Assim que acordava e percebia que ele não estava ao meu lado, não me preocupava. Estava na cozinha.
Levantava vagarosamente da cama, me espreguiçando, com os olhos pouco abertos por causa da singela abertura das cortinas. O sol batia leve, me dava a certeza da manhã.
Ia ao banheiro e encontrava sua escova de dentes em cima da pia. Sempre fora mais rápido, disposto e saudável que eu pela manhã. E isso não me incomodava. Lavava meu rosto ainda cautelosamente, escovava os dentes e tomava um banho rápido, não muito quente e não muito frio, embora o vapor tomasse conta do banheiro.
Sem pressa, vestia qualquer blusa branca maior que eu, pegava meu violão e ia para cozinha.
Às vezes tinha vontade de fumar lá. Mas os odores que ele criava me desestimulavam e faziam ter vergonha dos cigarros de palha. Gostava de tocar samba e alguns chorinhos enquanto ele enfarinhava a mão antes mesmo do meio dia. Quebrava os ovos enquanto cantava e arranhava a garganta com a rouquidão. Sorríamos mesmo sem saber porquê, mesmo tendo que limpar o leite que caíra no chão branco, mesmo quando ele me dava uma colher de geleia caseira e eu achava azeda.
Ele sentava e tomava algumas xícaras de café comigo, batucando na caixinha de fósforo. E o sol lá. E o forno lá. Não percebíamos o frio por causa do calor dos bolos, e não percebíamos o calor por causa da frescas saladas de frutas. Tudo era estável e exalava verão.
Mas às vezes as coisas queimam e os pratos sujam. Nem sempre eu acordava de bom humor e houveram dias em que ele não estava na cozinha quando acordei. Hoje nós dois bebemos cerveja amarga em lugares distintos da cidade.
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Ahá.