2 de dezembro de 2014

Ponto de vista

Rosinha era dessas pessoas alegres e bem distraídas.
Todos os dias, na volta para casa, ela passava por um parque cheio de árvores, onde as crianças brincavam.
Às vezes Rosinha se distraía com algum passarinho ou em seus próprios pensamentos, e, sem querer, pisava em cocô de cachorro. Mas não se importava muito com isso; passava o sapato na grama e continuava a andar.

Certo dia, numa dessas voltas para casa e acompanhada de um amigo, Rosinha pisou em cheio num cocô. Como de costume, já se dirigia para fora da calçada quando foi interrompida:
- Eca!
- Ah, acontece!
- Que azar, viu? - completou o amigo.

Depois daquele dia, Rosinha andava atentamente olhando para o chão. "Que azar", pensava. Realmente, pisar em cocô de cachorro com seus bonitos sapatos não era uma coisa boa de se acontecer. Além do mais, ela ainda teria o trabalho de lavá-los depois.
"Que azar..." pensava de novo. Reparou que isto acontecia com uma certa frequência, e concluiu que, definitivamente, precisava andar olhando para o chão.
E todas as voltas para casa Rosinha percorria cabisbaixa. Não por estar exatamente triste, mas porque era melhor prevenir do que remediar.
Estava funcionando: nunca mais tivera que limpar os sapatos, e não se sentia mais azarada.

Outro dia, numa dessas voltas para casa e acompanhada daquele amigo, Rosinha olhava para o chão e escutava o canto dos pássaros.
Enquanto caminhavam e seu amigo tagarelava qualquer coisa, ela notou um canto diferente. Mais agudo, diferente de todos os outros.
Teve que levantar a cabeça.
O fez; virou quase todo o corpo para a direita e viu um pequeno sabiá. Quase que ao mesmo tempo houve um ruído.
Ploft.
Rosinha tinha pisado em cocô de cachorro.

- Mas de novo, Rosinha?
- Eu só virei para olhar o passarinho...
- Isso que é azar!

Rosinha já voltava a olhar o chão. Mas ainda escutava o sabiá cantar.
Continuaram andando, o amigo tagarelando, quando Rosinha ergueu o olhar.

- Ei, cuidado! Você sabe o que acontece quando não presta atenção!
- Sei, tenho azar. - respondeu a menina
- Pois então?!
- Mas prefiro chamar de sorte.

25 de novembro de 2014

Dia de Sopa

que mentira de amor
pesa mais que outras ideias
a gente sabe

há quem prefira
colecionar todas elas
pra evitar que acabe.


se você me lesse mesmo
saberia, meu bem
que eu prefiro outras paisagens
pra raiar o dia...

19 de outubro de 2014

Mais visual

"but I’m just a fucked up girl who is looking for my own peace of mind. Don’t assign me yours."
eternal sunshine of a spotless mind


The Tangled Garden, JEH McDonald, 1916

a cabeça da medusa, por rubens, de 1617

basquiat

antropometria, de yves klein!

la chata, de picasso




durer



normal rockwell


the cello player, edwin dinckison

"self portrait with a fur hat", também do dinckison


"

Untitled - Head of a Spanish Nobleman, Fashioned by the Catastrophe Model from a Swallow's Tail and Two Halves of a Cello, dali


'
de barbara kruger porque everybody's gotta learn sometimes






Haicai deprê

horário de verão
que bagunça
ontem foi sexta
e amanhã segunda




para o chico e o lobão

27 de setembro de 2014

Ah, coração teu engano

me chamam de maluca.


pergunta
- o que é isso, amor?
respondo
- isso é amor



dizem que sou de lua.





sou doce.





mas sei ir embora
de sentinela
sem rastros
antes de você acordar




7 de setembro de 2014

Pensamento meio ao contrário

Ser canhota é uma coisa engraçada.

As estatísticas dizem que apenas 10% da população é canhota, e contendo homens em sua maioria.
Na Idade Média éramos considerados bruxos, coisa do capiroto mesmo, divididos em destros e sinistros - o que na época não era sinal de azar, mas por outras línguas surgirem, sua etimologia foi novamente associada ao capiroto.
Olha, a Idade Média não foi muito bem o ápice da beleza da História do mundo, e a higiene era quase abstrata. As pessoas evitavam utilizar a mão esquerda, já que esta realizava o "banho".
Ainda na Bíblia, foi da costela esquerda de Adão que Eva nasceu. E foi Eva que se tentou, mordeu a maçã e pediu pra sair. Do jeito que as coisas são, não duvido que ela tenha comido a maçã com a mão esquerda também.
Tenho uma tia avó que, na escola, foi obrigada a trocar a mão para escrever. Não porque seria um problema; mas porque era errado.

Cientificamente, ser canhoto é uma coisa biológica. A lógica da cabeça é inversa: canhotos mais usam o lado direito do cérebro e destros, o lado esquerdo (vai entender).
Então você está lá: sendo formado. Aí, hereditariamente, você pega mais hormônios masculinos, responsáveis pelo lado esquerdo do cérebro, que os femininos, responsáveis pelo oposto. Tcharãm: você nasce canhoto. E pode estar associado à uma síndrome. E propenso a vários problemas de saúde. E morrer 9 anos mais jovem do que o outro resto do planeta; quem sabe por abrir uma singela lata de atum. Ou por recortar um artigo de jornal.
Mas por outro lado, dizem que nós somos bons judocas, nadadores e jogadores de futebol. E por termos a parte direita do cérebro mais ativa, somos criativos; nos desenvolvemos melhor, pensamos mais rápido. Nietzsche, Leonardo da Vinci, Hendrix, Michelângelo e Charles Chaplin? Canhotos. Hitler e Jack, O Estripador? Também.

Sinceramente, somos essa bagunça toda por necessidade. Canhoto domina a arte do improviso.
Somos adaptáveis. Assim como todos os outros, bem verdade. Mas quando a dimensão em que você vive é feita para os destros, suas habilidades tem de ser mutantes. Uma hora você deve agir como destro, outra, como canhoto.
Durante todo o Ensino Médio escrevi com cadernos ao contrário, hoje apenas debruço meu tronco sobre a mesa, entorto o caderno e, enfim, escrevo. Mas até hoje não consigo deixar de manchar minha mão com tinta de caneta. São ossos do ofício, quero dizer, sendo criacionista ou não, nascemos assim. Não escolhi.
Lembro que fui alfabetizada com a querida Professora Carminha, que insistia para que eu escrevesse com a mão direita. Mas não deu muito certo.
A mesma coisa quando fui aprender violão: o primeiro conselho que ouvi foi "aprende a tocar como destro ou você nunca vai participar de rodinhas de música". Esse já deu certo. Toco como destra, o que facilitou minha aprendizagem em outros aspectos. Ah: em toda minha vida, não vi gente tocando Legião Urbana com as cordas invertidas.
Já quase bati o carro por não ir para a "outra esquerda". Uso o mouse com a mão direita, mas não consigo desenhar bem no paint. 
Tem que gostar de desafio. Sentar numa mesa de bar cheia de gente e calcular seus movimentos para não esbarrar em ninguém.
Tem que realizar tarefas rápidas sobre pressão. Responder uma prova em mesa de braço único. Para destros.


Algo que só as minorias entendem é como é difícil ser uma minoria.
Quando acho que devo, peço cadeiras para canhoto sem exitar, por exemplo. Pena que nem em todos os lugares existem.
Ora, qual o problema em ser canhota? Entendo o que a maioria tenha razão prática  e que seja questão de conforto.
Veja bem: pago impostos, não matei ninguém e também sou filha de Deus. E se tudo é meritocrata, posso sentar-me confortavelmente.
Entretanto, muito poderia ter mais cadeiras para canhotos, e os destros as usarem de vez em quando.

 Pondo nos dias contemporâneos: a Inquisição não nos caça mais; não fazemos marchas públicas pelos direitos canhóticos, nem podemos acusar a indústria de "racista" pela falta (e preço) das tesouras canhóticas, embora nos números ainda sejamos minorias. Um pequeno grupo de minorias dentro de outras minorias.
Acredito que o segredo de qualquer relação justa seja o respeito, e que o ideal de ser humano é a evolução.
A vida não deve ser incômoda para ninguém e deveríamos desenvolver toda a capacidade dos hemisférios cerebrais, certo?
São destros, canhotos, e sequer falei dos ambidestros. Das pessoas que não escrevem, das que trabalham com isso, e das culturas que escrevem da direita para esquerda.
Entender que viver em sociedade é unir maiorias e minorias é um passo grande para suportar tudo o que vemos por aí. Na execução da teoria, tudo se mistura; não tem como ser fácil.
Em suma, importante é saber o valor próprio e do próximo. Conhecer nossos limites e deixar que os dos outros existam. É daí que nasce o direito das coisas. A democracia, quando seguimos o conselho.
Convivência é assim; receber para ceder.
Mas como isto não é um consenso, sigamos nosso caminho, sendo nós mesmos e, de preferência, sorrindo.
Até porque se eu fosse reclamar de cada falta de destreza que vejo por aí, seria bem rabugenta.

Canhoto tem que ser otimista e ver sempre o lado bom das coisas.









eu me viro bem melhor
quando tá mais pra bom 
do que pra mim

2 de julho de 2014

A la Hércules Barsotti

[cheio]
vazio

[chei]
vazio

[che]
vazio

[ch]
vazio

[c]
vazio

[ ]
vazio

[
   ]
vazio

[vazio]

25 de junho de 2014

Tirinha

30 de maio de 2014

Eu no mundo

me tateio
macia
de pinta
e tatuada

meus sabores
são queijo
com goiabada

me recheio
de livro
vento
cores quentes

meus passos
são outros
orientes

meu anseio
o tardar
o querer
sentimento raso

meus dias
são todos
acasos

28 de maio de 2014

stuff





schiele, autorretrato,1910


dean e sinatra no aeroporto

pornhub comments



<3 p="">


moses, frida kahlo, 1945

the future of statues, magritte, 1937 (escultura)

por que fue sensible, da série los caprichos, fernando goya, 1799


bicho, lygia clark, 1960, escultura


city, rene portocarrero, 1954


landscape of havana (!!!!), rene portocarrero, 1969


o labirinto de chartres, situado na frança. as pessoas percorrem o labirinto em pé ou de joelhos. apesar de estar dentro de uma catedral, seu motivo não é estreitamente cristão. acredita-se que, ao percorrer o labirinto, participa-se de um ritual de nova era, onde os pagãos acreditavam renovar as energias e buscar reflexões e mudanças sobre si mesmo.
uma senhora muito bonita me disse que percorreu o labirinto e chorou muito, até o final dele. dizia que, quando pensava estar no final, estava no começo. aprendeu a atentar-se com a situação atual das coisas, e não às posterioridades. independente de crença, jornadas espirituais têm sido bem interessantes para mim.





e adoniran, porque ando muito da maloca esses dias.

18 de maio de 2014

colcheia

e neste domingo
aprendi a solidão
pergunto "vai chover?"
responde o trovão

nada é muito
silencioso no mundo
quando estamos calados

tudo é óbvio
extraordinário, profundo
quando estamos em pausa.

https://www.youtube.com/watch?v=hfUgAv2Yew4

14 de maio de 2014

Como a Si Mesmo



Talvez, os psicopatas que mataram Gandhi e John Lennon só quisessem testar o limite do Amor.


9 de maio de 2014

O dono do meu amor

quero escrever
sobre o tempo
ponto e vírgula
e coisas feias

mas qual é
o sentimento
da cadência
em teias?

quero pintar
planta
caravaggio
e proporção

mas qual é 
a vontade
da cadência
em coleção?

quero ver
o galho do macaco
a cor do burro
e o fogo no circo

mas quem é
o dono 
do perigo? 


de não ser metade
pedir perdão
deixo cadências
e sou descobridor

do universo em gente
figura fulgente... ah!

agora, só sei apreciar
o dono do meu amor.


 "jurei, até
que essa não seria pra você
e agora é"

1 de maio de 2014

Carinhoso

I

(...)
E então, você chega nas coxas.
Naquela linha curva, cheia, que contorna as pernas. Entre as pernas.
Esse é o meu pedaço favorito dele.

II

- Sabe quando eu sei que você tá em casa?
- Quando tem sapato na sala?
- Não, quanto tá com cheiro de café.

III

- Oi!
- Nossa, você tá tão bonita hoje.

29 de abril de 2014

Luv is a two way thing

"And, yeah, I do lose myself in her,
and I can tell she's losing herself in me.
And we're just, fucking... Lost together"

17 de abril de 2014

Anadotas de Ícaro

Ícaro tem quatro anos.

I

Vestido de Spiderman (seu super-herói favorito), me dá um beijo ao nos encontrarmos.
- Cê é o Homem-Aranha, é?
- Cê não tá vendo?

II

Brincando de esconde-esconde debaixo do bloco, Ícaro corre pra bem longe. Eu corro atrás dele.
- Estamos perdidos! - ele grita
- Onde nós estamos? - pergunto. Ícaro dá um giro de 360 graus:
- Aqui!

III

Ao acordar:
- Pai, você é o Homem Aranha preto e eu sou o Homem Aranha vermelho.
- Você é quem?
- Eu sou o Ícaro, pai...

IV

Perguntam:
- O que você quer ser quando crescer, Ícaro?
- Artista, igual meu pai.

12 de abril de 2014

Juntos

usai de nós
ao construir a ponte
eles são muitos

mas sumiremos no horizonte

16 de março de 2014

Grilo falante

Não sei exatamente de onde viemos ou para onde vamos, mas se perdemos a memória no meio deste caminho, deve haver um porquê.
Os destinos passados nos afetam quando estamos preocupados em destinos futuros; e não, simplesmente, seguimos.
Se a Lei esclarecedora da Paz e do progresso é o Amor, não há porquê não viver o hoje.
Ter compaixão pela Terra em que vivemos é fundamental.
Arrependimento, perdão, humildade e coragem fazem parte da Lei para que continuemos em evolução.

Não sei exatamente quem nos criou ou mantém vivos, mas, seja lá quem for, não é Ele quem faz a guerra.
Talvez a resposta de "onde viemos e para onde vamos" simplesmente não nos caiba ainda, visto que é um direito nosso.
Embora, sinceramente, esta pergunta me pareça bem mesquinha ultimamente. 
Aqui, somos nós contra nós.
Até percebermos que, somos nós - contra ninguém.

Não sei exatamente porquê estamos aqui, mas, já que estamos
Vamos fazer disso um passeio bacana.

esta vida é uma viagem
pena eu estar só de passagem
(Leminski)


15 de março de 2014

Me deixa

o bon vivant
é vadio
pr'o pedreiro

qual é o problema
em rir do tempo
o dia inteiro?

13 de março de 2014

Virtuosos

dar valor a si mesmo
é não colocar-se em primeiro lugar

11 de março de 2014

amor

não fica triste

10 de março de 2014

você

minha memória
te fotografa.

ainda bem que não reparas.



-

acordei com um buraco no peito
sabor amargo do café?
saudade, silêncio ou tristeza

pode ser mero defeito
ou apenas falta de fé
coisa normal da natureza

 de não saber o que se é.


3 de fevereiro de 2014

dos Santos

te dou valor

às vezes
erro por medo de errar
com você
e acerto por
simplesmente
ser


coloco eu
onde caibo
e seguro na tua mão.

28 de janeiro de 2014

-


Sorria, o dia merece,
Quando você sorri minha flor, a natureza agradece
 


22 de janeiro de 2014

sobre meus últimos dias



Dizia eu, antes desses últimos dias, que se encontrasse com Deus, recitaria a letra desta música.
Sabe,
ando recitando bastante.

What's this feeling?
My love will rip a hole in the ceiling
I give myself to you from the essence of my being and I
Sing to my God, songs of love and healing

18 de janeiro de 2014

Anadotas (ou rapidinhas)

I

Deixar o café passando e esquecer é uma das coisas que mais me dá amargura na vida.


II

E eu que tava pensando que eu penso estranho?


III

(Depois de alguma conversa longa sobre música e divagações, a menina Ana Julia solta):
"É por isso que o Dicró é o Chet Baker brasileiro!"

IV

Há.

Divirtam-se.

Sempre.


[editado]

V

A palavra
livra