30 de outubro de 2012

Pixe

a única coisa
que não 
nos
importava
era
eu
claramente
clara




ele
já não tão óbvio assim





mas não
nos
importava
seu cabelo
pixaim.

4 de outubro de 2012

Maracujá

Adormeceu em meus braços, e eu, delicadamente, os tirei. Estava insone, de mente ocupada, cheia. Tinha trabalhado o dia inteiro, mas agora - mesmo que sua presença me fizesse estar bem tranquila - tinha porque tinha algumas coisas a mais para resolver.

Andando descalça pela casa, entrei na cozinha e pisei no chão frio. Acendi um cigarro de palha em alguma das bocas do fogão e fui para a área de serviço lavar alguma roupa. O silêncio e o calor me incomodavam. Tirei a calça e liguei o rádio em qualquer estação. A música era agradável, apesar de estar mais preocupada com as manchas brancas na minha calça preta.

De repente, ouvi um barulho. Achei que fosse ele acordando, e não gostaria de jeito nenhum que isso acontecesse. Não porque temos que trabalhar cedo, mas porque ele dormia sereno, como criança. O barulho cessou e percebi que não era ele. Não descobri o que era e logo me despreocupei; voltei à mancha branca.

Meus pés frios e o barulho da máquina de lavar quase rimavam. O locutor falou que eram cinco horas da manhã e eu, então, senti sono. Resolvi desligar a máquina, o rádio, e sem colocar a calça de volta, retornei à cama.

Mas antes que pudesse realmente dormir... Nosso despertador tocou. Enfurecida, desliguei-o com certa brutalidade. Então, ele se espreguiçou ligeiro, me abraçou forte - e sem abrir os olhos - sorriu.

Lá estava eu: insone de novo.

morena

Se eu conseguisse te trazer pra cá, ah, se eu conseguisse. Tudo o que eu posso fazer agora é te despir com os olhos. Ver teu quadril se movimentando na minha direção, e, de repente, passas reto... Sem nem olhar quem te deixa nua.
Se eu conseguisse te trazer pra cá, ah, se eu conseguisse! Ofegante, deixarias marca na minha cerviz de quem, hora ou outra, teve a felicidade demonstrada pela arcada dentária aparente, de pescoço erguido e envergado, de pelo que - a essa altura - arrepia sem motivo.
E não me importa se tu olhas no espelho e não gosta do que vê. Teus olhos estarão fechados, e quando se der conta, estará lá: gostando, movimentando seus quadris por cima dos meus.
Me dirá isso com os mais altos dos gritos, enquanto coloca meus dedos na tua boca para que o resto do mundo não ouça, que, enfim... Conseguir trazer você pra cá.

(2011)

3 de outubro de 2012

Intolerantes

desacelero o passo
eu tento, amor, eu tento
mas você não me nota
lamento, amor, lamento

2 de outubro de 2012

Anadota


Minha terça-feira se resumiu a essa preocupação: procurar meu moletom por todos os cantos, voltar em lugares que já passei, e de repente, descobrir que estou o vestindo.
Porque Ana Julia que é Ana Julia vive assim.

Aliás, me lembrem de comprar o Hot, Cool and Latin do Eric Dolphy.