O homem entrou na sala, e ficou alguns minutos em pé, esperando que alguém lhe acomodasse. Uma senhora pediu-lhe para sentar numa cadeira e aguardar um pouco, e foi o que o homem fez. No começo, a senhora segurava a mão do homem com firmeza. Aos poucos, essa firmeza foi sumindo, até que as mãos estivessem apenas encostadas.
A senhora cansou, e deu seu lugar à vaga.
Dois outros homens disputaram a vaga, e um acabou trazendo outra cadeira. O homem ficou entre os outros dois, ouvindo-os. Falavam simultaneamente, esbanjavam energia. Às vezes o homem sorria, às vezes discordava das frases, mas constantemente calado. Não ousava discordar de cara, expor-se assim. Eis que um dia ousou, e um dos homens deixou seu lugar à vaga.
Mais alguns minutos foram passando, e o homem e o outro que agora era seu companheiro, foram concordando cada vez mais no que diziam. O silêncio não mais perpetuava, e por causa desse companheiro suas frases foram ganhando cada vez mais palavras que jamais pensara em usar.
Alguma hora depois, uma jovem tão jovem do rosto tão belo tomou o lugar vazio.
E não só o lugar fora tomado: a visão do homem também. Não conseguia parar de olhá-la e admirá-la, querê-la.
Sem muito esforço, conseguiu-a. E já não deu mais ouvidos a seu companheiro, que agora, deixava outro lugar vago.
Por não dar mais ouvidos a ninguém, a jovem cansou do homem. Parou de falar, de usar a juventude para dominá-lo. Resolveu ir caminhar, e agora tinham dois lugares vagos entre o homem.
Passou um tempo, o homem levantou.
Mas surgiu um senhorzinho de óculos e explicou-lhe que não podia levantar-se assim. Perigoso, arriscado demais. Ensinou-o como levantar, mas disse que jamais poderia ensinar-lhe como caminhar. Ninguém jamais poderia. O homem recordou da senhora que segurara sua mão com firmeza, e assegurou-se de que ela sim poderia.
Sentou, com os dois lugares ainda vagos.
Levantou-se, como o senhorzinho tinha ensinado.
Mas teve medo de caminhar.
Estava sozinho na sala agora. Com dois lugares vagos e sem ninguém para ocupar.
Deu seu passo. Sozinho, como antes estava. Perdeu o medo e caminhou um pouco mais. Seu peito estufou e não parava de caminhar, deixando três cadeiras vagas na sala.
Outras horas se passaram e uma mulher sentou numa das cadeiras e ficou observando-o andar, de um lado para o outro.
Convidou-o para sentar. Aceitou.
Ela segurava sua mão. Não com tanta firmeza quanto a primeira senhora, mas tinha alguma firmeza. Gostava de senti-la, e lembrou como é querer alguém, como quisera a jovem.
Passou a segurar a mão dela também. Nenhum dos dois tinham tanta firmeza quanto a primeira senhora, mas os dois juntos talvez pudessem se igualar.
Tinha mais um lugar vago.
E rapidamente, ocupou-se com um menino.
E, de repente, a mulher passou a ter a mesma firmeza que a senhora tinha. O homem não conseguia entender.
Mas gostava do que estava acontecendo.
As horas enfim terminavam, enquanto o menino estava cansado de ficar sentado e a mulher estava encostando em sua mão, o homem cansado repousou.
Então, a porta finalmente se abriu e houve o grito: "próximo!"
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Ahá.