31 de maio de 2011

Roubaram minha caixa de lápis



Hoje eu estava desenhando isso no ônibus. Por pura preguiça de fazer uma redação de sociologia. Pensei comigo mesma: "talvez ele aceite o desenho, por que não?".
No meio do trajeto (L2-casa), uma senhorinha subiu no ônibus e sentou ao meu lado. "
- Que desenho simples! - exclamou em bom tom, ao ponto de me fazer prestar atenção em quem, realmente, sentara ao meu lado.
- Gostou? - perguntei - É pro meu trabalho de sociologia. - completei. Ela se inclinou um pouco para a esquerda afim de ver melhor, ou talvez de ver por outro ângulo.
- Gostei. Singelo, com uma boa crítica social.
- É clichê. Me arrependi de ter colocado o "consuma" no último...
- Quadrinho?
- É, é que não há quadrinhos. - ri com os olhos.
- Eu desenhava, também. - comentou ela, esperando uma reação minha
- Desenhava? A senhora não desenha mais?
- Não... Roubaram minha caixa de lápis. A última que eu tinha. Aí desisti.
- Nossa. Se eu tivesse uma agora, juro que daria para senhora. - ela riu.
- Não precisa. Perdi esse dom. Não perca o seu.
- Juro que isso não é desenho. Já desenhei mais, quando criança. Nunca fui dessas que desenha boneco-palito, sabe?
- Nem eu! Então aproveita enquanto você tem essa caneta. Não deixe que roubam. - e sorriu. Sorri também, mas depois fiquei meio aérea.
- Ah, senhora... Me roubaram de mim.
- Meça suas palavras! E gostei do "consuma" na última...
- ... Cena? - ri com os olhos. De novo (estou ficando boa nisso).
- Cena! - ela levantou, deu sinal, e desceu do ônibus.


Passei o resto do dia desenhando.


















(clique na imagem para visualizar maior)

29 de maio de 2011

Quero te ver de corpete, parapapá

postura, erguer a cabeça
e encher o pulmão de ar
talvez faça com que eu esqueça
que sem bochecha, não sei tocar

ah, trompete do bocal 7c
por que faço isso comigo?
por que escolhi você?


ainda assim é honra não desistir
abraço tuas condições e o que for necessário
afinal, os arrepios que você faz existir
ah... essenciais no meu itinerário


ah, trompete do bocal 7c
teremos muita história pra contar

27 de maio de 2011

Tsc

se dos erros que cometi
está entre eles
não ter abraçado nicolas behr

tenho mais algumas horas
na norte
pra cometer um acerto qualquer

25 de maio de 2011

Inexiste título

nó (s)

agora é questão de semântica.

23 de maio de 2011

Clavícula

antinflamatório não poupa dores
pois não utiliza argumentos
age involuntariamente
quando a dor vem

normalmente vem quando eu acordo
ou quando lembro do que houve
mas assim como antinflamatório
não poupa dores

sem nem pensar duas vezes
não poupo amores




e corações, e tatames, e trompetes, e os plurais do teu nome...

21 de maio de 2011

Escapulário

quando você segura tua corrente de ouro e diz não quero saber de mais nada
eu não quero saber se você mente ou o que você quis dizer
se ignorância é felicidade
ainda tenho muita coisa para saber

20 de maio de 2011

Lei natural do animal que usa relógio

amanhã é sábado
depois é domingo
é um padrão.
pode ser que um dia mude
pode ser que não

desesperar-se para quê?
você será informado
do que acontecerá
desespere-se agora
você cego, amarrado
pelo que te faz saber que

amanhã é sábado
depois domingo

o futuro é óbvio.

16 de maio de 2011

703

sul
e as nuvens estavam lá
quase sempre
o sol estava lá
quase sempre
três dias
setecentos e três, digo
eu quase erro a quadra hoje
porque você estava lá
e agora nem o céu
está mais
azul



eu sou louca por você

11 de maio de 2011

Dentro de mim

eu amadureci, você viu
te quero, só eu sei
continuará assim.

8 de maio de 2011

Asfixia

Lembro da tarde em que eu morri.
Foi por simples falta de educação, carisma. Mas, acima de tudo, falta de sorte.
Não morava em uma cidade pequena suficiente para que todos me conhecessem; não morava em uma cidade grande suficiente para que estivesse sozinho em todos os momentos do meu dia.
Sempre tinha alguém. E era aí que o problema habitava.

A tarde em que eu morri era meio amarela. O sol estava visivelmente opaco. Mas não ao ponto de estar nublado: dava para caminhar sem precisar levar um guarda-chuva.
A Nova Reforma Ortográfica já tinha acontecido, eu estava, assim como o sol, visivelmente opaco. Apagado pela falta de hífens e acentos que antes existiam. Não seria problema se eu não tivesse que decorá-los para o tão temido vestibular.
Passei três anos da minha vida estudando para ele.
Na tarde em que morri, todos os meus colegas de turma estavam preocupados com vestibular. Afinal, este seria no próximo final de semana.
Final de semana, este, aniversário da minha tartaruga.


Morava só.
Só não me sentia sozinho por causa da tartaruga. Ela não tinha nome, e minha vizinha não a queria mais. E, mesmo antes desses meus três anos de estudo para vestibular, já tinha aprendido a me perguntar "por que não?". E foi justamente isso que falei quando ela - minha vizinha - perguntou em tom caridoso "você não poderia ficar com esta tartaruguinha?"
Pena que algumas pessoas entendem "por que não?" como "sim".
Mas não me arrependo.
Foi minha companhia durante alguns anos, até eu sair de casa.
Aliás, saí com ela.

E eu saía todo dia.
Sozinho.
E no começo saía pensando na tartaruga. Confesso que minha dúvida sempre foi: será tartaruga? Jabuti, talvez? e atravessava ruas, ruas, pagava e pegava ônibus e ônibus, carregando livros e livros sem saber quem morava comigo.
Sem saber de nada.
E meus três anos antes da tarde amarela foram bem rotineiros.

Não me arrependo.
Repito.

Ainda que rotina seja necessária, estressa.
E o vestibular estava me deixando tão irritado que fui perdendo os níveis de educação que já tinha com meus pais, amigos e porteiros.
Na tarde em que eu morri, não tinha cumprimentado o porteiro. Sabe como é, ele sempre vai estar lá.
Mas a gente esquece que nós não.


Quando eu já tinha desistido de saber se a tartaruga era jabuti, lembrei que já tinha cansado de pegar ônibus.
Precisava de um carro.
Quando eu já tinha decidido comprar um carro, olhei para a avenida: hajam.


A tarde em que eu morri foi por simples falta de ar.






terminado em sete de maio de 2011
para o murilo, para o mateus e para o diogo

7 de maio de 2011

Apesar de você

Acaba assim: população contra população.
Transformando cada vez mais a felicidade em conveniência, e não objeto de desejo, objetivo.
"Hoje eu quero ser feliz", ouvi na padaria.
Mas e amanhã?






há de seeeeeer outro dia

4 de maio de 2011

Metade

"eu
não sou mais
teu"
e não sorriu
"pois eu
não sou mais
tua"
e sorri.

3 de maio de 2011

Pessoal

Vejam bem.
Sou indecisa por natureza, seja por signo, por costume ou por razões indefinidas. Logo, quando tomo uma decisão (ou, em outras palavras, quando escolho algo) não é à toa. Não gosto de desperdiçar as coisas, muito menos tempo.
Tampouco se eu não fizer valer essa decisão - que para ser uma decisão foi pensada - será tempo (e às vezes muito tempo) desperdiçado.

Tenho tantos defeitos quanto qualquer um.
Talvez mais do que qualquer um.
Guardo-os para mim; e às vezes partilho-os num verso mal feito.
Esses defeitos me fazem cometer erros, os quais não passam de erros. Nada que eu deva me arrepender ou fazer voltar atrás. Até porque não tem como. Mesmo.

E se eu escolhi o que eu escolhi sabendo de todas as condições da minha vida, deixa.
Que eu não pensei só com o cérebro.




eu quero fazer música.

1 de maio de 2011

Súplica

Ah, mundo
Se você me ouvisse mais
Não se arrependeria.