e acendia um cigarro de palha
aparecia um gato preto, vinha de trás da arruela
magrelo, cor de carvão, de homem sujo na fornalha
ficava me ouvindo tocar, naquela mesma posição
da primeira vez que o vi, fora apenas ocasião
mas o tempo foi passando e cada vez que me ouvia
o gato preto cor de nanquim aparecia
improvisava qualquer coisa, o gato ficava lá
errava mais que o bastante, o gato ficava lá
pois não era humano; não perdia a paciência
ainda assim tenho certeza, o gato tinha consciência
porque era meu ouvinte, era a tarde inteira assim
eis que um dia não errei mais, comprei um novo bandolim
arrumei minhas malas e dei um beijo na velha
peguei o ônibus e fiz minha trilha - de barro
era bandolinista na cidade grande
o povo agora paga para me ouvir
chamo-os de gato preto
na tentativa falha da saudade sumir
às vezes ela me liga
diz que pintaram de verde a janela
que sente saudades quando me ouve no rádio
e que o gato ainda me espera.
(fiz em 2009, gente)
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Ahá.