Descalcei os chinelos, pendurei a toalha, e me abracei numa tentativa fútil de me proteger do frio. Dois braços para uma pessoa só não resolvem o problema assim.
Ele chegou.
- Boa noite.
- Boa - respondi sem a menor expectativa de que ela realmente fosse boa, o dia foi difícil. Quem garante que a noite seria melhor?
Ele pendurou a toalha no cabide ao lado da minha. Coloquei o óculos, respirei fundo, tão fundo que deu para ouvir. E ele, tentando puxar assunto, sugeriu:
- Escolhe uma raia.
- Tanto faz, moço.
- Não tanto faz. Se você gosta de olhar para o céu enquanto nada costas, é a última raia. Se você gosta de ficar mais perto de onde sai a água quente, é a raia do meio. Mas, se você gosta de maior espaço, é a primeira. Escolhe uma raia.
- Hoje tanto faz, moço.
- Por que? - perguntou, curioso, enquanto alongava a perna
- Porque hoje eu não acredito em céu, já não ligo se está frio, e quanto menos espaço, hoje, melhor.
- O que aconteceu?
- Nada, ué. Eu só não... - a professora chegou. Interrompeu-nos, mandou entrarmos na piscina. Entramos. 15 chegadas pra mim, 10 chegadas pra ele.
Ele ficou na última raia, eu na do meio.
Não sei, mas parecia que ele queria nadar no mesmo ritmo que eu. Para testar, nadei mais rápido, e mais devagar; ele idem.
Parei para respirar, ele virou, olhou pra mim, e deu um sorriso:
- Você precisa se importar de como está o céu hoje.
Olhei para ele, engoli a saliva, sorri, abaixei a cabeça, e continuei a nadar. Não olhei para o céu.
Uma hora inteira nadando, dois mil e cem metros. Saí da piscina, deitei no chão, e aí sim, olhei pro céu.
Fiquei 2 minutos olhando para o céu, e, eu tanto não me importava, que não quis realmente saber se as estrelas eram tão bonitas assim.
- E aí? - ele perguntou de novo.
- Hã?
- Gostou do céu hoje?
- Tanto faz, moço.
Levantei, calcei os chinelos, me cobri com a toalha, e me abracei, numa tentativa fútil de tentar me proteger de perguntas.
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Ahá.