pra bom
do que pra mim