- Cospe. - e cuspi só, um único ato, o chiclete de hortelã que tinha a boca - Agora. Pode ir. Tá esperando o quê?
- Pára com isso, Jorge. - pedi, quase ordenando, quase implorando.
- Parar com o quê, dona Ana Julia? Você tem meia hora para dar três voltas. Dois km.
- Você sabe que eu ainda não consigo fazer dois km correndo, sem parar.
- Vai ter que conseguir se quiser competir ano que vem.
- E se eu não quiser? Você nem me perguntou!
- Pela sua cara de vencedora quando corre, parece.
- Pára com isso, Jorge.
Paramos. Olhei para o céu. Já tinha corrido uma volta antes, já estava começando a suar, mesmo estando parada. Não queria mais fazer aquilo.
Era domingo, não precisava mais fazer aquilo.
- Você quer competir, Ana Julia?
- Por que você nunca me chama só de Ana, ou de Julia, ou de Lia, ou de Ju, ou qualquer coisa assim? Por que você insiste em ser formal, sendo que nos conhecemos há dois anos?
- Não foi isso que eu perguntei.
- [uma pequena pausa da minha parte]. Quero.
- Então anda.
Comecei a correr. Corri, corri, corri, estava cheia de dores, no meio da segunda volta. Dois quilômetros? Correndo? Não sei se queria mais competir. Não naquele momento.
Parei e deitei no chão, olhei para o céu. O sol tapava minha vista, e eu dava graças a Deus por isso: Jorge é (e você sabe disso) carrancudo. Ver aquilo às dez horas da manhã era suportável, mas ver ele com uma leve decepção, carrancundo, às dez horas da manhã era insuportável.
- Paremos. - disse
- Paremos, então.
- Posso voltar para casa?
- Pode, quem sou eu para impedir?
- Hunpf.
- Que foi?
- Você não pode nem dar UM sorriso?! Um elogio?! Um "bom dia" se quer?!
- Você está com bom hálito por causa daquele chiclete que, agora, está na sola do seu tênis.
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Ahá.