Não sei por onde começar.
Mas antes mesmo de começar, já sabia como se chamaria: Jade. Não Cecile. Jade. Pois apesar das máscaras, dos contos e dos sonhos que conhecemos, o nome que nossos pais nos dá é o verdadeiro.
Serei objetiva: eu amo você. Não por isso ou por aquilo, pela coerência, consequência ou voracidade dos fatos. Eu amo você porque simplesmente amo. Quero que todo o bem do mundo te aconteça e que todo o mal passe longe. Que você me ouça apenas quando eu estiver certa e me corrija quando estiver errada, usando palavrões e me dando tapas de mão pesada, como normalmente faz.
Adoro sentir essa reciprocidade. "Essa" não: a nossa. Claro, minha mão não é tão pesada quanto a tua, e eu não sou tão inteligente e perspicaz como você. Não vi tantos filmes ou li tantos livros; e às vezes me condeno por não ter gostado tanto assim de Milan Kundera. Entretanto, sei que ela existe e isto vicia.
Gosto do seu jeito de ouvir e analisar o que ouve.
Mas gosto mais ainda do seu jeito de tragar minhas palavras que ora são tóxicas ora são leves, e, ainda assim, são minhas. Gosto da sua atenção ao sexo, ao jazz, às cervejas de estilos diferentes e aos chocolates, aos homens, aos conhaques mais baratos. Gosto também dos seus olhos cansados (oblíquos e dissimulados), reclamando, querendo ir embora; e do jeito doce que ficam quando peço, bêbada, para ficarmos mais um pouco.
Gosto do seu andar. Do jeito que acordas. Dos homens que sonhas em ter e dos que terá.
Mas gosto mais ainda quando escreves.
De repente, num passe de mágica, toda a sua feminilidade se faz presente. Todos os seus horríveis defeitos e qualidades se tornam fantásticos, se tornam indiferentes; simplesmente existem.
Você é um personagem delicioso. Um Eu-lírico delicioso, como o Renato.
Me tens tão fácil quando escreves que caibo em sua mão e entrelinhas.
Teu universo é gigante. Quando escreves, mesmo que ainda interminadas as palavras, consegue pôr todo universo nelas. Talvez você se dê conta do quão fantástico isto é, mas suponho que seja apenas quando lê Drummond ou, até mesmo, Bukowski. Eu, particularmente, espero que você faça mais sucesso do que pode imaginar; que os jovens que comecem a ler e foder possam gostar de você o quanto nós gostamos deles. Porque conheço seu âmago e suas coxas; sei que és tão valiosa quanto Drummond e Bukowski.
Gosto do jeito que apaixona-se, do jeito que deixa outros homens apaixonados mesmo sem beijá-los.
Do jeito sutil e, ainda assim, sem jeito que ficas quando está triste e com a garganta entalada de berros. Torna a escrever, novamente. Torno a ler-te.
E, a cada palavra, amar-te mais. E mais. Imensuravelmente.
Você é mais que uma amiga para mim.
Nunca me abri como abro-me para ti com outra pessoa. Me conheces de trás para frente; e o que não conhece, há de conhecer. Não que eu seja uma pessoa tão misteriosa assim, oras, sou tagarela, sorridente e reclamona. Mas sua sensibilidade entra nas entranhas dos seres e, lá dentro, busca o que há de melhor e pior. Traduzes isto em palavras.
Você, Jade, é como meus livros favoritos: conheço-os. Já os li inúmeras vezes.
Mas toda vez que abro-os, aprendo algo novo.
És genial. Pequenina. Imensa. Linda. Mulher. Não ouso sequer mencionar "menina", acho que já passou dessa fase.
Sou eternamente grata por ter vivido, viver e viver muito mais um dos melhores momentos da minha vida ao seu lado. Crescer com você é fascinante. Somos jovens e não nos importamos com nossos pulmões quando fumamos e nem com nossos tímpanos quando vamos às festas malucas com música extremamente alta.
Desejo de coração que você, por nós, continue levando esse não se importar juvenil em suas palavras e alma.
O que você escreveu sobre nós três, mesmo que incompleto, está fantástico. Não por Ego ou autoestima, mas o que sou está lá. Mesmo que nunca tenha pegado numa Gewher 98.
Obrigada.
Pela paciência, vontade, pelos dias, noites, vindas para cá de metrô.
Eu amo muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito muito você.
Com todo amor, tesão e carinho do universo,
Ana Julia.
ps:
não queria ter citado tanto "eu" nesta carta.
Mas não sei outro jeito de falar de Bonnie sem falar de Clyde, se é que me entende.
Te amo novamente, menina dos girassóis.
ps1:
Com acento. A Reforma Ortográfica que se foda!
ps2:
No sábado, enquanto estávamos debaixo do sol das onze da manhã, na escada branca de degraus larguíssimos da Igreja Luterana, abraçamo-nos, como fazemos de costume.
O Artur, aquele rapaz sorridente e gentil que conhecemos naquele mesmo dia, viu.
Ontem, ele veio comentar comigo que poucas amizades são como a nossa.
É.
Somos transcendentais, nêga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ahá.