31 de julho de 2015

como leve pluma

I

de novo.
estourou o gatilho
expulsou com força
e atingiu paredes

o som oco
da casca fina sendo pedaços
todos os espelhos se vendo
estilhaços
a cor de um berro
sólida em todos os seres...

e como fruta madura
caindo no chão
jovem em ápice
velha em ascensão
que refresca e suculenta,
satisfaz e arde
destina como toda criatura:
aos léus de sorte com vento,
habita seus próprios cárceres

e quando tudo é vácuo
um silêncio invade os pulmões
paladares, por todo palácio
existe suficiente vontade
de encontrar, em toda essa
ausência de gravidade,
um colo para repouso,
o fardo pesado de ninar na rede.



II

Hoje o galo cantou cedo, saí pra trabalhar. Voltei sem perceber que tinha esquecido minha carteira no escritório. Tive que voltar. No caminho, recebi um panfleto da Madame Soraya, que prometia trazer o amor amado em 3 dias. Fiquei curioso. Guardei o panfleto no bolso. Recuperei meus documentos e fui a parada de ônibus, refazer meus caminhos.
O tédio me fez ler o panfleto. Ela atendia perto de casa e aceitava dividir o pagamento, prometia búzios e cartas de tarot. Sobretudo, trazer o amor amado em 3 dias.
Entrei no ônibus com o papel na mão. Passaram alguns bairros, e quando me dei conta, estava decidindo se iria à Madame Soraya ou não.
Eis que o endereço se aproximava. Perguntas pairavam minha cabeça: "quem será o amor da minha vida? Quem me fará feliz? Será que é mesmo em 3 dias?". Não conseguia me decidir, e o veículo acelerado, cheio de gente, de objetos. Olhei para o panfleto e desisti.
"Trazer o amor amado em 3 dias"?
É que eu sou muito chato com essas coisas de pleonasmo.


III

Essa aconteceu de verdade.

Estava no show do Paralamas do Sucesso. Numa área aberta, muitas pessoas espalhadas, sentei mais afastada do palco. Um homem aparentando 50 anos, de barba branca, vestes simples e olhos azuis carrega um expositor com seus artesanatos. Passa por mim e pede um trago do meu cigarro de palha. Respondo sim e começamos a conversar.
Ele me conta os lugares que passou, das praias bonitas do nordeste e das dificuldades financeiras.
Pergunto:
- Você acredita em Deus?
- Sim.
Curiosa, persisto:
- Por quê?
- Você acredita na África?
- Sim - digo rápido - Acredito.
- E você já viu a África?
- Não.

Neste momento fiquei surpresa. A manifestação divina é para os sensíveis; a alegria verdadeira não está no que se vê. Apenas que acreditemos é o que ela precisa para existir. Com este argumento não existiriam mais ateus no mundo.
Ele agradeceu o cigarro e foi embora, sabe-se lá para onde.
E eu? Nunca esqueci esta lição de vida.
Até perceber que ela não faz o menor sentido.


IV

Acho que nunca escrevi tão mal na vida.
Pardon my mimimi.